Blog do Mario Magalhaes

Delação ecumênica de Delcídio é boa inspiração para Lava Jato
Comentários Comente

Mário Magalhães

O senador Delcídio do Amaral resolveu tirar a mão da boca – Foto Sérgio Lima/Folhapress

 

Dilma Rousseff, Michel Temer, Eduardo Cunha e Renan Calheiros: a presidente e a linha sucessória estão lá.

Inclusive o último da lista, Ricardo Lewandowski. Ao contrário dos outros, o presidente do STF aparece bem na fita.

Sobra para Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio Neves, Aloizio Mercadante e dezenas de personagens protagonistas ou coadjuvantes das eras petista e tucana.

Eis a dita delação premiada do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma e diretor da Petrobras nomeado ainda na administração FHC.

Em contraste com outros ''colaboradores'', como a Justiça prefere chamar, Delcídio não mirou num alvo só. Foi ecumênico.

É possível, como se observa nas declarações do senador publicadas hoje, que ele tenha descarregado mais munição em certas figuras e partidos por motivos, digamos, mais pessoais.

O que não diminui a impressão de que o espírito do seu relato, não se limitando a uma só agremiação, seja boa inspiração para a Lava Jato.

A corrupção tem de ser investigada e punida. Seja quem for o autor, de qualquer trincheira.

Não custa reiterar que Delcídio não é mocinho nessa história.

O fato de ser quem é não invalida sua versão, ainda mais se tiver como comprová-la.

Mas é preciso verificar se o que ele conta é referendado pelos fatos.

Na democracia, fazer justiça implica punir os corruptos na forma da lei. Condenar sem provas é injustiça.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Tratado como ladrão, JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de amigo
Comentários Comente

Mário Magalhães

4

5

 

Depois de deixar a Presidência, Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi morar num apartamento novinho em folha na avenida Vieira Souto, Ipanema, o metro quadrado mais caro do país.

A empreiteira que ergueu o prédio havia tocado na região Sul uma obra concedida pela administração JK (1956-1961).

O projeto arquitetônico do prédio foi desenhado por Oscar Niemeyer, que nada cobrou pelo serviço.

Mais de uma vez o ex-presidente visitou as obras do apê que viria a ocupar.

Idem sua mulher, dona Sarah, que pediu numerosas alterações no projeto original.

Um mestre de obras foi afastado, devido a reclamações da antiga primeira-dama.

O imóvel era espaçoso. Jornais publicariam que tinha 1.400 metros quadrados, o que parece exagero. Mas nele JK chegou a discursar para centenas de pessoas.

Juscelino pagava um aluguel irrisório ou morava de graça _as versões variam.

O apartamento em frente ao mar estava em nome de uma empresa controlada pelo banqueiro Sebastião Pais de Almeida.

Multimilionário, o empresário era amigo de JK, em cujo governo havia sido ministro da Fazenda.

Em junho de 1964, a ditadura recém-instalada cassou o mandato de senador de Juscelino e suspendeu seus direitos políticos por dez anos.

O ex-presidente teve a vida devassada, investigado em inquéritos policiais militares.

As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz.

A acusação de maior apelo entre os opositores do ex-governante era a de que, na verdade, o apartamento da Vieira Souto era de Juscelino.

Sem renda para justificar tamanha ostentação, o ex-presidente ''corrupto'' teria preferido ocultar o patrimônio.

Portanto, Sebastião Pais de Almeida seria um laranja. Atípico, tal a sua fortuna, mas laranja.

Certa imprensa fez um Carnaval, chancelando as acusações da ditadura, como se vê em títulos de jornal reproduzidos neste post.

Na Justiça comum, nem julgamento houve.

O procurador considerou não haver provas de que Juscelino fosse o dono do apartamento.

E enumerou provas de que o imóvel pertencia mesmo a Sebastião Pais de Almeida, que o emprestara ao amigo JK.

O juiz mandou arquivar o processo.

Dei com as notícias _onze, abaixo e acima_ na apuração do meu próximo livro, sobre Carlos Lacerda (1914-1977), cujo triplex na praia do Flamengo foi alvo dos seus adversários.

