Favoritos do Brasileiro + Estreia dos cariocas + Libertadores + City, Barça
Mário Magalhães
Fixou-se como lugar-comum dizer que a primeira rodada do Brasileiro tem pouco a esclarecer sobre o campeonato porque muita água vai rolar.
Sim, faltam 37 rodadas. Mas a primeira onda pode dar pistas sobre as seguintes. E vale tantos pontos quanto a última.
Dos meus cinco favoritos ao título, Palmeiras e Grêmio empolgaram. Flamengo e Atlético-MG escancararam virtudes e defeitos no empate de 1 a 1, com um tempo de superioridade de cada time. E o Corinthians, contra a Chapecoense, frustrou na igualdade em um gol.
O Galo poderia ter vencido no Maracanã, talvez merecesse, embora no sábado o Flamengo tenha novamente desperdiçado chances preciosas. Os anfitriões se ressentem demais da ausência de Diego. O velocista e carismático Berrío mantém relação conflituosa com a bola. Para piorar, padece de insegurança crônica. Poderia ter finalizado duas vezes com perigo, mas ficou com medo de chutar. Se eu fosse o Zé Ricardo, não teria colocado Vinicius Junior em campo numa partida tão acirrada. Mesmo perto do fim. O garoto de 16 anos deveria ser lançado em jogos resolvidos ou mais fáceis. Mas é confortável falar depois: e se o menino fisicamente parecido com o Adílio tivesse decidido?
O Vasco teve o desprazer de estrear contra o Palmeiras, em São Paulo. Os atuais campeões têm o mais completo elenco do país e ainda estão se reforçando. Com Cuca, ficaram mais eficientes _e o Borja pareceu o Borja. Jogaram muito, com Dudu esbanjando futebol. Mas o adversário poderoso não justifica o tamanho do revés cruz-maltino. Os visitantes levaram 4 a 0 porque o melhor em campo foi Martín Silva. O goleiro impediu estrago maior. Os dois pênaltis cometidos por Jomar sintetizaram as limitações individuais e coletivas. Os vascaínos foram muito dóceis. Num dos gols, Mina saiu da defesa e atravessou quase todo o campo sem ser importunado, criando a jogada mortal. É cedo para diagnosticar o Vasco na UTI. Se não evoluir muito, poderá sofrer nova agonia rumo à segundona. O clube é vítima da mentalidade feudal que o preside, em tempos de futebol capitalista. Vive noutra era. Precisa de uma revolução burguesa. Apesar de tudo, e do gol perdido, não canso de admirar o futebol do meia Douglas.
O Botafogo também não deu sorte, ao pegar em Porto Alegre um dos candidatos ao título. O Grêmio ganhou por 2 a 0, e não mais, porque ninguém jogou (defendeu) como Gatito Fernández. O segundo gol foi irregular _a bola bateu na mão de Luan_, o que não muda o essencial: o Botafogo voltou a apresentar a pior versão do sistema com três volantes. O time já provou que pode ser ambicioso no ataque mesmo com um trio de especialistas em marcação no meio. Ontem ocorreu o contrário: entrou para esperar o Grêmio, sonhando com algum contra-ataque milagroso que ficou na vontade. É simples culpar o Camilo, ligação dos volantes com os atacantes, mas, se a bola não chega nele, como fazer alguma coisa? O alvinegro não levou Sassá ao Sul por alegada indisciplina. Se o atacante viajasse e não ficasse nem no banco, seria de fato um castigo. Deixaram-no no Rio. Alguém acha que o Sassá ficou em casa descansando e matutando sobre seus vacilos?
Único carioca a vencer na estreia, o Fluminense teve seu dia sim na trajetória ciclotímica recente. Há equipes que mantém um padrão, seja bom, medíocre ou ruim. A do Abel é imprevisível. A vitória de 3 a 2 sobre o Santos não foi pouca coisa. O derrotado é o vice-campeão nacional. Tenho amigos tricolores que malham o lateral esquerdo Léo. Não entendo por quê. O garoto é bom, como voltou a deixar claro no jogo matinal do domingo. Com o regresso do Scarpa, que entrou no segundo tempo, é possível melhorar. Até que ponto? Não sei.
Na quarta-feira, o Flamengo decide contra o San Lorenzo uma vaga nas oitavas de final da Libertadores. Para depender de si mesmo, precisa enfim somar um mísero pontinho fora de casa. Anteontem, dois problemas recorrentes rubro-negros foram reafirmados: criar, mas não marcar; e dar muito mole em alguns lances _se o Réver tivesse entrado mais firme na dividida, o Galo não teria alcançado o gol.
No mesmo grupo, o 4, o Atlético-PR enfrentará no Chile a Universidad Catolica. Em caso de triunfo, se classifica. E Paulo Autuori justificará a ausência de tantos titulares ontem, em medida que contribuiu para os 6 a 2 do Bahia. Na minha opinião, o técnico acertou em poupar, a Libertadores é mais importante. Como não assisti ao chocolate, só aos gols, não sei o que houve (além da moleza, um tanto estranha, na marcação dos rubro-negros diante dos tricolores).
Além-mar, Gabriel Jesus marcou um gol de pênalti nos 2 a 1 do Manchester City sobre o Leicester City. O moleque tem moral, como evidenciou também noutro momento: o Yayá Touré deu-lhe uma bronca, descabida, e o brasileiro reagiu. Não se intimidou. Já seu (nosso) compatriota Fernandinho acertou uma cotovelada num adversário. Merecia amarelo ou vermelho, porém o apitador não deu, que eu lembre, nem falta.
Como se pretendesse responder à comissão técnica do Barcelona, que o repreendeu, Neymar fez três gols e deu um passe decisivo na goleada de 4 a 1 sobre o Las Palmas. Talvez o ex-santista esteja excessivamente preocupado com assuntos fora do futebol, como reclamaram. Sei lá. Continua jogando muito. Quem esteve bem foi o zagueiro blaugrana Marlon, ex-Fluminense. Aos 21 anos, parece que ele conquistou seu lugar no elenco do time de cima.
No fim de semana do Dia das Mães, vi seis jogos. Nada mal para quem, há uma eternidade, despediu-se do jornalismo esportivo (o mais prazeroso, disparado).