Façanha do Flamengo foi maior do que pareceu
Mário Magalhães
Melhor elenco e melhor time do Rio hoje, o Flamengo conquistou invicto o seu 34º Campeonato Carioca/Estadual.
Quando o melhor triunfa, supõe-se que deu a lógica. Que façanha seria o mais fraco sobrepujar o mais forte.
Nem sempre é assim. Como no domingo, com o Maracanã tomado por quase 70 mil pessoas.
Os 2 a 1 no Fla-Flu foram alcançados por uma equipe extenuada. No meio da semana, enquanto os tricolores se preservavam, os rubro-negros pelejaram numa competição mais importante, a Libertadores.
Já no primeiro tempo de ontem Guerrero sentiu incômodos físicos.
Everton aparentou desconforto com a lesão de que convalesce.
Embora mais sacrificado com os esforços nas duas semanas recentes, o Flamengo correu até o fim.
O Fluminense se ressente, e muito, de Scarpa fora.
E o Flamengo tem imensa dificuldade para substituir Diego.
Ao contrário do que havia ocorrido em ocasiões anteriores, a improvisação de Trauco como armador não funcionou.
Enquanto Berrío esteve em campo, na ponta direita, o campeão pareceu ter um a menos, apesar da proverbial combatividade do atacante.
Na melhor hipótese, Berrío precisa de tempo para se desenvolver. Na pior, foi contratação infeliz.
A despeito de Zé Ricardo, em começo de carreira, fazer muito bom trabalho, ele não é treinador à altura de Abel. Ao menos por enquanto.
O técnico tricolor prometeu que seu time entraria acelerado, e não na marcha lenta de uma semana antes. Prometeu e cumpriu.
Depois de abrir o placar, com Henrique Dourado, o Fluminense recuou, para investir em contra-ataques. Atrás, quase não foi ameaçado no primeiro tempo.
O Flamengo superou um time treinado por Abel. Não é pouco. Zé Ricardo tem talento.
As coisas se desenhavam tão complicadas para o rubro-negro que, embora minoritária no estádio, a torcida tricolor em alguns momentos fez mais barulho. Refletia o que acontecia no gramado.
O melhor elenco do Rio é bom, batalhará pelo título brasileiro, mas não é a maravilha com que alguns se iludem.
De novo, Rodinei teve de ser improvisado na direita do ataque. Incendiou o time e o jogo. Com dois laterais (Pará e, no lugar de Berrío, Rodinei), o ataque tornou-se mais perigoso. E Rodinei anotou o último gol do campeonato. Já não é hora de testá-lo desde o início?
Ele merece a consagração por ter marcado na quarta e no domingo.
E mais ainda o Guerrero, que honrou o nome (e fez mais um gol).
Meu retrato da superação, contudo, é outro: Márcio Araújo.
Já disse e repito: prefiro um jogador um pouco menos técnico, porém mais raçudo e eficiente, a um mais técnico e com sangue de barata.
Márcio Araújo dignifica a camisa que veste.
É o herói de tantas memes inspiradas na sua entrega. Gostei da do casal que, em busca de proteção na hora do amor, sabe que a melhor camisinha é a da marca Márcio Araújo. Ninguém protege como ele. Não passa nada.
Das vaias exaltadas aos aplausos consagradores _eis Márcio Araújo, a síntese da equipe cujo título foi muito mais difícil de alcançar do que sugere a ótima campanha.
O Flamengo abre maio muito competitivo.
Com o estado de espírito de quem quer mais.
Se mantiver a ambição, terá chances de chegar mais longe neste ano.