Caça às bruxas faria mal ao Flamengo. É preciso mudar, mas sem desespero
Mário Magalhães
Raros ambientes são tão passionais quanto o do futebol.
Vilão para muitíssimos torcedores do Atlético-PR ao falhar no jogo do Maracanã, Thiago Heleno fez ontem uma partidaça em Curitiba, onde o aclamaram como herói.
Nas redes sociais tantas vezes antissociais, o técnico palmeirense Eduardo Baptista era avacalhado, enquanto seu time perdia para o Peñarol. Com a virada, o achincalhe murchou.
Não seria diferente com o clube de maior torcida do país.
Depois da derrota da noite passada para o Furacão por 2 a 1, os rubro-negros cariocas ensaiam uma caça às bruxas, ou aos culpados pelo revés na Arena da Baixada.
Eis do que o Flamengo não precisa no momento: tribunais, ainda que simbólicos, e desespero.
Se acabasse hoje a primeira fase da Libertadores, a equipe estaria classificada.
É possível ou provável que na semana que vem, com uma rodada de antecedência, assegure a vaga nas oitavas-de-final.
Mais uma vez, como no Chile contra a Universidad Catolica, o malogro não decorreu de má atuação. O Flamengo poderia ter vencido.
Quando um dos melhores jogadores em campo é o goleiro adversário, Weverton, é impossível dizer que se jogou mal.
Novamente, chances foram criadas e desperdiçadas. ''Quem não faz leva'' é um clichê do futebol. Mas quem disse que todos os clichês são tolices?
Os visitantes se ressentiram da ausência do seu grande armador, Diego, convalescente de cirurgia em joelho.
Um substituto no ofício de criar, Everton, também estava de molho.
Rômulo jogou, compondo um trio de volantes. Revigorou a marcação, enfraqueceu o ataque.
Uma opção? Matheus Sávio, que entrou no segundo tempo.
O gol (não) feito que Gabriel perdeu não constitui novidade. Atacante batalhador, ele não supera uma deficiência grave: chuta, finaliza mal.
Berrío seria alternativa, porém está suspenso. Até agora, o carismático colombiano mostrou menos do que se esperava.
Muralha falhou, é verdade, no primeiro gol dos donos da casa.
É do jogo. O goleiro tem crédito. Deveria aprimorar saídas do gol e desenvolver a técnica para defender pênaltis.
Rafael Vaz, também no gol inaugural, foi superado no alto por Thiago Heleno. Lance normal. Ganha-se uma bola, outra não.
A julgar pela campanha recente, Donatti, tem de ser titular. Com dores musculares, fez forfait ontem. Rafael Vaz não merece, contudo, ser criticado pelo gol.
Não é hora de inventariar culpas e culpados. É cedo para juízo rigoroso sobre o trabalho de Zé Ricardo.
Mas o time precisa mudar, para multiplicar e aproveitar as oportunidades no ataque. Sem histeria.
Para o confronto com a Catolica, quarta-feira no Maracanã, três volantes seriam excesso de prudência.
Dois centroavantes, como na reta final de ontem, podem incomodar mais o antagonista do que um atacante ciscador.
Noutras palavras, talvez seja melhor Damião ou Vizeu fazer dupla com Guerrero. Gabriel sairia.
Se, enfim, o Ederson estiver recuperado, a qualidade na armação aumentará.
Ah, no domingo tem Fla-Flu. É importante, mas muito menos que a Libertadores.
Para não dizerem que não falei do Atlético-PR: o time é competitivo, cultiva a bola no pé, é bem armado pelo Paulo Autuori, mas não abandona a tendência de recuar demais quando está à frente no placar. Na estreia, contra a Catolica, pagou caro. Ontem, quase.