Blog do Mario Magalhaes

Há 45 anos, guerrilha tomou rádio e transmitiu manifesto de Marighella

Mário Magalhães

 

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''Diário da Noite'', vespertino paulistano, edição de 15 de agosto de 1969

 

Com uma reportagem de fôlego em texto e áudio, o repórter Leandro Melito reconstituiu nesta sexta-feira no Portal EBC um dos maiores feitos propagandísticos da luta armada contra a ditadura, ocorrido na manhã de 15 de agosto de 1969: a transmissão pela Rádio Nacional, de São Paulo, de um manifesto escrito pelo guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), então proclamado pelo regime como o inimigo público número 1.

Para ler a matéria ''Há 45 anos, organização de Marighella tomava transmissores de rádio'', basta clicar aqui.

Os guerrilheiros da Ação Libertadora Nacional, organização dirigida por Marighella e o jornalista Joaquim Câmara Ferreira (1913-1970), pretendiam driblar a censura aos meios de comunicação, veiculando mensagem de oposição ao governo.

Ao contrário do que muita gente supõe, os militantes não ocuparam os estúdios da emissora, em São Paulo, mas as instalações onde ficavam seus transmissores, para os lados de Diadema.

A Rádio Nacional paulista, em contraste com a homônima carioca, não era pública, e sim propriedade das Organizações Globo.

Marighella queria, porém seus companheiros não o deixaram participar da ação.

A voz que os ouvintes escutaram gravada numa fita não era a de Marighella, mas a do jovem guerrilheiro Gilberto Luciano Belloque, entrevistado na ótima reportagem de Leandro Melito.

O único preso em seguida à transmissão foi o valente jornalista Hermínio Sacchetta, que dirigia o vespertino ''Diário da Noite''. Somente esse jornal publicou o manifesto na íntegra, conforme Sacchetta havia combinado com seu velho amigo Câmara Ferreira.

O jornal foi apreendido das bancas, mas a maioria dos exemplares já havia sido vendida.

Nem o título em tom crítico (''terroristas''…), para disfarçar, conseguiu livrar Sacchetta de duas semanas de cana, da demissão do ''Diário da Noite'' e de cinco anos sem emprego, barrado em todos os jornais.

Sacchetta, que se opunha à guerrilha como instrumento de luta contra a ditadura, jamais se arrependeu da ajuda que deu a Câmara Ferreira, Marighella e os militantes da ALN.

O episódio inspirou um belo clipe dos Racionais, ''Mil faces de um homem leal'', com direção de Daniel Grinspum (assista aqui).

Na biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras), eu conto em minúcias a tomada da rádio, no capítulo ''Quem não se comunica se trumbica''.

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