Rogério Ceni? Tomara que o Zico nunca seja o técnico do Flamengo
Mário Magalhães
Não é que o São Paulo tenha ''apenas'' perdido por 2 a 0 para o Flamengo. Foi mais do que isso. O tricolor levou ontem um baile na Ilha do Urubu, foi dominado quase o jogo inteiro, poderia ter sido derrotado por mais. Amarga a zona de rebaixamento. É fácil apresentar a conta à defesa. Mas é complicado segurar atrás se à frente pouco perigo se constrói. O Lugano, aos 36 anos, está melhor do que eu supunha. Do Pratto, dá pena, tamanha sua solidão. O que foi feito do Cueva, digo, do futebol do Cueva?
A ascensão rubro-negra decorre sobretudo da qualidade do seu elenco. Como tantas vezes escrito aqui, é um dos melhores do país. Começou a dar resultado. A equipe tem se mostrado mais bem armada, depois que enfim o Zé Ricardo desistiu (obrigado, São Judas Tadeu) da parelha Márcio Araújo-Willian Arão na qual tanto insistia _o segundo acabou no banco. O Cuéllar oferece mais qualidade ao meio-campo. Pode oferecer mais, se vacilar menos em alguns passes. O Everton Ribeiro na direita do ataque forma com o Diego uma dupla de armadores criativos _antes o Diego, no meio-campo, tinha de dar conta sozinho desse trabalho, o que facilitava a marcação sobre ele.
Os elencos com mais qualidade ascendem igualmente longe da Gávea-Ninho do Urubu-Ilha do Urubu. Dos cinco favoritos ao título reconhecidos por muita gente na largada do Campeonato Brasileiro, quatro ocupam as primeiras posições às vésperas da 12ª rodada. É um aspecto ruim da competição: sua previsibilidade.
Não tenho acompanhado o São Paulo com a frequência e a atenção indispensáveis para maiores pitacos. A estreia do Rogério Ceni como técnico, sem experiência prévia, num clube gigante constitui uma operação arriscadíssima. Ainda pode dar certo, e eu torço para que dê. Até um treinador genial como o Guardiola não iniciou diretamente no time principal do Barcelona. Já ouvi gente citando experiências do passado, de jogador que, sem escalas, passou a técnico. Mas os tempos mudaram, são mais complexos, um pouco de prática e estudo sistemáticos antes de lances ambiciosos costumam ser importantes no esporte.
É difícil julgar o desempenho do ex-goleiro também porque o clube vai lhe tirando jogadores, transferidos para o exterior. As perdas rebaixam o padrão técnico do elenco e exigem improvisos. Seria penoso mesmo para treinadores mais rodados.
Não gostaria de estar na pele dos torcedores do São Paulo. Eles querem o melhor para o clube e para o ídolo Rogério Ceni. É possível que em determinado momento o recomendável para a instituição não seja a permanência do mito no comando da equipe (esse momento já chegou?). Eis um drama futebolístico-existencial.
Tomara que o Zico jamais treine o Flamengo. Heróis não devem ser expostos assim. Às vezes dá certo, e poderia dar no caso do Zico. Técnico talentoso, tem virtudes para levar longe o Flamengo. Mas se não levasse? Sofrimento em dobro, pelo clube e pelo Galinho. Não quero nem imaginar. Gritar burro? Pedir a cabeça? Vira essa boca pra lá.
Outra questão: são-paulino de coração, Rogério algum dia pensará que o melhor para o clube é a sua saída?