Blog do Mario Magalhaes

Concessionária do VLT Carioca responde ao blog
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Mário Magalhães

blog - vlt brasil 2016

1) Reprodução do portal ''Brasil 2016'', do governo federal, 28.março.2014

blog - vlt prefeitura

2) Portal oficial da Prefeitura do Rio de Janeiro, 27.março.2014

blog - vlt pmdb

3) Site do PMDB do Rio de Janeiro, 27.março.2014

blog - vlt odebrecht editado

4) Informe da Odebrecht TransPort, sócia da concessionária do VLT, 09.maio.2013

 

A concessionária do VLT do Rio contesta informação do blog veiculada no dia 30 de dezembro.

O post ''Obras a mil por hora do VLT no Centro do Rio. A mil? A zero! Ao menos aqui'' afirma que existe atraso na obra do sistema de veículos leves sobre trilhos.

Por meio da FSB Comunicação, a concessionária enviou nota, publicada integralmente abaixo, negando atraso.

Em seguida à nota, o blog esclarece os fatos.

*

NOTA DO VLT CARIOCA

A Concessionária do VLT Carioca, contratada pela Prefeitura do Rio para a implantação e operação do Veículo Leve sobre Trilhos, esclarece que o trecho que ligará a Central do Brasil à Praça XV corresponde à segunda etapa da obra de implantação do VLT, prevista para entrar em operação no segundo semestre de 2016, após as Olimpíadas, conforme estabelecido no projeto e já anunciado publicamente.

Já o primeiro trecho, que ficará pronto ainda no primeiro semestre de 2016, irá ligar a rodoviária Novo Rio ao aeroporto Santos Dumont. As obras seguem normalmente e dentro do cronograma.

A Concessionária informa ainda que as obras da Rua Sete de Setembro fazem parte da segunda etapa do projeto, esta que será inaugurada no segundo semestre de 2016.

*

RESPOSTA DO BLOG

Pelo menos quatro registros documentais, inclusive de autoria de sócio da Concessionária do VLT Carioca, comprovam que o prazo original não era o que consta da nota da concessionária:

Reprodução 1) O poder concedente do VLT é o Município do Rio de Janeiro. O governo federal, por intermédio do seu portal ''Brasil 2016'', divulgou em 28 de março de 2014: ''A previsão da Prefeitura é que as obras sejam concluídas no fim de 2015''. A fonte da informação? A ''Prefeitura do Rio'', diz o portal. ''As obras'', sem exceção, estariam concluídas em 2015. Não foram, em nenhum trecho do VLT.

Reprodução 2) O portal da Prefeitura do Rio de Janeiro foi claro, em 27 de março de 2014: ''A expectativa é que todas as etapas estejam concluídas no fim de 2015''. ''Todas'', e não ''algumas''. Eis a palavra de quem concedeu à concessionária o direito de implantar e operar o VLT por 25 anos.

Reprodução 3) Também em 27 de março de 2014, o PMDB do Rio, partido do prefeito Eduardo Paes, confirmou o prazo definido pela prefeitura, difundindo o anúncio oficial: ''A expectativa é que todas as etapas estejam concluídas no fim de 2015''.

Reprodução 4) Em 9 de maio de 2013, o site oficial da Odebrecht TransPort anunciou que o consórcio com presença desta empresa do grupo Odebrecht havia vencido a licitação para construção e operação do VLT do Rio. A Odebrecht TransPort possui participação de 24,4% na concessionária. O primeiro trecho do VLT, passando pela Cinelândia, teria ''conclusão no segundo semestre de 2015'' (e não ''no primeiro semestre de 2016'', como agora assinala a concessionária integrada pela Odebrecht TransPort). Já o trecho ligando a Central do Brasil à praça 15 (onde ancoram as barcas) teria obra ''a ser finalizada no primeiro semestre de 2016'' (e não ''no segundo semestre de 2016, após as Olimpíadas, conforme estabelecido no projeto e já anunciado publicamente'').

