Blog do Mario Magalhaes

Bandeira ano 1968, Marcelo Caetano e general Etchegoyen: o passado voltou
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Mário Magalhães

blog - bandeira brasil temer

Reprodução ''Folha de S. Paulo'', 17.mai.2016

 

Marcello Caetano (1906-1980) foi o derradeiro ditador de Portugal, derrubado pela Revolução dos Cravos em 1974.

Marcelo Caetano é o nome do secretário da Previdência anunciado hoje.

O general Etchegoyen (1925-2003) integrou e comandou órgãos repressivos da ditadura, como registrou a Comissão Nacional da Verdade.

O general Etchegoyen é o novo chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

O primeiro, repressor, era Leo Guedes Etchegoyen. Pai de Sérgio Westphalen Etchegoyen, ministro.

A bandeira do Brasil que vigorou de 1960 até 1968, ano do Ato Institucional nº 5, tinha 22 estrelas.

A atual tem 27.

Mas o logotipo do governo Michel Temer adotou a abolida há 48 anos.

Ponte para o futuro?

Para o passado, até nos símbolos e coincidências.

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Vêm aí alianças com as quais ninguém contava
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Mário Magalhães

blog - lacerda com jango f e f

''Fatos & Fotos'', 7 de outubro de 1967

 

O noticiário do dia confirma a muita sede com que Michel Temer vai ao pote, como mencionado ontem aqui:

* o ministro da Saúde fala em rever direitos no SUS (castigando os pobres);

* o ministro das Relações Exteriores prepara o fechamento de embaixadas na África (para um governo sem ministro negro, até que combina);

* o ministro da Fazenda, se não prosperar o plano de introduzir a CPMF, aumentará a contribuição sobre os combustíveis (a campanha do impeachment foi feita também em defesa de carga tributária menor);

* Michel Temer cria grupo de trabalho para discutir a reforma da Previdência (a fim de subtrair direitos e conquistas, e não ampliá-los);

* o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário afia a guilhotina contra 10% dos cidadãos que recebem o Bolsa Família (sem hipocrisia, o nome seria Ministério do Retrocesso Social e Agrário);

* um advogado e um assessor de Eduardo Cunha são nomeados para postos estratégicos no Palácio do Planalto (sem comentários).

Há outras novidades, mas não roubarei demais o tempo alheio.

Em vez de ferir a conta-gotas garantias sociais e rasgar as promessas de anteontem, o novo governo colocou em cena um trator para impor tudo de uma vez.

São muitos os estratos sociais alvejados por Temer, todos ao mesmo tempo. Dos miseráveis e pobres até a classe média.

Temer é de uma ousadia, sem trocadilho, temerária _para os interesses que representa.

Não vai demorar e estarão lado a lado nas ruas e nas redes sociais quem até pouco tempo atrás trocava insultos.

Não será reviravolta inédita.

Em 1964, o governador Carlos Lacerda foi o grande arauto do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart.

Lacerda chamava-o de ladrão e coisa pior.

Jango o qualificava como golpista e pronunciava impropérios cabeludos.

Acabaram juntos, na Frente Ampla, de 1966 a 1968. Com outro ex-presidente, Juscelino Kubitschek.

Se Goulart e Lacerda foram capazes de se aliar contra um inimigo comum, a ditadura, agora será mais fácil adversários se unirem, contra Michel Temer.

Mesmo que muitos partidários de trincheiras mais aguerridas venham a recusar as alianças, muitas delas, surpreendentes, estão a caminho.

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Em revista de jornal, 44 personagens. Todos brancos
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Mário Magalhães

Imagem: reprodução letras.mus.br

 

Revista de jornal, domingo, 44 personagens. Incluindo fotinhos de colunistas e imagens de pessoas retratadas em reportagens.

Todos brancos.

Que país é esse? Não é o Brasil.

Antes que perguntem qual foi minha leitura, esclareço que há oito anos abandonei o exercício profissional de crítica de jornalismo.

E a questão é de ideias, não de autoria.

Depois o pessoal culpa a internet pela fuga de leitores…

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Lentidão limita chances do Flamengo
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Mário Magalhães

Ainda bem que vencemos – Foto Rudy Trindade/Framephoto

 

Se o Flamengo ambiciona mais que permanecer na primeirona, precisa melhorar muita coisa.

A vitória de 1 a 0 sobre o Sport na estreia pelo Campeonato Brasileiro, mais do que bom, foi um baita resultado. Porque o time está devagar quase parando.

Ao pé da letra. A demora para a bola alcançar o ataque é tamanha que no tempo desperdiçado até o Rubinho daria umas três voltas em Interlagos.

