Blog do Mario Magalhaes

Betinho, 80
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Mário Magalhães

Por Renato Aroeira, via Facebook

Por Renato Aroeira, via Facebook

 

Betinho fez 80 anos nesta semana. Os verbetes enciclopédicos dizem que ele morreu em 1997. Enganam-se: gente assim não morre; eterniza-se para inspirar sua gente. Betinho levava o Brasil no coração, como um dia diagnosticou Aroeira.

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Financiamento coletivo busca reeditar livro ‘Zé’, uma história da ditadura
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Mário Magalhães

 

O jornalista e escritor Samarone Lima, talento polivalente incomum entre o povo das letras, é craque tanto na poesia quanto na prosa. Com seis livros lançados, vai para o sétimo antes do fim do ano.

Em 1998, ele publicou a reportagem biográfica ''Zé'', pela Mazza Edições. O livro esgotou faz quinze anos.

''Zé'' conta a história de José Carlos da Mata Machado, militante de esquerda assassinado sob tortura em 1973, na unidade do Recife do Destacamento de Operações de Informações.

No vídeo lá do alto, que pode ser visto clicando na imagem ou aqui, o Samarone fala mais sobre o livro e o financiamento coletivo lançado para tentar reeditá-lo.

Há bons motivos para reeditar ''Zé'', a começar pela evidência de que conhecer o passado nunca fez mal, pelo contrário, às sociedades.

Outro é que, nos últimos tempos, acumularam-se numerosas informações novas sobre a morte de Mata Machado e companheiros próximos dele, alguns desaparecidos até hoje.

Como sabe todo mundo que escreve não ficção, apuração dá trabalho e não sai de graça. O financiamento coletivo servirá para bancar viagens, hospedagem e outros custos decorrentes de entrevistas, pesquisas em arquivos, edição, transcrição das entrevistas e impressão dos livros.

Valem contribuições a partir de R$ 10. Dependendo do valor, quem ajuda recebe de exemplar do livro a direito de participar de oficina literária conduzida pelo Samarone.

Para contribuir, via Catarse, é só clicar neste link, onde também há farta informação sobre o projeto e o autor.

O Samarone tem um blog de crônicas, ''Estuário'', e um de poesias, ''quemerospoemas''.

Ele é da turma do Arraes, do dom Hélder e do Xico Sá: a gente pensa que são pernambucanos, mas vieram do Ceará. Tudo boa gente.

'Bora, pessoal, contribuir!

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O olhar dos espiões e Mário Pedrosa, o ‘príncipe do espírito’
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Mário Magalhães

Mário Pedrosa, em primeiro plano, e Alexander Calder, craque dos móbiles – Foto divulgação

 

Nesta semana, a morte do Mário Pedrosa (1900-1981) completou 34 anos. Gigante da cultura e das ideias, Pedrosa é um dos personagens que até hoje me cutucam, volta e meia, perguntando quando enfim me disporei a escrever um livro sobre eles.

Em 2001, mergulhei nos velhos acervos da polícia política do Distrito Federal, do Estado da Guanabara e do Estado do Rio de Janeiro. Estavam, e ainda estão, sob guarda do Arquivo Público do RJ.

Contei na ''Folha'' o que descobri, em reportagem reproduzida abaixo:

*

Mário Pedrosa e o olhar dos espiões

Quando o militante socialista e crítico de arte Mário Pedrosa morreu, no dia 5 de novembro de 1981, seus amigos esboçaram um perfil biográfico que o consagrava como um dos mais brilhantes intelectuais da história do Brasil.

''[Foi] uma das inteligências mais ricas e criativas que nosso país teve'', escreveu o então correspondente da ''Folha'' em Londres, Cláudio Abramo. O teatrólogo Flávio Rangel, colunista do jornal, testemunhou: ''Seu pensamento era sempre original e profundo. Assistir a Mário desenvolvendo suas ideias, num debate ou numa discussão, era um prazer permanente, uma espécie de síntese entre filosofia e estética''.

Em abril passado, foi lançado o livro-homenagem ''Mário Pedrosa e o Brasil'' (editora Perseu Abramo, organização de José Castilho Marques Neto).

No volume, depoimentos da atriz Lélia Abramo, do crítico literário Antonio Candido, do petista Luiz Inácio Lula da Silva, do sociólogo Luciano Martins e da professora de estética da USP Otília Arantes reforçam, com cores fortes, o retrato desenhado décadas antes.

