Blog do Mario Magalhaes

De novo sobrará, como diria FHC, para os brasileiros ‘menos informados’
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Mário Magalhães

Está ruim, mas melhor que antes, e vai ficar pior – Foto reprodução UOL

 

Um dia depois do primeiro turno da eleição presidencial de 2014, Fernando Henrique Cardoso disse que o PT e Dilma Rousseff se beneficiavam do voto dos brasileiros ''menos informados''.

O ex-presidente negou que desqualificasse os eleitores que preteriam seu correligionário Aécio Neves: ''O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados''.

Cada um entenda como queira.

Não é porque a declaração de FHC foi dada a Josias de Souza e a mim, em transmissão ao vivo do UOL, que eu não a esqueci.

E sim porque ela me surpreendeu, vinda de quem veio, um sociólogo aclamado, que no passado demonstrara argúcia interpretativa e sensibilidade social.

FHC e Aécio foram derrotados na eleição, e mais tarde se incorporaram à conspiração para depor a presidente consagrada nas urnas.

Lembrei-me dos ''menos informados'' ao recapitular as propostas do PMDB, que está na iminência de assumir o Planalto, agora sem intermediários.

O tal programa ''Uma ponte para o futuro'', apresentado em outubro.

Se implementado, representará um retrocesso de décadas nos direitos dos trabalhadores e nas conquistas sociais dos cidadãos ''menos informados'', ou mais pobres.

Será uma política de terra arrasada, ultraliberal na economia, abolindo as garantias mais significativas, ainda que modestas, dos assalariados.

O arrocho do governo Dilma Reloaded será recordado como arrochinho.

Em 2015, numa catástrofe de largas proporções, mais de 1,5 milhão de trabalhadores deixou de ter a carteira assinada.

Nada que tenha elevado o índice de desemprego à altura dos tempos de FHC presidente, mas uma desgraça.

Com as medidas propugnadas pelo partido de Michel Temer, o que está ruim ficará pior.

Sobretudo para os ''menos informados''.

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‘Ministério de notáveis’ de Temer foi mais uma história da carochinha
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Mário Magalhães

Dois artífices e beneficiários do impeachment de Dilma Rousseff – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Bajuladores e arautos de Michel Temer se empenharam durante semanas em alardear o que seria um ''Ministério de notáveis'' em possível governo do vice aspirante a presidente.

De acordo com jornalistas entusiastas do impeachment de Dilma Rousseff, Temer afirmou que montaria o dito ''Ministério de notáveis''.

Por pouco não disseram que ressuscitariam Ruy Barbosa, Santiago Dantas, Oswaldo Cruz.

Muito chaleirismo, palavra fora de moda que equivale a bajulação, e pouco ou nenhum fato.

Os cogitados, cujos nomes são vazados por Temer e aliados, são mesmo notáveis. Mas por outros motivos.

Romero Jucá é notável por ser investigado pela Operação Lava Jato.

Moreira Franco, pelas ocorrências do seu tempo de governador, época em que o jornalista Janio de Freitas antecipava os resultados de concorrências públicas.

Henrique Eduardo Alves, por ter implorado para ser ministro de Dilma Rousseff.

Sem falar no pessoal do PP, do PSD e outras agremiações conhecidas pelo, digamos, pragmatismo à PMDB.

Notável é o tradicional varejo na formação do primeiro escalão do governo.

Pelo menos até as vésperas da votação do impeachment na Câmara, era esse varejo que caracterizava o Ministério Dilma.

Nem os mais fanáticos chaleiristas da presidente, contudo, ousaram sugerir que ela se cercaria de ''notáveis''.

A administração Temer ainda não começou, mas emplacaram mais uma história da carochinha.

Tal talento não falta ao vice missivista, que alegou ter se recolhido, quando na verdade conspirava contra a soberania do voto popular.

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Parece que fizeram transfusão de sangue em Ganso: a hora e a vez do craque
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Mário Magalhães

Ganso, brilhante contra o Toluca – Foto Eduardo Knapp/Folhapress

 

Escrevo antes da divulgação da lista prévia de convocados para a Copa América, que sai nesta sexta-feira.

É impossível não pensar que, na hipótese de Dunga preterir Ganso, seria, aí sim, caso de condução coercitiva.

Parece que o jogador com sangue de barata passou por uma transfusão.