Logo:

a) A promessa ou compromisso do poder concedente (município, por meio da prefeitura) e da concessionária era ter os dois trechos principais do VLT em funcionamento antes da Olimpíada de agosto. Só um estará pronto.

b) As obras podem seguir ''normalmente e dentro do cronograma'' se for considerado novo prazo, o que não elimina a evidência de que há atraso em relação ao prazo original. Caso contrário, seria criado um critério despropositado: se uma pessoa promete concluir um serviço em um mês, e na véspera do prazo renova-o por mais um mês, e assim sucessivamente, ela pode passar anos sem terminar o trabalho e dizer que não está atrasada, pois respeita o cronograma mais recente.

No mais, como dito no post, o VLT parece uma boa. Tomara que esteja em operação, todo ele, até o fim deste ano.

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Por sorte, Guarda Municipal do Rio não usa armas de fogo. Caso contrário…
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Mário Magalhães

gfgf

Antes, foi bonita a festa, pá – Tânia Rêgo/Agência Brasil

 

A estupidez humana não tem limites, dizia o jornalista João Saldanha.

Quando a estupidez humana gera estupidez institucional, pior ainda.

O primeiro domingo do ano, consagrado a um pré-Carnaval em ruas do Centro do Rio, terminou com foliões fugindo de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.

Ao menos um músico foi ferido. Houve quem sentisse falta de ar. O pessoal que confraternizava em bar da Cinelândia correu assustado com a violência.

A Guarda Municipal acabou com a festa, por volta das oito da noite. Iniciada horas antes com o desfile de blocos, a diversão foi liquidada pela estupidez _humana e institucional.

Vídeos à disposição na internet confirmam a versão de testemunhas: a confusão começou com a repressão de guardas a vendedores ambulantes.

No costumeiro esculacho, derrubando no chão as garrafas carregadas no isopor de gente humilde.

Para que humilhar pessoas que seguramente preferiam estar brincando nos blocos a ralar duro no feriadão?

Foliões reagiram protestando, a esmagadora maioria com a voz, aos gritos de ''fascista''.

A Guarda alega que foi alvo de garrafas (há imagem de ao menos uma voando) e pedras.

Como ''resolveram'' um problema localizado, concernente a poucas pessoas?

Com um surto de truculência que pôs fim ao Carnaval de todo mundo.

Em linguagem bélica e de apitador de futebol, chama-se isso de ataque ou força desproporcional.

Seria como, para punir um jogador por falta grave, o árbitro expulsar o time inteiro.

Primeiro, barbarizaram com os ambulantes.

Em seguida, com quem se divertia.

Que treinamento recebem os integrantes da Guarda Municipal?

Se tratam foliões assim, imagina manifestantes, no ano que começou com aumento das passagens dos ônibus.

Por sorte, a Guarda não pode usar armas de fogo, assim entendidas as que disparam projéteis metálicos (ainda que balas de borracha possam matar e já tenham matado).

Já pensou o que os guardas não fariam com uma pistola na mão?

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Apesar dos perrengues, um 2016 com muitos momentos felizes para todos!
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Mário Magalhães

 

Não tem jeito. Revisito os filósofos alemães e franceses, leio os romancistas russos e ingleses, consulto os oráculos chineses e indianos, ouço as canções italianas e norte-americanas. Ninguém ensina tanto sobre felicidade quanto o sábio brasileiro Odair José.

O Odair dá o toque: ''Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes''.

É do que trata uma velha croniqueta minha reproduzida abaixo.

O grande cantor e compositor, mais uma vez, inspira o ano que vem.

Apesar dos perrengues, um ótimo 2016 a todos!

*

A tal da felicidade

Três por quatro da alma, a música retrata uma angústia candente, a busca da felicidade. Desbravar o labirinto que desembocaria nesse sentimento supremo às vezes parece impossível. Quando se descobre a saída, logo o destino teima em escapulir por novos caminhos.

“Tristeza não tem fim, felicidade sim”, compôs Vinicius de Moraes, com Tom Jobim. Chico Buarque, em parceria com Francis Hime, polvilhou ceticismo: “Jura que a felicidade/ É mais que uma vontade/ É mais que uma quimera”. Roberto e Erasmo sugeriram, sem convicção: “Não fique triste, o mundo é bom, a felicidade até existe”.