Os recortes integram o acervo do velho SNI, Serviço Nacional de Informações, criado justamente em junho de 1964. Estão no Arquivo Nacional.

É certo que outras publicações jornalísticas trataram do apartamento onde a família Kubitschek vivia.

Mas eu reproduzo o que tenho à mão, a papelada sobre Juscelino selecionada pelos arapongas.

O nome do jornal que veiculou cada texto é identificado pelos burocratas do SNI na folha de papel onde os recortes foram colados.

Há um caso em que não se informa qual é o jornal.

E outro em que o título foi manuscrito.

Hoje, Juscelino Kubitschek é considerado grande brasileiro.

Dona Sarah dá nome à rede de hospitais de reabilitação.

Lula

A história do apartamento que não era de JK significa que o triplex do Guarujá não pertence ao ex-presidente Lula?

Não necessariamente.

Desconheço minúcias do inquérito e do processo sobre o petista.

Isso é com a polícia, o Ministério Público e a Justiça.

Sei é que, sem prova, pode se supor muita coisa.

Mas condenar por suposição não é fazer justiça.

Promiscuidade

Tanto no caso de JK quanto no de Lula há indícios de promiscuidade entre agentes públicos e privados.

Tal promiscuidade é condenável e faz mal ao Brasil.

Se é sempre crime ou não, são outros quinhentos.

( O blog está no Facebook e no Twitter )

 

6

01

2

3

7 a

7 b

10

11

9


Sérgio Moro e o ensaio de um Donald Trump à brasileira
Comentários Comente

Mário Magalhães

São Paulo SP Brasil 27 10 2015 MERCADO Seminário The Economist Com a presença de políticos, acadêmicos e os principais líderes empresarias brasileiros, seminário em São Paulo no no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo, as 12 hs Sergio Moro 13 hs Pedro Moreira Salles (Itau) Pedrdiscutirá as perspectivas econômicas e os desafios políticos do país. o Brazil Summit 2015 propõe a construção de uma agenda de transformação para a retomada econômica do país. O evento é organizado pela The Economist. Foto Jorge Araújo FolhaPress 703 ORG XMIT: XX

O juiz Sérgio Moro – Foto Jorge Araújo/Folhapress

O bilionário Donald Trump – Foto Stephen B. Morton/AP

 

Nas aparências, existem poucas semelhanças entre Donald Trump e Sérgio Moro. Lá, o histrionismo; aqui, a sisudez. O bilionário com uma alegoria frondosa sobre o couro cabeludo, o juiz com o cabelo cortado no padrão barbeiro da esquina. O norte-americano com ambição de se eleger presidente, o brasileiro cuidando dos seus afazeres protocolares na Justiça.

Olhando mais de perto, os dois têm em comum o talento para usar os meios de comunicação. Trump aprendeu, ou deslanchou, como apresentador de TV. Na Operação Lava Jato, Moro é endossado por uma rede midiática que o aplaude mesmo com investigações seletivas sobre corrupção, em que alguns parecem esquecidos.

Até ontem, talvez as pretensões eleitorais do magistrado fossem apenas hipótese nos vários cenários especulados para o futuro próximo. Não havia um gesto tão explícito de Moro falando diretamente às multidões que o ovacionam. Ele foi aclamado como nunca, neste domingo em que ao menos centenas de milhares de pessoas foram às ruas pedindo a deposição da presidente constitucional Dilma Rousseff.

Mas a reverência a Moro não foi novidade. O que houve de novo foi sua manifestação, não nos autos de processo, mas dirigindo-se à massa que gritou seu nome. No sábado retrasado, ele havia se pronunciado sobre a dita condução coercitiva do ex-presidente Lula, mas em tom menos político. Eis a nota que o juiz distribuiu ontem:

''Neste dia 13, o povo brasileiro foi às ruas. Entre os diversos motivos, para protestar contra a corrupção que se entranhou em parte de nossas instituições e do mercado.

Fiquei tocado pelo apoio às investigações da assim denominada Operação Lavajato. Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário.

