O melhor e o pior do Flamengo na grande noite no Maracanã
Mário Magalhães
Nosso sentimento de culpa atávico, histórico e cultural, às vezes constrange o júbilo com a lembrança de infortúnios e incertezas.
Danem-se infortúnios e incertezas: o Flamengo tem muito a comemorar ao vencer por 3 a 1 a Universidad Catolica e tangenciar a vaga nas oitavas de final da Libertadores.
Não é por celebrar a grande noite que se vai vacilar na partida seguinte.
O melhor no Maracanã, irmão de alma do rubro-negro, foi o estado de espírito do time.
Nos momentos bons e maus, manteve a ambição do triunfo. Não se deprimiu, deixou para lá, acomodou-se. Honrou a combatividade da torcida presente.
''Estamos jogando em casa!'', proclamou o capitão Réver aos companheiros, na volta do intervalo.
É o estado de espírito de quem não se satisfaz em participar, que quer mais. Sem isso se fica no caminho.
Outro assombro foi o onipresente Guerrero. O peruano infernizou a zaga visitante. Mesmo se não tivesse marcado o seu gol, teria sido com folga o melhor.
A parelha de volantes Márcio Araújo-Willian Arão foi muito bem, sobretudo o primeiro.
O Flamengo ganhou todos os pontos disputados no Rio.
E perdeu todos fora, embora tenha jogado bem.
Na derradeira rodada da fase de grupos, para não depender de ninguém, terá de arrancar ao menos um empate em Buenos Aires.
Se o Atlético-PR não bater a Catolica no Chile, o clube carioca poderá até perder para o San Lorenzo (sim, todo mundo já sabe que é o time do papa…).
O problema é que, ainda que não seja o favorito, o Furacão tem futebol para somar três pontos.
Por isso a situação do Flamengo não é tão tranquila como parece a alguns.
O contexto recomenda reconhecer as fragilidades _o pior_ reiteradas ontem.
Mancuello, como armador, e Gabriel, atacante pela direita, esforçaram-se, mas sem êxito.
Foram muito bem substituídos pelo Zé Ricardo, que, apesar do bom trabalho, demonstra paciência excessiva com Gabriel.
Réver e Rafael Vaz permitiram que Santiago Silva marcasse. O centroavante pesado e lerdo já havia anotado no confronto anterior. Levar dois gols de Silva é dose.
A equipe terminou com duas dobradinhas de laterais, à direita e à esquerda. Quatro laterais em campo. Funcionou, em especial com o Rodinei atropelando _de canhota, ele abriu o placar. Mas é óbvio que se trata de improviso. Que expõe fragilidades do elenco, bom, mas não tanto quanto alguns pretendem. Há muitos contundidos, a começar pelo maestro Diego. Mas a recuperação lenta de outros lesionados não é novidade: Ederson começou o ano convalescendo e Conca chegou sem condições.
A essa altura, não adianta lamentar o Gatorade derramado. O bom, para daqui a duas semanas, é que Diego deve estar de volta.
O Flamengo tem amplas chances de se classificar.
Mas não pode dar mole.
Uma boa inspiração? Os melhores momentos de ontem no Maracanã.