Blog do Mario Magalhaes

#RIP Sergio Costa, um fazedor de amigos
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Mário Magalhães

O jornalista Sergio Costa – Foto Evandro Veiga/ Correio/ Divulgação

 

Foi-se o Sergio Costa. Aos 55 anos, o jornalista sofreu um infarto fatal no começo da noite de ontem. Estava em casa, em Salvador, onde trabalhava como diretor-executivo do ''Correio''.

O Sergio foi um tremendo jornalista. Num ofício particular, o melhor do Brasil. Ninguém era tão bom no dito jornalismo popular. Ele dirigiu ''O Dia'', no Rio, e reinventou o ''Correio'', na Bahia. Ao contrário do que costuma pensar quem desconhece edição jornalística, o jornalismo para públicos mais amplos exige mais inteligência e sofisticação do editor que o destinado à audiência formalmente mais letrada. Jornais voltados ao povão não costumam ter assinantes, ou têm poucos. Se mal feitos, encalham na banca. A margem de erro é menor. Ninguém fazia primeiras páginas, ou capas, como o Sergio.

Sempre que um executivo de empresa jornalística me consultava sobre reformas, eu recomendava o Sergio Costa, porque ele sabia fazer jornal para o leitor. O perfil dos leitores varia, e o Sergio sabia afinar o tom de acordo com o destinatário. Um dos maiores enganos do jornalismo, causador ainda hoje de numerosas ruínas, é jornalista fazer jornalismo para outros jornalistas. Isto é, preocupar-se sobretudo com o que seus pares vão pensar. Jornalismo se faz para leitor, internauta, espectador, ouvinte, como o Sergio sabia e ensinava com uma paciência monástica.

Quando cheguei à Escola de Comunicação da UFRJ, o Sergio já tinha se formado. Sabia dele por seus grandes amigos Fernando Molica e Oscar Valporto. Da Lúcia Guerra, colega, amiga e devota do Sergio Costa, eu ouvia um mantra: ''Você tem que conhecer o Sergio''. Acabamos nos conhecendo e convivendo por anos, na sucursal da ''Folha'' no Rio, onde o Sergio era chefe de reportagem e eu, repórter.

O que mais me impressionava nele era a vocação para cultivar velhos amigos e fazer novos.

O Sergio não chegava para dividir, mas para unir.

Enquanto tanta gente tem o fio desencapado, o Sergio deixava por menos.

Era o cara que separava, em vez de atiçar.

Estimulava a tolerância, e não o contrário.

Talvez fosse por isso que tanta gente gostava dele.

O Sergio tinha um coração grande, como tive a sorte de testemunhar _e agradecer.

E foi o coração que o levou.

Valeu, Sergio Costa!

P.S.: o Fernando Molica informa que o velório do Sérgio no Rio será nesta terça, a partir das 14h, no Memorial do Carmo, Caju. A cremação ocorrerá às 17h30.

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Torcida contamina cobertura ‘jornalística’ sobre versão de Delcídio
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Mário Magalhães

O senador Delcídio do Amaral – Foto Sérgio Lima/Folhapress

 

A sexta-feira amanheceu com agentes da Polícia Federal na porta do prédio onde Lula vive, em São Bernardo. O ex-presidente foi levado à força para depor, na 24ª etapa da Lava Jato.

O operação ocorre na semana da saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça e um dia depois de a revista ''Isto É'' divulgar o que seriam os termos de acordo do senador Delcídio do Amaral para delação dita premiada, a ser sacramentada no Supremo Tribunal Federal.

O documento com a alegada versão de Delcídio, devastadora para Lula e a presidente Dilma Rousseff, serviu de matéria-prima para a mais intensa bateria de ataques sofridos pelo ex-presidente na sua trajetória política.

A cobertura ''jornalística'' do episódio autoriza o emprego das aspas.

A propaganda substituiu o jornalismo, e a opinião sufocou a informação.

O que é versão a ser cotejada com os fatos virou mentiralhada vingativa ou, no jornalismo hegemônico, a proclamação da verdade suprema.

A reação ao aparente relato de Delcídio depende mais da torcida do que da verificação dos fatos.

O ceticismo, qualidade recomendável a jornalistas, deu lugar ao espírito de juiz de direito. Menos se informa e mais se sentencia.

O que mais chamou a atenção foi o sumiço, não generalizado, mas expressivo, da memória jornalística recente. Ou seja, dos fatos que levaram Delcídio à prisão. Em relação a Lula há suspeitas, de acordo com a investigação oficial. No caso do senador, muito mais. Ouvimos todos uma gravação demolidora, com o parlamentar petista (agora ''suspenso'' do seu partido) conspirando para a fuga ao exterior de notório bandido, Nestor Cerveró.