Importante que as autoridades eleitas e os partidos ouçam a voz das ruas e igualmente se comprometam com o combate à corrupção, reforçando nossas instituições e cortando, sem exceção, na própria carne, pois atualmente trata-se de iniciativa quase que exclusiva das instâncias de controle. Não há futuro com a corrupção sistêmica que destrói nossa democracia, nosso bem estar econômico e nossa dignidade como país''.

A pegada é mais de líder político que de magistrado, sem entrar no mérito do justo, necessário e urgente combate à corrupção _mas sem preservar larápio algum.

Se intervenções dessa natureza prosperarem, ficará mais forte o perfil de Sérgio Moro como possível postulante à Presidência da República.

Sérgio Moro candidato, aí sim, teria muito a ver com Donald Trump.

A condição de pária dos esquemas partidários, a pregação contra o establishment republicano (sua agremiação) e democrata, a insistência no perfil de outsider (como se um homem com sua fortuna pudesse ter prosperado contra o ''sistema''), tudo isso forjou o poderoso candidato Donald Trump. Para seus apoiadores, ele surge como a negação dos desgastados mandachuvas da política dos Estados Unidos.

Ninguém no Brasil encarnaria essa figura de ''diferente de tudo o que está aí'' como Sérgio Moro. Não que a imagem tenha necessariamente lastro nos fatos. Mas o juiz não é filiado a partido, não se conhece militância partidária dele, que é reconhecido como o herói do combate à corrupção.

Se Trump se vende como vingador dos que não têm voz na política, Moro veste o figurino do justiceiro contra a bandalheira.

As Jornadas de Junho de 2013 rejeitaram políticos em geral. Moro seria a solução para quem quer alguém ''de fora'', chance que Marina Silva não soube aproveitar em 2014, embora permaneça como candidata competitiva numa disputa presidencial (ela concorreria contra Moro?).

Como Trump, Moro seria um candidato à direita. Quem aclamou Bolsonaro ontem _mas não somente essa turma_ saudou também o juiz.

Moro não tem nem partido, pode-se argumentar. Trump vem mostrando que isso se resolve.

A história contará se a nota de ontem do juiz foi um discurso com tom jurídico-político avulso ou um marco de construção de candidatura.

Se houver impeachment de Dilma, Michel Temer assumirá, e não haveria eleição direta antes de 2018.

Vamos ver o que a Lava Jato dirá, ou não, nos dias vindouros sobre Eduardo Cunha e Renan Calheiros, os capi do Congresso.

Na Paulista, os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin foram postos para correr, bem como a neopeemedebista Marta Suplicy. Quem foi às ruas está com Moro. Até o PSDB é vaiado, não tanto quanto o PT, claro.

O destino de Dilma não será decidido pelos manifestantes do domingo, mas por gente como Renan e Cunha.

Num cenário eleitoral de Aécio Neves contra Lula, os manifestantes de ontem votariam no mesmo Aécio apupado no domingo.

Na sexta-feira, Lula liderará ato a favor da democracia e contra o golpe.

A situação de Dilma é dramática, mas o jogo, ao contrário do que tanto ouvi e li, ainda está sendo jogado.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


Dilma rumo ao suicídio político: ou a presidente reage ou golpe a derruba
Comentários Comente

Mário Magalhães

Em 1º de janeiro de 2015, a posse no segundo mandato – Foto Pedro Ladeira /Folhapress

 

Resta pouca areia na parte de cima da ampulheta de Dilma Rousseff.

Se a presidente constitucional, eleita democraticamente por 54.501.118 brasileiros, mantiver a desastrosa política do seu segundo mandato, cairá fulminada por um golpe de Estado.

Como inexiste prova de crime cometido por Dilma, se ela for afastada, o que haverá é golpe.

Golpes de Estado violentam a soberania do voto popular, pilar da democracia.

Por mais eufemismos que os embrulhem, como a alegada ''defesa da ordem constitucional'' (em 1964, esse pretexto foi muito ouvido; na verdade, estupraram a Constituição e instauraram uma ditadura).

Podem ocorrer com tanques na rua, como em 1937, ou num arranjo golpista que prescinda das armas.

A deposição de Dilma representaria um mastodôntico retrocesso institucional.

