Blog do Mario Magalhaes

O país da hipocrisia descobre Gilmar Mendes

Mário Magalhães

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O ministro Gilmar Mendes, em sessão do TSE – Foto Marlene Bergamo/Folhapress

 

Um grita (quase) generalizada expressou horror com o encontro da terça-feira entre Michel Temer e Gilmar Mendes na casa do ministro. Também participaram os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco. Na véspera, o procurador-geral da República denunciara Temer por corrupção passiva. Um dia depois da conversa na residência do ministro do STF e presidente do TSE, o presidente da República anunciou a escolha da procuradora Raquel Dodge para substituir Rodrigo Janot na PGR.

Eu me associo ao horror, espanto-me com as fantasias rasgadas, no entanto seria cínico se afetasse surpresa. Ou o comportamento de Gilmar Mendes mudou de umas semanas para cá, contrastando com suas atitudes anteriores? Para responder positivamente, só com muita ignorância ou muita desfaçatez.

O ministro poderá julgar Temer, Padilha e Moreira, todos enrolados em investigações sobre uma vastidão de crimes que eles alegam não ter cometido.

De acordo com a BBC Brasil, Gilmar e Temer se encontraram ao menos oito vezes, ''sem registro em suas agendas'', de maio do ano passado ao começo de abril deste ano. Alguns desses convescotes foram noticiados, mas muita gente deu de ombros.

No dia 9 passado, Gilmar Mendes desempatou o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral. Absolveu-a, em voto que salvou o peemedebista abancado no Planalto. Não se insinua aqui silogismo, que a camaradagem do ministro do Judiciário com o chefe do Executivo teria determinado decisões do primeiro. Apenas se observa a paisagem.

A história é comprida. No almoço de 16 de março de 2016, Gilmar Mendes teve dois comensais conhecidos em sua mesa num restaurante brasiliense: o senador José Serra e Armínio Fraga, o economista que dois anos antes o senador Aécio Neves prometera como seu ministro da Fazenda na hipótese de triunfo na eleição presidencial. A informação, publicada pelo colunista Ilimar Franco, não causou comoção.

Nem dali a dois dias, quando Gilmar Mendes impediu a posse do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil do agonizante governo Dilma. Se foi certo ou errado é controvérsia sem prazo de vencimento. Saltam aos olhos, porém, a pressa no desfecho da situação de Lula e a demora do Supremo para definir imbróglio semelhante, o do ministro Moreira Franco. Quantos se perturbam com a diferença de tratamento?

Em março de 2017, leu-se que, ''diante das turbulências provocadas pela Lava Jato, o senador José Serra (PSDB-SP) deve apresentar na próxima semana uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira da Carta os dispositivos que regulam o sistema eleitoral. O assunto foi discutido no jantar realizado na quarta-feira (15) na casa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, com a participação do presidente Michel Temer e de vários convidados do Congresso''.

Em conversa telefônica interceptada com autorização judicial _o grampeado era o então presidente do PSDB_, Aécio Neves falou para Gilmar Mendes, referindo-se ao senador Flexa Ribeiro:

''Você sabe um telefonema que você poderia dar que me ajudaria na condução lá. Não sei como é sua relação com ele, mas ponderando. Enfim, ao final dizendo que me acompanhe lá, que era importante. Era o Flexa, viu?''

Gilmar respondeu: ''O Flexa. Tá bom, eu falo com ele''.

Como o Brasil é a terra da hipocrisia, as broncas são seletivas.

Ao menos o país, enfim, resolveu descobrir Gilmar Mendes.

O ministro não mudou.

Mas só agora muitos se incomodam com ele.

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