Corrupção no Parque Olímpico: questão de lógica
Mário Magalhães
A reconstrução do Maracanã rendeu ao ex-governador Sérgio Cabral R$ 60 milhões, de acordo com executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. O dinheiro corresponderia a 5% de propina, com base no orçamento integral da obra.
Mandachuvas da Odebrecht já haviam contado que Cabral levara uma bolada na construção da linha 4 do metrô. Um deles, Benedicto Barbosa da Silva Júnior, disse que a ladroagem nesse trecho desviou R$ 36 milhões, ''a pedido'' do ex-governador. Velho projeto, a linha 4, que liga Ipanema à Barra da Tijuca, só saiu do papel em nome das necessidades de transporte nos Jogos do ano passado.
A Olimpíada não escapou à voracidade de Eduardo Cunha, conforme a Procuradoria-Geral da República. O ex-deputado teria embolsado R$ 1,9 milhão para facilitar a edição de medida provisória liberando recursos para empreiteiras _OAS incluída_ que tocavam obras relacionadas à competição.
Os presidiários Sérgio Cabral e Eduardo Cunha pertencem ao PMDB do Rio.
O partido controlava, durante a preparação dos Jogos (e na sua realização) os governos da cidade e do Estado do Rio de Janeiro.
Mas até ontem eram escassas as denúncias quantificadas de corrupção em obras de competência municipal _responsabilidade da prefeitura, o Parque Olímpico foi erguido por um trio de empresas, Odebrecht e Andrade Gutierrez entre elas.
Não são mais. O ministro Edson Fachin, do STF, determinou a abertura de inquérito para investigar delação segundo a qual o ex-prefeito Eduardo Paes amealhou R$ 16 milhões em propina vinculada à Rio-2016.
Executivos da Odebrecht afirmaram que o peemedebista recebeu R$ 11 milhões no Brasil e R$ 5 milhões em depósitos no exterior.
Em troca, teria assegurado ''facilitação de contratos relativos às Olimpíadas de 2016''.
O ex-prefeito nega. Ele está morando nos Estados Unidos. Pretende se candidatar a governador do Rio no ano que vem.
A Justiça dirá se Eduardo Paes é corrupto ou não.
Nas numerosas informações sobre falcatruas em torno da Olimpíada, a prefeitura controlada pelo PMDB até dezembro (com vice-prefeito do PT) quase sempre escapava.
A lógica seria Odebrecht e Andrade Gutierrez adotarem métodos diferentes em obras do Estado e do município, apesar de os administradores pertencerem ao mesmo partido.
É possível que adotassem, espera-se que a apuração esclareça.
Mas haveria lógica?