Eis a mensagem golpista: danem-se as urnas, existem caminhos mais espertos para alcançar o governo.

Golpismo e golpistas

Não confundamos responsabilidades. Na hipótese da derrubada de Dilma, a culpa essencial seria dos golpistas.

Desde 26 de outubro do ano retrasado, o domingo em que Dilma (PT) venceu Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, uma turma intolerante reivindica a deposição da governante legal e legítima.

Ainda em 2014 _com a presença de viúvas da ditadura, nostálgicos do integralismo e veteranos da TFP_, São Paulo assistia a manifestação pelo ''fora, Dilma''.

O boicote à sua administração disseminou-se, inclusive na Câmara dos Deputados. O correntista Eduardo Cunha consagrou-se como o muso do impeachment.

A presidente pareceu não notar quando a pregação de alucinados de extrema-direita vitaminou-se, aproveitando os enganos de Dilma Reloaded e a ruína nos índices de aprovação popular ao governo.

Ao subestimar o DNA golpista de trincheiras poderosas da vida nacional, Dilma não mostrou resistência à altura, ao menos até agora. Esse erro político lhe custa caro.

Mas nenhum é maior do que abandonar os compromissos assumidos em palanque na campanha reeleitoral. Dilma prometeu governar para os mais pobres, e ninguém paga mais do que os pobres pela crise que assola o país. A questão não era somente Levy, nem é Barbosa, ministro que mantém o arrocho do antecessor. É Dilma quem manda. Ela adotou a orientação econômica proposta por Aécio em 2014. Quantos eleitores de Dilma estarão dispostos a defendê-la nas ruas, se ela faz o que disse que não iria fazer? Há quem pense: se é para governar à direita, existem motorneiros mais habilitados do que Dilma.

É inegável que o cenário econômico internacional dificulta. Com o preço do minério de ferro e do petróleo em baixa, pior para a Petrobras, já abalada pela roubalheira e pela Operação Lava Jato, e para as contas do país exportador de commodities. A China desacelera? Sim. O compromisso da presidente, contudo, é proteger, em qualquer situação, os mais fracos. Os banqueiros, com juros ascendentes, ficaram mais ricos. Os trabalhadores, mais pobres.

Inépcia e inabilidade

A inépcia administrativa do governo se combina com a inabilidade política da presidente. São tantos exemplos, limito-me a dois.

Nos três primeiros meses do atual mandato, o ministro das Relações Institucionais foi Pepe Vargas. Pelo que ouço, trata-se de homem decente. Mas politicamente é pequenininho demais para a função em que foi escalado, e logo a deixou.

Sob cerco furioso da turba que pretende depô-la, e com seu aliado Lula acossado por perseguidores seletivos, Dilma está de fato sem ministro da Justiça.

Ninguém a advertiu para a possibilidade de se tornar um imbroglio judicial a nomeação do promotor Wellington César Lima e Silva? Não o conheço, pode ser cidadão digno e qualificado. Porém, ele não é o nome certo para o momento. Ainda que não tivesse a condição funcional como empecilho para permanecer ministro. Numa conflagração como esta, o ministro da Justiça deveria ser um jurista (ou quadro do mundo do direito) de projeção, e não alguém que, por mais íntegro, gere a seguinte pergunta ao ter o nome pronunciado: quem é?

Será que o ambiente bajulatório em torno de Dilma é tal que nenhum adulador lhe alerta para obviedades como a relevância do Ministério da Justiça?

A presidente aparenta estar alheia ao cadafalso político que montam para liquidá-la.

Reitero: suicídio não é só físico, como o de Getulio Vargas em 1954.

Pode ser político.

Nada disso é novidade. A novidade é que a hora do vamos-ver se aproxima dramaticamente.

Bola cantada

Em maio de 2015, pouco mais de quatro meses depois da posse, o blog anotava: ''Houve [na Câmara] uma derrota política monumental de quem governa graças ao compromisso de melhorar, e não piorar, a vida dos que mais sofrem com a obscena desigualdade social do Brasil. Tropeços no Congresso acontecem. A verdadeira derrota é abandonar quem se habituou ao abandono. Parece suicídio''.

