Blog do Mario Magalhaes

Atitude de jornalistas com Andrea Neves, irmã de Aécio, foi abominável

Mário Magalhães

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Andrea Neves, presa em Belo Horizonte – Foto Cristiane Mattos/Reuters

 

Beirou a depravação a relação promíscua de parte _parte_ do jornalismo mineiro com as administrações de Aécio Neves como governador.

A rigor, não foi jornalismo, e sim propaganda mal disfarçada.

Em vez de se exercer a fiscalização crítica do poder, valor indissociável da atividade jornalística, promoveu-se o governo como se marqueteiro dele fosse.

Para patrulhar o comportamento de jornalistas dignos do nome, a maioria, Andrea Neves atuou com mão de ferro. Numerosos episódios já foram narrados e merecem ser conhecidos.

Ela é irmã de Aécio e, desprezando eufemismos, sua operadora mais influente.

Andrea perseguiu ou incitou a perseguição a jornalistas que não se curvaram à voz oficial do governo de Minas.

Já ouvi que, no método menos truculento para impedir a difusão de notícias que não convinham ao governo, ela indagava se a pauta era mesmo boa.

Pauta é o objeto da notícia ou reportagem, o seu propósito inicial. Muitíssimas vezes Andrea derrubou, mexendo os pauzinhos, pautas legítimas e relevantes que contrariavam seus interesses.

Houve quem observasse vez ou outra a aparência de monopólio informativo simpático a Aécio.

Sem pluralismo de informação não há democracia efetiva.

Os cidadãos precisam conhecer fatos e opiniões para formar o seu próprio juízo.

Portanto, Andrea e Aécio, censores de fancaria, agiam em prejuízo da democracia.

Toda essa introdução pretende contextualizar os acontecimentos.

Mas o contexto não justifica a atitude de alguns _que eu tenha ouvido, dois_ repórteres que ontem provocaram Andrea Neves quando ela já estava presa.

''A pauta é boa?'', ''Gostou da pauta, Andrea?'', gritaram (assista clicando aqui).

Foi uma vingança abominável, de autoria de jornalistas.

Mesmo se fosse a ''apresentação'' de um assassino à imprensa, não caberia a jornalista berrar como se fosse acusador. Repórter informa, não é promotor nem advogado, muito menos juiz.

Como a presa estava em condição de nítida inferioridade, as provocações não pareceram gesto de valentia _pelo contrário.

Minha admiração é imensa pelos jornalistas que mantiveram a altivez diante de Andrea e Aécio quando eles mandavam e desmandavam, e não somente agora, ao caírem em desgraça.

Chopp e festa pela prisão de Andrea Neves são compreensíveis e legítimos. Imagino que animados.

Mas a vingança primitiva alimentada por ressentimento _os gritos para Andrea_ não convém ao jornalismo, o mesmo jornalismo tão alvejado pelos irmãos Neves.

Ninguém é filho de chocadeira, já dizia João Saldanha. Noutras palavras, todos têm opiniões, idiossincrasias, inclusive jornalistas.

Mas não nos cabe agir como amigo ou inimigo deste ou daquele, a despeito de a objetividade quimicamente pura inexistir no jornalismo e na vida.

Lembrei-me do tempo insensato em que repórteres andavam com broche de partido político e escreviam sobre o partido que cobriam ou sobre partidos adversários.

Gritar provocando uma mulher presa não é igual a chutá-la. Mas não é igual a jornalismo, goste-se ou não da neta de Tancredo.

A defesa do jornalismo contra figuras como Andrea Neves não dispensa métodos, critérios e valores do jornalismo de qualidade.

Pelo contrário, reforça a necessidade deles.

Que valem tanto para a irmã de Aécio quanto para qualquer outro personagem das histórias que o jornalismo conta.

A ruína ou enfraquecimento do esquema dos Neves, protagonizado pelo irmão e gerenciado pela irmã, é boa notícia.

Jornalista atuando como justiceiro e vingador, não.

O jornalismo precisa de coragem, e não de covardia.

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