Técnica ele sempre teve de sobra. Agora, mostra-se competitivo.

Aparece em todo o campo, armando o São Paulo, como na sublime exibição de ontem pela Libertadores.

Se o corpo é lento, o craque faz o time jogar rápido. Ganso pensa rápido, age rápido.

Recusa passes para os lados, fáceis.

No começo da partida contra o Toluca, errou alguns. Eram difíceis. Se acertasse, deixaria os companheiros pertinho do gol.

Sob o comando de Ganso, chegaram aos 4 a 0.

Se o tricolor atuasse sempre como ontem, seria disparado a melhor equipe do país. Mas é ciclotímico.

Ao contrário de Ganso, que vai estabelecendo regularidade em alto nível, orientado por Edgardo Bauza.

O ceticismo em relação a Ganso vai sendo trocado por confiança.

Jogando o que tem jogado, tem de ser titular da seleção.

Só o que faltava era ser barrado.

Tomara que não.

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Questões médicas: alergia ao voto popular inferniza vida de Michel Temer
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Mário Magalhães

Temer, 2% de intenção de voto para presidente – Foto Marlene Bergamo/Folhapress

 

Michel Temer disse que antecipar as próximas eleições presidenciais seria golpe.

O missivista conspira para depor Dilma Rousseff _que não cometeu crime_, rasgando 54.501.118 sufrágios (ela os recebeu para presidente; ele, para vice, o que não significa a mesma coisa).

O vice com ambição de trocar o Jaburu pelo Alvorada amarga hoje 2% de intenção de voto para presidente, de acordo com o Datafolha.

Todas as informações acima se vinculam à inegável alergia ao voto popular manifestada por Temer.

Ele jura não considerar golpe a derrubada da governante eleita soberanamente pelos cidadãos e que nada fez de errado para legitimar o impeachment.

Mas foge das urnas como um alérgico a camarão diante de prato de frutos do mar.

Quer apagar os votos de 2014. Isso sim é golpe.

E não quer que os eleitores se pronunciem, em 2016.

Só assim o candidato 2% teria possibilidade de ocupar o cargo para o qual não foi escolhido pelos brasileiros, cuja voz Temer quer calar (ao menos nas urnas). Outro golpe.

Eleitores legítimos, para ele, só Eduardo Cunha, Jair Bolsonaro, Paulinho da Força, Marco Feliciano e companhia.

A alergia de Temer ao voto popular é grave. Deve ser um inferno conviver com tal patologia.

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Nem com impeachment iminente Dilma abandona política que frustrou eleitores
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Mário Magalhães

Posse em 2015: ela teve votos para presidente; ele, para vice – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

No que depender da poderosa coalização formada para interromper o mandato presidencial antes do prazo estabelecido pela Constituição, Dilma Rousseff está a poucos dias de ser deposta.

O Senado, em caso de votação majoritária pelo impeachment, afastaria a presidente por seis meses, até julgamento definitivo.

Nem a iminência da degola fez Dilma abandonar a política econômica que frustrou a imensa maioria dos eleitores que a consagraram com a reeleição em outubro de 2014.

Em vez de implementar a plataforma alardeada nos palanques, ainda que com adaptações impostas pela conjuntura internacional, o governo adotou a essência do programa defendido pelo candidato Aécio Neves.

Isto é, aderiu à agenda derrotada nas urnas pelos cidadãos.

O arrocho em curso, ainda que disfarçado com a embalagem de ''ajustes'', piora a crise e sacrifica sobretudo aqueles que Dilma prometera proteger: os brasileiros mais pobres.

O desemprego se alastra (ainda que aquém da obscenidade de outrora), a renda cai (idem), direitos são retirados (idem), a saúde é sucateada (idem), os perrengues amenizados de 2003 a 2014 se agravam.

Para enfrentar o golpe de Estado (impeachment sem crime é golpe) comandado pelos derrotados das últimas quatro eleições, é fundamental para Dilma mobilizar mais e mais gente.

Com a política recessiva, a despeito de uma ou outra boa notícia ao dito andar de baixo, tal desafio fica muito mais difícil.

A persistência ou teimosia com a orientação rejeitada na eleição constitui suicídio político.

Ainda mais à beira do cadafalso.

Para a história, sobreviverá a pergunta, sobre a qual os historiadores se debruçarão por décadas: por que Dilma procedeu assim?

