Há 70 anos, anistia libertava presos políticos da ditadura do Estado Novo
Mário Magalhães
Para quem gosta de história, prestigia a democracia e acha que lugar de quem pensa diferente não é a cadeia, este sábado é um dia para celebrar: 70 anos atrás, em 18 de abril de 1945, o decreto-lei da anistia assinado pelo ditador Getulio Vargas permitiu a libertação dos últimos seiscentos presos políticos da ditadura do Estado Novo.
Entre eles, futuros parlamentares, como o senador Luiz Carlos Prestes, os deputados federais Carlos Marighella e Gregório Bezerra e o vereador Agildo Barata _todos comunistas, três encarcerados desde 1935 e um, Marighella, a partir de 1939.
Antes de deixar as grades para trás, os quatro participaram de um derradeiro almoço na Penitenciária Central, rua Frei Caneca, aqui no Rio. Comeram arroz, feijão e peixe ensopado. De sobremesa, uvas, figos, peras e maças. Na bica do alvará de soltura, foram bem tratados pelo regime que matara muitos companheiros deles.
Para a história, é um espirro, mas parece tanto tempo que a Segunda Guerra nem tinha terminado. Nossos pracinhas ainda banhavam de sangue brasileiro o solo italiano, combatendo as tropas nazistas.
Getulio já era presidente quando, em consórcio com os comandos das Forças Armadas, conduziu um golpe de Estado em novembro de 1937. Cancelou as eleições presidenciais, fechou o Congresso, revigorou a repressão, impôs censura à imprensa, perseguiu opositores e garroteou as liberdades em geral. Mesmo antes da instauração da ditadura seu governo autoritário já barbarizava.
O gaúcho caiu em outubro de 1945, noutro golpe, chefiado por militares que antes haviam compartilhado o poder na ditadura. Acabaria regressando nos braços do povo, em 1951, depois de se eleger no voto direto no ano anterior.
A anistia não foi uma benesse do presidente, mas conquista da mobilização vigorosa que varreu o país.
A foto lá do alto, arquivada pela polícia do então Distrito Federal, é de 17 de abril de 1945. Mostra Marighella na viagem da Ilha Grande, onde ficara anos em cana, para o Rio, onde seria libertado no dia seguinte.
Se eu tivesse que escolher um ano do século XX para biografar, seria o de 1945. Em nenhum outro houve, no Brasil, tanta esperança e tantos sonhos.