Blog do Mario Magalhaes

Uma noite para a eternidade: ‘Não esperem o avião cair pra dizer eu te amo’

Mário Magalhães

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Bandeiras do Atlético Nacional e da Chapecoense, antes do jogo – Foto Nelson Almeida/AFP

 

Jogando agrupadinha como os dedos da mão de um pão-duro, a Chapecoense venceu com méritos o Atlético Nacional, 2 a 1 na Arena Condá. Passou a ter vantagem no jogo da volta, em Medellín, na Recopa Sul-Americana. O time colombiano é mais técnico, apesar da saída de bons jogadores. O catarinense, ainda em formação, mostrou-se muito arrumado. A decisão de maio promete.

O placar foi o de menos no encontro entre os contendores que deveriam ter se enfrentado no finzinho de novembro, nas finais da Copa Sul-Americana. Como todo mundo sabe, o avião da Chape caiu, 71 passageiros e tripulantes morreram, e não houve jogo. Num dos gestos mais generosos da história do esporte, o Atlético concedeu à Chapecoense o título não disputado em campo.

Dizem que o povo tem memória curta, mas tal clichê não vinga no oeste de Santa Catarina. A torcida verde-branca soube retribuir a grandeza dos colombianos na hora mais triste. A faixa ''Muchas gracias, hermanos'', desfraldada na arquibancada, poderia ser protocolar. Assim como a entrada dos jogadores, intercalados, e não divididos por equipe. Mas não foi mera formalidade aplaudir o técnico visitante, Reinaldo Rueda, quando ele atravessava o gramado. Nem vaiar um princípio de confusão na partida batalhada à vera, a despeito da cerimônia fraternal. Muito menos aplaudir o belíssimo gol de Macnelly Torres para o Atlético.

Abençoadas pela lua crescente, quase 20 mil pessoas testemunharam ao vivo o que milhões assistiram pela TV e continuam vendo na internet: as lições de quatro sobreviventes do desastre.

Um deles, o zagueiro Neto, antes de a bola rolar marcou o gol mais emocionante da noite eterna de Chapecó. O gol, não, os gols:

''Não esperem o avião cair pra dizer eu te amo pra alguém'', ele pregou ao microfone.

Emendou: ''Não esperem o avião cair pra pedir perdão''.

Prosseguiu: ''Não esperem o avião cair pra dar um abraço''.

E selou a goleada: ''Não esperem o avião cair pra dar um beijo''.

É isso aí: enquanto Freud explica, o futebol dá o toque.

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