Agora, no mês em que a morte de Mário Pedrosa completa 20 anos, uma investigação no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro revela uma coincidência: para os agentes secretos que o espionaram da década de 1930 à de 1980, Pedrosa, um dos pregadores originais do socialismo democrático no Brasil, filiado número 1 do PT, primeiro crítico a reconhecer a condição de arte nas pinturas dos pacientes da psiquiatra Nise da Silveira e amigo do revolucionário Leon Trótski, do surrealista Benjamin Péret e do presidente Salvador Allende, não fugia muito à imagem de brilhantismo construída por seus companheiros.

''Muito inteligente, falando diversos idiomas, ativo e desembaraçado, age de preferência no meio inculto, onde sua ação corruptosa [sic] é rápida e proveitosa.'' Assim o descreveu em relatório um agente secreto da Polícia Civil do Distrito Federal, caracterizando-o como ''elemento perigosíssimo à ordem e à segurança públicas''. Corria o ano de 1938, o seguinte à instauração da ditadura do Estado Novo (1937-45), na primeira passagem (1930-45) de Getúlio Vargas pela Presidência da República.

Numa resposta ao Consulado Geral dos Estados Unidos, que buscava a ficha de Pedrosa, a polícia política federal alertou: ''[É um] agitador inteligente''.

No dia 3 de fevereiro de 1941, um espião identificado como D-15 assinou um relatório combinando elogio à inteligência de Pedrosa e desdém por sua saúde. Citava-o como fundador de duas organizações políticas, a Liga Trotskista -na verdade Liga Comunista Internacionalista- e o Partido Operário Leninista.

Descrevia-o: ''Rapaz de seus 35 anos, alto e de tez doentia. Já esteve tuberculoso e tem pulmões fracos. Escritor de grande capacidade intelectual e um dos maiores conhecedores do marxismo na América do Sul (…). Segundo consta, está presentemente no Rio de Janeiro. Sou amigo de Mário Pedrosa e espero encontrar-me com ele muito brevemente''.

Ou seja: Pedrosa tinha, sem saber, em suas relações um agente inimigo que o monitorava para o Estado. Sobre a saúde, a impressão parece contraditória com os fatos. O militante tinha 40 anos de idade e aparentava 35. E só viria a morrer octogenário.

Em outra ditadura, a dos militares (1964-1985), a espionagem prosseguiu. Um informe do CIE (Centro de Informações do Exército) do 1º Exército sintetizou em 8 de julho de 1970 um Inquérito Policial Militar no qual Pedrosa e outros intelectuais e ativistas foram condenados por divulgar no exterior, nas palavras do agente militar, ''eventuais torturas e violência a presos políticos brasileiros''.

O relatório do órgão do Exército afirma: ''O epigrafado [Pedrosa] influiu na ação do grupo devido à sua ascendência moral sobre os mais jovens, pois impunha-se pelo seu conhecimento, idade e respeito ao velho mestre''.

Vinte dias depois, foi decretada a prisão preventiva de Mário Pedrosa, que se asilou na embaixada do Chile. Após dois meses, ele partiu para o exílio no país andino, onde também foi observado por arapongas brasileiros.

Além do tom temeroso e ironicamente um tanto venerando das 192 páginas encontradas nos fundos documentais políticos do Arquivo Público do Rio, a maioria com carimbos de ''confidencial'' ou ''secreto'', dois aspectos se destacam no dossiê. Um é a longevidade do olhar do aparato de segurança sobre Mário Pedrosa, expressão da trajetória política de quem, aos 78 anos (nasceu em abril de 1900), escreveu para o ascendente líder sindical Lula, numa carta em que se referia a Karl Marx como ''meu mestre'': ''Nessa idade (…) não se é mais candidato a nada, a não ser a continuar fiel às ideias da mocidade''.

O outro é, num aparente paradoxo com a espionagem ininterrupta dos órgãos oficiais, a impressão de que os informes não dão conta da relevância histórica de Pedrosa, goste-se ou não dele.

A explicação provável é a obsessão da arapongagem com a vigilância dos movimentos armados contra o Estado. Opositor de Getulio Vargas e dos militares, Pedrosa não participou, considerando-as ações destinadas ao fracasso, da chamada Intentona Comunista de 1935 e da guerrilha dos anos 60 e 70.