Alguns tentam explicar com o cerco sofrido desde antes de o segundo mandato começar.

O cerco é fato. Mas cerco se combate. A retranca chama o adversário, encoraja-o. Antecede o revés.

Foi o que aconteceu.

É o que acontece.

P.S.: o possível governo Michel Temer, com as previsíveis medidas antissociais, fará os brasileiros tratarem o arrocho de Dilma como arrochinho.

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Por que só agora, após a votação do impeachment, Eduardo Cunha é ilegítimo?
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Mário Magalhães

Eduardo Cunha, ainda presidente da Câmara dos Deputados – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

Deu-se enfim a descoberta, sobretudo por certos círculos jornalísticos: Eduardo Cunha não tem legitimidade para exercer o cargo de deputado federal, muito menos para presidir a Câmara.

De acordo. Antes tarde do que nunca.

O curioso é que não ocorreu novidade de vulto depois da votação da Câmara autorizando o Senado a se pronunciar sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

As acusações e suspeitas contra Cunha já haviam sido formuladas.

Ele já era réu no Supremo Tribunal Federal, denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Aos seus pares, assegurara não ter conta no exterior, versão desautorizada por documentos apresentados por autoridades suíças.

Por que só agora Eduardo Cunha é ilegítimo e quem sabe ilegal, e não antes, quando presidiu a sessão que deu sinal verde para a deposição da presidente constitucional que não cometeu crime?

Estranho. Estranhíssimo.

A presença do famigerado Cunha à frente do show de horrores de 17 de abril é suficiente para considerar ilegítima a decisão contra a governante eleita pelo voto popular.

Mas só agora descobrem que Cunha é Cunha.

Ontem o deputado estava no Palácio do Jaburu, tramando com seu aliado Michel Temer.

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Vice de presidente mulher, Temer escala clube do Bolinha para governar
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Mário Magalhães

blog - homens temer 1

blog - homens temer 2

Reprodução ''Folha de S. Paulo'', 26.abr.2016

 

Henrique Meirelles, José Serra, Romero Jucá, Murilo Portugal, Henrique Eduardo Alves, Ilan Goldfajn, Amaury Bier, Mário Mesquita, Eliseu Padilha, Carlos Ayres Britto, Carlos Velloso, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, Roberto Brant, Cacá Leão,  Ricardo Barros, Sergio Amaral, Sérgio Danese, Ricardo Paes de Barros, Alexandre de Moraes, Nelson Jobim e Moreira Franco.

Vinte e um nomes, quase dois times de futebol.

Todos homens, nenhuma mulher.

Essa é a relação de cotados para integrar o Ministério do possível governo Michel Temer, em caso de impeachment de Dilma Rousseff. Foi publicada pela ''Folha''.

Um ou outro já foi descartado. E substituído por nome masculino.

Vice de presidente mulher, Temer prepara uma administração dominada por homens.

O único nome feminino mais ventilado até agora foi o de Marta Suplicy. Não seria uma promoção, mas um rebaixamento da sua pretensão de disputar a Prefeitura de São Paulo. Ministra, a senadora abriria vaga para outra pessoa concorrer a prefeit@. Homem. Andrea Matarazzo.

Ignoro se o clube do Bolinha montado por Temer decorre de circunstâncias, de idiossincrasias do vice missivista ou de ressentimento pela condição subalterna em relação à presidente constitucional.

No governo Dilma, as mulheres não têm representação à altura. Há poucas ministras. Já foram mais influentes.

Nada que se compare, contudo, à macholândia das fotografias das comitivas que Temer recebe no Jaburu.

É claro que, na última hora, se o impeachment prosperar, alguém alertará que pega mal o Ministério sem mulher.

Mas já será impossível disfarçar que a igualdade de gênero é agenda desprezada por Michel Temer.

Será que, para ele, mulher tem de ser obrigatoriamente recatada e do lar?

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Votação de Bolsonaro hoje seria igual à do fascista Plínio Salgado em 1955
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Mário Magalhães

Plínio Salgado e os galinhas-verdes – Reprodução UOL

 

A pesquisa Datafolha da primeira quinzena de abril, mostrando o deputado Jair Bolsonaro com até 8% de intenção de votos para o Planalto, surpreendeu muita gente. Sobretudo pelo desempenho entre os eleitores com renda superior a dez salários mínimos, segmento em que o ex-capitão do Exército receberia um em cada quatro sufrágios.

