Blog do Mario Magalhaes

Propaganda aposta em Temer solitário e, sem querer, retrata impopularidade

Mário Magalhães

Temer, sozinho no Palácio do Planalto, em imagem do programa do PMDB exibido em 30 de março

 

Março fechou com três imagens marcantes de Michel Temer.

A primeira, na Paraíba, diante de trecho da obra de transposição do rio São Francisco.

Em seguida, trajando terno, sentado no sofá em frente à TV, assistindo à seleção bater o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa.

Na última, no Palácio do Planalto, olhando o horizonte.

O que têm em comum as três imagens?

Em todas o peemedebista estava sozinho.

As três foram produzidas e difundidas por partidários seus. As duas iniciais, pela assessoria da Presidência. A terceira é de programa do PMDB exibido na TV.

Por mais trapalhão que Temer seja, é difícil entender o que pretende com os retratos em que aparece solitário.

Nas fotografias na Paraíba e no Planalto, aparentemente buscaram o clichê marqueteiro do homem que vê longe, pensa adiante, de olho no futuro.

No futebol, nem isso. A curiosidade foi saber se Temer é tão desagradável assim para que ninguém se disponha a lhe fazer companhia numa grande noite esportiva.

Seria maldade culpar a publicidade malograda pela rejeição popular ao ex-vice. Em março houve uma overdose de anúncios, beirando a lavagem cerebral. O governo federal, que proclama austeridade, gastou como se o dinheiro sobrasse. Ao mesmo tempo, o PMDB ocupou seus horários ditos gratuitos na televisão.

É verdade que o slogan ''O Brasil de Temer'' soaria estranho até em ditaduras. Na do Estado Novo (1937-1945), o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) não trombeteava ''O Brasil de Getulio Vargas''. Na dos presidentes marechais e generais (1964-1985), ousaram ''Brasil: ame-o ou deixe-o'', mas não ''O Brasil de Figueiredo'' ou ''O Brasil de Costa e Silva''.

A despeito do lema autoritário, vulgar e risível, não é por causa dele que a maioria dos brasileiros se opõe a Temer.

E sim por sua determinação de cobrar dos mais pobres os maiores sacrifícios para deixar a crise para trás. Além da disposição de exterminar o patrimônio nacional. Seja vendendo o pré-sal ou uma empresa lucrativa como a Cedae do Rio de Janeiro (a privatização dessa companhia é imposição de Brasília).

No dia seguinte ao programa do partido de Temer, Renan, Jucá, Moreira, Cunha e outros, saiu uma pesquisa Ibope.

Encomendado pela Confederação Nacional da Indústria, o levantamento informa que meros 10% dos cidadãos aprovam o presidente (soma das avaliações ótimo e bom). O índice de ruim e péssimo alcança 55% (no Sudeste, 52%; no Nordeste, 67%).

Temer perde feio na comparação com Dilma Rousseff, apesar do segundo mandato desastroso da presidente deposta: enquanto 18% consideram seu governo melhor que o da petista, 41% julgam ser pior. E olha que o noticiário costuma ser simpático com o missivista.

Para ler a íntegra da pesquisa, basta clicar aqui.

Seja qual for o propósito da estética da solidão na propaganda de Temer, ela tem um efeito que o presidente não quer: retrata seu isolamento e sua impopularidade.

Nessas circunstâncias se chega a abril, o mês do início do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral.

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