Blog do Mario Magalhaes

O copo de Lula
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Mário Magalhães

Ex-presidente Lula: copo meio cheio ou meio vazio – Foto Rodrigo Paiva/Folhapress

 

À primeira vista, o resultado de um levantamento com eleitores do Recife, publicado pelo ''Jornal do Commercio'' na segunda-feira, é apenas desastroso para o ex-presidente Lula.

O Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau constatou que 35,6% dos entrevistados votariam hoje em Lula para presidente, num contraste abissal com os 76,2% que em alguma eleição o sufragaram.

De fato, um desastre para o petista.

O motivo do declínio, é evidente, são as denúncias, suspeitas e acusações relativas a promiscuidade ou crime na convivência de Lula com empreiteiras e empreiteiros _ele não é réu, ao menos por enquanto, em nenhum dos casos que têm aquecido o noticiário.

À pergunta sobre Lula ser ''um político honesto'', 65,5% responderam ''não'', contra 28,8%, sim.

Acontece que o copo do ex-presidente não está vazio, porque merecer a intenção de voto de mais de um terço dos recifenses é desempenho expressivo (a pesquisa não consultou os eleitores sobre outros possíveis candidatos).

Em qualquer situação, ainda mais sob um dos bombardeios mais intensos que um ocupante, ex-ocupante ou aspirante a ocupante do Planalto já sofreu em todos os tempos.

Aqui, não se trata de o bombardeio ser justo ou não, de o pernambucano Lula merecer repúdio, simpatia ou nenhuma coisa nem outra.

Mas de reconhecer que sua pretensão de se candidatar novamente tem o suporte de vasta base social que melhorou de vida nos oito anos do seu governo.

Se Lula não ostentasse tal patrimônio político e eleitoral, receberia tanta atenção dos adversários?

A maior ameaça a Lula, além das investigações em curso, é o catastrófico governo Dilma Rousseff, que vai liquidando uma a uma as conquistas sociais obtidas nas administrações do seu partido.

No Recife, é possível dizer que o copo de Lula está meio vazio ou meio cheio.

Depende dos olhos e da cachola de cada um.

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Rolo de FHC, prisão de marqueteiro e programa do PT: ‘timing suspeito’?
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Mário Magalhães

Um jornalista escreveu que considera suspeito o timing das revelações sobre a vida íntima e, é inegável, a vida pública de Fernando Henrique Cardoso. Suspeito porque as novidades surgiram no momento de investigação a respeito da relação no mínimo mal explicada de Lula com empreiteiras. O noticiário sobre um ex-presidente serviria para abafar o noticiário sobre outro. Isto é, o (eventual) foco sobre o tucano favoreceria o petista.

Pode ser, não sei.

Cá com os meus botões, eu estava pensando se não seria suspeito o timing da prisão do marqueteiro João Santana, que conduziu as três últimas campanhas presidenciais vitoriosas do PT. Ele foi em cana na véspera da exibição do programa do partido na TV. Timing suspeito porque a prisão serviria como incentivo a mais um panelaço, que por sua vez estimula a presença em atos próximos a favor do impeachment de Dilma Rousseff. A Lava Jato se prestaria a isso?

Pode ser, não sei.

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Pezão, obscurantismo e a lorota do técnico que ‘muda jogo’ com substituição
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Mário Magalhães

O governador Pezão – Foto Rafael Andrade/Folhapress

 

Não é raro um técnico de futebol ser celebrado por uma substituição de jogador quando na verdade deveria ser criticado pela escalação errada.

''Mudou o jogo'', reverenciam os bajuladores.

''Quase entregou o jogo'', impõe-se a real.

Às vezes, não dá tempo de a correção resultar na virada necessária.

Aí, é inapelável: ''entregou o jogo''.

Ocorreu coisa parecida outro dia aqui no Rio.

O governador Luiz Fernando Pezão deu cartão vermelho a Ezequiel Teixeira, secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.

O problema original foi nomear tal sujeito para posto tão relevante.

Ezequiel Teixeira defende ideias medievais como a ''cura gay''.

''Eu não creio só na cura gay, não. Creio na cura do câncer, na cura da Aids'', disse ao jornal ''O Globo'' o agora ex-secretário.

