Blog do Mario Magalhaes

‘Olga’ passou na TV. Ainda vão dizer que o programador da Globo é comunista
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Mário Magalhães

 

A lista de palavras e expressões mais citadas no Twitter nesta manhã chamou a minha atenção por causa de dois nomes, ''Olga'' e ''Camila Morgado''.

Não deu outra: o filme de Jayme Monjardim, baseado no clássico homônimo de Fernando Morais, tinha passado no ''Corujão''.

É a história de Olga Benario, alemã, judia, comunista, grávida, que o ditador Getulio Vargas e o STF entregaram para a Gestapo em 1936. Anos depois, Olga foi morta num campo de concentração.

O ambiente está tão carregado, tão macarthista que já, já vai aparecer algum maluco dizendo que o programador da Globo é comunista…

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Se Marcelo Odebrecht contar tudo, mas tudo mesmo, prestará serviço ao país
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Mário Magalhães

O empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso, em Curitiba – Foto Paulo Lisboa/Folhapress

 

No sistema de corrupção vigente há décadas, a Odebrecht apareceu aqui e ali em notícias desvendando ou insinuando armações. Noticiário, digamos, modesto.

Mas sempre se supôs, e uns poucos souberam, que a empreiteira tinha lugar garantido no pódio do esquema de suborno de servidores públicos, com mandato parlamentar ou sem.

O complicado era provar.

Pois agora se anuncia a dita delação premiada do empresário Marcelo Odebrecht.

Ele se disporia, na Operação Lava Jato, a contar o que fez, do lado corruptor.

Se contar tudo, sem selecionar alvos, prestará enfim um serviço ao país que ele e a Odebrecht contribuíram para avacalhar.

Reiterando: se contar tudo, mas tudo mesmo.

Na democracia, não pode existir larápio inimputável.

Um bom começo é o empreiteiro Odebrecht explicar tim-tim por tim-tim as tabelas apreendidas na mal denominada Operação Acarajé.

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Já pensou se protesto fosse diante da casa de Gilmar Mendes, que escândalo?
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Mário Magalhães

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Ministros Teori Zavascki (foto Pedro Ladeira) e Gilmar Mendes (foto Alan Marques)

 

Como não sei se alguém ainda identifica equilíbrio jornalístico na cobertura da conflagração em curso no Brasil, corro o risco de chover no molhado. Tudo bem.

Ontem à noite, manifestantes se concentraram em Porto Alegre na porta do condomínio onde reside Teori Zavascki quando não está Brasília, onde é ministro do Supremo Tribunal Federal.

Pouco antes, o ministro havia determinado que as investigações sobre o ex-presidente Lula, na Operação Lava Jato, devem correr no âmbito do STF, e não na vara de primeira instância sob responsabilidade do juiz Sérgio Moro.

Os participantes do protesto discordam da decisão do ministro.

Gritaram palavras de ordem, levaram faixa. ''Teori é traidor'', entoaram em um cântico. Para assistir ao que houve, é só clicar aqui, em notícia da ''Zero Hora''.

Não interessa, nesse post, discutir méritos de despachos de Zavascki e Moro.

Mas observar o relativo silêncio jornalístico sobre o episódio passado na capital gaúcha.

E fazer uma pergunta: caso a manifestação tivesse ocorrido na porta da casa do ministro Gilmar Mendes, a discrição do noticiário sobre o protesto seria tamanha?

Outra: ou existiria uma grita, em tom de escândalo, falando em tentativa antidemocrática de intimidação do Judiciário?

Não responderei, porque não precisa.

A essa altura, tudo é desgraçadamente óbvio demais.

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No país de ditas instituições fortes, o voto popular é uma das mais frágeis
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Mário Magalhães

Comício das Diretas, em janeiro de 1984, na praça da Sé – Foto Fernando Santos/Folhapress

 

O Brasil conflagrado especula cenários com o possível impeachment de Dilma Rousseff pelo Congresso.

Os partidários do “fora, Dilma” alardeiam virtudes de eventual governo Michel Temer com aliados como José Serra e Aécio Neves (costumam silenciar sobre Eduardo Cunha, Paulinho da Força, Moreira Franco e o resto da turma).

