O balanço da vitória de Trump e a síndrome da alegria nas pernas
Mário Magalhães
Atropelado pelo colombiano Zúñiga, Neymar sofreu uma fratura vertebral e ficou fora da semifinal de 2014 contra a Alemanha, no mesmo Mineirão onde hoje à noite a seleção encara a Argentina.
Quando o técnico Luiz Felipe Scolari anunciou o substituto, sobrevieram aprovações entusiasmadas.
O eleito seria Bernard, baixote veloz e habilidoso no qual Felipão identificara ''alegria nas pernas''.
A escolha, festejou-se, expressava a determinação de sufocar os visitantes, sem se recolher à defesa, apostando no ataque.
Deu no que deu, 7 a 1, o fiasco supremo da Copa. É claro que Bernard esteve longe de ser o único problema.
Logo se explicou a ilusão: com Bernard, jogador ofensivo, despovoou-se o meio-campo, e os europeus deitaram e rolaram.
Quem pouco antes ensinava por que Bernard era uma boa menos de 90 minutos depois dava aula sobre o erro da sua entrada.
O jornalismo é assim mesmo, faz parte. E sem surpresas a vida _e o futebol_ seria maçada.
Tenho lembrado tal episódio desde o retumbante triunfo de Donald Trump na eleição para a Casa Branca.
Os mesmos especialistas que deitavam falação sobre por que o fanfarrão perderia tornaram-se catedráticos na explicação da derrota de Hillary Clinton.
Eu sabia muito bem da rejeição dos dois, confirmada pelo número inferior de votos que tiveram em comparação com seus correligionários na eleição passada.
Mas supunha que a ex-secretária de Estado venceria.
Depois do furacão Trump, é ainda mais recomendável cultivar dúvidas em vez de trombetear tantas certezas, como se tem lido e ouvido.
Para não padecer da síndrome da alegria nas pernas, isto é, a atitude de permanecer com ares de sabe-tudo mesmo quando os fatos derrubam, desautorizam ou desestimulam análises e prognósticos.