Propaganda aposta em Temer solitário e, sem querer, retrata impopularidade
Mário Magalhães
Março fechou com três imagens marcantes de Michel Temer.
A primeira, na Paraíba, diante de trecho da obra de transposição do rio São Francisco.
Em seguida, trajando terno, sentado no sofá em frente à TV, assistindo à seleção bater o Paraguai pelas Eliminatórias da Copa.
Na última, no Palácio do Planalto, olhando o horizonte.
O que têm em comum as três imagens?
Em todas o peemedebista estava sozinho.
As três foram produzidas e difundidas por partidários seus. As duas iniciais, pela assessoria da Presidência. A terceira é de programa do PMDB exibido na TV.
Por mais trapalhão que Temer seja, é difícil entender o que pretende com os retratos em que aparece solitário.
Nas fotografias na Paraíba e no Planalto, aparentemente buscaram o clichê marqueteiro do homem que vê longe, pensa adiante, de olho no futuro.
No futebol, nem isso. A curiosidade foi saber se Temer é tão desagradável assim para que ninguém se disponha a lhe fazer companhia numa grande noite esportiva.
Seria maldade culpar a publicidade malograda pela rejeição popular ao ex-vice. Em março houve uma overdose de anúncios, beirando a lavagem cerebral. O governo federal, que proclama austeridade, gastou como se o dinheiro sobrasse. Ao mesmo tempo, o PMDB ocupou seus horários ditos gratuitos na televisão.
É verdade que o slogan ''O Brasil de Temer'' soaria estranho até em ditaduras. Na do Estado Novo (1937-1945), o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) não trombeteava ''O Brasil de Getulio Vargas''. Na dos presidentes marechais e generais (1964-1985), ousaram ''Brasil: ame-o ou deixe-o'', mas não ''O Brasil de Figueiredo'' ou ''O Brasil de Costa e Silva''.
A despeito do lema autoritário, vulgar e risível, não é por causa dele que a maioria dos brasileiros se opõe a Temer.
E sim por sua determinação de cobrar dos mais pobres os maiores sacrifícios para deixar a crise para trás. Além da disposição de exterminar o patrimônio nacional. Seja vendendo o pré-sal ou uma empresa lucrativa como a Cedae do Rio de Janeiro (a privatização dessa companhia é imposição de Brasília).
No dia seguinte ao programa do partido de Temer, Renan, Jucá, Moreira, Cunha e outros, saiu uma pesquisa Ibope.
Encomendado pela Confederação Nacional da Indústria, o levantamento informa que meros 10% dos cidadãos aprovam o presidente (soma das avaliações ótimo e bom). O índice de ruim e péssimo alcança 55% (no Sudeste, 52%; no Nordeste, 67%).
Temer perde feio na comparação com Dilma Rousseff, apesar do segundo mandato desastroso da presidente deposta: enquanto 18% consideram seu governo melhor que o da petista, 41% julgam ser pior. E olha que o noticiário costuma ser simpático com o missivista.
Para ler a íntegra da pesquisa, basta clicar aqui.
Seja qual for o propósito da estética da solidão na propaganda de Temer, ela tem um efeito que o presidente não quer: retrata seu isolamento e sua impopularidade.
Nessas circunstâncias se chega a abril, o mês do início do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral.