Blog do Mario Magalhaes

Retratos do mal
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Mário Magalhães

Coronel Ustra, o torturador que morreu impune, no traço dos cartunistas Aroeira, Angeli, Latuff e Alpino.

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Morte de Ustra, comandante de campo de concentração, consagra impunidade
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Mário Magalhães

O coronel reformado e ex-comandante do DOI-CODI em SP Carlos Alberto Brilhante Ustra presta depoimento à Comissão da Verdade

Ustra, chefe de centro de tortura e morte – Foto Sérgio Lima/Folhapress

 

A morte do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, aos 83 anos, consagra a impunidade no Brasil.

Na condição de major do Exército Brasileiro, Ustra comandou de 1970 a 1974 o Destacamento de Operações de Informações do II Exército, em São Paulo.

O DOI chefiado por Ustra (não confundir com Codi) foi o principal centro urbano dedicado a tortura, morte e desaparecimento de oposicionistas durante a ditadura que vigorou de 1964 a 1985.

Ninguém torturou e matou tanto quanto a turma do DOI de Ustra.

Lá os agentes do Estado, violando até as leis da ditadura, cometiam toda sorte de barbaridades contra presos políticos, incluindo o estupro de moças e o empalamento de moços.

Há incontáveis depoimentos e provas de que Ustra não só ordenou como participou de sessões de tortura.

O DOI era um campo de concentração tipicamente nazista.

Se não matava seres humanos em câmaras de gás, tirava-lhes a vida com tamanha violência que fragmentos do cérebro ficavam grudados às paredes.

A morte de Ustra é uma triste notícia para as consciências democráticas.

Porque o comandante de campo de concentração escapou de ser punido pela Justiça.

Ainda chegará o dia em que o Brasil, em passo civilizatório, não eternizará a impunidade dos autores de crimes imprescritíveis, de abusos contra a humanidade.

Ustra, contudo, não estará mais aqui para ser julgado e condenado.

O coronel retrata a impunidade maldita que estimula novas gerações a repetirem o que de mais terrível foi feito pelas do passado.

É como o nazista matador que escapou dos tribunais.

O torturador e assassino, covarde a soldo do Estado, foi embora sem pagar pelo que fez.

Triste Brasil.

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Flamengo parece achar suficiente evitar queda. Falta ambição para ir além
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Mário Magalhães

Oswaldo de Oliveira grita com os jogadores em treino do Flamengo no Ninho do Urubu

Gritos em vão – Foto Gilvan de Souza/Flamengo

 

Que dá para buscar uma vaga na Libertadores, dá, como esclarece a tabela com tantas equipes emboladas.

Mas o Flamengo vai ter que mudar, se quiser chegar lá. Voltar à quinta ou sexta marcha, trocada pela segunda, exibida no fiasco de ontem, 3 a 0 para o Figueirense.

A principal distinção do time embalado com a chegada do Oswaldo de Oliveira foi a velocidade. A eficiência para levar a bola com rapidez até as proximidades do gol adversário.

Tal trunfo foi se apagando. Em Santa Catarina, com a bola em seus pés na maior parte do tempo, o rubro-negro jogou em slow motion. Aí fica moleza para a marcação.

Previsível, o Flamengo não teve _ou não tem_ jogador capaz de se infiltrar com a bola, na falta de companheiro desmarcado para passar.

Se ainda se garantisse atrás… Mas a defesa é mais esburacada que estradas mal conservadas. O primeiro gol, nascido em bola roubada, beneficiou-se de buraco na esquerda defensiva. O segundo, na direita. O terceiro, novamente na esquerda, com brancaleones perdidinhos (o pobre do Pará ficou sozinho na área para marcar dois atacantes do Figueira).

A queda do desempenho de alguns jogadores pesa. O Paulinho tem sido uma nulidade. O Emerson esbanja destempero irresponsável. O Alan Patrick passou a errar demais. O Kayke desperdiçou um gol ao cabecear mal, mas não se pode falar em surpresa.

A síntese das limitações do elenco é a frequente entrada do veterano Almir no segundo tempo. Ele não corre, não dribla, não cria. Tem técnica, mas carece de vigor físico. Salvo engano da memória traiçoeira, é outra herança do Vanderlei Luxemburgo.

Com todos esses problemas, o Flamengo tem muito mais elenco e mais time que o Figueirense, que se arrasta para não cair.

