Blog do Mario Magalhaes

Hoje, em SP: Vitor Nuzzi lança ‘Geraldo Vandré: Uma canção interrompida’
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Mário Magalhães

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No primeiro semestre deste ano, o jornalista Vitor Nuzzi lançou ''Geraldo Vandré: Uma canção interrompida''.

Imprimiu somente uma centena de exemplares, bancados por ele.

Boa notícia: quem ficou esperando pela chance de ler o livro já não precisa esperar.

Com noite de autógrafos e bate-papo sobre o grande compositor, a nova edição da biografia, pela Kuarup, será lançada na noite desta sexta-feira em São Paulo.

A partir das 19h, na Livraria da Vila.

Em entrevista ao ''Portal dos Jornalistas'', Nuzzi falou de uma novidade que estimulou a edição fornida que sai agora da biografia não autorizada:

''O lançamento dos 100 exemplares já me contentaria. Mas teve muito mais repercussão do que poderia imaginar. Além disso, tivemos o julgamento, no Supremo Tribunal Federal, da ação direta de inconstitucionalidade relacionada à publicação de biografias. O STF decidiu por unanimidade que não há necessidade de autorização prévia. Isso animou as editoras, e algumas fizeram contato comigo, até que acabei fechando com a Kuarup''.

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Se o Eduardo Cunha faz o que faz na Câmara, imagina presidente da República
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Mário Magalhães

De olho no Planalto – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Recapitulando, que a novela do Brasil em transe é mais complicada que filme do Bressane.

Como a Dilma não é gatuna, ela seria impichada com o pretexto das tais pedaladas fiscais, correto?

E o missivista Temer trocaria o Jaburu pelo, minha-casa-minha-vida, Alvorada.

Festa planejada, bundalelê pra arrebentar.

Mas aí vieram uns repórteres deprês e revelaram que em 2014 e 2015 o Temer assinou quase 11 bilhões de reais em… pedaladas!

Como o Janio de Freitas assinala hoje, se a Dilma for punida pelas pedaladas, o homem decorativo (tendência masculina de verão) também terá de ser.

Logo, obedecendo à hierarquia constitucional, o presidente da Câmara dos Deputados assumiria o Planalto.

Sim, o Eduardo Cunha.

Se ele, simulacro de ditador, já faz o que faz na presidência da Câmara, imagina na Presidência da República.

Parabéns aos envolvidos.

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‘Às favas todos os escrúpulos de consciência’
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Mário Magalhães

Eduardo Cunha: a cara do impeachment – Foto Ueslei Marcelino/Reuters

 

Nestes dias de ódio e desatino, às vezes a rapaziada derrapa na história e malha quem não merece. Tome-se o exemplo de Hélio Bicudo, signatário do pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Justa ou injusta, a proposição não apaga os relevantes e valentes serviços prestados à nação pelo antigo promotor público. Sem ele, a iniciativa pelo afastamento da presidente andaria de qualquer maneira. Mas talvez sem Bicudo o esquadrão da morte jamais tivesse sido enfrentado como foi, nos anos tormentosos da ditadura. Agora o velho combatente se alia a quem, no passado, esteve em trincheiras opostas. Gente como Jair Bolsonaro. É seu direito. Sua façanha e seu destemor estão gravados na memória. Ninguém tasca.

Michel Temer é caso diferente. Só se assemelha a Bicudo no ressentimento. Um filho do ex-petista escreveu um relato pungente sobre como o rancor conduziu o pai à pregação contrária à soberania das urnas. Acontece, cada um com os seus fantasmas, calos e cotovelos. Temer nunca foi grande. Sua grandeza de estadista é miragem pincelada por vários pintores. Entre eles, jornalistas que se beneficiaram por décadas de informações sopradas pelo atual vice. De correligionários seus, não precisa nem falar. Os petistas não escapam, em seu empenho enganador para edulcorar a influência do PMDB no governo.

