Blog do Mario Magalhaes

Um ano após vencer eleição, Dilma radicaliza comportamento de derrotada
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Mário Magalhães

A presidente Dilma Rousseff, em setembro de 2015 - Foto Pedro Ladeira/Folhapress

A presidente Dilma Rousseff, em setembro de 2015 – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Aniversaria, por esses dias, a vitória da campanha reeleitoral de Dilma Rousseff. Em outubro do ano passado, a candidata venceu o primeiro e o segundo turnos. No começo daquele mês, alcançou 42% dos votos. No fim, 52%, triunfo com 54.501.118 sufrágios.

Talvez o porvir esclareça em que momento algum bichinho, o antípoda da mosca azul, soprou-lhe que havia sido sobrepujada por Aécio Neves. A presidente deu-lhe ouvidos, a julgar por seus passos no Planalto.

A reforma ministerial em curso consagra uma política contraditória com a pregação de palanque. Se alguém ainda duvida, sugiro assistir no YouTube às peças petistas da campanha de 2014.

O governo contrário à agenda chancelada pela maioria dos eleitores é uma evidência tal que, quando Fernando Henrique Cardoso afirma que a presidente enredou-se em ''um pacto com o demônio'', poucos correligionários de Dilma rejeitam o diagnóstico.

O que fazem as vozes intelectualmente honestas é recordar que o ex-presidente se pronuncia na condição de mestre _Renan Calheiros foi seu ministro da Justiça.

Há um sem-número de erros de tática política e inépcia de gestão no atual governo. O engano mais relevante, porém, é a estratégia de impor ao país uma administração ofensiva à decisão da maioria um ano atrás.

Ao romper consigo mesma (ou com o que dizia), a presidente, em vez de frear, estimula segmentos que historicamente não reconhecem a soberania do voto popular. Como já dito no blog, ela age como o time que se retranca, chama o adversário para cima e padece com o sufoco.

Como também observado aqui, este ensaio de suicídio político resulta no abandono da presidente pelo colchão social que a respaldava. De cada dez brasileiros, apenas um considera ótimo ou bom o governo Dilma Reloaded. Ela dilapidou boa parte do seu enorme patrimônio eleitoral.

A síntese do arrocho que sacrifica os mais pobres é a presença, no comando do Ministério da Fazenda, de um eleitor de Aécio Neves.

Militantes que se dedicaram a renovar o mandato de Dilma, e nela acreditaram, protestarão sábado também ''contra a política de ajuste fiscal''. Os bancos, na contramão, estabelecem recordes de lucros.

Sem sua antiga base social disposta a defender a política que pune os já punidos pela desigualdade obscena, a presidente rendeu-se ao toma-lá-dá-cá do Congresso.

Isto é, aceitou o terreno onde grassa a chantagem, incluindo a modalidade golpista do impeachment (não há prova de crime contra a presidente), e a ela se rende. O trunfo de Dilma contra as chantagens são _seriam_ os seus quase 55 milhões de eleitores.

Mas como convocá-los a pressionar as instituições que decidem, e nas quais muitos congressistas chantageiam a governante constitucional, se em 2015 Dilma castiga seus apoiadores de 2014 com a fatura mais amarga da conta da crise?

Expulsar da Saúde um sanitarista digno e entregar o Ministério à gula do PMDB equivale a autorizar a queda de qualidade do sistema público de saúde. É a rede que atende aos brasileiros mais necessitados.

Com o ensino público sofrendo com o arrocho impiedoso, Dilma retira do Ministério da Educação um educador de méritos reconhecidos para acomodar um amigo saído de outra pasta. Quem vem pagando pelo arrocho? Os filhos daqueles que precisam de livros infantis nas escolas públicas, que não têm como comprar nas livrarias _o governo cancelou ou adiou a aquisição de livros para as bibliotecas escolares.

Hoje faz nove meses que Dilma foi (re)empossada. Ela faz o que dizia que não faria. Governa contra os interesses de quem a escolheu. Castiga seus eleitores e prestigia a política neoliberal patrocinada pelo adversário derrotado. Comporta-se como se a derrotada tivesse sido ela.

Nas internas, a presidente costuma lamentar a correlação de forças no Congresso. Será que ela não sabe que, em muitos momentos da história, a pressão popular logrou dos conservadores concessões que eles não aceitariam sem o povo nas ruas?