A principal explicação para o desastre da noite passada parece ser a convicção, ainda que não expressa verbalmente, de que já está de bom tamanho ter escapado da segundona.

Não está. O Flamengo não pode ambicionar tão pouco. Tem chances de ir à Libertadores?

Tem. Então que o time lute, em vez de dormir em campo.

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Tudo é história: vivandeiras
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Mário Magalhães

Verbete no dicionário "Houaiss"

Verbete no dicionário ''Houaiss''

 

Um bom método para avaliar se o Brasil melhorou ou piorou, e levantar um pouco o astral, é catar palavras que caíram em desuso.

Muitos jovens nunca ouviram falar em ''anjinhos''. Não que eles não mais existam. Mas é cada vez mais difícil encontrá-los, graças à decadência da mortalidade infantil.

Anjinhos são bebês ou crianças mortos. Quase sempre por doenças associadas à desnutrição, ou à fome, para falar em bom português. Eram comuns nos cenários nordestinos.

Quantos brasileiros sem cabelos brancos sabem o que é ''empastelamento''?

Houve uma época, no trepidante século XX, em que as autoridades empastelavam jornais. Isto é, fechavam na marra publicações que não acolhiam as ideias do poder.

E ''vivandeira'', alguém ainda liga o nome à pessoa?

Na origem, como ensina o verbete do ''Houaiss'' reproduzido no alto, era a ''mulher que acompanha uma tropa, vendendo ou levando mantimentos e bebidas''.

Mais tarde, ganhou outra conotação, a de quem incentiva a desinteligência entre militares. E atiça a sua intervenção ilegal e ilegítima na ordem constitucional, derrubando e promovendo governos.

As vivandeiras grassaram no país da década de 1920 à de 1980.

Eu as supunha extintas, como a varíola.

Lembrei-me delas por causa do assanhamento de um pessoal que anda provocando as Forças Armadas a fazerem o que, salve, salve, elas têm reiterado que não farão. Quer dizer, não pretendem estuprar a democracia.

Para frustração das, como é mesmo?… vivandeiras.

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Com roda de samba, livro ‘O meu lugar’ será lançado sábado no Rio
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Mário Magalhães

blog - livro o meu lugar

 

Recado do escritor Marcelo Moutinho, grande tricolor:

No próximo sábado, dia 17, a partir das 14h, vai rolar o lançamento do livro ''O meu lugar'', que organizei em parceria com o Luiz Antonio Simas. Será no Al-Farábi (Rua do Rosário, 30).

Publicada pela editora Mórula, a antologia reúne 34 crônicas de 34 diferentes autores sobre seus ''lugares'', ou seja, aquele canto da cidade cuja importância não se define na geografia ou na arquitetura, mas num mosaico de afetos.

No lançamento, as cantoras Marina Iris e Nina Rosa comandarão uma roda de samba, com músicas que falam dos bairros e costumes cariocas.

Além de mim (Madureira) e do Simas (Nova Iguaçu), estão no livro: Mariel Reis (Centro), Zeh Gustavo (Gamboa), Raphael Vidal (Morro da Conceição), Aldir Blanc (Vila Isabel), Maurício Barros de Castro (Estácio), Eduardo Goldenberg (Praça da Bandeira), José Trajano (Tijuca), Rodrigo Ferrari (Maracanã), Alberto Mussa (Grajaú), Moacyr Luz (Méier), Fernando Molica (Piedade), Juliana Krapp (Cascadura), Nei Lopes (Irajá), Paulo Roberto Pires (Penha), Felipe Bezerra (Pavuna), Bruna Beber (São João de Meriti), João Felipe Brito (Bangu), Fábio Fabato (Padre Miguel), Bárbara Pereira (Realengo), Henrique Rodrigues (Jacarepaguá), Lúcia Bettencourt (Leblon), Manuela Oiticica (Ipanema), Luiz Pimentel (Copacabana), Paulo Thiago de Mello (Botafogo), Hugo Sukman (Humaitá), Alexandra Lucas Coelho (Cosme Velho), João Pimentel (Laranjeiras), Mariana Filgueiras (Catumbi), Alexei Bueno (Lapa), Alvaro Costa e Silva (Glória), Ana Paula Lisboa (Maré), Cecilia Giannetti (Ilha do Governador).

