Berdamerdas e escroques
Mário Magalhães
Alcoviteiro, biltre, beócio, calhorda, energúmeno, janota, mentecapto, mequetrefe, mocorongo, paspalho, palerma, patife, pulha, purgante e sacripanta. Esses foram os quinze xingamentos ou avacalhações dos velhos tempos garimpados pela repórter Juliana Kataoka. Como toda seleção, essa pode ser espichada ou encolhida. A minha lista dos dez melhores filmes muda com mais frequência que fralda de bebê.
Mentecapto eu uso. Sempre me lembra o romance O grande mentecapto, do Fernando Sabino. Virou filme dirigido pelo Oswaldo Caldeira, com o Diogo Vilela como o protagonista Geraldo Viramundo. Não sou boa referência. Outro dia comentava que ninguém mais enxovalha o próximo como escroque. Então ouvi que dias antes me referira a um certo tipo como escroque. A propósito, o verbo enxovalhar ainda é corriqueiro?
Escroque não está na lista, mas patife está. Machuca mais que uppercut em boxeur com queixo de vidro. Tenho um amigo niteroiense das antigas que raramente, ou nunca, diz palavrão. Combina com sua elegância. Estou a léguas dele, na elegância e nos palavrões. Volta e meia ele enche a boca e sentencia alguém como patife. Chamar um fulano de patife merece cenário em preto e branco, estética de cinema americano dos anos 1940. Como tem patife por aí.
O listão da Juliana dispensou canalha, verme, cafajeste. Suponho que o motivo tenha sido a sobrevivência dessas palavras nas conversas do cotidiano. Se não as dizemos, pensamos. Janota e palerma não xingam ninguém. Também não envaidecem.
Na minha lista, uma palavra indispensável foi a que aprendi mais tarde: berdamerda. Quem me ensinou foi um amigo potiguar, nascido no mesmo ano do amigo niteroiense. Ao mencionar alguém metido a besta, porém sem importância, o amigo potiguar não fala que o sujeito é um joão-ninguém, uma pessoa reles, um bosta. Não passa de um berdamerda.
Berdamerda é substantivo tão demolidor que dispensa ponto de exclamação. O dicionário contempla a variante bardamerda. Muda a primeira vogal, mas a merda permanece. O Houaiss informa que a origem da palavra é controversa. Seria cria da frase “vai beber da merda”, que um oficial português do século 19 teria pronunciado ao enfrentar um motim em sua corveta. No que deu o motim eu não sei. Mas sei que todo mundo conhece algum berdamerda.