A versão de Delcídio tem de ser interpretada nesse contexto. O senador acabou em cana, e estava preso quando foram noticiadas críticas de Lula a ele. Os acordos para delação têm ocorrido em torno de informações ou alegações que indiquem eventual crime cometido pelo ex-presidente. Lula, está claro, é o alvo principal da Lava Jato. Com o propósito de ser solto, o antigo líder do governo Dilma teria motivos para contar verdades ou inverdades. Existe um contexto no qual se dá o suposto compromisso que presenteou Delcídio do Amaral com a liberdade.

O que o jornalismo tem a dizer sobre isso?

Num córner da imprensa, a desqualificação absoluta do relato do senador.

Ora, se Delcídio é quem é _a gravação do plano para a fuga é eloquente_, não significa que sua versão seja mentirosa, ao menos não na íntegra. Gente da laia dele, no passado, já compartilhou verdades. Se para a Lava Jato é indispensável checar se as denúncias se sustentam, para o jornalismo, também. Só se saberá se o que Delcídio falou é cascata ou não depois de apuração _de preferência, autônoma, e não mero eco do que a Lava Jato alardeia.

Noutro córner, muito mais potente, assistiu-se à adoção da versão de Delcídio como se fosse a revelação inescrupulosa do que aconteceu. Escrúpulos, a gravação comprova, não são o forte do senador. Só na dramaturgia vilões, de uma hora para outra, viram mocinhos. O que seria uma minuta da delação serviu de combustível para ofensiva ruidosa contra Lula e Dilma. A impressão é de se ouvir: se o que o se diz, mesmo na boca de delinquente, se presta ao que queremos, ''às favas com os escrúpulos'' (copirraite Jarbas Passarinho, 1968). O que boa parte dos meios de comunicação quer? O impeachment de Dilma e a proibição de Lula disputar a próxima eleição presidencial, não nesta ordem.

A delação de Delcídio do Amaral traz muito mais perguntas do que respostas.

Para certo jornalismo, contudo, parece inexistir dúvida ou pergunta relevante. Mais ainda, vestem Delcídio com traje de herói.

Novidade?

Não. Já se assistiu à partidarização radical da imprensa em momentos dramáticos da história nacional, como em 1954 e 1964.

É uma pena que, já no século 21, o jornalismo deixe de oferecer equilíbrio e, em condições semelhantes de exposição, olhares distintos sobre fatos e ideias.

Lavagem cerebral não combina com jornalismo. Com propaganda, sim.

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Ao barrar Thiago Silva de novo, Dunga mostra que é comandado pelo fígado
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Mário Magalhães

Dunga, uma vida para acertar contas – AP Photo/Ng Han Guan

 

Ao barrar novamente Thiago Silva na convocação de hoje, preferindo Marquinhos, Gil e David Luiz para fazer companhia ao absoluto Miranda, Dunga mostrou que não pensa com a cabeça.

E sim com o fígado.

Como fígado não pensa…

Haja ressentimentos, contas a acertar, o pote de mágoa sempre transbordante.

O pessoal do PSG deve dar gargalhadas. E agradecer a preservação do seu capitão.

Não é com hidrofobia que se constrói uma seleção.

Só para lembrar: o Thiago Silva não jogou no 7 a 1.

E é um dos melhores zagueiros do mundo.

Para saber mais sobre os convocados, basta clicar aqui.

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Feliz Natal: há 63 anos nascia Zico, o Salvador, maior craque da história
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Mário Magalhães

Trecho de "Crecer a golpes", livro organizado por Diego Fonseca (C. A. Press, Penguin Group-USA)

Trecho de 'Crecer a golpes', livro organizado por Diego Fonseca (C.A.Press, Penguin Group-USA)

 

Parabéns pra você, Zico, e parabéns pra nós que tivemos a imensa sorte de ser contemporâneos do maior jogador de futebol de todos os tempos _ninguém duvida, né?

O trecho recortado lá no alto faz parte da crônica “Juego de la memoria'', que eu escrevi para o livro “Crecer a golpes: Crónicas y ensayos de América Latina a cuarenta años de Allende y Pinochet'', organizado pelo jornalista e escritor argentino Diego Fonseca.

Editado em 2013 pela C. A. Press, braço do Penguin Group nos Estados Unidos, o volume reúne treze autores, além do organizador.

Tive a honra de estar ao lado de escribas que eu muito admiro, como Francisco Goldman, Leonardo Padura, Jon Lee Anderson, Carlos Dada e Martín Caparrós.