Mas quantos eleitores de Dilma estão dispostos a desfraldar bandeiras em nome do arrocho que ela aplica?

Mais do que a cabeça da presidente, muitos figurões querem o fim das políticas que permitiram a dezenas de milhões de brasileiros deixarem a miséria absoluta. Tem gente que não aceita, eis o Brasil, nem empregada doméstica com carteira de trabalho.

Num vexame apoteótico, o PMDB famélico toma o governo.

A vida dos brasileiros mais humildes, comprovam até as estatísticas oficiais, vai piorando.

Não foi para isso que a presidente foi eleita.

Quem foi o bichinho que disse a Dilma Rousseff que ela perdeu a eleição?

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‘Contragolpe’: PSDB insinua na TV discurso das forças que derrubaram Jango
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Mário Magalhães

As anotações a seguir, bem como a propaganda televisiva de que elas tratam, podem no futuro ser condenadas a reles pé de página, se tanto. Ou não. Dependerá do rumo do Brasil.

Na noite desta segunda-feira, o PSDB exibiu dez minutos de programa na TV (assista à íntegra clicando na imagem no alto). Em inflexão que talvez venha a ganhar relevância histórica, o partido semeou uma narrativa que pretende conferir legitimidade ao afastamento da presidente da República ungida pelas urnas.

Os tucanos não pronunciaram a palavra, mas deram a entender que o afastamento de Dilma Rousseff do Planalto seria resultado de um contragolpe, e não de um golpe de Estado.

Em comparação com a novidade, foram secundários os discursos de Geraldo Alckmin, José Serra, Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves (outro registro para a história: três políticos de São Paulo, um de Minas, e só).

No finzinho, depois do recado do candidato presidencial derrotado em 2014, um ator-apresentador disse (começa aos 9 minutos e 23 segundos do programa):

''Se você empresta dinheiro para uma pessoa, e essa pessoa some, nunca mais aparece pra te pagar, você foi vítima de quê? De um golpe, não é?''

Reiterou:

''E se você vota em quem promete controlar a inflação, não mexer em direitos trabalhistas, e muitas outras maravilhas, mas depois a inflação sobe sem parar, ela corta o seguro-desemprego, 1 milhão e meio de vagas no Pronatec, aumenta e muito a conta de luz. Pense bem: isso é ou não é um verdadeiro golpe?''

Contra um golpe, ilegítimo já no nome, o que seria legítimo? Um contragolpe!

As forças militares, econômicas e políticas que se associaram para derrubar o presidente constitucional João Goulart em 1964 jamais reconheceram ter participado do golpe de Estado que de fato ocorreu.

Sempre afirmaram, e as viúvas da ditadura (1964-1985) repetem até hoje, que houve um contragolpe que barrou um alegado golpe iminente de Goulart.

Como identificam consciências honestas e historiadores respeitáveis, houve mesmo um golpe contra Jango _e, acrescento, contra o Brasil.

Serra, presidente da UNE em 1964, e FHC, sociólogo que viajou de São Paulo ao Rio para participar do comício da Central do Brasil, sabem que ''contragolpe'' é farsa histórica destinada a acobertar os golpistas que fulminaram a democracia 51 anos atrás.

Aécio era criança, mas deve ter ouvido do avô, o legalista Tancredo Neves, que contragolpe era história da carochinha.

Contragolpe de verdade, ensina o passado, aconteceu em novembro de 1955. Um golpe em curso tentava impedir a posse do presidente sufragado pelos cidadãos, Juscelino Kubitschek. Reagindo aos golpistas militares e civis, o general legalista Henrique Teixeira Lott lançou os tanques às ruas no contragolpe que permitiu a posse do eleito pelo povo.

Em suma: golpe alveja quem tem o respaldo constitucional do voto; contragolpe digno de assim ser chamado protege quem tem voto.

Méritos e deméritos dos governos FHC, Lula e Dilma, em parte abordados ontem, são outra conversa.

O marcante foi o tucanato ter insinuado o mesmo discurso que conheceu seu auge em 1964.

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A inveja é uma…
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Mário Magalhães

Neymar, cracaço – AP Photo/Emilio Morenatti

 

Devo estar errado, tomara que esteja, mas dá o que pensar.

