Blog do Mario Magalhaes

O Vasco é muito maior do que o senhor feudal de São Januário

Mário Magalhães

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Eurico Miranda, o capo: o Vasco não merece – Foto Ricardo Borges/Folhapress

 

Desde o sábado vulcânico em São Januário têm sido enumeradas obviedades necessárias: a punição do assassino do ajudante de eletricista David Rocha Lopes; a punição de quem arremessou bombas; a punição de quem permitiu a entrada dos artefatos explosivos no estádio; a punição, com perda de mando de campo, da agremiação em cuja casa e por obra de ditos torcedores seus a selvageria surgiu e se alastrou; e outras punições mais.

Por que tanta punição? Porque a impunidade é combustível da barbárie.

E por que ''ditos torcedores'', e não somente ''torcedores''? Porque enquanto permanecer a denominação pusilânime de torcedor para quem não está nem aí para o futebol a violência insensata e covarde será relativizada no esporte.

Dito o essencial, é um despropósito abordar a calamidade de São Januário como mal exclusivo vascaíno. Um sem-número de clubes nacionais abrigam cretinos como os que anteontem saíram de casa para aprontar, e não para torcer. A matança não acontece só no Rio, mas em outras cidades e Estados. Até, de autoria de brasileiros, além-fronteira. O combate, nesse aspecto, não é apenas contra as mazelas cruz-maltinas, mas ao banditismo com cores muito mais variadas.

A promiscuidade entre certas torcidas organizadas (a generalização é imprópria) e cartolas, mesmo os engomadinhos oriundos do mercado financeiro, dissemina-se país afora. Tornou-se comum uma torcida vincular-se a uma trincheira ou outra nas rinhas politiqueiras dos clubes. Os ingressos gratuitos são a face mais suave de tal associação daninha para os clubes, mas rendosa _no mínimo politicamente_ para os dirigentes. Essa vergonha não se restringe ao Vasco.

Com base na pancadaria mortal de São Januário, constitui desatino condenar a presença de duas torcidas _no caso a da casa e a do visitante, o Flamengo vitorioso por 1 a 0. O pau se concentrou entre ditos vascaínos.

Aí mora uma tragédia particular do Vasco. Na ambição de eternizar o poder para o seu clã, Eurico Miranda transformou o clube num caldeirão de ressentimentos, ódios e vinganças. No sábado, o caldeirão transbordou.

Não é indispensável ser vascaíno _ eu não sou_ para reconhecer, além da condição de gigante futebolístico, o imenso lugar social e histórico do Clube de Regatas Vasco da Gama na formação social e cultural brasileira. O Vasco é um orgulho do Brasil. (Palavra de um torcedor do Flamengo com pai, uma irmã e dois irmãos vascaínos.)

De tão grande o clube, enfatiza-se a aberração de ser comandado por Eurico.

No tempo em que, para o bem e para o mal, o capitalismo vinga também no futebol, o Vasco parece parado no tempo.

Tem elenco mais fraco do que clubes com torcida muito menor.

O senhor feudal que o controla é aquele que uma vez contou ter sido assaltado quando levava para casa o dinheiro da renda de um jogo.

E cujos acólitos espalhavam que poderia se suicidar em caso de rebaixamento do Vasco para a segundona. O Vasco caiu, e Eurico continuou vivíssimo.

É um personagem passadista e sombrio. Mantém a pinta de protagonista de filme do Coppola.

Ele precisa do Vasco.

O Vasco não precisa dele.

Isso sempre esteve claro, mas muitos tentaram enganar dizendo que era o contrário.

E outros se deixaram enganar.

Para o bem do Vasco e do futebol, é hora de o engano acabar.

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