Com 5% de aprovação no Ibope, Michel Temer é excrescência antidemocrática
Mário Magalhães
O que têm em comum a situação do Brasil e o índice de aprovação popular ao governo de Michel Temer?
Resposta fácil: pior do que estão podem, sim, ficar.
O 7 a 1 tornou-se metáfora cotidiana dos reveses nacionais. Quanto mais pobre e vulnerável o brasileiro, maior seu risco de levar uma bola nas costas.
Os eleitores que consideravam o governo ótimo ou bom, 10% em março, reduziram-se à metade.
É o que acaba de informar a nova pesquisa CNI-Ibope (para ler o relatório com a síntese do levantamento, basta clicar aqui).
Nem a trágica administração José Sarney alcançou tamanha impopularidade _seu piso bateu em 7%. Naquela época, virada da década de 1980 para a de 1990, a inflação superou os 80% num só mês.
A rejeição a Temer e seus sócios é tamanha que 52% julgam seu governo pior do que o de Dilma Rousseff, e apenas 11% o avaliam como melhor. Como se sabe, o segundo mandato da presidente constitucional foi desastroso. Que adjetivo mereceria a pinguela de Temer?
Michel Temer é uma excrescência antidemocrática. No sentido literal de demasia, excesso, como assinala o dicionário.
Não somente pela aversão que lhe devota a esmagadora maioria dos cidadãos, expressa pela aprovação raquítica de 5%.
Mas pela maneira como o chefão peemedebista ascendeu ao Planalto, sem ter sido escolhido nas urnas para o cargo, conspirando contra a presidente, num consórcio obsceno que teve como principal operador o presidiário Eduardo Cunha.
Também por não largar o osso à custa do que os escribas amigos descrevem com o eufemismo ''negociações com deputados'' _verbas liberadas para os ditos-cujos não faltam, mas a fiscalização de trabalho escravo agoniza devido ao estrangulamento orçamentário.
A maioria dos eleitores de 2014 manifestou-se contra retrocesso e descaracterização das leis trabalhistas e do sistema previdenciário. Foi o conteúdo do voto no segundo turno. Noutras palavras: aceitou mudanças, mas sem sacrificar quem historicamente é mais sacrificado.
Volta e meia Temer tenta falar grosso, bota banca de valente, faço-e-aconteço, nada-receio, pago-pra-ver. O que ele comete na nação entre as dez mais desiguais do planeta não constitui coragem, mas covardia. Temer castiga os miseráveis, os mais sofridos. Seu governo zumbi é um fantasma que só permanece vagando porque atende às exigências de quem quer ainda mais, deixando com ainda menos quem quase nada tem. A turma que aclama a ''política econômica exemplar'' em vigor. O Temer autêntico não é o bravateiro das cerimônias e rapapés no Planalto, mas o cordeirinho diante de Joesley Batista nas sombras do Jaburu.
Seu governo nasceu ilegítimo e morrerá ilegítimo, o avesso da democracia. É uma gaze histórica, para ''estancar essa sangria'', conforme estabeleceu a Lei Jucá.
Temer é causa e efeito, como um dos protagonistas, da desesperança que corrói o Brasil de 2017.
Nessas horas, para mitigar o desalento, recomenda-se visitar o passado, nas quadras em que a coisa foi pior.
No finzinho da década de 1930, um judeu russo diagnosticou aquele tempo sinistro como ''a meia-noite da história''.
Nos anos 1970, no sufoco da ditadura, um sobralense cantou que o sinal estava fechado. Mais tarde, o sinal abriu.
Como acontecerá daqui a pouco. Qualquer dia, a borrasca passa.