O Neymar toma um gancho na Copa América, e muita gente vibra _aqui no Brasil, não a torcida do Real Madrid.

O cara é investigado pela Receita, e a galera comemora como gol (por causa dele, não pela saudável disposição do Fisco de zelar pela coisa pública, embora muitas grandes empresas logrem acordos camaradas).

O moleque desperdiça um pênalti, como no sábado, e o pessoal celebra o revés.

Por que tantos parecem, mais do que não simpatizar com ele, ter raiva do Neymar?

Não pode ser, devo estar enganado, as almas não são pequenas assim…

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Marta maldiz a corrupção. No PMDB, com Renan e Cunha. Acha que ninguém vê?
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Mário Magalhães

Senadora Marta Suplicy durante cerimônia que celebra sua filiação ao PMDB

Pouco tempo atrás, Marta desfilava com faixa ''Fora, Cunha''. Agora… – Foto Jorge Araújo/Folhapress

 

A senadora Marta Suplicy se filiou ao PMDB, numa cerimônia em que dividiu a mesa com muita gente, como o vice Michel Temer e os capi da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros.

Figura histórica do PT, Marta discursou: ''A gente quer um Brasil livre, livre da corrupção, livre das mentiras e daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais''.

Deve ser por isso que compartilhou o convescote e compartilhará o partido com um deputado denunciado, pela Procuradoria Geral da República, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara ainda não é réu, mas a pregação de Marta soa como peça de humor.

Talvez ela tenha se esquecido de tudo o que falou do PMDB.

Ou que, pouco tempo atrás, desfilou em caminhão que desfraldava a faixa ''Fora, Cunha!''.

A senadora parece achar que as pessoas não se dão conta do que acontece.

Como na célebre visita de Lula, em busca de uns votinhos, ao incomparável Paulo Maluf.

É isso aí: o pessoal aposta na memória curta.

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O sonho da República
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Mário Magalhães

Bandeira da Catalunha e banca da campanha pró-independência e República - Foto do blog, 2014

Bandeira da Catalunha e banca da campanha pró-independência e República – Foto do blog, 2014


Se a CBF confirmar Flamengo x Joinville para as 11h, exporá times a risco
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Mário Magalhães

Antes que alguém queira me lembrar, tenho consciência de que, em comparação com o cinquentão que eu sou, até o Sheik é um garoto.

Ontem fui correr na pista de 10 km, somando ida e volta, na praia de Botafogo e no aterro do Flamengo.

Cheguei pontualmente às 9h52, sei pois iria cronometrar. O sol estava tão espalhafatoso, que desisti de correr e só caminhei.

Depois das 11h, a temperatura nos termômetros variava de 28 a 30 graus. Mas o sol impiedoso fazia com que o calor parecesse muito mais sufocante.

A partida entre Flamengo e Joinville está marcada para as 11h do próximo domingo. O Maracanã não tem o vento da beira da baía de Guanabara. A sensação térmica é maior.

No inverno de pouco frio, o horário das 11h já exigia demais dos atletas, como muitos deles contaram.

Na primavera com pinta de verão, é uma irresponsabilidade manter o jogo matinal em que o segundo tempo é disputado entre meio-dia e uma hora.

Ninguém sabe se dará sol, se fará muito calor. Se fizer, haverá mais risco para a saúde.

A CBF tem poder para mudar o horário.

Se não mudar, será sua a responsabilidade por qualquer problema (toc, toc, toc).

Será que esse pessoal só pensa em dinheiro?

Em tempo: suspenso, o Sheik não joga no domingo.

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Deputado que chamou Cunha de ditador troca PT por Rede. Ponto para Marina
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Mário Magalhães

Alessandro Molon, ex-PT/RJ, agora na Rede – Foto Sergio Lima/Folhapress

 

O deputado Alessandro Molon não é ''mais um'' que deixa o PT. Ele é um dos petistas, dos poucos, com prestígio e audiência no Rio. Chegou a concorrer a prefeito, sem sucesso.

Molon tem vasta folha de serviços prestados à causa dos direitos humanos.

E a outros bons combates. Numa sessão recente da Câmara, o deputado chamou Eduardo Cunha de ditador.

Legalizada dias atrás, a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, marca ponto com a filiação de Molon.

Para ler sua carta de ruptura com o PT, basta clicar aqui.