O tamanho de Michel Temer é o expresso na mensagem a Dilma. Ele se queixa dos carguinhos e cargões que seus compadres perderam. O estadista amuado por vaguinhas no governo? Surpresa? Ora, que virtudes são compatíveis com o presidente nacional do PMDB? Se sempre se considerou um vice decorativo, e isso o chateava, por que topou participar da dobradinha eleitoral em 2014? Para manter os amigos nas altas esferas? Se quer despachar no Planalto, que batalhe pelo voto popular em 2018.

Mas seu manifesto _carta é eufemismo_ é muito mais do que um pote até aqui de mágoas. O ressentido maquinou para que a bomba estourasse no dia em que a Câmara escalaria a comissão do impeachment. E em que a Comissão de Ética deveria enfim dar sinal verde ou vermelho ao andamento do processo de cassação de Eduardo Cunha. Deu no que deu.

Temer conspira pela deposição da presidente constitucional. Como inexistem informações sobre conta secreta dela no exterior, criou-se o pretexto das tais pedaladas fiscais. Quem assinou algumas delas? Michel Temer no exercício da Presidência. Assim como governantes anteriores tinham feito a mesma coisa. O vice atua para salvar Eduardo Cunha, o que vale por uma síntese. Grassa a hipocrisia.

Ou não é hipocrisia trombetear o ''fora, Dilma'' em nome do cerco à corrupção e entregar o leme do golpe ao deputado que, informam as autoridades suíças e o Ministério Público brasileiro, mantém depósitos não declarados em paraíso fiscal? FHC e Lula podiam pedalar, e de repente Dilma não pode. Delcídio do Amaral roubar na era PT é um vexame, e danem-se os tempos de FHC (o senador já embolsava o alheio, entregou Nestor Cerveró).

A cara da pujante escalada do impeachment, contudo, não é a da trajetória honrada de Hélio Bicudo nem a da pequenez de Michel Temer: dada a truculência, é a de Eduardo Cunha.

Desde o pronunciamento dos cidadãos em outubro do ano passado ele trama pela derrubada da presidente. Sobretudo depois que o PT bateu chapa na disputa pela cabeça da Câmara. A sabotagem da votação de medidas econômicas contribui para paralisar o país.

A abertura do processo de impeachment foi vingança decorrente da decisão de deputados petistas votarem pelo prosseguimento da ação contra Cunha. Por mais esperta que seja a lábia diversionista, eis a real: o impeachment progride a partir de ato de Eduardo Cunha, o correntista, na guerra para não ser investigado e julgado por seus pares. Há pecado de nascença.

Não sou jurista nem especialista em regimento do Congresso. Mas observo contrastes. Na decisão do Senado a respeito da prisão de Delcídio do Amaral, o voto foi aberto. Para escolher a comissão do impeachment na Câmara, fechado, o que não tem base legal, de acordo com Ayres Britto, ex-ministro do STF. O voto oculto impede que os eleitores monitorem o desempenho dos seus representantes. A pressão do Executivo, o toma-lá-dá-cá, é um risco. Mas cabe aos retaliados denunciar vendetas imorais.

A Comissão de Ética adiou pela quinta vez a deliberação sobre Cunha. Lá, os partidários do chefão vão falando, falando, falando, até que termina o horário, e a sessão é encerrada sem nada definir. No plenário, aconteceu o contrário. Cunha barrou deputados que queriam discursar antes da votação da comissão do impeachment. Ordenou que desligassem o áudio. Microfone fechado, simbolizando tempos de liberdade ferida.

A verdade é dura, e não há malabarismo retórico que a esconda: quem está com o impeachment está com Eduardo Cunha e parceiros dele como Bolsonaro, Paulinho e Feliciano. Só um mentecapto sustentaria que todos pró-afastamento de Dilma advogam o mesmo programa primitivo para o Brasil. Mas que todos estão abraçados com Cunha, em torno da bandeira do impeachment, estão.