O desafio, nos 40 anos do golpe de Estado que derrubou Salvador Allende no Chile, era fazer um balanço das quatro décadas mais recentes de países latino-americanos, além de Estados Unidos e Espanha.

Ao contar o Brasil em dezessete páginas, pontuei nossa história com a trajetória do Zico e a reverência de um menino, depois adolescente e mais tarde adulto de cabelos brancos por ele _eu mesmo.

Hoje o Salvador faz 63 anos.

Talvez não fosse o caso de celebrar, pois a eternidade não se conta em anos.

E o Zico é eterno.

Em todo caso, tim-tim.

(Este post foi publicado originalmente em 3 de março de 2015; atualizei-o.)

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Há 20 anos: a morte dos Mamonas, o assassinato do Philot e o golaço do Beto
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Mário Magalhães

Disco de 1995 – Foto reprodução

O fotógrafo Anibal Philot – Foto Luiz Bettencourt

Beto, meia bom de bola – Reprodução TV

 

Nas horas que antecederam a final do Torneio Pré-Olímpico de 1996, do que menos se falava nas rodas de conversas de jornalistas brasileiros era de futebol. Brasil e Argentina disputariam o título naquela noite de 6 de março, uma quarta-feira de verão. Mas nossas cabeças não estavam no estádio de Mar del Plata. Tinham voltado para casa.

Quase à meia-noite do sábado, o jatinho em que viajavam os Mamonas Assassinas despencara na serra da Cantareira. Dinho, Júlio, Samuel, Sérgio e Bento morreram. O primeiro disco de estúdio da banda não completara nem um ano. Seria o único. Ninguém queria saber de seleção. O país se comovia na despedida dos passageiros da Brasília amarela.

Para alguns de nós, havia outra tristeza, mais próxima. Na véspera, haviam anunciado que um corpo encontrado no Rio era o do Anibal Philot. Muito se chutou sobre o que se passara com o fotógrafo do “Globo”. Consta que mais tarde concluíram que ele foi vítima de latrocínio.

Dos Mamonas, a lembrança mais doída é a da minha filha chorando ao telefone. Do Philot, um banquete à beira do Mediterrâneo, onde saboreamos a legítima paella valenciana em companhia do Sebastião Reis e do Marcos Penido. Em seguida, fomos cobrir um treino da seleção no campo do Valencia. O vinho branco do almoço estava tão bom e farto que eu fui trabalhar mais pra lá do que pra cá.

Com todo o baixo-astral das notícias distantes, tínhamos que cuidar do trabalho, na Argentina. Os anfitriões atropelavam, vencendo por dois a zero no segundo tempo. Menos mal que ambos os finalistas tinham vaga assegurada nos Jogos de Atlanta, quando a Nigéria jantaria um e outro.

Não bastasse o revés na cancha, eu me zangava com os gritos da torcida: “Siga, siga, siga; siga o baile no compasso do tamborim; que nesta noite nós fodemos os negros do Brasil”. Manifestação racista, como xingar de “macaquitos”.

Poucas vezes torci tanto, por mais que afetasse um resto de sobriedade, como recomenda a tribuna de imprensa. Aos 25 minutos, o Sávio empatou, dois a dois. Com melhor saldo, a igualdade nos deu o caneco. Não foi, porém, o gol do atacante rubro-negro o que eu mais festejei.

Mas o nosso primeiro, dois minutos antes. Seu autor, o Beto, é negro. Beto não de Roberto ou Alberto. De Joubert. Cuiabano, havia ido para o Botafogo em troca de cinquenta pares de chuteiras. Menino pobre, ralou como empacotador de supermercado e vendedor de picolé. Não era um craque, mas estava longe de ser perna-de-pau. Lutava com disposição de gladiador, a despeito do seu apreço pelas madrugadas, devoção que o consagrou com o apelido imortal de Beto Cachaça.

O Beto, que é destro, acertou com a canhota um tirambaço de fora da área. Acho que nunca mais repetiu tal façanha. A equipe argentina era boa, contava com um lateral chamado Sorín, de 19 anos. O Beto tinha 21. Com seu sorriso rasgado, até bocejando aparentava ter acabado de fazer um gol. Como aquele de Mar del Plata.

Sua carreira no meio-campo da seleção foi menos longeva do que poderia. Mas não tão fugaz como a dos Mamonas. Embora os guris de Guarulhos estejam aí até hoje, também no futebol. A melodia de Pelados em Santos é cantada nos estádios. Vale “o Gigante me espera”, “o Maraca é nosso” e o que mais chegar. Com Mamonas no gogó, é certeza: vai começar a festa.