É o que o pessoal, para bancar o entendido, chama de ''transição lenta''. Uma eternidade para sair de trás e chegar à frente.

A equipe está vagarosa demais. Facilita a defesa adversária. Desperdiças chances de contra-atacar com perigo.

Everton e Emerson podem até dar uma boa dupla sertaneja, mas velocidade não têm.

Com todas as limitações técnicas, Marcelo Cirino oferece vantagens. A principal delas é a rapidez de velocista.

Outro problema notório é que muita gente está devendo. No sábado, foi frustrante o desempenho do Mancuello, jogador talentoso.

Muricy tem de avisar: se o rubro-negro em alguns momentos marcará a saída de bola, a tarefa não é para um ou outro, e sim coletiva. Guerrero e Emerson receberam amarelos por faltas no campo rival. Marcavam sozinhos e atabalhoados.

Com o Sport mais fraco que no ano passado, e um a menos em quase meia partida, o Flamengo pouco foi ameaçado.

Mas contra oponentes mais fortes deveria se preocupar com um dos maiores erros nesta temporada: a distância dos jogadores uns dos outros, ou, como dizem, falta de compactação.

Esse desarranjo foi responsável neste ano por um sem-número de dificuldades de Juan e Wallace, que foram obrigados a encarar sozinhos muitos atacantes.

A torcida pegou no pé do Wallace, o bode expiatório que ainda na sexta pediu para sair (o jovem Leo Duarte entrou bem). Acho que o problema é do time, e não dele.

Sem proteção, podem montar zaga Baresi-Gamarra ou Hummels-Domingos da Guia, que os defensores ficarão expostos.

Dias melhores virão. Mais prognóstico ou vontade?

Vontade, é claro. De rever uma atuação como a do primeiro tempo do Fla-Flu, a melhor em 2016.

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Nunca houve no Brasil primeira-dama tão linda quanto Maria Thereza Goulart
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Mário Magalhães

Foto acervo Folhapress

Foto reprodução ''O Dia''

Foto reprodução ''Gazeta Online''

Reprodução ''Blog do Gerson''

Beleza. Dona Maria Thereza Goulart, casada com o presidente Jango

Foto reprodução ''O Globo''

 

A expressão ''primeira-dama'' foi consagrada no tempo em que o exercício do poder era exclusivo dos homens.

Démodé? Certamente, pois mulheres governam mundo afora, a despeito da desigualdade de gênero permanecer _no Brasil, aumentar…

Voltamos a ter uma primeira-dama. Deixo, por um instante, de observar se legítima ou não.

Só não resisto a discordar de uma incansável turma de bajuladores: não, a jovem senhora bela, recatada e do lar não é a primeira-dama mais bonita que o Brasil conheceu.

Porque nunca houve uma tão linda quanto Maria Thereza Fontella Goulart.

Se estiver correta a data de nascimento informada na internet, a gaúcha tinha 23 anos quando golpearam seu marido, o presidente constitucional João Goulart.

Jango e Maria Thereza partiram com os filhos para o exílio.

Mulher de coragem, a Maria Thereza, que hoje vive no Rio.

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Na decadência das touradas, Espanha legaliza novo lazer: caçada ao Neymar
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Mário Magalhães

Neymar recebeu 8,5 milhões de euros (R$ 35 milhões) somente de bônus pela transferência ao Barça, em 2013

Contra ele, violência liberada – Foto Alberto Saiz/AP

 

Não me refiro à notícia de que um torcedor descerebrado do Granada tentou agredir Neymar na invasão do sábado em seguida ao jogo.

Falo do que ocorreu em campo, nos 3 a 0 que consagraram o Barcelona campeão espanhol.

Ninguém apanha tanto no futebol quanto Neymar vestindo a camisa blaugrana.

Mais do que ele, só se uma dessas naves que a Nasa manda para o espaço descobrir em outro planeta.

E ninguém é tão liberado para bater em Neymar como seus adversários na Espanha.

Parece que são inimputáveis.

Foi uma vergonha o que aconteceu anteontem.

As divididas autênticas são poucas. Entram com as botinas levantadas contra o brasileiro. Acertam-lhe pé, tornozelo, calcanhar, joelho.

Quando muito, e olhe lá, vê-se um cartãozinho amarelo. Mesmo esse é raro.

Há décadas as touradas na Espanha amargam a decadência. Há lugar onde são proibidas.

Pelo visto, criaram novo lazer: a caçada ao Neymar.

Sem repressão, está autorizada. Com o incentivo dos apitadores fuleiros.