Com a verborragia do ódio, Eduardo Cunha não é somente o arauto maior da ruptura da legalidade. Ele defende ideias sombrias sobre a autonomia das mulheres e a condição de família. Não é uma agenda de retrocesso a 1954 e 1964, e sim à Idade Média. Não temos mais fogueiras, mas tais intromissões na vida alheia _como o Estado não reconhecer uma família como família_ também constituem violência que queima as consciências de bem.

Esses pitacos sobre o impeachment não eliminam a avaliação sobre o péssimo governo Dilma reloaded. A presidente abandonou a base social que a escolheu, e agora se vê cercada por quem não votou nela em outubro. O manifesto de Temer reforça a impressão de inépcia política de Dilma Rousseff. Se alijar o vice de um encontro com autoridade estrangeira pode magoá-lo, por que não levá-lo? A segunda administração é desastrosa. Mas cabe aos cidadãos se pronunciarem, em 2018.

Pior que uma governante ruim eleita pelo povo é um governante, qualquer um, imposto contra o voto. A oposição venezuelana apostou no golpismo e se deu mal. Ao se submeter às urnas, aplicou um chocolate histórico no chavismo. A oposição argentina construiu um programa e um candidato contra Cristina Kirchner. Triunfo incontestável. A oposição brasileira quer ganhar no tapetão.

Não são Dilma e seu triste governo que estão em jogo, mas conquistas democráticas de décadas. Presidente se elege no voto.

O próximo protesto anti-Dilma está marcado para 13 de dezembro. Na mesma data, 47 anos atrás, a ditadura enfiou o AI-5 goela abaixo. Na reunião do Conselho de Segurança Nacional que abençoou o ato liberticida, o coronel Jarbas Passarinho, ministro do Trabalho, exaltou-se: ''Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência''.

Ao testemunhar ladainhas em nome da ''democracia'', tendo ao lado Eduardo Cunha, a impressão é que Passarinho fez escola.

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Ofensiva da Universal contra Paes e Pezão prepara campanha Crivella em 2016
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Mário Magalhães

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Das numerosas dúvidas sobre a campanha para prefeito do Rio em 2016, ao menos uma vai se transformando em certeza: o senador Marcelo Crivella (PRB) pretende mesmo concorrer, depois de ter sido finalista derrotado na disputa pelo governo do Estado no ano passado. Com uma candidatura novamente competitiva, talvez com mais chances que nunca de triunfo inédito para o Executivo.

Quem escancara a pretensão de Crivella é a Igreja Universal do Reino de Deus, à qual o senador e ex-ministro da Pesca é vinculado. O semanário ''Folha Universal'' em circulação dedica 12 das 32 páginas a atacar os próceres estaduais do PMDB: o prefeito Eduardo Paes, o governador Luiz Fernando Pezão, o presidente da Assembleia, Jorge Picciani, e o ex-governador Sérgio Cabral.

A ''edição especial sobre o Rio de Janeiro'' é datada de 6 a 12 de dezembro, mas pelo menos na quinta-feira (dia 3) já era distribuída gratuitamente nas ruas da cidade. Está também no site da ''Folha Universal''. A tiragem nacional divulgada da versão impressa é de 2.443.500 exemplares.

A capa tem ''Comando do Rio'' como manchete, fotos dos quatro alvos e a chamada ''Negociatas, troca de favores, descaso com o dinheiro público e até violência contra mulheres. Como um grupo político no poder afundou o Rio de Janeiro em uma das piores crises de sua história''.

A contracapa trata do pré-candidato do PMDB à prefeitura, Pedro Paulo: ''Bater em mulher pode?''.

O jornal fala de Lava Jato, Sanguessugas, Delta, Carlinhos Cachoeira, negócios suspeitos _a crônica cabeluda do PMDB local. Critica a política de remoção de favelas implementada por Eduardo Paes.

