Blog do Mario Magalhaes

Em evento com Marina, aliado da candidata do PSB chama Dilma de anta

Mário Magalhães

Imagine a cena.

No tradicionalíssimo Clube de Engenharia, aqui no Rio, um aliado da candidata à reeleição Dilma Rousseff enche o peito e, microfone à mão, esgoela-se:

''A candidatura de Dilma pode ser anulada pelo Ibama: ela abateu um tucano e uma anta''.

Ao seu lado, sentada na mesma mesa diretiva dos trabalhos, Dilma ouve o que se pretende uma piada.

Como Aécio Neves é filiado ao PSDB, partido simbolizado por um tucano, a anta só pode ser Marina Silva.

Na presença da presidente da República, uma ex-senadora é chamada de anta.

E Dilma cala, mesmo tendo a oportunidade de pedir para seu companheiro manter algum nível de civilidade na campanha. Isto é, não apela contra a baixaria proferida pelo colega de coligação.

Agora, imagine o barulho do noticiário sobre o discurso do aliado da presidente e o silêncio dela, recusando-se a confrontar a desclassificação agressiva e pública da concorrente ao Planalto.

Quantas horas na TV, no rádio, na internet? Quantas páginas de jornais, quantos posts? O mundo desaba, afinal Dilma foi condescendente com o recurso apelativo do correligionário que compartilhava a mesma mesa com ela.

''Quem cala consente'', diriam os comentaristas.

O contrário

Esta cena de fato aconteceu, nesta quinta-feira no Rio.

Mas, onde se leu Dilma, leia-se Marina, e vice-versa.

Eis a nota ''Fino'', que saiu hoje no ''Painel'':

''Do vice-presidente do PPL, Fernando Siqueira, em ato no Rio: 'A candidatura de Marina pode ser anulada pelo Ibama: ela abateu um tucano e uma anta'. A ex-senadora sorriu amarelo''.

Acrescento eu: ''sorriu amarelo'', mas calou, sem repreender o dirigente de partido que integra a coligação que propõe Marina à Presidência.

A ''anta'' a quem o aliado de Marina se referiu é, obviamente, Dilma Rousseff.

Ao lado de Marina, ele tratou a presidente da República como anta, e Marina calou.

Jornalismo

Não perderei tempo debatendo o mérito do tratamento ou o tratamento em si. Cada um que pense o que bem quiser.

Mas observo que  somente numa nota do bravo ''Painel'' eu soube do que aconteceu ontem no Rio (talvez tenha saído em outros veículos, mas sem maior repercussão).

Imagine se as personagens estivessem trocadas.

Também ontem, em sabatina a jornalistas de ''O Globo'', Marina Silva disse ser vítima de um ''batalhão de Golias contra Davi''.

Com o perdão da senadora, a julgar pela cobertura dos meios de comunicação nos últimos dias, se há um Golias nesse confronto, é ela mesma.

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