Joesley conta vantagem e sugere que corrupção foi crime só dos outros
Mário Magalhães
O artigo assinado por Joesley Batista na ''Folha de S. Paulo'' é prenhe de clichês e apelações toscas para tocar o coração dos incautos.
O texto nitidamente escrito por um ghost-writer contém um recado essencial: corrupção é palavra que se aplicaria aos outros, não ao sócio do conglomerado J&F.
Para tripudiar, o antigo parceiro de Michel Temer ainda contou vantagem.
Sobre os crimes alheios, referiu-se à ''corrupção praticada pelas maiores autoridades do nosso país''.
Omitiu que, se há autoridades corruptas, existem corruptores, sobretudo endinheirados como Joesley.
Condenou os ''políticos corruptos''.
E calou sobre suas ações como _é preciso chamar os bois pelo nome, inclusive os da JBS_ corruptor de políticos. Sem o corruptor inexiste o corrupto.
Posou de bom moço, incomodado por ''episódios de embrulhar o estômago''.
Deitou regra e lenga-lenga para não afirmar com clareza que cometeu crimes: ''Eles [certos políticos] estão em modo de negação. Não os julgo. Sei o que é isso. Antes de me decidir pela colaboração premiada, eu também fazia o mesmo. Achava que estava convencendo os outros, mas na realidade enganava a mim mesmo, traía a minha história, não honrava o passado de trabalho da minha família''.
O mensageiro de ideia tao edificante não deixou de se jactar, de forma enviesada, da condição parcialmente superada de ''maior produtor de proteína animal do mundo, de presidente de um dos maiores grupos empresariais privados brasileiros''.
Bravateou seus movimentos nos negócios depois do acordo para a dita delação premiada: ''Demos início a um agressivo plano de desinvestimento que tem tido considerável êxito, o que demonstra a qualidade da equipe e das empresas que administramos''.
Seu comportamento é o costumeiro do empresariado graúdo nacional: o inferno são os outros.
É salutar a bronca generalizada com as benesses a um tipo criminoso _e falastrão_ como Joesley Batista.
A indignação deveria também imperar em relação à boa-vida dos ladrões da Petrobrás que celebraram suas delações.
Mas no Brasil, país da hipocrisia, muita gente não tem opinião formada cobre certas práticas: o juízo varia conforme beneficie ou prejudique a ou b. Aqui é bom, ali não.
Depois de toda a bandalheira, Joesley pretende dar lições ao país.
Que fase!