Artigo do assessor de comunicação social da Universal, Renato Parente, menciona a série recente de reportagens da TV Record sobre mazelas do Rio, também bombardeando os dirigentes do PMDB: ''[…] A Rede Record nos apresenta a prova de que a degradação ética é uma epidemia que já chegou ao coração e à alma do Brasil: o Rio de Janeiro''. Arremata com a solução: ''Na próxima eleição, lembre-se: a urna será sempre o melhor e mais rápido detergente para limpar a sujeira que emporcalhou nossos governos''. A Record é controlada pelo bispo Edir Macedo, tio de Crivella e líder da Universal, igreja da qual o senador é bispo licenciado.

Salvo engano, Crivella não é citado nos textos sobre o Rio. Nem precisa. A ofensiva da Universal confirma: ele é candidatíssimo.

Cenário

A ofensiva constitui aposta arriscada. O senador sabe que a ligação com a Universal é o principal motivo da rejeição a ele, sobretudo nos bairros cariocas de classe média para cima. Em resposta às acusações de adversários, Crivella passou os últimos anos afirmando a inexistência de compromisso político com a igreja. A Universal é questão de fé, reitera.

Em 2014, Crivella surpreendeu ao ultrapassar Garotinho no fotochart e alcançar o mata-mata com Pezão. Ao se ver ameaçado pela aproximação do senador, a campanha do governador lançou mão do petardo que considerava, com base em pesquisas, o mais letal para Crivella: um antigo vídeo que mostra Edir Macedo ensinando bispos a arrecadar contribuição dos fiéis. A exibição congelou a ascensão do oposicionista, que ainda assim colheu consideráveis quase 3,5 milhões de votos, mais de 44% dos válidos.

Crivella encontrará o poderoso PMDB do Rio em condição mais frágil que no ano passado. A pindaíba nas finanças castiga o Estado e a capital.

Para piorar o cenário para o partido, Paes insiste em lançar à sucessão o secretário municipal que reconheceu ter agredido a ex-mulher. A candidatura de Pedro Paulo agoniza, enquanto cada vez mais correligionários conspiram por sua retirada.

Até o início do ano, previa-se que os quatro postulantes mais fortes em 2016 seriam Pedro Paulo (PMDB), os senadores Romário (PSB) e Crivella (PRB) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

Hoje, Crivella e Freixo estão firmes. Pedro Paulo balança. E Romário virou incógnita, devido à suspeita de manter ou ter mantido conta secreta na Suíça.

Outros candidatos conhecidos podem se inscrever, como os deputados federais Clarissa Garotinho (PR) e Alessandro Molon (Rede).

O PT apoiará o nome do PMDB, seja Pedro Paulo ou outro. Idem o grosso do empresariado e dos meios de comunicação.

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Vasco é clube de primeira com gestão de segunda; prevaleceu a gestão
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Mário Magalhães

O tempo passou na janela, e Eurico, o anacrônico, não viu – Foto Pedro Ivo Almeida/UOL Mais

 

Houve um momento neste ano, meses atrás, em que nos escuros corredores de São Januário muita gente dava como certo o afastamento de Eurico Miranda para tratamento médico.

Falava-se que o vice Fernando Horta assumiria a presidência do Vasco e entregaria a da Unidos da Tijuca para Eurico.

Assim, o velho cartola manteria a faixa de presidente, agora de escola de samba, mas com menos estresse do que o comando da agremiação esportiva cuja torcida aguerrida e exigente é uma das cinco maiores do Brasil.

Nunca me fiei na hipótese de Eurico topar a troca do Vasco pela Unidos da Tijuca _para sair, por iniciativa dele, só por piora grave da saúde.

Muito menos noutro ti-ti-ti: alguns vascaínos temiam que, em caso de rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, Eurico desse cabo da própria vida.

Os dois rumores iluminam o ambiente no qual ocorreu a nova tragédia cruz-maltina, sacramentada ontem com a terceira queda em oito anos.

No momento em que o futebol nacional tenta dar passos mais profissionais, o Vasco vive no passado.

É como se, em meio a prósperos e competitivos capitalistas, um senhor feudal quisesse continuar protagonista.

Eurico retomou o controle do clube supondo que tudo prosseguia como dantes.

O tempo passara na janela, e ele não vira.

