Blog do Mario Magalhaes

Entulho autoritário: Justiça usa lei do governo Médici contra blogs no Acre
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Mário Magalhães

Médici, o ditador (1969-1974)

 

Já não bastam os problemas do presente, e os do passado continuam a assombrar. A Justiça do Acre usou uma lei da ditadura para criar constrangimentos a blogs e blogueiros.

São vários os constrangimentos. O juiz Marcelo Badaró Duarte determinou que ao menos 133 blogueiros tenham de ir ao cartório registrar os seus blogs. Que paguem até 610 reais. E que submetam a um evidente controle antidemocrático seu direito de difundir informações e ideias.

O controle é antidemocrático porque não tem cabimento exigir carimbo cartorial para autorizar a expressão de opiniões e a circulação de notícias.

O juiz atendeu ao pedido de um cartório, que alegou o perigo de ''clandestinidade'' dos blogs (leia reportagem aqui).

O magistrado se fundamenta na Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Assinou-a o então presidente da República, ditador Emílio Garrastazu Médici. O general ocupava o posto sem ter recebido um único voto popular (as eleições não eram diretas).

A lei dispõe sobre registros públicos. Seu capítulo III versa sobre ''jornais, oficinas impressoras, empresas de radiodifusão e agências de notícias''. O juiz entendeu que os blogs se enquadram como jornais.

E ignorou que a norma também tinha o propósito de sufocar, dificultar e reprimir publicações independentes da ditadura.

O juiz disse que não pretende censurar o jornalismo, que a questão é ''burocrática''.

Trata-se de ''lambança patética'', afirmou, com razão, o jornalista Altino Machado.

Uma lição inescapável é que o Brasil ainda precisa se livrar de entulhos autoritários de outrora, inclusive leis em vigor.

É certo que a democracia é capenga, mas a ditadura ficou para trás.

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Na saída de bola, agora Flu tem Gum e Marlon como Piqué e Puyol covers
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Mário Magalhães

flu - fred e gum

Fred e Gum festejam gol contra o Palmeiras, na quarta – Foto Nelson Perez/Fluminense FC

 

Quem acompanha amiúde o Fluminense, o que não é o meu caso, deve ter se dado conta há tempos da novidade. Com o técnico Eduardo Baptista, o time despreza chutões na saída de bola, apostando na pelota no pé. Foi o que se viu na quarta-feira, vitória de 2 a 1 sobre o Palmeiras, pela Copa do Brasil.

Funciona assim: os zagueiros abrem pelas bandas do campo. Gum pela direita, Marlon pela esquerda. Tão abertos que, na reposição pelo Cavalieri, posicionam-se como laterais. Os dois volantes, Jean e Cícero, recuam para serem a terceira e quarta opções para receber o passe do goleiro.

O risco é ser desarmado perto do próprio gol. A vantagem é não entregar a bola de bandeja ao adversário. Para isso, é preciso treinar e, em especial, confiar no arqueiro.

Não sei se é a intenção do filho do Nelsinho, mas ao menos no papel _e na partida de anteontem_ ele reproduz a saída de jogo do Barcelona na época do Guardiola.

Com Valdés (ou Cavalieri cover), em tiro de meta ou não, Piqué quase encostava na linha lateral direita (onde Gum se fixa). Puyol (Marlon), na esquerda. Xavi (Jean) recuava, mais pela direita. Busquets (Cícero), pela centro, centro-esquerda. (Variava, mas costumava ser esse o desenho base.)

Com volantes menos habilidosos que Jean e Cícero, o esquema seria mais complicado de executar.

Antes que me acusem de ter tomado um chá de cogumelo e julgar os jogadores equivalentes, não custa dizer que os brasileiros mencionados precisariam de alguns séculos para chegar ao nível das cinco feras catalãs (com os pés, Valdés é um dos melhores goleiros da história).

Mas é uma boa ideia se inspirar no estilo que recusa chutões inférteis.

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Ei, você aí…
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Mário Magalhães

sallvar

Eduardo Cunha, presidente da Câmara – Foto Pedro Ladeira/Folhapress


TV chilena exuma suas imagens e expõe mentiras e farsas pró-Pinochet
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Mário Magalhães

 

Nunca é tarde para contar a história como a história aconteceu. E para incomodar os acomodados, também além fronteiras. Quarenta e dois anos depois do golpe de Estado contra o presidente constitucional Salvador Allende, a Televisión Nacional de Chile (TVN) exibiu no mês passado um programa sobre como a própria emissora pública manipulou informações a favor da ditadura que vigorou no país de 1973 a 1990.

Nos arquivos do canal, o repórter Raúl Gamboni Silva e uma equipe de jornalistas garimparam antigas imagens. Encontraram reportagens mentirosas. Mais precioso ainda, descobriram vídeos originais e os compararam com os que foram ao ar, dissecando em minúcias as fraudes da propaganda pincelada com o verniz de ''jornalismo''.

Há muito tempo, no Cone Sul, é possível investigar as falsificações históricas cometidas por jornais e revistas impressos, em boa parte simpáticos e coniventes com os ditadores que infestaram a região nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Basta consultar os sites das publicações que dão acesso às edições de outrora ou visitar bibliotecas (no Brasil, a Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional, é mão na roda). Mas é raro canais de TV, constrangidos pelo que aprontaram anteontem, permitirem a pesquisadores passear por seus acervos.