Existe, mas pressupõe perigo, alertou a letra de Nando Reis em melodia de Samuel Rosa: “Ela não passa de um desejo inflamável”. Não é à toa que Belchior traduziu uma sacada de John Lennon, “a felicidade é uma arma quente”.

Tão quente que quem a encontra já cogita perdê-la, feito Renato Russo: “A felicidade mora aqui comigo, até segunda ordem”. Antes, Lupicinio Rodrigues padecera: “Felicidade foi-se embora, e a saudade no meu peito ainda mora”. Como Noel Rosa, em tabelinha com Renê Bittencourt: “Eu fico triste/ Quando vejo alguém contente/ Tenho inveja dessa gente/ Que não sabe o que é sofrer”.

A felicidade não constitui fetiche menor para quem julga ter decifrado seu DNA. “A felicidade mora ao lado, e quem não é tolo pode ver”, poetou Ronaldo Bastos, com acordes de Beto Guedes. Gonzaguinha alardeou, na versão contagiante das Frenéticas: “A tal da felicidade baterá em cada porta”.

O problema é que, se tudo é simples assim, muita gente se tinge de culpa quando não se sente feliz. A obsessão pela felicidade a transforma em miragem. Em vez de desfrutar do contentamento, nós nos atormentamos por ele não ser permanente.

Como se livrar da aflição? Recorrendo ao próprio cancioneiro nacional. Inspirado por uma noite de amor, Odair José pontificou: “Felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”.

Trocando em miúdos, seremos mais felizes se não nos enfeitiçarmos pela ideia da felicidade utópica, e sim por experiências felizes, muitas e muitas, mesmo fugazes, sem cansar, mas sem a ilusão da eternidade.

Odair já foi menosprezado como artista “brega”. Eu o cultivo como um gigante do pensamento, do porte de um filósofo alemão, de um existencialista francês.

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Deu pra ti, 2015
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Mário Magalhães

O menino Aylan Kurdi: até quando? – Foto Nilüfer Demir

 

''Deu pra ti, anos 70'', de 1981, é um dos melhores filmes já feitos no Brasil. Cadeira cativa na minha lista dos dez mais.

Dirigido pelo Giba Assis Brasil e pelo Nelson Nadotti, tem como título uma expressão gaudéria que no caso queria dizer ''chega de anos 70''.

O filme conta a vida, ano a ano da década de 1970, de uma gurizada porto-alegrense na transição de adolescente para adulto.

Ao contrário do que sugere o ''deu pra ti'', celebra com paixão o tempo que se foi.

Esse carinho não tem vez no sentimento de deu pra ti, 2015.

É claro que até o mais infeliz dos viventes há de encontrar na memória e no coração um ou outro momento de felicidade no ano que se encerra.

Eu mesmo guardarei lembranças boas demais, que não quero esquecer.

Mas, no balanço sincero da história, 2015 foi cruel, degradante e impiedoso.

De fato, deu pra ti.

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Obras a mil por hora do VLT no Centro do Rio. A mil? A zero! Ao menos aqui
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Mário Magalhães

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No dia 28 de março do ano passado, o ''Brasil 2016'' publicou: ''A previsão da Prefeitura do Rio é que as obras sejam concluídas no fim de 2015 e que o VLT [veículo leve sobre trilhos] entre em funcionamento em 2016, 24 horas por dia. O protótipo apresentado pelo prefeito Eduardo Paes na quinta-feira ficará exposto diariamente, das 9h às 20h, no espaço que fica entre os galpões ferroviários da Gamboa, na região portuária, próximo ao Túnel Ferroviário do Morro da Providência''.

''Brasil 2016'' é o ''portal oficial do governo federal sobre os Jogos olímpicos e paralímpicos de 2016''.

Uma das fontes da notícia sobre o VLT, informou o ''Brasil 2016'', foi a Prefeitura do Rio.

Como se vê pelas fotos lá do alto, 2015 termina, e as obras do sistema de veículos leves sobre trilhos estão longe de acabar.

