Blog do Mario Magalhaes

‘Ame-o ou deixe-o’: Que tipo de torcida quer o presidente do Flamengo?

Mário Magalhães

Bandeira de Mello não escondeu o abatimento com a eliminação na Libertadores

Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo – Foto Pedro Ivo Almeida/UOL

 

Depois da disputa de 18 pontos no Campeonato Brasileiro, o Corinthians lidera com 16. Seguem-no Coritiba, com 13, e Grêmio, com 12 e um jogo a menos.

Numa campanha até agora bisonha, o Flamengo amarga a 15ª posição, com humilhantes 7 pontos, somente 2 acima do corte para o rebaixamento.

O presidente do clube, no entanto, relativizou o fiasco: ''Todos os times considerados favoritos estão perto do Flamengo, uns pontos à frente'', disse Eduardo Bandeira de Mello depois do empate dominical com o Avaí.

É óbvio como a má fase do Muralha que com seis rodadas seria impossível o líder deixar o lanterninha dezenas de pontos atrás. Até o mais inepto aluno de matemática sabe disso. Mas o Corinthians acumulou mais do que o dobro do rubro-negro.

Bandeira de Mello não julgava o Corinthians, ou o Grêmio, um dos favoritos ao título?

É estranho que um dirigente do Flamengo pareça achar natural um dos elencos mais caros da competição ter vencido uma única partida em seis. Pode ser natural noutra freguesia, não no Flamengo.

Nenhum clube carioca investiu tanto na montagem do time. Porém, o Flamengo é superado por Fluminense, Vasco e Botafogo. Por enquanto.

Para nada serve ponderar que o Atlético-MG, um dos favoritos, está pior. O Flamengo não se consola com reveses alheios. É um gigante, que se preocupa muito mais consigo do que com os outros.

Em vez de deixar claro à equipe que no Flamengo o sarrafo fica lá no alto, o desafio é muito maior, Bandeira de Mello tem preferido encrencar com torcedores e jornalistas.

Primeiro, mencionou ''falsos rubro-negros''. São os críticos. Quem definiria os ''verdadeiros'' e os ''falsos''? Bandeira de Mello? Com que autoridade?

Mais tarde, ele emendou: ''Posso ter me expressado mal quando usei a expressão 'falsos rubro-negros'. Houve quem interpretasse de forma que eu estivesse criticando a todos que estavam me criticando ou criticando o time. Quando eu disse falsos rubro-negros me referi a pessoas que comemoram quando a gente perde e lamenta quando a gente ganha. São pessoas que têm interesses pessoais acima da paixão pelo clube. Estou falando de um número muito pequeno de pessoas, não estava falando dos torcedores do Flamengo indignados''.

Ontem o presidente veio com a conversa de ''verdadeiros dirigentes''. Existem falsos? Alguém se apresenta como ''verdadeiro dirigente'' sem mandato para isso? Tudo porque se contrariou com comentários sobre a continuidade ou não do Zé Ricardo. ''Acho que tem gente que se imagina no lugar do dirigente do Flamengo e inventa o que teria feito se estivesse na reunião'', afirmou Bandeira de Mello. ''Prefiro que vocês acreditem nos verdadeiros dirigentes do Flamengo em vez de ir atrás de especulação de gente que tem até outro tipo de interesse''.

Qual é o outro interesse? Quem são esses traíras?

As declarações tempestuosas indicam que o presidente tem limitações para entender que isso aqui é Flamengo. Quem não quer torcida crítica, inteligente, apaixonada e generosa, com legitimidade para cobrar, deve dirigir clubinho, não o Clube de Regatas do Flamengo.

Essas manifestações de intolerância contradizem a tradição democrática rubro-negra. Nossa capacidade de convivência pelo amor comum ao clube, a despeito de eventuais ideias diferentes sobre outras coisas. Mais do que direito, é dever dos rubro-negros exigir bom desempenho. No mínimo, raça. E indignação diante de vexames em série. É graças à torcida, alma do clube, que o Flamengo é o que é.

O presidente não pode desqualificar quem se incomoda com o time caótico. Lembra a ditadura, que avacalhava os oposicionistas, denunciando-os por supostamente não gostar do Brasil. Os militares lançaram o slogan cretino ''Ame-o ou deixe-o'' _só seria ''bom brasileiro'', sugeria o governo, quem apoiasse os generais-presidentes.

A ditadura também não aceitava jornalistas que pensam com a própria cabeça. Gostava dos bajuladores.

Podemos concordar ou discordar sobre a permanência do Zé Ricardo; o Muralha titular até a semana passada; o Márcio Araújo e o William Arão; os experimentos sádicos com o Mancuello, que num dia vai para a ponta-direita, noutro é segundo homem do meio-campo; sobre, na Ressacada, tirar o Vinicius Junior e colocar o Vizeu, piorando o ataque. E muito mais.

A questão é mais profunda: divergir é do jogo. Nenhum cartola tem prerrogativa para amaldiçoar torcedor que cumpre o seu dever e exerce o seu direito.

Eduardo Bandeira de Mello faz um trabalho elogiável na administração e nas finanças do clube.

Graças aos progressos notáveis nesses departamentos foi possível investir mais no futebol.

Se não fosse o tamanho e a devoção da torcida do Flamengo, os avanços não seriam possíveis. Quanto valeriam os patrocínios e os contratos de TV se a torcida não constituísse uma nação imensa?

O time pode _e vai dar_ a volta por cima no Campeonato Brasileiro.

Porque, de um jeito ou de outro, a torcida o empurrará.

Nos estádios e, quem não tem dinheiro para o ingresso caro, nos aeroportos.

E pressionando para mudar _o Muralha teria sido barrado se não fossem os torcedores?

Se depender da minha torcida, quero ver no fim do ano o Zé Ricardo campeão, atirado para o alto pelos jogadores.

Mas, se não houver logo melhora, o mais indicado será o afastamento do bom e promissor técnico.

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