Os que se opõem ao afastamento da presidente preferem enfatizar o que viria a ser a presença da parceria mais, digamos, barra-pesada.

Ainda que separados no fundamental, a opinião sobre o sai ou fica, ambas as trincheiras se identificam ao valorizar o dia seguinte a um hipotético cartão vermelho. São contra ou a favor, em boa parte, devido à coalização que substituiria a governante constitucional.

Não que tais argumentos e preocupações careçam de legitimidade e relevância. Mas de algum modo eles minimizam o aspecto central da controvérsia, que é a soberania do voto popular.

Desde o fim da ditadura, em 1985, e a promulgação da Constituição, três anos mais tarde, bem-pensantes têm proclamado o que seriam instituições fortes do Estado Democrático de Direito. Há controvérsia.

O que parecia perdido no passado era o desprestígio de uma das mais caras instituições da democracia, o voto popular. O conceito segundo o qual a participação cidadã em eleições decide quem governará, por mais assimétricas que sejam as oportunidades de se candidatar e de se eleger. Hoje, o prestígio do voto popular se assemelha ao dos técnicos de futebol declarados “prestigiados” às vésperas do cadafalso. É uma instituição frágil.

Paladinos do impeachment costumam recorrer à lembrança de Fernando Collor de Mello como exemplo de afastamento de presidente sem ruptura constitucional. Em 1992, contudo, foi diferente. Colheu-se prova cabal, acima de dúvida, de que Collor ferira a lei.

Em 2016, Dilma Rousseff não é suspeita (condição declarada pelo indiciamento) nem acusada (pela denúncia) de ter roubado na gatunagem criminosa na Petrobras. Expulsá-la do Planalto equivaleria a estuprar a soberania do voto popular. A presidente foi escolhida em 2014 por 54.501.118 brasileiros. Com 3,28 pontos percentuais de vantagem sobre Aécio Neves, que recebeu 3.459.963 votos a menos.

E se surgir prova de que Dilma tenha cometido crime? Seria outro papo. Autor de crime deve ser processado e punido na forma escrupulosa da lei.

A presidente não amarga miseráveis índices de aprovação? Põe miseráveis nisso. No entanto, na democracia, o que elege governante não é pesquisa de opinião, e sim o voto popular.

Conspira-se para depor a presidente legitimada pelo voto, a fim de entregar a administração ao vice, Michel Temer, que teria um sufrágio em cada cem na eleição presidencial (vide Datafolha). O mais influente agente do impeachment, Eduardo Cunha, é suspeito e acusado, ao contrário de Dilma, por uma vastidão de crimes. O político que se tornou o pregador maior da moralidade, Aécio Neves, é mais citado na Operação Lava Jato que o George Clooney pelas minhas amigas.

Ontem e hoje

A Fiesp promove campanha pelo impeachment. De fato, eis um movimento importante. Só que não é novidade: em 1964, a entidade jogou no time do golpe de Estado.

O time era numeroso. Na madrugada de 2 de abril daquele ano, o presidente do Supremo Tribunal Federal participou da posse farsesca do presidente da República interino, Ranieri Mazzilli, o capo da Câmara que roubou o lugar do presidente constitucional João Goulart.

Ignoro aspirações golpistas na atual composição do STF, porém soa estranho o ativismo político do ministro Gilmar Mendes. Pior ainda, o estilo do ministro parece fazer escola.

Há muita gente conspirando contra a soberania do voto popular. Consciente ou não, reedita episódios de outrora.

Um dos pretextos para a derrubada de Jango foi a alegada corrupção que campearia em seu governo. O próprio presidente seria larápio. Semanas depois do golpe, o ex-presidente Juscelino Kubitschek também foi chamado de ladrão. Para não falar no político mais detestado pela nova ordem, o deputado cassado Leonel Brizola. Todos foram investigados, tiveram seus negócios devassados, e o patrimônio, esquadrinhado. Não conseguiram comprovar uma só falcatrua do trio. Noutras palavras, concederam-lhes atestado de honestidade.

Aclamado pelos golpistas como “Revolução”, o golpe teve como um dos motivos propagandeados o que seria a intenção criminosa de Jango de suprimir a eleição direta para presidente prevista para outubro de 1965.