Iludiu-se com a conquista do Campeonato do Rio em 2015. Achou que o elenco bastava ao menos para permanecer na primeirona. Chegou a especular mais alto.

Insistiu em bravatas como ''o grande reforço do Vasco sou eu. Eu tenho crédito. Se eu digo que não vai cair, não vai cair. Não tem hipótese de rebaixamento''.

Confundiu a CBF com a federação do Rio. Não são diferentes em métodos. Mas o imenso poder de Eurico aqui não é o mesmo na entidade maior.

Eurico Miranda pensou pequeno, o que não combina com o clube gigante.

No Vasco, ele ainda é admirado por muitos. No dia-a-dia do clube, é mais temido que admirado, como sabe quem trabalha ou trabalhou lá.

Para má sorte dos vascaínos, o cartola que prometeu redimi-los de fracassos de Eurico mostrou ter as mesmas, digamos, ambições: Roberto Dinamite imitou-o no que tinha de pior e não soube repetir o que muitos torcedores julgavam qualidade.

O que tinha de pior não é preciso dizer. A qualidade era a capacidade de… fazer amigos e influenciar pessoas.

Eurico teve de contratar jogadores e comissões técnicas até engrenar. Se a equipe montada por Jorginho e Zinho tivesse disputado toda a competição, a fortuna do Vasco teria sido melhor.

Ao Vasco, não basta Eurico, o anacrônico, sair.

É o tipo de mentalidade que ele impôs e Roberto renovou que precisa passar.

Para o bem do futebol brasileiro, que fica menor sem o Clube de Regatas Vasco da Gama na primeira divisão.

O Vasco é clube de primeira com gestão de segunda. Prevaleceu a gestão.

O Vasco nunca perdeu o respeito. Quem perdeu foi a cartolagem vascaína.

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Ensino: polícia de SP dá aula de física (paulada) e química (bombas de gás)
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Mário Magalhães

E esse sorrisinho? É prazer com a dor alheia? – Foto reprodução ''Folha de S. Paulo''

 

O governo e a polícia de São Paulo têm dado lições aos estudantes.

De física: porrada.

Química: composição de bombas de gás.

Português: de eufemismo, ao tucanar o fechamento de escolas embalando-o com o rótulo ''reorganização''.

História: com exemplos do que é a intolerância _violência contra ideias_ típica do fascismo.

Biologia: levando às ruas uns seres primitivos dispostos a resolver a controvérsia no braço, e não nos argumentos.

E por aí vai.

Compromisso com a educação de qualidade é isso aí…

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Alegações pró-impeachment desprezam a soberania do voto popular
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Mário Magalhães

Quem disse que não há humor na crise? Foto reprodução

 

Retrato feito pelo Datafolha no finzinho de novembro mostrou que 67% dos brasileiros avaliam o segundo governo Dilma Rousseff como ruim ou péssimo. Reconheço-me nessa maioria, assinalando a opção péssimo. Também pela inépcia da gestão, sobretudo pelo abandono do programa de campanha e a adoção da agenda condenada pela candidata.

E daí?

No que diz respeito ao impeachment da presidente, não são pesquisas, opiniões e humores que decidem. Essa é a regra, estabelecida pela Constituição de 1988. Dilma foi eleita em outubro do ano passado com 54.501.118 sufrágios, vantagem de 3.459.963 sobre Aécio Neves (3,28 pontos percentuais de diferença, mais do que os 2,68 do pleito presidencial argentino de 2015). Como os governantes são consagrados nas urnas, ela tem autoridade para governar por quatro anos.

Sou partidário do sistema de mandatos revogáveis para governantes e legisladores. Se os eleitores estão insatisfeitos com o desempenho do representante que escolheram, podem demiti-lo e substituí-lo. Sem esperar quatro ou oito (senadores) anos. Estimula-se a fidelidade ao prometido, e o prometido é devido. Traiu, cai fora.

E daí?

O recall até hoje foi barrado no Brasil. Os políticos preferem ficar livres para romper compromissos. Logo, a presidente não pode ser derrubada no berro. A não ser que violem a Constituição.