Promessa, pelo menos em relação ao prazo, não cumprida.

Pior, em alguns lugares as obras não recebem um só trabalhador há muitos dias.

As imagens foram feitas às 13h32 desta terça-feira. De uma passarela na rua Sete de Setembro, altura da travessa do Ouvidor, fotografei o trecho que vai dar na praça 15 (acima) e o que segue em direção à praça Tiradentes (abaixo).

''Faz uns 20 dias que não aparece ninguém aqui pra trabalhar'', contou um camelô.

Noutra linha, que atravessa a avenida Rio Branco, numerosos operários davam duro.

A obra na linha da Rio Branco está bem mais adiantada que a da Sete de Setembro. Esta alcança, mais adiante, o Campo de Santana e a Central do Brasil.

O percurso que passa pela Sete de Setembro é tido como um dos eixos do projeto do VLT, por ligar a Central à Praça 15.

O número de paradas em todo o roteiro, com 28 quilômetros de trilhos, caiu dos 42 estimado inicialmente para 32.

O VLT parece uma boa. Conectará o Centro à região portuária, o aeroporto Santos Dumont à rodoviária Novo Rio.

Retirará carros e ônibus.

Terá integração com outros transportes coletivos.

Pena, não ficará pronto integralmente a tempo da Olimpíada.

Espera-se que não deixe como ''legado'' investigações policiais sobre seu custo.

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Gente diferenciada
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Mário Magalhães

É isso mesmo, como o ''Extra'' mancheta nesta quarta-feira: desembargadores e juízes do Estado do Rio recebem hoje o salário de dezembro.

Muito justo.

Mas os demais servidores só em 12 de janeiro, 13 dias mais tarde.

Entre eles, professores, merendeiras e aposentados.

Muito injusto.

O pessoal do Judiciário receberá em dia graças a liminar do Supremo Tribunal Federal, que atendeu a pedido do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

De novo: muito justo.

Só que não é justa uma sociedade em que, além de toda a desigualdade obscena, os que ganham mais recebem antes dos que ganham menos.

Deveriam todos receber em dia.

Dá-lhe, Pezão!

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No finzinho de 2015, a história dá as caras e convida a olhar no retrovisor
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Mário Magalhães

Foto: Calle de los Caídos de la División Azul, una de las vías que desaparecerá de Madrid (EC)

Rua que celebra espanhóis que lutaram com nazismo mudará de nome – Reprodução ''El Confidencial''

 

Depois que o III Reich invadiu a França, em 1940, foi montado um governo local fantoche que se tornou conhecido pelo nome da cidade onde se instalou, Vichy. Era um regime de colaboração com os nazistas, página infeliz da nossa história. Muita gente, de figurões a figurinhas, estendeu tapetes às tropas de ocupação. Houve quem combatesse de armas e bombas na mão os alemães e seus cupinchas franceses. Houve quem preferiu, intimidado pela assimetria de forças, tirar o time de campo e ficar na sua. E, tristes tempos, não faltou quem se tornasse colaboracionista da turma promotora de perseguições, maldades e extermínio _numa palavra, da barbárie.

Parte dessa história estava interditada aos cavucadores do passado. Arquivos secretos, documentos negados, segredos de outrora que ainda incomodam almas luminosas e sombrias na nação dos direitos humanos. Estava. O governo da França acaba de liberar aos cidadãos o acesso à pesquisa de uma rica papelada do regime de Vichy. A Segunda Guerra terminou em 1945. Setenta anos mais tarde, a história dá as caras para incomodar quem prefere esconder as sujeiras de anteontem. Para um futuro mais decente, não se deve ocultá-las, e sim descobri-las e contá-las. Um bravo brasileiro, Apolônio de Carvalho, desafiou os nazistas no território francês ocupado. O guerrilheiro urbano usava o nome de guerra ''Alfred'', andava com uma pistola Beretta calibre 7.65 e comandava 2.000 partisans estrangeiros. Será que o acervo agora desclassificado dá notícia de brasileiro batendo bola com os nazistas e jogando contra o Apolônio?