Pezão disse desconhecer a pregação e as convicções de Teixeira.

Estranho, pois até na campanha para deputado federal ele bazofiou sua agenda obscurantista.

Pezão acertou ao demitir quem, entre outras ações, sufocava o programa Rio Sem Homofobia.

Mas errou gravemente antes, ao escalar para a pasta dos Direitos Humanos quem conspira contra eles.

Não fosse a grita de cidadãos conscientes, teria entregado o jogo.

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Esqueceram de mim: até agora, gargalhada mais ruidosa é a de Eduardo Cunha
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Mário Magalhães

Analistas e aliados avaliam as ambições e perspectivas de Cunha na política

Cunha: até aqui, tudo bem – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Limpando o terreno.

Só ingênuos irrecuperáveis e desinformados crônicos podem se surpreender com as suspeitas da Operação Lava Jato em relação ao marqueteiro João Santana. A memória não precisa ser das mais dotadas para recordar outro publicitário que serviu ao Partido dos Trabalhadores, Duda Mendonça, e sua confissão de recebimento ilegal de pagamentos no exterior. Se o ex-jornalista João Santana é culpado ou não, caberá à investigação da polícia e do Ministério Público apurar e à Justiça decidir, por mais que certos pregoeiros alardeiem sentenças sem nem terem folheado os autos do inquérito e do processo.

É preciso cultivar muita cara de pau para justificar promiscuidade ou crime alegando que adversários também fizeram ou fazem coisa igual. Exemplo gritante é o do mensalão. Uma das principais defesas do PT foi proclamar o inegável pioneirismo do PSDB na matéria, vide Eduardo Azeredo. Ora, a vigarice tucana não anistia a petista. E vice-versa. Tabelinha do roto com o esfarrapado. São outros quinhentos o fato de um lado ter sido punido e o outro permanecer impune, o que nos remete à Lava Jato e seus alvos seletivos.

Terreno limpo, é evidente que a 23ª fase da Operação Lava Jato consagra novamente um grande vencedor. Ninguém tem tantos motivos para gargalhar ruidosamente como Eduardo Cunha.

Há uma série de suspeitas e dúvidas sobre o caixa de João Santana. Ele teria recebido por meio de empresas de paraíso fiscal US$ 7,5 milhões da Odebrecht. Alega que depósitos no exterior não se originam de trabalhos no Brasil. A pergunta primeira: por que raios a Odebrecht desembolsaria toda essa grana? O marqueteiro fez alguma campanha publicitária da empreiteira? Ou a Odebrecht pagou por serviços prestados a outros, no país ou no estrangeiro? Aqui, Santana conduziu a campanha da reeleição de Lula e as duas campanhas vitoriosas de Dilma Rousseff. Também uma, sem sucesso, de Marta Suplicy, quando apostou na baixaria de lançar insinuações sobre a sexualidade do concorrente.

No caso de Eduardo Cunha, há mais resposta que pergunta. Documentos enviados por autoridades suíças atestam o vínculo do presidente da Câmara e sua mulher com contas bancárias não declaradas à Receita do Brasil. Faz tempo que a papelada chegou. Como a Lava Jato procede para aprofundar a investigação e punir o deputado? Outro dia um opinionista dava aula sobre o fórum privilegiado como escudo para Eduardo Cunha. Omitiu a mulher dele: a antiga jornalista Cláudia Cruz não tem mandato parlamentar que impeça a Justiça de primeira instância, que cuida das principais ações da Lava Jato, de se pronunciar, se provocada pela PF e o Ministério Público Federal. No escrutínio da roubalheira da Petrobras, assumidos ladrões denunciaram Cunha e propina. Mas a Lava Jato aparenta esquecê-lo. Sem falar no tal Conselho de Ética da Câmara, que até agora demonstra, para avançar na cassação de Cunha, acusado de mentir aos seus pares, agilidade semelhante à do David Luiz no 7 a 1.

