Palavras malditas (11): conferência de imprensa, coletiva de imprensa
Mário Magalhães
Durante uma eternidade, pelo menos desde quando eu me entendo por gente, o jornalismo conviveu pacificamente com a expressão entrevista coletiva.
Ela é mesmo boa. Significa que a entrevista não é concedida a um só jornalista (exclusiva) ou a um grupo restrito de entrevistadores, e sim a muitos.
De um tempo para cá, disseminou-se no Brasil o emprego de conferência de imprensa, a tradução literal do inglês press conference.
Mais do que macaquice e indigência cultural, a imitação é ruim porque conferência sugere manifestação unilateral, com uma voz apenas. Entrevista, ao contrário, indica pergunta e resposta, diálogo, cobrança, várias vozes.
Há variação pior, como assinalou no Twitter o jornalista Oscar Valporto: ''Não sei se é só aqui na Bahia, mas avança na imprensa local _internet e assessorias à frente_ a COLETIVA DE IMPRENSA''.
Diga lá, Oscar: ''Coletiva de imprensa é mau português, pleonasmo como encarar de frente…''.
Na mosca. Entrevista coletiva também é tratada na forma reduzida coletiva _''o ministro deu uma coletiva''.
Portanto, é redundante falar em coletiva de imprensa, porque coletiva já implica entrevista a um conjunto de jornalistas, e não de biólogos marinhos.
Não é só na Bahia, não, Oscar. A praga da coletiva de imprensa brota por todo o país.