Blog do Mario Magalhaes

França: quando o jornalismo sabe dizer não

Mário Magalhães

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Marine Le Pen, candidata presidencial derrotada na França – Foto Eric Gaillard/Reuters

 

Em janeiro, repórteres fizeram um papelão nos Estados Unidos. O então presidente eleito Donald Trump proibiu que um jornalista da CNN lhe dirigisse pergunta. Como cordeirinhos, os repórteres presentes na entrevista coletiva não reagiram. Poderiam ter se comportado de modo diferente? Sim, conforme assinalado em comentário à época.

Ontem, na França, deu-se o contrário. A campanha da candidata de extrema direita Marine Le Pen vetou alguns veículos jornalísticos franceses e estrangeiros no local de confraternização e despedida da campanha. Era lá que a postulante presidencial derrotada discursaria. A Frente Nacional estava contrariada com o teor e o tom das coberturas.

Em exemplo de decência jornalística, ''Le Monde'', ''Libération'' e outros concorrentes dos veículos excluídos resolveram não comparecer ao evento.

Luc Bronner, diretor de redação do ''Monde'', escreveu que o jornal ''condena veementemente essa atitude [da Frente Nacional] que não permite assegurar adequadamente a cobertura de um momento democrático maior e evidencia, depois de vários outros incidentes, uma concepção degradada da liberdade de imprensa. Em solidariedade aos meios de comunicação em questão [os barrados], nós decidimos não estar presentes a essa noite eleitoral [o encontro de Le Pen]. Esta decisão não nos impedirá de continuar a cobrir a Frente Nacional com as mesmas exigências jornalísticas''.

Talvez alguém especule: Trump tinha vencido a eleição; Le Pen, já se sabia, perderia para Emmanuel Macron; a reação ao veto a jornalistas seria a mesma se a deputada tivesse triunfado na França?

O fato, acima de elucubrações, é que as atitudes foram distintas.

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