Mortandade sem fim: a indiferença contribui para a permanência da barbárie
Mário Magalhães
A menina Maria Eduarda Alves da Conceição foi morta por balas disparadas por um policial militar (ou por um traficante de drogas). Ela tinha 13 anos. Na zona norte do Rio, estava dentro da escola municipal cujo nome reverencia um jornalista que partiu cedo, Daniel Piza. Maria Eduarda morava na comunidade da Pedreira. Jogava basquete. Participava da aula de educação física quando a balearam. Colecionava sonhos interrompidos por tiros de PM, de acordo com sua mãe, Rosilene Alves.
A origem dos projéteis que mataram Maria Eduarda deve ser esclarecida pela perícia. Ao menos é o que se espera.
Há uma constatação que prescinde de peritos e não é nova: mais uma vez, policiais dispararam contra traficantes em situação que expôs pessoas estranhas ao confronto. Mais grave, quando existia a possibilidade de alvejar crianças e adolescentes.
São muitos os casos em que não é indispensável, para escapar ao ataque, atirar. Ainda assim, numerosos PMs atiram. Por quê?
A história de Maria Eduarda é mais uma. Já foram muitíssimas. Virão outras.
Essa crônica da barbárie persistirá enquanto não se superar a indiferença.
Indiferença não é apenas permanecer insensível ao assistir (ou ler) a uma reportagem sobre morte violenta de crianças.
Quase todo mundo se emociona, com exceção de quem já congelou o coração.
Indiferença é também deixar para lá, não cobrar, não dizer chega, empurrar com a barriga, enquanto a tragédia não alcança sua casa, sua família, seu bairro.
Enquanto a indiferença continuar, as mortes de Marias Eduardas se multiplicarão.
Se Maria Eduarda vivesse num bairro de classe média para cima, a grita seria muito maior. Alguém duvida?
P.S.: fuzilar ferido imóvel é homicídio puro e simples; coisa de bandido, seja o autor dos disparos traficante, policial, banqueiro ou vendedor de picolé.