A festa vai ser boa. Espero vocês!

*

Como se vê, Moutinho e Simas convocaram uma tremendo escrete de cronistas. O Rio merece!

Para comprar ''O meu lugar'' pela internet, com frete grátis para todo o Brasil, basta clicar aqui, no site da editora Mórula.

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Ao alegar estatura para barrar Jefferson, Dunga deu desculpa esfarrapada
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Mário Magalhães

Ser barrado é do jogo; mas a justificativa… – Foto Natacha Pisarenko/AP

 

O Brasil ganhou com méritos da anêmica Venezuela, poderia ter feito mais de 3 a 1, vai se classificar para a Copa de 2018. Em alguns momentos, jogou muito bem no Castelão, ainda que dois gols tenham sido presenteados em vacilos bisonhos (o primeiro pelo goleiro Baroja e o terceiro por um zagueiro _Amorebieta, velho conhecido desde os tempos do Athletic de Bilbao, mas que parece ter sido apresentado ontem ao Galvão Bueno).

Não entendi as justificativas do Dunga para barrar o Jefferson e escalar o Alisson no gol. Não que seja contra, ou a favor, muito pelo contrário. O Jefferson não tem sido soberbo, sua substituição é compreensível, embora não fosse errado mantê-lo. Na estreia nas Eliminatórias, ele falhou no primeiro gol chileno.

O problema são as desculpas esfarrapadas apresentadas pelo técnico. A mais notória diz respeito à altura. O Dunga mencionou a ''estatura'' maior do Alisson. Por isso, o ótimo goleiro do Inter seria mais indicado, pois os visitantes costumam apostar em bola aérea (ou, como se diz no rococó em voga, em ''bolas alçadas na área'').

Boa parte dos registros na internet apontam o arqueiro do Botafogo com 1,88 ou 1,89 metro de altura (no mínimo, 1,86, no máximo, 1,90 m). Seja como for, maior do que o Iker Casillas, 1,85, decisivo em títulos da Espanha em Copa e Eurocopa.

O Alisson teria 1,93. Portanto, mais 4 ou 5 centímetros.

Dá para acreditar que o Jefferson tenha ido para o banco em virtude do tamanho? Conta outra.

O Dunga contou. Por atuar em casa, entende-se que mais adiantado, o time precisaria de um goleiro que soubesse sair ''jogando com os pés''.

Também não convence.

O treinador acabou, de algum modo, dizendo que o Jefferson é baixote e que não sabe passar.

Queimou-o, quando bastaria ter informado o óbvio, que a troca pelo Alisson foi uma decisão técnica, decorrente ''do momento'' de cada um. E que a seleção não é composta somente pelos titulares, o importante é o espírito de grupo e coisa e tal.

Posso estar errado, mas acho que em Buenos Aires, na próxima partida, o Marcelo Grohe estará em campo. Suponho ser essa a preferência do Taffarel, o preparador de goleiros.

A seleção ainda busca um goleiro titular, titularíssimo.

Para fechar, não entendi o Dunga dizendo que não falhamos em bola aérea. No gol venezuelano, o Miranda foi superado no alto. Problema de altura?

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Havelange, mestre de Blatter: ‘O senhor vai morrer, não vou deixá-lo sair’
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Mário Magalhães

Havelange, o mestre, e Blatter, o discípulo: barra pesada – Foto reprodução

 

Comove, sobretudo pelos ares quixotescos, a batalha do Zico para presidir a Fifa. Com sua candidatura de estadista, o craque supremo oferece a chance de dedetizar o trono impregnado por traseiros mafiosos. Continuo achando que a Fifa não merece o Zico. E que, na hipótese improvável de ele chegar lá, darão um jeito de derrubá-lo ou impedi-lo de governar.

Um aspecto central da sucessão de Joseph Blatter que às vezes parece negligenciado nas análises é o poder do suíço de influenciar a escolha do novo presidente. Mesmo enfraquecido, com um gancho que o afastou temporariamente, o cartola mantém a condição de grande eleitor.

E joga duro. Seu mestre e antecessor foi João Havelange. A história dirá se o discípulo superou o mestre nas características sinistras que os notabilizaram.

Em 1998, escrevi em 15.649 palavras uma breve biografia de Havelange. A publicação, na ''Folha'', coincidiu com a troca de guarda na Fifa, depois de 24 anos. Saía Havelange, entrava Blatter.