Mário Pedrosa aderiu ao Partido Comunista em meados dos anos 20. Em 1928, rompeu com o stalinismo e se tornou o precursor da oposição de esquerda, liderada por Trótski, no Brasil.

Na década de 30, principiou o estudo sistemático da arte. No futuro, na opinião de muitos pesquisadores, se tornaria o maior crítico brasileiro, com larga projeção internacional.

Na virada para os anos 40, contrariado com o pacto Hitler-Stálin, se opôs à ''defesa incondicional da União Soviética'' apregoada por Trótski e abandonou o grupo trotskista, cuja direção mundial integrava. Ao morrer, mantinha sobre a mesa de trabalho um porta-retratos com a imagem do revolucionário russo.

No arquivo do Rio estão registradas as suas prisões de 1938 e 1941, inclusive com as fotos de frente e perfil e as digitais impressas, além da decretação de prisão preventiva não consumada de 1970.

Em 1966, o Cenimar (Centro de Informações da Marinha) infiltrou um agente numa célebre assembléia de intelectuais oposicionistas em Ipanema, com a presença de Mário Pedrosa, Janio de Freitas, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado, Flávio Rangel, Tonia Carrero, Paulo Francis e o advogado José Gregori, atual ministro da Justiça.

A temporada de três anos de Pedrosa no Chile, de onde ele escapou após o golpe de setembro de 1973, é reconstituída em fragmentos por interrogatórios de dois militantes feitos pelo DOI (Destacamento de Operações de Informações) do 1º Exército. Um dos detidos havia se hospedado em Santiago na casa de Pedrosa, que se dedicou a amparar conterrâneos exilados e a organizar o Museu da Solidariedade para o presidente socialista Salvador Allende.

Na inauguração do museu, em 1972, com obras de Joan Miró, Lygia Clark, Frans Krajcberg e artistas de todo o mundo, Allende citou cinco vezes o amigo brasileiro em seu discurso.

Em 1977, quando voltou, doente, do exílio na França, Pedrosa foi interrogado pela Polícia Federal. Seu depoimento ficou registrado em três páginas.

Num dos últimos informes em que é citado, foi visto por um espião do Exército em outubro de 1979, em Madureira, subúrbio carioca, numa reunião de lançamento do PT. Lula e o psicanalista Hélio Pellegrino, levado pelo amigo Mário Pedrosa para o novo partido, estavam lá.

Um século após o nascimento e duas décadas depois da morte de Pedrosa, sua história na política e nas artes vem sendo recuperada em reedições de seus escritos e estudos acadêmicos. Inexiste, contudo, uma biografia à altura de quem, em sua elegia, Cláudio Abramo chamou de ''príncipe do espírito''.

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Vem aí ‘A noite do meu bem’, novo livro do Ruy Castro. Veja o booktrailer
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Mário Magalhães

 

Poderia dizer que a leitura do Natal está garantida, porque vem aí o novo livro do Ruy Castro, ''A noite do meu bem: a história e as histórias do samba-canção''.

Mas a verdade é que, como sempre com tal autor, devorarei o livro assim que sair.

''A noite do meu bem'' (Companhia das Letras) estará nas livrarias antes de dezembro chegar.

Aqui no Rio, o lançamento será no dia 24 de novembro, na Travessa de Ipanema, a partir das 19h.

Assista ao booktrailer, clicando na imagem do alto ou aqui, e veja se não dá água na boca.

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Notícia de agressão de candidato de Paes a ex-mulher turva eleição no Rio
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Mário Magalhães

O secretário Pedro Paulo, pré-candidato do PMDB à Prefeitura do Rio – Foto reprodução

 

A notícia da agressão do deputado federal Pedro Paulo Carvalho à ex-mulher torna mais imprevisível a campanha para a sucessão do prefeito Eduardo Paes aqui no Rio.

Secretário municipal mais poderoso, Pedro Paulo foi escolhido por Paes como o pré-candidato do PMDB para o ano que vem. O prefeito negociou com outros correligionários aspirantes à vaga e obteve acordo em torno do nome que queria.

A eleição já estava embolada, com muitos potenciais concorrentes competitivos: o senador Romário (PSB); o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL); o senador Marcelo Crivella (PRB); e a deputada federal Clarissa Garotinho (PR).