Em agosto de 2015: ''Diante da ameaça de opositores dispostos a rasgar a Constituição, Dilma e seus partidários ofereceram mais da mesma receita que levou a vitoriosa de outubro a não ser aplaudida hoje nem por dez em cada cem brasileiros. Além de não honrar o programa que apresentou aos cidadãos, a presidente parece empenhada em um suicídio político. Brinca com fogo e não aparenta sentir o calor das labaredas. Dificilmente ela sairá das cordas se não recuperar o apoio da base social que a reelegeu. Com mais 'ajuste', isso não ocorrerá''.

Setembro de 2015: ''Ao contrário do que ecoa um discurso midiático quase único empurrando Dilma à ruptura definitiva com aqueles que a bancaram pelo voto em outubro, a presidente conserva a capacidade de reagir. Mas, se radicalizar na política à direita, pode caminhar para o suicídio político. Há muitas maneiras de se entregar. Uma delas é aceitando o inaceitável, a adesão do Executivo às ideias e ao modelo rejeitados democraticamente pela maioria dos brasileiros. Se não mudar, Dilma arrisca-se a acabar sozinha, atropelada por um retrocesso institucional catastrófico. Cadê a coragem que a vida quer da gente?''

Outubro de 2015: ''Ao romper consigo mesma (ou com o que dizia), a presidente, em vez de frear, estimula segmentos que historicamente não reconhecem a soberania do voto popular. Como já dito no blog, ela age como o time que se retranca, chama o adversário para cima e padece com o sufoco. Como também observado aqui, este ensaio de suicídio político resulta no abandono da presidente pelo colchão social que a respaldava. De cada dez brasileiros, apenas um considera ótimo ou bom o governo Dilma Reloaded. Ela dilapidou boa parte do seu enorme patrimônio eleitoral''.

Basta observar os índices sociais para saber que o Brasil de hoje é, para a maioria da população, melhor que o de 14 anos atrás.

No segundo governo Dilma, vão regredindo as conquistas da era Lula e da primeira administração da presidente.

Dezenas de milhões de cidadãos votaram em Dilma.

Para mobilizá-los ao seu lado, a presidente precisa dar uma virada em seu governo.

Como? Honrando as promessas de 2014, protegendo quem é mais desprotegido.

Ainda é tempo de a presidente reagir, mas seu tempo está acabando.

( O blog está no Facebook e no Twitter )


20 capas de jornais e revistas: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe
Comentários Comente

Mário Magalhães

Precisamos falar sobre história.

A reportagem reproduzida abaixo foi publicada originalmente no blog na virada de março para abril de 2014, aniversário de 50 anos do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart.

Na origem, colecionei 19 capas. Agora, atualizo com mais uma.

Boa leitura.

( O blog está no Facebook e no Twitter )

*

20 capas de jornais e revistas: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe

Na semana dos 50 anos do golpe de Estado, o blog compartilha uma coleção de 20 primeiras páginas de jornais e capas de revistas publicadas nas horas quentes do princípio de abril de 1964.

Mais do que informação, constituíam propaganda, notadamente a favor da deposição do presidente constitucional João Goulart.

Até onde alcança o conhecimento do blogueiro, as imagens configuram a mais extensa amostra (ficarei feliz se não for) do comportamento do jornalismo brasileiro meio século atrás.

Trata-se de documento histórico, seja qual for a opinião sobre os acontecimentos.

Desde já o blog agradece o envio de novas capas por meio do Facebook e do Twitter. Caso venham, serão acrescentadas a esta exposição.

Dos 20 periódicos aqui reunidos, oriundos de cinco Estados, 18 são jornais diários, alguns dos quais já não circulam, e dois são revistas hoje extintas.

Apenas três se pronunciaram em defesa da Constituição: “Última Hora'', “A Noite'' e “Diário Carioca''. Nos idos de 1964, os dois últimos não tinham muitos leitores.

Os outros 17, em diferentes tons, desfraldaram a bandeira golpista.

As fontes da garimpagem foram: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; Google News Newspaper Archive; sites e versões impressas de jornais; não menos importantes, blogs e sites, aos quais sou imensamente grato.