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Boxe: sangue no ringue, por Edgard Alves
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Mário Magalhães

Luta do torneio de boxe olímpico de 2012 – Foto reprodução

 

A retirada do capacete protetor de pugilistas amadores já tinha parecido suspeita, como comentei no Pan do ano passado.

Deu a impressão de que o negócio do esporte se sobrepunha à saúde dos desportistas.

Agora, a coisa pode ficar pior ainda, com a permissão para pugilistas profissionais disputarem a Olimpíada.

Na aparência, uma maravilha: a chance de ver em ação a nata dos ringues.

Ainda mais para quem, como eu, comprou ingressos para duas jornadas de boxe nos Jogos do Rio.

A aparente boa notícia oculta a má: o abismo entre amadores e profissionais às vezes é tamanho que iria se multiplicar o risco de lesões.

Quem dá o toque é o Edgard Alves, um dos maiores conhecedores de esporte no jornalismo brasileiro.

''Não há dúvida, vai jorrar mais sangue sobre o ringue'', alertou hoje o Edgard em sua coluna na ''Folha''.

A cartolagem, ao que parece, nem está para isso _não faltarão ''pareceres'' médicos de encomenda, minimizando os perigos.

O negócio é faturar.

*

No fio da navalha

Por Edgard Alves

A Associação Internacional de Boxe (Aiba) está revendo as regras do torneio de boxe da Olimpíada. Estuda a possibilidade de permitir a participação de pugilistas profissionais. A hipótese de nomes famosos estarem nos Jogos tornou a informação explosiva.

A euforia, lamentavelmente, apaga da memória coisas negativas. Como ficam questões relacionadas à saúde e riscos dos pugilistas? Os não-profissionais, claro.

O boxe enfrentou por décadas campanhas que tinham como apelo a violência para banir a modalidade dos Jogos. Com dificuldades, e opiniões divididas, as pressões acabaram superadas. Certamente devem voltar caso a Aiba, responsável pelo boxe olímpico, exponha os pugilistas a novos riscos.

O potencial e recursos de um atleta profissional são superiores aos de um não-profissional no esporte em geral. Quando o assunto é boxe, as diferenças tornam-se mais distintas. No boxe olímpico se leva mais em conta o toque; no profissional, a contundência, ou seja, a pancada.

O ex-peso pesado Maguila, expoente do profissionalismo no Brasil, tinha dificuldades para treinar com sparrings. Era raro arrumar algum, mesmo buscando no exterior, tal a escassez. A diferença de nível era notória.

Nas categorias mais fortes, notadamente no peso pesado, uma frase do próprio Maguila espelha a dimensão do problema: ''Onde o cara bate não nasce mais pelo''. Nas categorias mais leves, há mais equilíbrio.

O boxe é mesmo peculiar. Fora do ringue, mas bem próximo dele, o médico responsável pela luta pode determinar a sequência ou o encerramento da contenda caso suspeite haver lesão grave de um lutador.

Prontos para intervir, a equipe médica, o juiz e os assessores dos pugilistas observam ainda o estado de lucidez dos lutadores, que às vezes perdem completamente as referências e, sonados, tornam-se indefesos, sujeitos a um massacre.

Em circunstâncias assim, a luta é interrompida imediatamente e cuidados especiais devem ser dispensados ao lutador.

Também de prontidão há especialista para tentar estancar sangramentos em segundos nas paradas regulamentares. Apesar de toda essa atenção, os riscos de uma lesão cerebral estão presentes. Todo cuidado é pouco. É ou não um esporte diferenciado?

O COI teria manifestado desejo de tornar o boxe mais atrativo em termos midiáticos, desafio encampado pela Aiba, que deve decidir até maio sobre a presença de profissionais na Olimpíada.

Nos Jogos de Londres-12, foi quebrado um tabu, com o boxe realizando seu primeiro torneio olímpico feminino. Era a única modalidade em que faltava dar espaço às mulheres.

Para a Rio-2016, o boxe aumentou de 34 para 40 anos o limite de idade dos participantes. Além disso, aproximando-se das normas profissionais, adota novo sistema de pontuação e aboliu o capacete protetor (exceto para as mulheres).

Não há dúvida, vai jorrar mais sangue sobre o ringue. O capacete evita ferimentos, tanto assim que até os profissionais recorrem a ele nos treinamentos. Abolir esse equipamento, e simultaneamente abrir as portas para os profissionais, pode tornar o fardo insuportável para os atletas olímpicos.