Outra boa nova da Europa chega de Madri. A administração da cidade mudará o nome de 30 lugares com nomes que celebram Francisco Franco (1892-1975) e a ditadura que ele encabeçou na Espanha por quase quatro décadas. A plaza del Caudillo reverencia hoje o ''generalíssimo'', ''caudilho'' _e liberticida. A calle de los Caídos de la División Azul também será rebatizada. Pudera: a rua homenageia espanhóis que se integraram às forças nazistas que atacaram a União Soviética. A tabelinha Franco-Hitler resultou em atrocidades como o bombardeio de aviões alemães à localidade basca de Guernica, covardia eternizada em óleo sobre tela por Pablo Picasso.

Essa anomalia _o tributo a quem perpetrou gravíssimas violações dos direitos humanos_ permanece no Brasil. Colecionamos centenas de escolas com nomes de ditadores (Médici e Costa e Silva, para ficar em dois exemplos). Na Espanha, a grita das viúvas da ditadura franquista está sendo grande contra a deliberação democrática de não festejar autores de crimes contra a humanidade. Aqui, também. Como dizia um certo governador nos anos 1960, o colégio principia a ensinar com as mensagens embutidas no nome de cada um deles.

A decisão dos madrilenhos acontece depois de 40 anos do fim da ditadura espanhola e, como dito, 70 da guerra na qual a Divisão Azul sitiou a então Leningrado. No Brasil, a ditadura terminou há três décadas, mas torturadores, assassinos e responsáveis por desaparecimentos continuam impunes. Há quem não desista de buscar justiça. Dias atrás, o Ministério Público Federal denunciou o coronel reformado Audir Santos Maciel. Este oficial comandava o Destacamento de Operações de Informações do II Exército quando Vladimir Herzog foi morto na tortura, em 1975. O DOI inventou que o jornalista havia se suicidado. Maciel é acusado pelos procuradores de homicídio e ocultação de cadáver do dirigente comunista José Montenegro de Lima. O oposicionista ''foi assassinado em 29 de setembro de 1975 com uma injeção usada em sacrifícios de cavalos e teve seu corpo atirado no rio Novo, em Avaré (SP)''. Sua família jamais recebeu o corpo, para lhe oferecer uma despedida civilizada e digna.

Os ecos do passado também foram ouvidos na Ásia. O governo do Japão pediu desculpas às milhares de sul-coreanas escravizadas sexualmente pelo Exército Imperial na Segunda Guerra. O problema é que, como protestam as poucas sobreviventes, a desculpa é meia-boca. O governo japonês pronuncia eufemismos e não fala explicitamente em escravidão e sexo. Quer dizer, segue não reconhecendo as crueldades e os crimes cometidos.

Às vezes, a história bate na porta com esperança, como outro dia na Argentina. Uma das pioneiras da associação Avós da Praça de Maio chegou a comemorar a descoberta da neta roubada pela ditadura (1976-1983) que matara a mãe e o pai do bebê, entregue a uma família desconhecida. Desgraçadamente, para María Isabel Chorobik de Mariani, 91 anos, e as pessoas de boa vontade, fora alarme falso. A batalha persiste, como disseram jogadores da seleção argentina, Messi entre eles, num vídeo de campanha.

Mesmo quando dói, o espelho retrovisor pode ser lição e esperança.

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Crônicas do Natal: quem disse que o Papai Noel não se esquece de ninguém?
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Mário Magalhães

Marcos Vinícius dos Santos, de 11 anos, foi morto em tiroteio na Cidade de Deus, no Rio

Marcos Vinícius dos Santos, 11 – Reprodução Band

 

Às vésperas da Páscoa deste ano, um menino chamado Jesus, 10, filho de Maria e José, foi assassinado com uma bala de fuzil de PM no complexo do Alemão. Na antevéspera do Natal, na Cidade de Deus _imagina se não fosse_ chegou a hora do menino Santos, Marcos Vinícius dos Santos, um ano mais velho que Eduardo de Jesus Ferreira. Marcos Vinícius ajudava o pai numa barraca de frutas quando foi atingido no peito por bala disparada por três assassinos que abriram fogo. Sonhava vestir-se de bate-bola no Carnaval. ''Mataram um anjo'', chorou seu pai. Baleado no mesmo ataque, Breno de Souza Gomes, cobrador de van, perdeu a vida aos 15 anos. Está em estado grave outra vítima dos matadores, mais uma criança, Joaquim Cândido da Silva Bisneto, 9. Para entender o que aconteceu, talvez valha a pena assistir a ''Tropa de Elite 2'' e, no caso de quem não sabe, aprender o que é milícia.

