Blog do Mario Magalhaes

Libertadores escancara limitações do Flamengo

Mário Magalhães

blog - flamengo leo moura contra bolivar

Flamengo em minoria na disputa pela bola, o padrão ontem – AFP PHOTO/Aizar Raldes

 

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Por conta de certa data redonda, está na hora de eu passar por um check-up. Sugerirei ao médico desprezar os exames de coração, por ter sobrevivido aos jogos do Flamengo na Libertadores. Se superei essas provações, mal não devo estar. Até agora (toc, toc, toc).

A derrota de ontem para o Bolívar na altitude teve características para testar não somente a saúde cardiológica do cidadão, mas a sua sanidade, tamanhos os enganos capazes de enlouquecer os rubro-negros. Mas o revés mais irritante não foi ontem, pois desde sempre nós, os povos do nível do mar, habituamo-nos a perder nas alturas de La Paz.  E, sim, o empate no Maracanã semana passada.

A Libertadores, com a fase de grupos, tem mostrado a equipe mais próxima da que por pouco não foi rebaixada no Campeonato Brasileiro. E não da que, incentivada pela torcida soberana, conquistou a Copa do Brasil 2013.

Poderia ser diferente? No quesito coletivo, a estreia no México evidenciou que sim, a despeito da derrota de 2 a 1 para o León. O time fez uma partida de orgulhar os torcedores. Sucumbiu porque jogou com dez na maior parte do tempo, desde a merecida expulsão de Amaral aos 11 minutos do primeiro tempo. E porque foi garfado pelo árbitro.

Sobreveio a vitória de 3 a 1 sobre o Emelec, no Maracanã. Muito melhor vencer, mas a primeira etapa indigente preocupou.

Na quarta-feira retrasada, igualdade de 2 a 2 com o Bolívar, houve quem elegesse Wallace e João Paulo bodes expiatórios, em virtude de seus erros nos gols do antagonista boliviano. Um injustiça, pois o conjunto esteve mal, com exceções como Éverton. Elano, na ciclotimia que o distingue nos últimos anos, desapareceu.

Ontem, Samir escorregou e entregou o gol decisivo. Escorregou mais duas vezes e quase entregou de novo. O placar poderia ter sido mais amplo, embora o Flamengo no finzinho tenha tido chances que dispararam os batimentos do coração.

A primeira constatação no balanço provisório é que a Libertadores não é o Campeonato Estadual, onde o time deita e rola. Óbvio? Pois às vezes parece que os jogadores não se dão conta. A impressão foi de salto alto contra o Bolívar, no Maracanã.

Luiz Antônio, que há pouco se reintegrou ao elenco, e sobretudo Elias fazem uma tremenda falta. Muralha tem talento, mas não passa como os volantes que partiram nem ataca como eles.

Se alguns titulares estão longe de serem grandes jogadores, há suplentes muito piores. No empate diante do Bolívar, os laterais Léo Moura e André Santos, que já não jogam o que jogavam noutros tempos, foram substituídos por Léo e João Paulo. Pareciam atletas de terceira divisão provando a primeira.

Para um clube que busca padrões mais profissionais, o destempero de Amaral no México e as derrapadas de Samir na Bolívia indicam que não houve preparação adequada, principalmente de cabeça _ou psicológica, vá lá_ para uma pedreira como a Libertadores. Erros individuais comprometem o empenho coletivo.

Jayme foi fundamental para o título da Copa do Brasil, mas, como todo treinador, tem as suas idiossincrasias. Uma delas é, volta e meia, insistir no decadente Carlos Eduardo. Por que escalá-lo ontem? Queria cadenciar o jogo? Havia outras formas. Tirando um passe para Paulinho, o gaúcho nada fez. Quer dizer, fez sim: errou passes, desperdiçou ataques, não conseguiu dominar a bola, entregou contra-ataques, pouco marcou. Ele caminha pelo campo, cabisbaixo, depressivo. O Messi também? Mas o Messi é o Messi!

O incrível é que nada disso é novidade, mas Carlos Eduardo teve de reaparecer logo ontem. Para ser justo, Éverton e Gabriel também estiveram péssimos. O trio encenou um futebolzinho insosso e pouco objetivo, de passes para o lado, abandonando a busca pelo gol.

Dar ainda dá para classificar, o que estaria quase garantido com nove pontos em casa, o que já não é possível. O Emelec, bem como León e Bolívar, é limitado. Pode ser batido em Guayaquil, uma das cidades mais feias que conheci _antes de ir para lá passei pela belíssima Cuenca, também no Equador.

O Flamengo também não é nenhum timaço, mas pode ganhar os próximos seis pontos. Desde que recupere o espírito da estreia, suprimindo maluquices, como a do Amaral, que ameaçam com um infarto a maior nação futebolística do Brasil.