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Se houver mesmo Ministério da Cidadania, que ministro seja uma mulher negra
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Mário Magalhães

No tititi sobre a reforma ministerial, especula-se que Dilma Rousseff acabará com três secretarias cujos chefes têm status de ministro: Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

Seriam incorporadas a um novo Ministério da Cidadania.

Se o retrocesso se confirmar, privando agendas específicas de ministros específicos, apresento uma sugestão: em vez de tentar acomodar um amigo ou inimigo num ministério de enorme relevância, que a presidente simbolize na nomeação do novo ministro as lutas travadas pelas três pastas fulminadas.

Ou seja, que o novo ministro seja uma ministra. Mulher negra. Com trajetória marcante nas batalhas pelos direitos humanos.

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Vasco mostra que força de vontade não é papo furado de livro de auto-ajuda
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Mário Magalhães

Nenê o autor do gol de desempate no 2 a 1 contra o Flamengo - Foto Andre Luis/AGIF

Nenê, autor do gol de desempate no 2 a 1 contra o Flamengo – Foto Andre Luis/AGIF

 

Como tantas vezes na vida, assisti ao clássico dos milhões _ontem, pela TV_ ao lado do pai torcedor do Vasco. Tenho três irmãos vascaínos e um gremista, sou o único Flamengo _na minha casa, vai ver que o darwinismo explica, todo mundo é rubro-negro.

Junto com o vascaíno, fiquei pensando no que faz com que o time de melhor elenco perca quatro jogos para o adversário em 2015 e só ganhe um. O elenco é melhor de acordo com dois critérios, custo e desempenho: a folha de pagamento da Gávea é muito maior do que a de São Januário; o Flamengo está em sétimo no Campeonato Brasileiro e o Vasco, vindo da segundona, amarga o 19º, penúltimo lugar.

O motivo determinante é aquele que muitas vezes desprezamos como papo furado de livro de auto-ajuda: força de vontade, ''querer é poder'', persistência, superação diante das adversidades e coisa e tal.

Equipe sofrível, o Vasco se agiganta diante do Flamengo por considerar o confronto muito mais relevante do que costuma considerar o oponente. Claro que nós gostamos de vencer. Mas o gosto do triunfo sobre o Vasco não parece ter o mesmo prazer que o resultado inverso provoca nos vascaínos. Não significa complexo de inferioridade cruzmaltino ou de superioridade rubro-negro.

Só vontade não explica a vitória de 2 a 1 do Vasco, de virada, no Maracanã. Embora superior, o elenco do Flamengo voltou a mostrar limitações. Não fossem a imperícia nos passes, o egoísmo que resulta na bola não passada e a inépcia nos chutes, um dos três contra-ataques no começo do segundo tempo poderia ter terminado em gol, levando o placar para 2 a 0.

Paulo Victor falhou na cobrança de falta do Rodrigo, gol de empate. A marcação da falta é controversa, mas o Vuaden não cometeu nenhuma barbaridade ao apitá-la (eu não marcaria). O goleiro do Flamengo teve tempo para alcançar a bola, na qual ainda tocou. Curiosidade: nem no momento do gol do zagueiro vascaíno o comentarista Juninho Pernambucano, na Globo, pronunciou o nome do desafeto Rodrigo.

A bola-na-mão ou mão-na-bola do Jorge no pênalti foi outro erro fatal. Pode ser ou não penal, vai da interpretação do árbitro (eu apitaria). Mas o lateral permitiu, ao cabecear na própria mão, que o Vuaden interpretasse como pênalti.

Atrás, o Flamengo não consegui se reorganizar e perdeu novamente.

O Oswaldo arrumou bem o time, que teve a chance de liquidar a partida, o que não ocorreu por infelicidade dos jogadores. O Jorginho mostrou que estuda futebol: trocou volante/volantes por um meio de campo mais habilidoso e ofensivo, concentrando a equipe em espaços onde o Flamengo fica muito espalhado.

Com o Fluminense escapando do rebaixamento e o Flamengo se distanciando do G-4, a única coisa que anima de fato o futebol do Rio por enquanto é a brava batalha do Vasco para fugir de mais uma queda.

Sem contar, é claro, o Botafogo, virtualmente promovido ao seu devido lugar, a primeira divisão.

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