Na apuração, conversei com Havelange em seu escritório carioca, na avenida Rio Branco. Nenhum episódio sintetiza com tanta nitidez o seu caráter como o que abriu a narrativa. Quem o contou foi ele mesmo. Esse trecho, reproduzido abaixo, ajuda a entender o estilo truculento Havelange-Blatter.

P.S.: João Havelange tem 99 anos e mora no Rio.

*

Corria a Copa de 1982, mas um brasileiro terminou o dia irritado, alheio à exuberante seleção de Telê Santana que encantava o planeta. O carioca João Havelange recebera dos organizadores do Mundial centenas de ingressos para os dirigentes da Fifa e seus convidados sentarem atrás de um gol, e não na tribuna, no centro do estádio, como estipulava um protocolo assinado pela entidade e o Comitê Organizador.

Na manhã seguinte, Havelange, então com 66 anos de idade, foi ao escritório onde despachava o principal executivo da Copa da Espanha, Raimundo Saporta. O relato é do presidente da Fifa: “Cheguei lá eram oito e meia, e ele não estava. Chegou às nove, eu botei os ingressos na mesa dele e disse: ‘Esses ingressos você guarda, não são para a Fifa. Eu quero quatrocentos ingressos aqui’”. E apontou em um desenho as tribunas do estádio.

“Ele disse: ‘Não os tenho’. Eu disse: ‘Um momento’. Fui à porta, fechei-a a chave. Fechei todas as janelas e disse: ‘Eu fico sem mijar, sem cagar, sem comer, sem dormir setenta e duas horas. O senhor vai morrer, porque eu não vou deixá-lo sair daqui enquanto não vierem os ingressos’. Ele era gordo e ficou ofegante. Eu disse: ‘O problema agora é seu’. Fui e sentei. ‘Ah, o senhor telefona…’, disse ele. ‘Não, não sou seu empregado', respondi. Saporta começou a suar, telefonar, telefonar, e vinte minutos depois eu tinha os quatrocentos ingressos. Não adianta. O sujeito pode dizer que eu sou isso, aquilo. Eu nasci assim, vou morrer assim.”

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Digitais
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Mário Magalhães

ececec

Por Jean Galvão, na ''Folha'' de hoje


Até Delfim Netto, signatário do AI-5, condena tapetão e ‘golpezinho’
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Mário Magalhães

O economista e colunista da Folha Delfim Netto no Festival Piauí Globonews de Jornalismo

O ex-ministro Delfim Netto, no sábado – Foto Tuca Vieira/Divulgação

 

Ministro da Fazenda em 1968, e nessa condição membro do Conselho de Segurança Nacional, o economista Delfim Netto foi um dos signatários do AI-5. Imposto em 13 de dezembro daquele ano, o ato institucional restringiu ainda mais as liberdades e incrementou a repressão a opositores da ditadura em vigor. Foi interpretado como um golpe dentro do golpe (o inaugural ocorrera em 1964).

Delfim assinou decisões como as que cassaram os direitos políticos de numerosos parlamentares sufragados pelo povo e outros cidadãos que se manifestaram contra o governo. Era um dos próceres do regime em anos de expansão de tortura, morte e desaparecimento de corpos.

Uma trajetória de liberticida, e não de democrata.

Pois até Delfim Netto se pronunciou, no sábado, em defesa da soberania do voto popular, portanto contra o que chamou de ''tapetão'' e ''golpezinho'' contra Dilma Rousseff.

Para o economista, crítico do governo Dilma, uma coisa é o desempenho da presidente, outra a legitimidade e legalidade do mandato conferido há um ano: ''O respeito à Constituição tem valor para o futuro muito maior do que qualquer golpezinho agora'', disse Delfim, no Festival Piauí Globonews de Jornalismo (leia aqui).

Também sou crítico do governo. Mas por motivos diferentes dos de Delfim. Enquanto ele se preocupa com ''empresários assustados'', acho muito mais grave o susto dos brasileiros mais pobres com o rebaixamento de suas condições de vida. Concordo, porém, sobre o ''tapetão''.

Em suma, até o Delfim condena o impeachment.

Quem é a favor está, fato é fato, à direita de Delfim Netto _e junto com Jair Bolsonaro.

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