O apelo de Bolsonaro aumenta em cenário de radicalização. Na campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff, os aspirantes a presidente Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra não ganharam popularidade. Quem cresceu foi a extrema-direita, com um partidário da tortura e de golpes de Estado. Os tucanos chocaram o ovo.

Não é inédito, muito pelo contrário, o fenômeno de parcelas da classe média aderirem ou flertarem com o fascismo. É novidade no Brasil do século 21, quando a direita saiu do armário onde havia se trancado desde a agonia da ditadura que vigorou de 1964 a 1985.

Até que novo retrato eventualmente venha a provar o oposto, é falsa a ideia de que a direita mais radical domina o ambiente político. Seus simpatizantes fazem barulho, mas são minoritários.

Os 8% de Bolsonaro não são originais na trajetória do fascismo tupiniquim. Em outubro de 1955, Plínio Salgado colheu 8,3% dos votos válidos para a Presidência da República (ou 7,9% do total).

Concorrendo pelo seu Partido de Representação Popular, Plínio era ex-integralista. Vestia uma roupa mais civilizada, porém sem renegar a camisa verde de outrora.

Na década de 1930, sob o comando de Plínio, a Ação Integralista Brasileira arrastara centenas de milhares de pessoas às ruas em torno de sua agenda aparentada com a do nazismo alemão e do fascismo italiano.

Entre muitas semelhanças, a do antissemitismo era uma das mais eloquentes. Assim Plínio Salgado comentou em jornal integralista um confronto armado com organizações de esquerda em 1934: ''Declarei solenemente a guerra contra o judaísmo organizado. É o judeu o autor de tudo. (…) Fomos agora atacados, dentro de São Paulo, por uma horda de assassinos, manobrados por intelectuais covardes e judeus. Lituanos, polacos, russos, todos semitas, estão contra nós''.

Nunca renegou pensamentos como esse.

Seus 8,3%, obtidos numa campanha que reuniu numerosos veteranos do integralismo, foram decisivos para a eleição, em que inexistia segundo turno. Juscelino Kubitschek, de centro, venceu com 35,7%. Juarez Távora, de direita, alcançou 30,3%. Se a direita extremada que se mobilizou em torno de Plínio tivesse apoiado Juarez, é provável que a história tivesse sido outra.

Os 8% pró-Bolsonaro, mais abertamente fascista que o Plínio Salgado de 1955, representam uma força considerável. Não devem ser ignorados.

Mas tal ameaça à democracia já ocorreu no Brasil, sem prosperar, pelo menos nas urnas _Plínio Salgado (1895-1975) foi grande incentivador da ditadura imposta pelos tanques em 1964.

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Em todo o Brasil, Fiesp segue torrando dinheiro para aprovar impeachment
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Mário Magalhães

blog - fiesp anuncio o globo 23 abr 2016

Jornal ''O Globo'', 23.abr.2016

 

Veterana de causas liberticidas como o golpe de Estado de 1964, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo segue torrando dinheiro na campanha pela deposição de Dilma Rousseff.

No dia 29 de março, a Fiesp integrara uma gorda coalização de entidades empresariais em anúncio gigantesco pró-impeachment, como anotou o blog.

No sábado, a agremiação presidida por Paulo Skaf bancou sozinha mais propaganda. Aqui no Rio, vi no ''Globo''. No domingo, Skaf foi recebido por Michel Temer.

A Fiesp divulgou o que supõe ser digno de elogio: o voto de deputados do Rio pró-impeachment. Incluindo Pedro Paulo, que na antevéspera tentava explicar o inexplicável, o desabamento da ciclovia que matou ao menos duas pessoas.

Além do atávico apetite golpista, o que chamou a atenção foi a federação paulista veicular alhures anúncio tratando exclusivamente de deputados do Estado do Rio. Nem a Firjan, o clube dos industriais locais, associou-se à publicação. E isso que está na mesma trincheira, a da derrubada da presidente constitucional.

Não é a primeira vez que a Fiesp age assim na cruzada de 2016 contra a soberania do voto popular.

Ao fundo, ecoa a voz do deputado Paulinho da Força, possível ministro do Trabalho em eventual governo Temer: ''Tem muita gente querendo financiar esse negócio do impeachment''.

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