As preocupações que tiram o sono do Flamengo
Mário Magalhães
Antes que alguém diga que o Flamengo não perde o sono com fantasmas, eu me adianto a responder: pois deveria.
Muitos rubro-negros perdem, eu entre eles.
O empate ontem em 1 a 1 com os reservas do Fluminense não é grave, a considerar o Campeonato Estadual, onde a vaga na reta derradeira está assegurada.
É gravíssimo, contudo, pelas preocupações que surgiram ou se renovaram.
Jogamos com seis ou, incluindo o Márcio Araújo, sete dos titulares que deverão ir a campo pela Libertadores na semana que vem.
O que interessa, no final das contas, é a Libertadores. Ao menos para quem pensa grande. Disputa-se com disposição o Cariocão (o Carioca mais equipes do Grande Rio e do interior), mas este é secundário.
Se der mole para o Atlético-PR, o rubro-negro visitante não perdoará.
O Flamengo jogou duas vezes na Libertadores deste ano. Nas duas, muito bem. Mas fora de casa desperdiçou tantas chances que perdeu. Se a fase de grupos terminasse hoje, estaria eliminado. É o terceiro colocado no grupo 4. Classificam-se duas equipes para as oitavas.
O time tem elenco capaz de ir adiante e lutar pelo título.
Só que precisa evoluir, sobretudo tecnicamente. Foi o que evidenciou a partida do domingo.
O Muralha mantém a dificuldade de sair do gol.
Acho que de fato o Pará não viu o adversário se aproximando, mas não pode executar movimentos de arte marcial como o que lhe custou a expulsão.
O Rafael Vaz pode ter alguma qualidade, vai que faz um gol decisivo, no entanto carece das características adequadas a uma equipe disposta a cultivar a bola no pé. Para ter posse, recomenda-se contar com quem saiba passar. O Vaz errou demais ontem, como já vinha errando. Ele multiplica o risco.
O Márcio Araújo é caso complexo. O Rômulo tem mais técnica do que ele. Não a mesma garra. Discordo de quem considera o Márcio Araújo um volante obtuso. É medíocre, mediano. Ontem ele se perdeu num passe tolo que poderia ter custado caro. Sua disposição honra a camisa. Não é, contudo, o meia defensivo para o estilo de jogo que o Zé Ricardo defende. Porém, prefiro um jogador mais ou menos que dá o sangue a um melhorzinho que não se empenha tanto. Que tal uma injeção de sangue no Rômulo?
Os três atacantes que enfrentaram o Fluminense são banco. O mais badalado é o Berrío. Carismático, arranca aplausos da torcida. O que não apaga a triste evidência de que ele e a bola não têm intimidade um com o outro. O que lhe sobra de velocidade falta em habilidade. Tomara que, num lance de sorte, acerte.
O elenco permite avançar na Libertadores, mas não é a maravilha com que alguns se iludem.
Chegando ao mata-mata, o Flamengo tem tudo para crescer.
Numa orquestra, se um violinista erra, compromete o conjunto.
No futebol também é assim. O time pode estar redondo, mas fracassar por erros individuais (os gols perdidos em Santiago são exemplo).
É hora de afinar a equipe, em busca de um sono mais tranquilo.