É muito provável que, quanto mais capas se somarem, maior seja a proporção das publicações que saudaram o movimento que pariu a ditadura de 21 anos.

Para não ser original e repetir uma expressão consagrada: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe.

* * *

A Noite (Rio), 1º de abril de 1964: “Povo e governo superam a sublevação''.

Contrário ao golpe, o jornal aposta no triunfo de Jango.

press - a noite - 1 de abril de 1964

 

Correio da Manhã (Rio), 1º de abril de 1964: “(?) Estados já em rebelião contra JG''.

Editorial clama pela deposição de João Goulart: “Fora!''.

000 - correio

 

Tribuna da Imprensa (Rio), 2 de abril de 1964: ''Democratas assumem comandos militares'':

No editorial, o jornal considera favas contadas que o ex-presidente Eurico Gaspar Dutra sucederá Jango. Errou.

atratrtribuna

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Diário Carioca, 1º de abril de 1964: “Guarnições do I Exército marcham para sufocar rebelião em Minas Gerais''.

O jornal defendeu a Constituição.

000 - diario carioca 5

 

Diário da Noite (São Paulo), 2 de abril de 1964: “Ranieri Mazzilli é o presidente''.

O jornal dos Diários Associados trata a nova ordem como “legalidade''.

000 - diario da noite 5

 

Diário da Região (São José do Rio Preto, SP), 2 de abril de 1964: “Exército domina a situação e conclama o povo brasileiro a manter-se em calma''.

Depois do golpe com armas, o apelo por calma.

 

Diário de Notícias (Rio), 2 de abril de 1964: “Marinha caça Goulart''.

“Ibrahim Sued informa: É o fim do comunismo no Brasil.''

000000 - diario de noticias 6

 

Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1964: “Jango sai de Brasília rumo a Porto Alegre ou exterior: posse de Mazilli''.

Governador constitucional Miguel Arraes, vestido de branco no Fusca, é preso e cassado.

 

Diário de Piracicaba (SP), 2 de abril de 1964: “Cessadas as operações militares: A calma volta a reinar no país''.

No dia seguinte: “Relação de deputados que poderão ser enquadrados: Comunistas ou ligações com o comunismo''.

 

Diário do Paraná, 2 de abril de 1964: “Auro Andrade anuncia posse de Mazzilli com situação normalizada''.

No alto: “Povo festejou na Guanabara vitória das forças democráticas''.

000000000000000 - teste

 

Fatos & Fotos, abril de 1964 (data não identificada): “A grande rebelião''.

Uma revista em júbilo.

 

Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1964: “Congresso declara Presidência vaga: Mazzilli assume''.

“Papel picado comemorou a 'renúncia' de João Goulart.''

press - folha - 2 de abril de 1964

 

Jornal do Brasil (Rio), 1º de abril de 1964: “S. Paulo adere a Minas e anuncia marcha ao Rio contra Goulart''.

“'Gorilas' [pró-Jango] invadem o JB.''

press - jornal do brasil - 1 de abril de 1964

 

O Cruzeiro, 10 de abril de 1964: “Edição histórica da Revolução''.

Revista celebra um herói da “Revolução'', o governador de Minas, Magalhães Pinto, um dos artífices do golpe.

 

O Dia (Rio), 3 de abril de 1964: “Fabulosa demonstração de repulsa ao comunismo''.

Jango chegou ao Rio Grande do Sul no dia 2. De lá, iria para o Uruguai. “O Dia'': “Jango asilado no Paraguai!''.

press - o dia - 3 de abril de 1964

 

O Estado de S. Paulo, 2 de abril de 1964: “Vitorioso o movimento democrático''.

É a contracapa, porque a primeira página, era o padrão, só tinha notícias do exterior.

 

O Globo (Rio), 2 de abril de  1964: “Empossado Mazzilli na Presidência''.

Título do editorial: “Ressurge a democracia!''

press- o globo - 2 de abril de 1964

 

O Povo (Fortaleza), sem data: “II e IV Exércitos apoiam movimento mineiro''.

