Ação contra cartolagem da CBDA é motivo para comemoração, não de lamento
Mário Magalhães
A prisão de Coaracy Nunes Filho provocou reações estarrecedoras de alguns nadadores e técnicos brasileiros.
Eles trataram como má ou constrangedora a notícia da ação da Polícia Federal contra alegadas falcatruas na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.
Além do famigerado Coaracy, ex-presidente da entidade, outros três dirigentes foram em cana.
Golpe no esporte não é a investigação do que se suspeita ser desvio de dinheiro público.
E sim o que a apuração aponta como bandalheira na confederação comandada por quase três décadas pelo cartola renitente.
O que queima a imagem do esporte não é a busca por transparência de gestão e pela punição de quem comete crime.
Mas a permanência de esquemas em que recursos dos cidadãos não são empregados integralmente no esporte, pois trombadinhas os embolsam.
Se é isso o que ocorre de fato na CBDA é a Justiça quem dirá.
Mas a aversão às luzes, preferindo as patifarias das sombras, não ajuda o esporte.
Foi curioso assistir a numerosos jornalistas avacalhando atletas por não saudarem a ação policial.
Porque poucos figurões dos esportes olímpicos foram tão bajulados pelo jornalismo quanto Coaracy Nunes.
O jeito bonachão conquistava fácil quem preferia a adulação cotidiana a fiscalizar a entidade que recebe dezenas de milhões dos contribuintes.
O jornalismo em geral não tem do que falar dos nadadores. Até fanfarronice de Coaracy, como mergulho em piscina, foi aclamada como típica da dita irreverência do vivaldino.
Nomes? A questão é de valores, comportamento, ideias.
A prova de que não se pode generalizar as observações acima são vozes de indignação e decência no mundo esportivo, como a de Joanna Maranhão.
E de espírito crítico no jornalismo esportivo, como as de Juca Kfouri e Lúcio de Castro.
Faltam mais Joannas, Jucas e Lúcios no esporte e no jornalismo brasileiros.