O que Gamboni exumou não foi somente o chaleirismo despudorado que os brasileiros que viveram a ''nossa'' ditadura (1964-1985) conhecem bem. Incluindo, na Copa de 78, a bajulação a açougueiros genocidas como o general argentino Jorge Rafael Videla (sim, meninos, eu vi, e não esqueço).

Num episódio criminoso de armação, agentes do regime do ditador Augusto Pinochet assassinaram guerrilheiros numa área rural. A TVN difundiu matéria informando (sic), como queriam os repressores, que os oposicionistas haviam sido alvejados em confronto. O áudio que foi ao ar chancelava a versão oficial, com uma barulheira infernal de tiros.

Nas prateleiras da emissora, estava não somente a reportagem exibida, mas também o filme com som original. Nele, só se ouve o barulho de pessoas caminhando. Os tiros foram incluídos mais tarde, para enganar os espectadores e esconder o massacre.

Noutra oportunidade, um repórter de fancaria catou no chão cartuchos que provariam que militantes de esquerda dispararam contra policiais e militares. Na verdade, uma família inteira não havia trocado tiro algum, mas sido presa e torturada até a morte (um padre testemunhou, após ver os cadáveres: uma mulher teve os dois olhos arrancados; noutra, grávida, o feto apareceu entre as pernas).

Se a ditadura inventava um tal ''Plano Z'', projeto de ''terroristas'' para matar autoridades, a TV trombeteava. O plano nunca existiu.

Numa cadeia, em Pisagua, cenas e declarações de presos foram regravadas para disfarçar o ambiente de horror e extermínio. Os takes em que apareciam guardas armados até os dentes foram suprimidos da edição.

A TV pública transmitia ''entrevistas'' de militantes encarcerados dizendo que eram bem tratados e avacalhando as organizações às quais pertenciam. Os alegados jornalistas apenas reproduziam o que as Forças Armadas determinavam. Mesmo quando estava claro que houvera tortura e outras chantagens.

Em suma, ''jornalistas'' operando meios de comunicação para controlar a opinião pública. Obedeciam aos manuais de ''preparação psicológica'' elaborados pela ditadura, ensinando a cascatear para influenciar mentes.

O programa ''Informe Especial'' da TVN contou em 51 minutos, com o título ''As montagens da ditadura'', histórias que não honram o jornalismo ou a propaganda travestida de jornalismo.

Para mostrar que nem todos os gatos são pardos, o programa foi oferecido à memória de Máximo Gegga Ortiz, jornalista da TVN assassinado por órgãos de segurança aos 26 anos, em 1974. Até hoje é um ''desaparecido político''.

Quando, no Brasil, as emissoras de TV abrirão os seus baús?

P.S. 1: para assistir ao programa da TVN, em castelhano e sem legendas, basta clicar na imagem no alto ou neste link.

P.S. 2: para saber mais sobre o exercício de transparência da emissora, há uma boa reportagem aqui, em espanhol.

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Flamengo: apagão é balela; pegar no pé de Guerrero e Oswaldo é pior aposta
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Mário Magalhães

blog - flamengo alan patrick

Haja lamentação (aqui, Alan Patrick, ontem) – Foto Buda Mendes/Getty Images

 

Não foi devido a apagão, como disseram, que o Flamengo perdeu ontem do Inter.

Não houve apagão ofensivo, mas deficiência crônica nas conclusões.

Como inexistiu apagão defensivo na derrota de 3 a 0, para o Figueirense, na semana passada.

E sim ineficiência aberrante no sistema de proteção.

O apagão é um momento. No Maracanã, momento após momento, o rubro-negro criou chances de marcar.

Quase 20 finalizações, e mais uma partida em branco.

O time dominou na maior parte do tempo, começou avassalador.

Mérito dos jogadores, e também do técnico.

Se chutes e cabeçadas são mal executados, por vezes de modo bisonho, a culpa é do Oswaldo?

Se saem errados passes que em escolinha mirim de futebol têm 99,9% de acerto, o treinador é quem falhou?

Oswaldo de Oliveira paga pela limitação do elenco.

As coisas vão mal, e com quem ele conta no banco? Gabriel e Paulinho. Eles entram, desastrados como tantas vezes, e os desencontros com a bola permanecem.

Emerson, além da mise-en-scène de batalhador, tem feito alguma coisa?

O que faziam Everton e Pará que não marcaram Ernando, autor do gol no 1 a 0 colorado?

Na lateral esquerda, Ernando deveria ser acompanhado por Everton, que então jogava aberto na direita do ataque do Flamengo, ou pelo lateral-direito Pará.

Não entendi por que cobraram da zaga (mais do César Martins). Os zagueiros estavam marcando atacantes.

É maluquice, para um rubro-negro, mirar no Guerrero.

As melhores chances passam por ele, graças à sua técnica (acertou uma bola na trave) e à luta incessante (os dois zagueiros do Inter foram amarelados ao sofrer para marcá-lo).

Como apanha o Guerrero, e não se entrega!

O que complica é a bola não chegar limpa. Pouco chega, e quando chega é quadrada.

Guerrero é o único jogador em atividade no Brasil a integrar a lista de 59 postulantes à Bola de Ouro.

Está ansioso e sem sorte, Ok, uma hora passa, ainda mais se contratarem meias capazes de rolar a pelota redonda.

O elenco do Flamengo é de nível muito inferior ao do Guerrero.

Ele não é problema. É solução.

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