Blog do Mario Magalhaes

Tratar crueldade como ‘descuido’ equivale a tolerar o inaceitável

Mário Magalhães

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Pessoas dormem ao relento em São Paulo – Foto Nelson Antoine/UOL

 

Depois da madrugada em que os termômetros despencaram abaixo dos oito graus, pessoas que dormiam ao relento (ou quase) na praça da Sé foram despertadas por equipes a serviço da Prefeitura de São Paulo.

Não com pedidos gentis ou mesmo gritos grosseiros para cair fora, e sim com jatos d'água.

Com o risco da ironia imprópria, enfatize-se que a água não era aquecida…

Em vez de compaixão com os moradores (em situação) de rua, crueldade.

No lugar de civilização, barbárie.

João Doria poderia ter aproveitado o episódio para mandar um recado a quem trabalha para o município, ainda que por meio de empresa privada: há ações inadmissíveis, que exigem punição dos autores nos termos escrupulosos da lei.

O prefeito, porém, minimizou: ''Houve nessa circunstância um descuido''.

''Descuido'' todo mundo acumula, aos montes, todos os dias.

O que houve na Sé foi outra coisa: maldade, e das mais covardes.

Com o eufemismo, Doria deu a impressão de que tolera o inaceitável.

Ao menos quando as vítimas dos sádicos são os mais pobres e vulneráveis.

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