Pois três meses depois de tomar o poder a ditadura adiou a eleição e prorrogou o mandato do marechal Castello Branco, que não recebera um só voto do povo para ser presidente. E um ano e meio após o golpe acabaram de vez com a eleição direta.

A história da República é a crônica de maquinações contra a soberania ou expressão do voto popular. O que não falta é desculpa. Ao fundo, ecoa a máxima de Pelé: o povo não sabe votar.

Em 1965, testemunharam protagonistas e atestam documentos, a eleição direta foi sepultada porque os militares e civis da ditadura sabiam que perderiam nas urnas. O governo do ditador Castello era muitíssimo impopular.

Em 2016, o PMDB pretende tomar o Planalto sem se submeter a voto. No voto, dificilmente o partido chegaria lá. Ao menos com Michel Temer e seu 1%.

Ontem e hoje, para alcançar certos fins, tentam sufocar a soberania do voto popular.

Na democracia, quem está desgostoso com governos tem sempre boa chance de botar para fora os governantes e seus correligionários: a próxima eleição.

No caso, em 2018.

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Michel Temer teria 1% dos votos se a eleição presidencial fosse hoje
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Mário Magalhães

O Datafolha fez quatro simulações na disputa para o Planalto - "Folha", 20.mar.2016

O Datafolha fez quatro simulações na disputa para o Planalto – ''Folha'', 20.mar.2016

 

O Datafolha divulgado neste fim de semana fez quatro simulações de eleição para presidente.

Mais uma vez, constata-se o desempenho sofrível dos políticos mais tradicionais.

Notícia boa teve Marina Silva, que sobe ou oscila para cima. Tem potencial para crescer mais, caso assuma postura autônoma, sem se alinhar com os contendores mais desgastados.

O mais relevante da pesquisa, contudo, não é a parte de cima, e sim a de baixo.

O vice-presidente Michel Temer se articula, conspira, aquece para o assumir o cargo da presidente constitucional Dilma Rousseff.

É o que ocorreria por meio do impeachment de Dilma.

Seria um drible nas urnas. E que drible!

Em três dos quatro cenários testados pelo Datafolha, Temer recebe 1% da intenção de votos. Isso mesmo, um por cento. Noutra simulação, com Geraldo Alckmin no lugar de Aécio Neves, o vice alcança 2%.

Em todas as hipóteses, desprezando a margem de erro, o peemedebista é superado até por Luciana Genro.

Assim é fácil ser presidente, dispensando a manifestação popular soberana.

Na democracia, presidente se elege no voto.

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Útil ao impeachment, Eduardo Cunha parece ter espécie de salvo-conduto
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Mário Magalhães

Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados – Foto Ueslei Marcelino/Reuters

 

A desastrosa segunda administração Dilma Rousseff e a imensa rejeição à presidente fizeram muita gente se esquecer de Eduardo Cunha, o timoneiro do processo de impeachment.

Quantos ainda se lembram que há 18 dias o Supremo Tribunal Federal transformou o presidente da Câmara em réu? Por unanimidade. Acusado de corrupção e lavagem de dinheiro na roubalheira da Petrobras. O deputado teria embolsado a propina de US$ 5 milhões em contratos investigados pela Operação Lava Jato.

Meses antes, em outubro, haviam sido descobertas quatro contas secretas de Cunha na Suíça.

Achou pouco? No finzinho de janeiro, dois empreiteiros informaram a existência de mais cinco contas não declaradas pelo deputado. ''Todos os pagamentos [alegadamente ilegais] feitos a Eduardo Cunha foram no exterior'', disse um empresário.

Parece coisa grande demais, difícil de entender? Troquemos o atacado pelo varejo, nesta notícia de novembro: ''O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou parte de sua verba parlamentar para abastecer a frota de carros de luxo da Jesus.com e da C3 Produções, duas empresas que declara ter em sociedade com a mulher, a jornalista Claudia Cruz''.

Para 69% dos brasileiros consultados pelo mais recente Datafolha, o governo Dilma é ruim ou péssimo. Não fui entrevistado. Se tivesse, responderia ''péssimo''.

O que não impede de observar que o processo de impeachment da presidente é influenciado decisivamente pelo capo da Câmara.