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Não entenderam a pegadinha: Glória Pires, a comentarista, era um personagem
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Mário Magalhães

Uma das maiores atrizes brasileiras – Foto divulgação

 

Quando alguém diz que, sem fazer teatro, ninguém será grande ator ou atriz, retruco: a regra é essa, mas a Glória Pires comprova que a regra é vulnerável.

Atriz espetacular, cria da televisão, com presença no cinema, ela ignorou o teatro.

Pior para quem? Para o teatro, é claro.

A Glória Pires é atriz tão talentosa que emplacou uma pegadinha domingo à noite: o pessoal achou que a assistia comentando o Oscar na TV.

Mas não era a Glória: ela interpretou um personagem.

O personagem não havia se aplicado exemplarmente na preparação para o desafio da transmissão.

Já a atriz construiu um personagem verossímil.

Tão verossímil que muita gente pensou que a Glória mandou mal como comentarista.

Não mandou: ela deu mais um show de interpretação!

Ou estarei enganado?

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Lula 2016: e se Getulio Vargas tivesse sido preso em 1954?
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Mário Magalhães

Cortejo fúnebre de Getulio na praia do Flamengo, 25.ago.1954 – CPDOC/AnC

 

Ok, o ''se'' não conta em história, vale o que aconteceu.

O que não impede que se especule com o passado para esboçar hipóteses sobre o futuro imediato.

Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o presidente Getulio Dornelles Vargas sofreu um golpe de Estado edulcorado por eufemismos.

Horas mais tarde, deu cabo da vida com um tiro no peito.

O ex-ditador estava acossado, sobretudo depois do atentado contra Carlos Lacerda no começo do mês. Naquele 5 de agosto, foi assassinado o major-aviador Rubens Vaz, que colaborava na segurança do jornalista de oposição.

Com o pretexto da arma usada no homicídio, exclusiva das Forças Armadas, as investigações foram transferidas para a Aeronáutica, que instalou a dita República do Galeão.

A história mostraria que a encomenda ao pistoleiro para matar Lacerda partira do chefe da guarda pessoal do presidente, e que talvez um irmão de Getulio tivesse participado do plano.

O que não impediu que oposicionistas, de Lacerda ao Partido Comunista, acusassem o governante de responsável pelo atentado.

Nunca houve prova de que Getulio Dornelles Vargas soubesse da trama. Esta se tornou também a opinião de Carlos Lacerda, já distante dos entreveros de outrora, no fim da vida.

No auge do cerco ao presidente, houve quem clamasse por sua prisão.

Sem que, reitero, houvesse prova de crime cometido por Getulio.

Ele parecia isolado, quando saiu da vida para entrar na história.

Já na manhã de 24 de agosto, Brasil afora, multidões demonstraram que estavam com Getulio. Vejam a foto no alto, do dia seguinte.

O golpe não se consumou, ao menos não plenamente, e o vice assumiu, como determinava a Constituição.

Fico matutando sobre os idos de 1954: se Getulio tivesse sido preso, sem tempo para o suicídio, o povo que mudou a história nas ruas também teria se manifestado?

Como a história, aquele capítulo, teria terminado?

Matuto mais: se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for preso em 2016 pelos investigadores da Operação Lava Jato, as dezenas de milhões de brasileiros que o apoiam ficarão em casa?

O Datafolha acaba de mostrar que Lula continua a ser considerado, de lavada, o melhor presidente do país em todos os tempos. Não julgo se a opinião majoritária é correta ou não, enfatizo que ela existe.

Com todo o bombardeio midiático contra ele, Lula permanece em ótimas condições de ir para o segundo turno da eleição presidencial de 2018, também constatou o Datafolha _o mérito da intenção de voto não é o tema deste post.

Como em 1954, Lula se vê acuado, embora já fora do governo.

Há muita gente torcendo por sua prisão ou mesmo a pedindo.

Como há 62 anos, não se conhecem _ao menos até agora_ provas de que Lula seja autor de crime.

Não há prova nem mesmo de que o triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia sejam de sua propriedade.

O que não que dizer que não tenha ocorrido promiscuidade, como comprova a disposição de um dono de empreiteira de servir de guia-vendedor em visita de Lula ao apê do Guarujá _do Guarujá, não do bairro chique de Higienópolis.

De crime, contudo, hoje inexiste prova.

Prova há, sim, de que delegados da Lava Jato atacaram Lula na internet. Deve ser o tal ''espírito republicano'', ''independência'', ''autonomia'' na investigação.

Enfim, eis a questão: se Lula for em cana sem provas, ele estará liquidado ou a prisão o fortalecerá ainda mais?

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