Blog do Mario Magalhaes

Guto Ferreira: machista e obtuso

Mário Magalhães

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Guto Ferreira, técnico do Inter – Foto Jeferson Guareze/AGIF

 

O pedido de desculpas do técnico Guto Ferreira pelo coice pronunciado depois da vitória do Inter contra o Luverdense merece ser saudado.

Mas não impede algumas reflexões sobre o que vai na cachola do técnico.

Indagado pela repórter Kelly Costa a respeito de erros em finalizações, ele respondeu desqualificando a entrevistadora:

''Desculpe, eu não vou fazer essa pergunta para você porque você é mulher e de repente não jogou [futebol]. Mas a situação de repente de ter praticado um esporte… Todo atleta sob pressão tem a dificuldade de ter o foco no lance final. Ele trabalha contra a confiança dele também. De ele acertar para ter a confiança. Então eu ia fazer uma pergunta para você se daqui a pouco você na condição… se você já jogou, para perceber essa situação… Mas de repente eu consegui trazer a resposta mais para essa situação… de canalizar dessa maneira''.

O pedido de desculpas não foi contido, e sim _parabéns_ explícito:

''Gostaria de pedir desculpas à Kelly Costa, eu acho que fui muito infeliz no raciocínio, acabei me atrapalhando, não quero mudar a opinião de ninguém. Respeito a opinião de todo mundo, sei que errei e estou aqui pedindo desculpas''.

Sua reação original contém um raciocínio escancarado e outro bandeiroso.

O bandeiroso tem a ver com o fato de a jornalista ser mulher. Por isso, ela eventualmente não teria jogado e supostamente saberia menos de futebol.

O escancarado supõe que só pode entender de pressão em jogador quem foi boleiro.

Tal visão é contraditória com a exigência contemporânea de apoio psicológico a muitíssimos jogadores, justamente pela pressão que eles sofrem na atividade competitiva profissional. A maioria dos psicólogos esportivos no futebol não competiu profissionalmente.

Mais grave é imaginar que o capítulo como jogador é imprescindível na biografia de quem entende de futebol.

Também para trabalhar como técnico?

Carlos Alberto Parreira, técnico da seleção campeã em 1994, não foi jogador.

Nem Cláudio Coutinho, o artífice do time do Flamengo que, treinado por Paulo César Carpegiani, conquistou o Mundial Interclubes em 1981.

Idem Paulo Autuori, duas vezes campeão da Libertadores.

Ou Oswaldo de Oliveira, que levou o Corinthians ao título mundial.

Os técnicos que mais me encantaram e encantam foram boleiros, e dos bons: Telê Santana e Pep Guardiola.

O que não significa que ter estado em campo seja condição para sacar de futebol.

Assim como um cracaço pode resultar em mau técnico.

Quem entregaria o seu time para o Pelé treinar?

Pernas de pau, como Arsène Wenger e José Mourinho, se saíram tremendos técnicos.

Que eu saiba, o Guto Ferreira não jogou, ao menos como profissional.

Se jogou, pouca gente teve conhecimento.

Só por isso não poderia fazer o que faz, porque ''de repente não jogou''?

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