Mas o favorito, vitaminado pela aprovação ao prefeito e uma coligação gigantesca, era Pedro Paulo. Um sem-número de obras e serviços serão inaugurados na cidade até a Olimpíada de agosto. Se não houver um fiasco na organização municipal para os Jogos, hipótese em que quase ninguém bem informado aposta, a popularidade de Paes deve aumentar, cacifando-o até para se lançar à Presidência em 2018.

Agora, o cenário de 2016 ficou mais turvo. Até porque candidaturas dadas como descartadas pelo PMDB, como a do deputado Leonardo Picciani, estão sendo ressuscitadas.

A agressão de Pedro Paulo contra sua então mulher foi revelada pelos repórteres Leslie Leitão e Thiago Prado no dia 16 de outubro.

A matéria, documentada, conta que em 2010 a mulher de Pedro Paulo, Alexandra Marcondes, registrou queixa por agressão. Disse que foi atacada pelo marido com pontapés e socos, versão confirmada pela babá que trabalhava no apartamento do casal. Laudo no IML comprovou marcas compatíveis com a denúncia, inclusive um dente quebrado.

A ocorrência policial não resultou em indiciamento do já então secretário municipal. Nem em acusação pelo Ministério Público. A Lei Maria da Penha não foi aplicada.

A primeira reação à reportagem do mês passado foi uma declaração de Alexandra dizendo que inventara a agressão.

Eduardo Paes opinou que se trata de ''tema da vida privada'' (sobre tal afirmação, o jornalista Marco Aurélio Canônico contestou-o exemplarmente).

Ontem, Pedro Paulo deu entrevista ao repórter Italo Nogueira. Enfim, o secretário admitiu a agressão. Em sua pior resposta, o entrevistado ensaia uma interpretação da Lei Maria da Penha muito grave para um administrador público. No melhor momento do entrevistador, Nogueira indaga: ''O sr. é pai de uma menina. Se um futuro genro do sr. tiver um episódio como esse, aceitaria as explicações que o sr. está dando?''

Se Eduardo Paes insistir com Pedro Paulo para 2016, poderá até vencer no Rio, mas prejudicará suas pretensões presidenciais.

A não ser que suponha ser uma atitude digna acobertar a agressão, como ficou comprovado, ocorrida.

A propósito: o que levou a ex-mulher de Pedro Paulo a dizer que inventou o que agora se sabe que não foi invenção?

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Por Débora Thomé: O que falta fazer? (ou de volta às nossas batalhas)
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Mário Magalhães

Débora Thomé, acima: jornalista, feminista, cientista política – Foto Facebook – #agoraequesaoelas

 

A palavra está com a Débora Thomé. Vestindo a camisa da iniciativa ''Agora é que são elas'', o blog publica artigo da jornalista, ativista, feminista, cientista política e fundadora do Bloco Mulheres Rodadas.

A Débora anota: ''O país perdeu muitos anos de mulheres geniais a quem restava apenas o papel de mãe de família''.

Pergunta: ''Quantas outras tantas mulheres vamos perder ao não valorizar a contento seu trabalho e suas ideias?''

E responde: ''Vai ver por isso tudo tivemos que voltar a nossas batalhas. Porque vimos que muitas delas continuam longe de vencidas''.

#agoraequesaoelas O artigo, na íntegra:

O que falta fazer?

Por Débora Thomé

Quem estava nas barricadas nos anos 70 e 80 duvidava que o movimento feminista tivesse ainda energia para voltar com força. Muitas mulheres continuaram no front, batalhando para conseguir apoio de suas congêneres Mas já há uns dois anos, muitos – e muitas – foram surpreendidos pelo aumento de novas iniciativas do mundo das mulheres. O que houve – o que está havendo – ninguém ainda entendeu ainda muito bem, mas tenho algumas suspeitas para o caso de jovens senhoras, como eu.

Nos início dos anos 70, as mulheres não eram muito mais que os 20% da População Economicamente Ativa (a PEA). Do total dos trabalhadores, 80% eram homens; os chefes de família. Em meados dos 70, quando nasci, com toda a modificação nos costumes, as mulheres alcançavam 29% da PEA, segundo os dados do IBGE. Passados quase quarenta anos, em um processo crescente, vamos rumando para os 45% de participação no mercado de trabalho.