Quartel-general do IV Exército, no Recife, comandava a Força no Nordeste.

press - o povo sem data

 

Tribuna do Paraná, 2 de abril de 1964: “Rebelião em Minas''.

“General Mourão Filho abre a revolta: 'Jango tem planos ditatoriais'.''

 

Última Hora, 2 de abril de 1964: “Jango no Rio Grande e Mazzilli empossado''.

Jogando a toalha: “Jango dispensa o sacrifício dos gaúchos''.

GOLPE-ultima-hora-2-de-abril-de-1964


Fica a dica
Comentários Comente

Mário Magalhães

apapapapdao

Por Adão Iturrusgarai, na ''Folha'': melhor viver com utopias do que sem, né?


Aécio citado na delação de Delcídio e os cidadãos feitos de bobos
Comentários Comente

Mário Magalhães

Senador Aécio Neves, candidato derrotado a presidente em 2014 – Foto Kleyton Amorim/UOL

 

Os jornais, ao menos a ''Folha'' e ''O Globo'', informam hoje que o senador Aécio Neves (PSDB) foi citado no esboço da dita delação premiada do senador Delcídio do Amaral (''suspenso'' do PT).

Ignora-se em que termos Delcídio se pronunciou sobre Aécio. O contexto são as investigações da Operação Lava Jato sobre roubalheira e outros crimes.

A versão do senador que planejava a fuga do bandido Nestor Cerveró vazou semana passada nos trechos relativos a alegadas falcatruas da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-presidente Lula (PT). Mas não sobre ações de Aécio.

Quando é para informar aos brasileiros o que Delcídio falou a respeito de Aécio Neves, o silêncio, ou quase, impera. Menos em relação à pregação do tucano por moralidade e contra a bandalheira.

Na quinta-feira, o vazamento da minuta da delação de Delcídio que fere os petistas fez enorme estardalhaço.

Muito justo, pois as acusações são graves. O problema foi encarar a versão do senador encrencado como revelação da verdade suprema ou desqualificá-la liminarmente por sair da boca de quem saiu. É preciso apurar se o que Delcídio diz tem lastro nos fatos.

A bomba que foi o noticiário sobre o relato de Delcídio esquentou os ânimos para o clímax da ''condução coercitiva'' de Lula no dia seguinte, por agentes da Polícia Federal. Coincidência?

Do ponto de vista cidadão e jornalístico, a pergunta elementar é: por que não vazou também o que Delcídio falou sobre Aécio, Renan Calheiros (PMDB) e outros políticos menos influentes?

Porque quem vazou queria atingir um só alvo, ou alvos do mesmo time, é evidente.

E se a ''citação'' não tiver nada de mais?

Ué, quando fulano ''cita'' beltrano, e esse beltrano é o vilão da hora, a citação, ainda que não esclarecida, é alardeada em brados retumbantes.

Basta apurar e, se for o caso, informar que alguém foi mencionado, mas não implicado em gatunagem.

As informações que chegam aos brasileiros são filtradas, de acordo com os propósitos de quem as vaza.

Na Lava Jato, os testemunhos sobre Aécio Neves não vazam ou demoram meses para alguém descobri-los nos autos do processo, como na suposta entrega de dinheiro para ele por uma turma da pesada.

Delcídio é mais um que cita Aécio na Lava Jato. Quando aparece o nome do candidato derrotado à Presidência, leva tempo para se saber, e quase sempre dá em nada na Justiça. Isso é com a Justiça, que sabe, ou deve saber, o que faz.

Mas conhecer o conjunto das informações, e não apenas o que é conveniente para quem as vaza e divulga, é direito dos cidadãos.

Quando isso não ocorre, os cidadãos são feitos de bobos.

Se Lula e Dilma têm culpa no cartório, que paguem como qualquer pessoa.

A lei deve se impor a todos, inclusive os protegidos pelos vazadores seletivos de informações.

Não custa enfatizar, só se pode condenar com provas, o que também vale para Aécio, Lula e Dilma. Ao menos na democracia.

Na democracia, não existe ladrão bom e mau. Quem é ladrão tem de ser punido. Ou criaram a figura do larápio inimputável?

( O blog está no Facebook e no Twitter )