Blog do Mario Magalhaes

Greve geral será a favor de direitos e contra Temer, não em defesa de Lula

Mário Magalhães

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Protesto no Rio, em março, contra as ditas reformas de Michel Temer – Foto Hanrrikson Andrade/UOL

 

Crescem as adesões à greve geral de depois de amanhã. É impossível prever sua exata dimensão, mas é certo que será a maior demonstração de repulsa às ditas reformas trabalhista e previdenciária.

Eis os termos em que o conjunto das centrais sindicais convocou a paralisação: ''[…] Como alerta ao governo de que a sociedade e a classe trabalhadora não aceitarão as propostas de reformas da Previdência, Trabalhista e o projeto de Terceirização aprovado pela Câmara que o governo Temer quer impor ao País. Em nossa opinião, trata-se do desmonte da Previdência Pública e da retirada dos direitos trabalhistas garantidos pela CLT''.

O ramerrão governista propagandeando a ''modernização'' das relações no trabalho é balela. O que existe é o empenho da administração Michel Temer e do empresariado mais graúdo em retirar direitos conquistados pelos assalariados desde a primeira metade do século XX. Chamam essa garfada pelo eufemismo de flexibilização.

Sua consequência será o agravamento da desigualdade, mal supremo do Brasil. O país é um dos dez mais desiguais do planeta, conforme diagnóstico recém-divulgado pelas Nações Unidas. As mudanças conspiram para quem tem mais ter ainda mais e quem tem menos ter ainda menos. É contra tal retrocesso social que os sindicatos conclamam à greve.

É evidente que ela terá impacto político, inclusive nos arranjos eleitorais rumo a 2018. Quanto mais gente protestar contra Temer e sua política, melhor para postulantes como Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes. E pior para aspirantes como João Doria, Geraldo Alckmin e Aécio Neves, sócios do governo no empreendimento ''reformista''.

O que não significa que a motivação da esmagadora maioria dos grevistas e manifestantes na sexta-feira será endossar esse ou aquele candidato. Muitos têm os seus preferidos e preteridos, porém a greve se organiza com outra plataforma. Reunirá de defensores do mandato constitucional de Dilma Rousseff a quem se associou à deposição da presidente. Dos sindicalistas mais pelegos aos mais combativos (a classificação varia de acordo com a cabeça de cada um).

Nos últimos dias ouviu-se de alguns poucos partidários e opositores de Lula observação semelhante: a greve geral será de apoio ao ex-presidente. Uns pretendem fortalecer o petista com a vitamina dos milhões de braços cruzados. Outros querem esvaziar o movimento, vinculando-o ao antigo governante de alta rejeição (embora lidere com folga todas as pesquisas de intenção de voto para o Planalto). Certos correligionários de Lula cogitaram desmobilizar os militantes que viajarão a Curitiba no dia do interrogatório dele na Justiça Federal (ficou para 10 de maio). Alegaram que a greve geral equivaleria a uma exibição de força do pré-candidato.

Não procede. Participará da greve geral quem considera que Lula é perseguido por Moro; que Moro faz justiça escrupulosamente; que Moro às vezes age como magistrado e às vezes como parte; que Lula abusou de promiscuidade nas relações com empreiteiros, mas não cometeu crimes; que ele é tão criminoso quanto promíscuo; que, à Glória, não se sente em condições de opinar; ou qualquer opção não formulada.

Lula e a operação Lava Jato não são objeto da convocação das centrais sindicais. O que não impede, em ambiente democrático, que grevistas e manifestantes exibam faixas e berrem palavras de ordem contra uns e a favor de outros.

Mas a greve será contra Michel Temer e sua ofensiva contra os direitos dos trabalhadores.

É o presidente quem mais tem a perder depois de amanhã.

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