No finzinho da madrugada de 25 de dezembro, horas depois das boas-vindas ao Papai Noel, o dono de bar José Auri Carlos, cinquentão, foi morto a bala na Rocinha. Moradores contaram que policiais da dita Unidade de Polícia Pacificadora atiraram, bronqueados com o barulho de uma festa de Natal. Os PMs alegam que foram recebidos com pedras e garrafas, antes de chamarem o Bope e serem alvo de tiros de traficantes. José Auri Carlos não teve tempo de dar sua versão.

Também na noite de Natal, oito PMs, da UPP Coroa, Fallet e Fogueteiro, pararam em Santa Teresa quatro rapazes, de 13 a 23 anos. Sem capacete, eles se dividiam em duas motos. O quarteto contou que os policiais estavam contrariados por dar plantão na noite de Natal. Os PMs atiraram numa mulher que passava em outra motocicleta. Feriram seu rosto, mas ela escapou da morte. Os quatro garotos denunciaram os PMs por tortura: socos, pontapés, cortes e queimaduras em braços, pernas e pescoço. Por deixá-los nus e queimar o saco escrotal de um com isqueiro. Por obrigar a fazer sexo oral. Disseram ter sido roubados pelos policiais. Dinheiro, bonés, chinelos, relógio, cordão. Os jovens vinham de uma festa numa comunidade humilde do Catete. Inquérito corre na 6ª DP. Os oito PMs foram presos ''administrativamente''. Adivinha onde estão, nesta segunda-feira. Nas ruas, livres, leves e soltos. À espera do próximo Natal?

A semana do Natal foi cruel com milhares de cariocas e vizinhos que dependem da saúde pública. Dezenas de Unidades de Pronto Atendimento e hospitais entraram em pane sem médicos, funcionários, leitos, material. O Estado, que desperdiçou centenas de milhões de reais no obsceno Maracanã, abandonou à própria sorte quem não tem dinheiro para manter plano privado. Emergências fecharam. Ou trabalharam com atendimento limitado. Às vezes, não bastava risco de morte para ser atendido. Tinha que ser risco ''iminente'' de morte. Uma gestante pariu diante do Hospital da Mãe. Um homem chegou infartado a um hospital e morreu. Não foi atendido, testemunharam. Já chegou morto, retrucaram servidores. Teve hospital com a porta fechada com tapumes. Quem chegava à UPA era empurrado para o hospital, que empurrava para a UPA. Vem aí um novo secretário estadual de Saúde. Seu primeiro anúncio? Vai cortar o dinheiro da Saúde. Não pagam os fornecedores da Saúde, mas bancam obras que podem tudo, menos salvar vidas. Não há como não lembrar os médicos famosos trombeteando, na propaganda eleitoral, as virtudes do governador Luiz Fernando Pezão. Em junho de 2013, só os gritos de ''Ei, Cabral, vai tomar…'' unificaram as multidões de manifestantes aqui no Rio. No ano seguinte, o candidato de Sérgio Cabral, Pezão, foi eleito governador. Como dito e repetido, quem mais paga pela crise são os mais pobres. A recessão agravada por Dilma afeta o Estado governado por seu aliado Pezão, que deixou a corda arrebentar justamente nos mais desprotegidos. Pouca vergonha e muita covardia.

Sei que o Papai Noel tem muito o que fazer e que não é mole compensar um governo como o de Pezão e as mazelas do Rio de Janeiro.

Mas, desculpe lá, é balela que o Papai Noel não se esquece de ninguém.

Que o diga o menino da Cidade de Deus.

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