Mas ela não rasgou os discursos de palanque? Acho que sim.

E daí?

Sou eu quem vai julgar? A lei determina que o juízo é coletivo, do conjunto dos cidadãos.

Não tenho dúvida de que existe um sem-número de pessoas mais qualificadas para o Planalto do que Dilma, beneficiária de nebulosa indicação do ex-presidente Lula.

E daí?

Presidente se elege no voto, que tem _ou deveria ter_ caráter de pronunciamento soberano.

A economia degringolou, beira a depressão. É possível que o afastamento de Dilma permita um respiro.

E daí?

O governo Sarney nasceu do pecado do Colégio Eleitoral imposto pela ditadura. Centenas de iluminados deliberaram no lugar de milhões. Na catastrófica política econômica de Sarney, a inflação chegaria aos 80%. No mês. A inflação agora está por volta dos 10%. Anuais. Nem por isso o pai da Roseana caiu.

Há quem sustente que Dilma não tem mais condições de governar.

E daí?

Opinião é saudável, mais ainda quando prevalece o direito de expressá-la sem correr o risco de penar no pau-de-arara. A condição de governar foi decretada pelos eleitores no ano passado. Há países em que, minoritário e sem a confiança do parlamento, o governante recebe cartão vermelho. No Brasil, contudo, a maioria deliberou pelo presidencialismo.

A Constituição Cidadã prevê o impeachment, portanto trata-se de expediente legal.

E daí?

A Carta exige crime de responsabilidade para expulsar um presidente. Foi o que aconteceu com Collor. Inexiste prova ou indício de que Dilma seja ladra ou autora de outro crime. Quem tem conta secreta na Suíça é o deputado que deu sinal verde para o impeachment. Com crime de responsabilidade, impeachment é legal. Sem, é golpe.

O Brasil mergulha no caos, alegam, propondo Dilma fora.

E daí?

Mais uma vez, cabe aos brasileiros aptos ao voto declarar o fim (e o início) de governos ou de partidos e coalizações no poder. Quer ver como as coisas são subjetivas? Há uma rapaziada gente boa que odeia o Lula. E quem foi o melhor presidente da história, para a maioria relativa dos brasileiros? Ele mesmo, o Lula, informa o Datafolha. Cada um sabe onde aperta o calo. Onde se resolve a questão? Nas urnas, eletrônicas ou, tamanha a pindaíba, armazenando cédulas de papel.

É curioso que, à direita e à esquerda da presidente, polemistas esgrimam argumentos exclusivamente pragmáticos. Uns dizem que, saindo Dilma, entrará alguém melhor. Outros, alguém pior.

E daí?

As duas barricadas incorrem no mesmo desprezo pela palavra das urnas. Isto é, desdenham a democracia. Discutem virtudes e defeitos de eventuais substitutos de Dilma, ignorando ou menosprezando o fundamental: a decisão é prerrogativa dos eleitores.

O impeachment da presidente da República sufragada em 2014 representaria ruptura institucional e enorme retrocesso. Aos tempos do século 20 em que se trocava o voto do povo pelo proselitismo das armas

Um arauto célebre do movimento que em 1964 depôs o presidente constitucional João Goulart chamou, poucos anos mais tarde, o que acontecera pelo devido nome: ''golpe vagabundíssimo''.

É golpe o que está em curso, Eduardo Cunha é golpista. O deputado retaliou Dilma pela decisão de petistas de votar pelo andamento de processo na Comissão de Ética da Câmara que, se for mesmo de ética, acelerará a cassação do presidente da Casa.

Retaliação, represália de Cunha… teu nome é vingança.

O Brasil de novo encontra-se, como escreveu o jornalista Janio de Freitas, na ''encruzilhada escura''.

Se a escuridão triunfar, atrasaremos em décadas nosso relógio democrático.

Não é Dilma Rousseff que está em jogo. Mas a soberania do voto popular, que constitui um dos pilares da democracia.

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