O processo que se deu nessa esfera, foi acompanhado por outro, na educação. Desde 1995, as meninas registram resultados melhores em língua portuguesa nos testes do MEC. De acordo com dados do movimento Todos Pela Educação, 61% das adolescentes conseguiam terminar o ensino médio até os 19 anos de idade; percentual que entre os rapazes era de 48%. Na matemática, as estudantes ainda têm piores resultados, mas estão em uma curva ascendente.

Não está bom ainda? As mulheres são 57,1% dos estudantes em universidades entre 18 e 24 anos; mais mulheres que homens nessa faixa etária frequentam a universidade. Desde 1998, o número das que recebem o título de mestrado é maior. O mesmo aconteceu para o doutorado, a partir de 2004, quando 51% do total eram as doutoras.

Dentro das casas, também ocorriam transformações fundamentais, a começar pela enorme redução no número de filhos. Hoje, as mulheres são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias. Vivemos mais anos.

Fomos instigadas a construir nossa trajetória, desafiando conservadores e vozes nada isoladas do status quo. Assim o fizemos.

Quando estudava, nos anos 80 e 90, havia uma promessa de que, neste “mundo novo”, o feminismo não seria mais necessário, afinal já tínhamos conquistado o direito ao estudo, ao divórcio, à pílula e ao sexo antes do casamento. Neste tal mundo, o mérito traria as recompensas, que seriam resultado dos nossos próprios esforços e abdicação. Muito aconteceu, mas esse prêmio pelo esforço chega ainda de forma muito tímida. Entre outras evidências, os salários das mulheres continuam cerca de 20% menores, para carreiras idênticas e com mesma formação. Onde falhamos, então?

Há algo que nunca mudou a que chamam com o nome pomposo de “divisão sexual do trabalho doméstico”. Mesmo uma mulher com doutorado, quando comparada com um homem apenas alfabetizado, gasta mais tempo com os afazeres domésticos que ele. A estrutura ainda é arraigada de tal forma que a mudança não prospera. A maioria das mulheres acaba tendo que optar: filhos ou trabalho ou sono ou lazer. Ou tudo isso feito de forma adaptada, insuficiente, improvisada.

Minha avó é uma mulher inteligentíssima, informada, trabalha por prazer aos 81 anos vendendo queijo; minha mãe, que só pôde fazer faculdade depois de mim, lidera uma ONG. Minha avó não fez o ensino superior e minha mãe não seguiu antes sua vocação porque a sociedade as coagia a priorizar os filhos. E elas são apenas dois exemplos.

O país perdeu muitos anos de mulheres geniais a quem restava apenas o papel de mãe de família. Quantas outras tantas mulheres vamos perder ao não valorizar a contento seu trabalho e suas ideias? (Isso para não citar toda uma coleção de arbitrariedades em outros espaços de poder.)

Vai ver por isso tudo tivemos que voltar a nossas batalhas. Porque vimos que muitas delas continuam longe de vencidas.


O racista é, antes de tudo, um covarde
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Mário Magalhães

Taís Araújo: talentosa, bonita e, sobretudo, digna – Reprodução Facebook

 

Os ataques racistas à Taís Araújo e ao Michel Bastos reeditam um comportamento padrão nessa modalidade de ódio, preconceito e crime: a covardia.

Tirando um outro da turma insana, essa gente que aparenta falar grosso esconde a identidade.

Feito certo pessoal da Klu Klux Klan que, protegido por máscaras, em tese vestidas com propósitos simbólicos, jamais foi identificado.

Vomitam impropérios na internet adotando nomes falsos, de pessoas famosas ou não, e apelidos escancarados.

Não omitem o nome verdadeiro, o que seria legítimo, para escapar de tiranias e totalitarismos.

Eles são a tirania, o mal.

Agem nas trevas do anonimato para ofender a civilização.

Falta-lhes coragem para atacar à luz.

Necessitam da escuridão como os morcegos.

Nada de espantar que, num dos derradeiros países a abolir a escravidão, sobrevivam desgraçados com alma de senhores de escravos.

À covardia une-se a inveja.

Do talento e da beleza da atriz.

Da carreira bem sucedida do jogador.

Cidadã e cidadão de sucesso.

A inveja, como a covardia, é uma merda.

A Taís e o Michel demonstram uma qualidade maior, a dignidade, ao reagir ao inominável.