A essa altura, tão cara de pau quanto apontar os podres alheios em busca de perdão para os seus é negar que a Operação Lava Jato parece usar antolhos. Mirou num caminho, ou alvo, e dispensou, ou não viu, os outros. Como o Judiciário no mensalão. Nunca tive dúvidas de que inexiste almoço de graça. Logo, ''doação'' de empresa privada para campanhas eleitorais configura embuste. O que os ''doadores'' fazem é investir, dando dinheiro antes em troca de facilidades dos administradores públicos mais tarde. Vale para empreiteiras, bancos e companhia.

Fazem isso com todo mundo. Portanto, não há por que supor que o sistema impere somente nas dezenas de milhões de reais doados à campanha reeleitoral de Dilma Rousseff por empreiteiras envolvidas na Lava Jato. E as dezenas de milhões que beneficiaram a campanha derrotada de Aécio Neves? É um insulto à inteligência e ao bom senso imaginar que haja distinção de propósito dos ''doadores''. Ah, os tucanos são diferentes, já ouvi. Fosfosol: votos para a emenda constitucional que permitiu a reeleição de Fernando Henrique Cardoso foram comprados. A revelação não foi coisa de quem não gosta de FHC _houve deputado que confessou em gravação. Que punição sobreveio? Nenhuma. A privatização de estatais, tamanhos os escândalos comprovados inclusive de viva voz, em grampos, ganharam do jornalista Elio Gaspari a qualificação de privataria. No que deu isso tudo? Em nada. Sem falar na obscenidade do roubo de merenda de criança.

A Operação Lava Jato precisa mesmo fazer uma limpa na gatunagem que assola o Brasil.

Mas, se vier a punir uns e preservar outros, não haverá Justiça, e sim ação política partidária e impunidade de muitos.

Por enquanto, o oposicionista Eduardo Cunha ri.

Rirá por último?

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Operação Acarajé de 2016 não foi a 1ª; ditadura fez ação homônima em 1975
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Mário Magalhães

O torturador Ustra participou da Operação Acarajé dos anos 1970 – Foto Sérgio Lima/Folhapress

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Os dois episódios não têm nada de relevante em comum, além da coincidência histórica: a Operação Acarajé deflagrada ontem pela Lava Jato não é a primeira a ser batizada assim; em 1975, a ditadura empreendeu ação homônima, com prisões, ameaças e tortura, contra militantes oposicionistas na Bahia.

A Operação Acarajé de 2016, entre outros alvos, combate a corrupção e crimes associados.

A Operação Acarajé de julho de 1975 reprimiu dezenas de militantes vinculados ao então ilegal Partido Comunista Brasileiro.

Agora, policiais federais são os protagonistas das diligências.

No passado, foram agentes do DOI (Destacamento de Operações de Informações) da 6ª Região Militar. Com a presença, atestam numerosos testemunhos, de um enviado do Centro de Informações do Exército, o torturador (assim declarado pela Justiça no século 21) Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015).

O noticiário informa que o nome Operação Acarajé foi escolhido por participantes da Lava Jato porque ''acarajé'' seria a expressão adotada por suspeitos para se referir a dinheiro.

Na ditadura, o motivo evidente do clichê foi o local onde ocorreu a operação.

Nesta segunda-feira, o Coletivo de Entidades Negras protestou contra o nome da 23ª fase da Lava Jato: ''Nosso repúdio vem no sentido do total desrespeito religioso a um elemento sagrado do candomblé, desrespeitando assim, de forma acintosa, toda a tradição e história dessa religião no Brasil''.

Abaixo, para quem quiser saber mais o que foi a Operação Acarajé da ditadura, reproduzo reportagem que escrevi na ''Folha'', em fevereiro de 2009.

*

Ex-presos dizem que Ustra chefiou ação com tortura na Bahia

No seu livro ''Rompendo o Silêncio'' (Editerra Editorial, 1987), o hoje coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, 76, escreveu: ''Nossos acusadores reclamam com frequência de nossos interrogatórios. Alegam que presos inocentes eram mantidos horas sob tensão, sem dormir, sendo interrogados''.

Segue: ''Reclamam, também, de nossas ''invasões de lares'', sem mandados judiciais. É necessário explicar, porém, que não se consegue combater o terrorismo amparado nas leis normais, eficientes para um cidadão comum. Os terroristas não eram cidadãos comuns''.