Ao contrário de Cunha, Dilma não foi declarada suspeita (indiciada pela polícia) ou acusada (denunciada pelo Ministério Público) por corrupção. Ao menos até hoje.

Cunha é o condutor do processo que entregaria o Planalto ao seu correligionário Michel Temer. O PMDB deixaria de ser intermediário, como foi com Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Controlaria diretamente o governo, driblando o escrutínio do voto popular.

''O impeachment só está acontecendo por causa do Eduardo Cunha'', atesta seu aliado Paulinho da Força, possível ministro em um governo Temer.

Para acelerar o impeachment, até na sexta-feira houve sessão na Câmara, algo raro.

Em contraste com a letargia da Comissão de Ética encarregada do processo de cassação de Cunha por quebra de decoro parlamentar.

A comissão de deputados federais que analisará o pedido de impeachment é dirigida por fiéis companheiros de Eduardo Cunha.

Dos 65 integrantes, 40 receberam doações de empresas investigadas na Lava Jato.

De fato, muita gente se esqueceu de Eduardo Cunha.

Entre os de boa memória, há quem julgue legítimo poupar o deputado para derrubar a presidente constitucional. Conforme tal raciocínio, os fins justificariam os meios.

O processo na Câmara está tisnado pela presença e poder de Eduardo Cunha, que parece ter um salvo-conduto para continuar a fazer o que faz.

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Palavrões em tempos de grampo
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Mário Magalhães

Sinônimos de "ânus", no "Houaiss"

Sinônimos de ''ânus'', no ''Houaiss''

 

No romance Número Zero, do Umberto Eco, a jornalista Maia propõe um manual de substituição de palavrões no jornal Amanhã. “Em vez de dizer ‘caralho’, toda vez que alguém quisesse exprimir surpresa ou decepção, deveria dizer: ‘Oh, órgão externo do sistema geniturinário masculino em forma de apêndice cilíndrico na parte anterior do períneo, bateram minha carteira!’”

Sem o exagero caricatural, a imprensa brasileira já foi um pouco assim. Se não dava para substituir o palavrão, então mais conhecido como calão ou baixo calão, limavam-no. Evitavam a vulgaridade, mas às vezes sonegavam informação ao leitor. Uma coisa é publicar que um deputado xingou o colega, e ponto. Outra é contar que o dito cujo gritou “vossa excelência não passa de um grandessíssimo filho da puta”.

Nesse entrevero, não resta dúvida de que, como ensinam os gaúchos à gurizada, pronunciou-se “nome feio”. Há interpretações que vão mudando. Quando eu estreava na adolescência, uma dona falou “sacanagem” numa roda. Uma amiga dela apontou para mim e a repreendeu: “Olha a criança”. Achei sacanagem não verem que eu não era mais menino. “Sacanagem” continua palavrão?

O tempo acolhe o que outrora era tido como chulo. Como imaginar que “chateação” já foi obscenidade? Suponho que por se originar de chato, o inseto que se aninha na região pubiana e, asseguram, é chato pra caramba.  O Rubem Braga desculpou-se, em 1965, ao empregar o verbo “chatear”: “Seu uso generalizou-se de tal modo que se tornou familiar, embora não elegante”.

O cronista explicou por que cedeu: “O governador Carlos Lacerda usou o substantivo ‘chateação’ em seu último discurso na televisão, embora sabendo que se dirigia a um público em grande parte composto de senhoras e senhoritas; assim, a palavra entrou para o vocabulário já não digo oficial, mas oficioso no Estado da Guanabara”.

Sinônimos não costumam resolver. Até porque nunca ou quase nunca uma palavra equivale a outra. Num encontro literário, o Rubem Fonseca mencionou uma lição do Gustave Flaubert: “Ele, sim, sabia que não havia sinônimos. Ouviram? Não existem sinônimos”. O francês, lembrou o brasileiro, procurava sem descanso “le mot juste”, a palavra certa.

Tal palavra varia caso a caso. Numa folha em que noutra época só se podia escrever “impotente”, tenho lido cada vez mais “brocha”. Impotência expressa uma patologia. Brochada, um fiasco. Não dá para dizer que está “defecando” e andando. Flaubert e Fonseca têm razão.