Muitos e muitos brasileiros, sem o reconhecimento deles, são alvo de racismo cotidiano.

Num país em que raça e cor influem nas condições de vida desde a gestação.

Brasil, nação de racismo e racistas.

Mas também de gente que sabe ir à luta contra a barbárie.

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Pelo bem do Flamengo, chega logo, 2016!
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Mário Magalhães

Guerrero: apanha e é punido; arbitragem vergonhosa – Foto Pedro Martins/AGIF

 

O Flamengo perdeu por 2 a 0 para o Grêmio. Sei lá o que informa a matemática, mas sei que o clube não conquistará uma vaga na Libertadores, nem cairá, como jamais caiu, para a segundona.

Alguns pitacos sobre a justa derrota em Porto Alegre:

* Guerrero fez uma falta, faltinha, sem a menor violência. Um tal de Braulio, apitador, deu-lhe amarelo. Com legitimidade, Guerrero reclamou e foi para a rua pelos 15 minutos do segundo tempo. Uma vergonha. Nenhum jogador em atividade no Brasil, digam o que digam as estatísticas, apanha tanto quanto o Guerrero. E acaba sempre sendo punido, com inversão de faltas ou cartões. Vi a segunda etapa de Vasco x Fluminense. Paulada, daquelas de aleijar, valeu só amarelo. O Braulio agrediu o futebol. O Guerrero é perseguido pela arbitragem jogo a jogo. Já não basta que a bola não lhe chegue redonda. Daqui a pouco vai embora para a Europa. Pena.

* Em crise, jogando fora e contra um oponente que tem mais time, o Flamengo conseguiu levar dois gols de contra-ataque. Fica difícil.

* A equipe hoje manteve o mesmo nível das partidas passadas. O que prova, ou sugere, que a diferença entre titulares e reservas é muito pequena. Reina a mediocridade.

* É fácil falar mal da zaga, e hoje, de novo, o César Martins vacilou muito. Mas é maldade concentrar a culpa atrás, quando os atacantes adversários se aproximam livrinhos, sem marcação, da área rubro-negra. Sistema defensivo deve envolver toda a equipe.

* Que venha logo 2016, com reforços, nova mentalidade, novas esperanças. Porque a esperança, isto é Flamengo, não morre nunca.

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Matemática diz que o Corinthians ainda não é campeão. A matemática é burra!
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Mário Magalhães

Renato Augusto: joga muito – Foto Ale Cabral/Folhapress

 

Parabéns ao Corinthians, campeão brasileiro de 2015!

A matemática diz que ainda não é?

Mais uma prova de como a matemática é burra!

O mais espetacular da campanha campeã foi rejeitar a impressão, em tardes infelizes no primeiro turno, de que o sonho do título tinha ido para o buraco.

Comandado pelo Tite, o time sobreviveu à UTI, revigorou-se e chegou lá.

É campeão porque jogou o melhor futebol. E só por isso.

Merecidíssimo!

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Major PM forja prova em protesto, é condenado e vira assessor de coronel
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Mário Magalhães

Major Pinto lança spray em protesto de 2013 – Foto reprodução ''O Dia''

Ontem, o major assessorou um coronel em depoimento a CPI – Foto reprodução ''O Dia''

 

O major Fábio Pinto, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, forjou prova em protesto de 2013. Inventou que um manifestante portava um morteiro. Não sou eu quem o acusa. Essa foi a conclusão da Justiça Militar, que o condenou a 36 dias de prisão.

Noutro ato daquele ano, de professores, o major foi flagrado lançando spray de pimenta contra manifestantes.

O oficial ostenta no currículo oito processos disciplinares: ''quatro transgressões graves, uma transgressão média e três faltas leves''. Ao todo, permaneceu preso 86 dias.

Com essa trajetória edificante, o major Pinto esteve ontem na Assembleia Legislativa assessorando o coronel Cláudio Lima Freire, chefe do Estado-Maior da PM.

Quem conta tudo isso é a repórter Adriana Cruz, em furo do jornal ''O Dia'' nesta sexta-feira.

Pinto acompanhou Lima Freire em sessão da CPI que investiga o sumiço de armas.

A PM informou que o major recorre da decisão judicial sobre armação de flagrante.

Será que o exemplo transmitido ao resto da corporação, inclusive os jovens policiais, é ''protagonize uma farsa, que dá em nada''?

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