Ustra é associado -por partidários seus e por detratores- ao combate às organizações armadas de oposição à ditadura.

Agora, ex-presos políticos da Bahia o acusam de participação em um episódio no qual eles relatam invasão de lares, interrogatórios com espancamento e sessões de tortura com choque. O chefe da operação, afirmam, foi Ustra, que teria usado o codinome ''doutor Luiz Antônio''.

Acontece que nenhum dos presos na ação denominada Operação Acarajé era ligado à então já exterminada guerrilha -na expressão adotada por Ustra, ao terrorismo.

Eram militantes e simpatizantes do PCB (Partido Comunista Brasileiro), também oposicionista e de esquerda, mas avesso ao emprego de armas e violência contra o regime militar -como o próprio governo da época reconhecia.

Documentos sigilosos do antigo SNI (Serviço Nacional de Informações), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, contabilizam 42 prisões -inclusive um vereador do MDB- na Operação Acarajé e 14 condenados em primeira instância. Alguns passaram quase dois anos na cadeia pelo crime de reorganizar um partido proscrito.

As diligências ficaram a cargo do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações -Centro de Operações de Defesa Interna) da 6ª Região Militar. Na época, conclui-se pelo cruzamento de dados dos dois livros de Ustra (o outro é ''A Verdade Sufocada'', Editora Ser, 2007), o oficial chefiava a Seção de Operações do CIE (Centro de Informações do Exército). Cumpria missões também fora da base, Brasília.

De setembro de 1970 a janeiro de 1974, ele comandou o DOI do II Exército, em São Paulo. Era conhecido como ''Tibiriçá''. No período, ao menos 40 pessoas foram mortas naquele local, conforme o jornalista Elio Gaspari no livro ''A Ditadura Encurralada'' (Companhia das Letras, 2004).

No ano passado, a Justiça paulista declarou Ustra, em decisão de primeira instância, responsável por tortura e sequestro em 1972 e 1973. A ação que originou a sentença é declaratória -não implica pena ou indenização. Ustra nega as acusações e afirma que nunca torturou. Ele apelou ao Tribunal de Justiça.

''Cara de Silvio Santos''

Os detidos de 1975 contam que foram levados por homens que se apresentaram como policiais, algemaram-nos e os encapuzaram. Deram em um lugar que os militantes pensam ficar em Alagoinhas, a cerca de 120 km de Salvador.

O engenheiro Luiz Contreras, 85, teve uma costela partida pelo que ele narra ter sido um soco. Contreras diz que os torturadores prendiam fios elétricos nas suas orelhas, nos pés e no peito. ''Quando gira a manivela dá uma descarga que parece que você vai desaparecer.''

O operário petroquímico José Ivan Dias Pugliese, 58, lembra de ter levado choques duas vezes e de ter sido espancado.

Seu então cunhado Carlos Augusto Marighella, 60, também trabalhador da indústria petroquímica, diz que os militares jogavam água no chão para ''potencializar os choques''. Filho do líder guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969), o hoje advogado Carlos Augusto permaneceu no PCB, sem aderir à luta armada.

Maria Nazaré de Lima, 58, era dirigente estudantil. Presa com a filha de um ano, ela ficou dias sem ver a menina, depois entregue a parentes. Nazaré recorda que os detidos, entre os quais seu marido, foram amarrados a uma corda única, feito caranguejos. ''Se um ia defecar, todos iam. Era humilhante.''

Os presos entrevistados pela ''Folha'', separadamente, dizem que estavam de capuz durante a tortura, mas julgam não terem sido agredidos pelo ''doutor Luiz Antônio''. Sustentam, contudo, que ele dava os ordens mais importantes e chegava a decidir o momento em que cada um seria torturado.

Eles associaram o ''doutor Luiz Antônio'' a Ustra em 1985, quando o coronel foi apontado pela então deputada Bete Mendes como sendo o ''Tibiriçá'' do DOI. O ex-presos contam ter visto o rosto do captor nos momentos em que lhes permitiram tirar os capuzes.

Afirmam que nunca organizaram uma denúncia coletiva pública, entre outros motivos, porque em 1985 estavam politicamente distantes.