Em meados do século 20, a revista The New Yorker ainda vetava contos que considerava obscenos, para contrariedade do iniciante Truman Capote. Trabalhei, três décadas atrás, em um jornal pudico que hoje imprime sem cerimônia os palavrões mais cabeludos. Na morte do Carlos Drummond de Andrade, não resisti à chance de apimentar as páginas. Escalado para selecionar trechos de um livro inédito do poeta, escolhi os mais picantes.

Não continham palavrões as tiradas do Drummond, como “a masturbação é uma forma econômica de praticar o sexo” e “o grito do orgasmo é espontâneo, mas o orgasmo é elaborado”. Levinho, não? Àquela altura, pareceu uma revolução. Ninguém se atreveu a cortar.

Pesado é o que eu tenho ouvido nesses dias turbulentos. Tem palavrão nos grampos e, fora deles, sobre seus personagens e antagonistas. Os palavrões são os mesmos, troca-se o alvo a malhar. Podem ser contra e a favor. Ou muito pelo contrário, como prefere um amigo que adotou o mantra “estou cagando e andando”.

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Um ato político
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Mário Magalhães

O juiz Sérgio Moro – Foto Ricardo Borges/Folhapress

 

Ao contrário de tantos colegas jornalistas que se pronunciam como pós-graduados em direito penal e constitucional, não tive a oportunidade de assistir nem a uma mísera aula de introdução ao direito. Fica para a próxima encarnação.

Por isso, enquanto não conhecer a opinião de quem de fato domina o assunto, com pareceres e abordagens plurais, não me sinto em condições de formar juízo sobre dois aspectos essenciais do imbroglio em curso: se a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente e agora ministro Lula tentaram obstruir a Justiça. E se o juiz Sérgio Moro agiu nos marcos da lei ao liberar a divulgação de interceptações telefônicas de conversas de Lula com quem, como Dilma, aquele magistrado não é autorizado a julgar.

Sei que em 30 anos de jornalismo jamais ouvi falar de grampo com ordem judicial sendo feito no começo da tarde e retirado de sigilo, com propósitos de publicidade, no fim do mesmo dia, começo da noite. Ainda mais de chefe do Executivo, cujo foro é o Supremo Tribunal Federal. Lula e Dilma conversaram às 13h32 sobre o ''termo de posse'' do ex-presidente na Casa Civil.

Ignoro, reitero, se é correto ou não tal procedimento judicial.

Mas é evidente que a liberação das gravações, antes de serem enviadas ao STF, agora o tribunal com atribuições para julgar Lula, teve o poder de um ato político.

Durante a tarde, o anêmico segundo governo Dilma teve a impressão de que a chegada de Lula lhe conferia adrenalina.

À noite, o cenário se transformou, em virtude do gigantesco estrago político provocado pela publicação das conversas de Lula.

O gesto de Sérgio Moro foi um petardo muito mais político que judicial. Encurralou o governo.

O maior adversário de Lula e Dilma não é Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso ou Jair Bolsonaro.

É Moro, como nunca esteve tão claro.

Lula, do PT, enquanto for ministro será julgado pelo STF.

Mudou seu foro, como Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB. O tucano renunciou ao mandato de deputado federal para não ser julgado pelo Supremo, e sim por juiz de primeira instância, no processo do mensalão mineiro.

Com sua atitude de ontem como juiz, Moro reforçou sua condição de protagonista político.

Há quem goste, há quem não. É do jogo.

O inaceitável é agredir cidadãos por intolerância política, como já se testemunha nas ruas.

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Será que Getulio e Lacerda despertaram tanto amor e ódio quanto Lula?
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Mário Magalhães

O ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, que prepara reação contra crise que o PT enfrenta

O ex-presidente e futuro ministro Lula – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

No século XX, os dois políticos brasileiros mais amados e odiados foram Getulio Vargas e Carlos Lacerda (Juscelino Kubitschek não era unanimidade, mas era difícil odiá-lo).

Com o anúncio do ex-presidente Lula como novo ministro da Casa Civil, amor e ódio são proclamados com exaltação e cólera.

Nunca vi nada igual.

Mas já li e ouvi muito sobre os tempos de Lacerda e Getulio.

Será que eles despertaram tanta paixão, contra e a favor, como Lula hoje?

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