''Todo mundo o reconheceu em 1985'', diz Pugliese. ''Antes eu não tinha nenhuma informação para ligar o nome à pessoa. Na época, Ustra era parecidíssimo com o Silvio Santos. Ele se apresentou pela primeira vez oferecendo cigarro e conhaque. Disse: 'Nós podemos tratar as coisas civilizadamente ou como na Idade da Pedra'''.

''Era o Ustra'', concorda Contreras. Marighella acrescenta: ''Ele tem um rosto marcante e sotaque sulista''. ''Uma vez falou: 'Quero dizer para vocês que o presidente Geisel virou a mesa. Nesse momento, em todo o Brasil, todos os corruptos e comunistas foram presos. Essa será a noite de São Bartolomeu'. É como se fosse a ordem do dia. A gente imaginou que fosse uma noite de tortura, sevícias, por aí afora.''

*

Defesa diz que versão oficial está em livros

A ''Folha'' tentou na quarta e na sexta-feiras passadas entrevistar por telefone o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, mas não obteve sucesso.

Ele mora em Brasília. Um parente do oficial do Exército que pediu para não ter o nome divulgado informou que ele não iria se pronunciar sobre a Operação Acarajé ou outros episódios em obediência à orientação de seus advogados.

O advogado Paulo Esteves, que representa Ustra, afirmou que a versão do oficial sobre sua história no Exército durante o regime militar se encontra em seus dois livros.

Nos documentos assinados pelo advogado e apresentados à Justiça, bem como em livros e declarações desde 1985, Ustra nega que tinha sido torturador ou responsável por tortura e morte de oposicionistas e desaparecimento de corpos.

Uma pessoa próxima a Ustra, alertada sobre o relato dos presos na Bahia em 1975, disse que seus adversários o querem onisciente e onipresente em todos os episódios da ação do aparato de segurança do regime militar contra a oposição.

Os livros do coronel contam pouco sobre sua atividade profissional no período em que ele chefiou a Seção de Operações do Centro de Informações do Exército, de dezembro de 1974 até 1977.

Em relatório de agosto de 1975 sobre a Operação Acarajé, o SNI justifica o ataque: ''A subversão no Brasil apenas mudou de roupagem. Ao invés de atos de terrorismo que caracterizaram a hegemonia das chamadas linhas foquista e militarista, passou a atuar dentro da linha pacifista, apregoada pelo PCB''.

(MM, ''Folha de S. Paulo'', 8.fev.2009)

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‘Funcionári@ fantasma’ vira ‘funcionári@ irregular’. Isso alivia falcatrua?
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Mário Magalhães

A presidente Dilma Rousseff costuma empregar a palavra ''malfeito''.

Trata-se de eufemismo para roubalheira, falcatrua, gatunagem.

Mais precisamente, corrupção.

Boa parte do jornalismo não embarcou e continuou chamando as coisas pelo devido nome.

Fez e faz muito bem. É o papel de quem pretende, como serviço público, fiscalizar o poder com espírito crítico.

Como as coisas devem ser descritas como são, foi uma surpresa a novidade linguística recém-surgida.

Margrit Dutra Schmidt, servidora lotada no gabinete do senador José Serra, é desconhecida ou quase não vista pelos colegas.

A senhora trabalha em casa, esclareceu o tucano.

Como não está dispensada de ponto, tal prática é ilegal.

Alguns jornalistas a qualificaram como ''funcionária irregular''.

Noutros tempos, como comprova um sem-número de exemplos, gente como ela seria tida como ''funcionária fantasma''.

''Funcionári@ irregular'' parece menos escandaloso que ''funcionári@ fantasma'', certo?

Mas não alivia a falcatrua.

É como o eufemismo ''crise hídrica''. Não passa, ou passava, da velha ''falta d'água''.

O jornalismo deveria ser crítico com todo e qualquer poder, não somente com alguns.

A não ser, aí é outro papo, o jornalismo partidário.

Portanto, a senhora Dutra Schmidt não é suspeita _ou acusada_ de ser funcionária irregular, e sim de ser funcionária fantasma do gabinete do senador Serra.

Confirmada, a ilegalidade não configuraria ''malfeito'', mas coisa bem mais grave.

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