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Por que Temer vai com tanta sede ao pote? Por não recear governo impopular
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Mário Magalhães

Temer: ''mundo feminino'' sem vez no Ministério – Foto Adriano Machado/Reuters

 

Quinze dias antes de Michel Temer anunciar o nome dos seus ministros, o blog alertou para a possível ausência de mulheres (''Vice de presidente mulher, Temer escala clube do Bolinha para governar''). Mas cometeu um erro, anotando: ''É claro que, na última hora, se o impeachment prosperar, alguém alertará que pega mal o Ministério sem mulher''. Ignoro se o advertiram. O certo é que Temer montou o primeiro escalão exclusivamente masculino, em ato obscuro que não ocorria desde a década de 1970, na ditadura.

A entrevista de Temer ao ''Fantástico'' permitiu entender por que as coisas se passaram assim. O capo peemedebista disse: ''Não é a minha intenção [ser candidato]. Aliás, não é a minha intenção, e é a minha negativa. Eu estou negando a possibilidade de uma eventual reeleição, até porque isso me dá maior tranquilidade, eu não preciso praticar gestos ou atos conducentes a uma eventual reeleição. Eu posso ser até _digamos assim_ impopular, mas, desde que produza benefícios para o país, para mim é suficiente''.

Essa declaração é tão relevante quanto outra, que descortina a cabeça anacrônica de Temer: ''Para a Cultura eu quero trazer uma representante do mundo feminino. Para a Ciência e Tecnologia e Comunicações, quero trazer uma representante do mundo feminino''.

Em pleno século 21, o senhor hoje sentado na cadeira de presidente não fala ''mulher'', mas ''mundo feminino''. O veto a mulheres no Ministério autoriza especular que Temer identifica o governo, ao menos os mandachuvas, como prerrogativa do ''mundo masculino''.

Ao reconhecer que não receia a impopularidade, Michel Temer esclarece comportamento surpreendente mesmo para quem previa os retrocessos sociais ensaiados por sua administração. Vendido como político habilidoso por seus aduladores, Temer parece ir com muita sede ao pote. Prepara a retirada de direitos dos trabalhadores e dos mais pobres sem se assustar com a evidente oposição que sobrevirá. Está explicado: ele pode ''ser até impopular''.

Temer aparenta supor que reúne condições políticas para mimetizar Mauricio Macri, o presidente argentino que desenvolve uma política econômica ultraliberal. Existe, contudo, contraste escancarado entre os dois: o argentino foi legitimado pelo voto popular; o brasileiro, não _seus sufrágios foram para vice, e ele se tornou presidente ilegítimo, sem que a antecessora tivesse cometido crime.

O ''Globo'' nesta segunda informa que o novo governo prepara, a pedido do agronegócio, a revogação de atos derradeiros de Dilma Rousseff: desapropriação de terras para reforma agrária, criação de reservas indígenas… Quer mexer também no marco civil da internet.

Na ''Folha'', a repórter Mônica Bergamo escreve que Temer estuda criar fórmula para mudar critérios de reajuste nos benefícios da Previdência. Prejudicando, é evidente… precisa dizer quem?

Vem aí a CPMF, tão bombardeada pelo PMDB quando na oposição a Dilma.

E outros pacotes, revisando a CLT em favor dos patrões.

Tornando mais complicada a vida dos aposentados.

Privatizando os Correios e tudo o que for possível privatizar. À frente das transações, Moreira Franco. Aquele mesmo em cujo governo no Estado do Rio foram flagradas concorrências públicas armadas.

Outros gestos não são aguardados _já foram implementados.

Temer acabou com o Ministério da Cultura, o que o torna historicamente mais retrógrado que seu correligionário José Sarney.

Suprimiu as pastas que combatiam mazelas seculares, como desigualdade racial e violações dos direitos humanos.

Nomeou para a Justiça um ex-secretário de Segurança que chefiou polícia intolerante e violenta com quem protesta.

Para o Gabinete de Segurança Institucional, convocou um general-de-exército saudosista da ditadura.

Escalou para a Indústria um político que nada sabe sobre o setor industrial.

O Ministério é tomado por investigados ou candidatos a serem investigados pela Operação Lava Jato. A mesma condição de Temer.

O ''Ministério de notáveis'' era mais uma cascata da coalização que chegou ao poder.

Para órgão de fiscalização e controle, vai amigo de amigo do PMDB, o que dispensa explicações.

Seria ingenuidade considerar que Temer não gostaria de ser imensamente popular e se submeter às urnas em 2018 _hoje ele tem 2% de intenção de voto.

Mas suas atitudes referendam o discurso. Temer minimiza a repercussão popular do que faz.

Pega mal excluir mulheres? ''E daí?''

Conta com a máquina de propaganda que contribuiu decisivamente para sua ascensão.

Indica que suas preocupações se concentram no Congresso, e não nas ruas.

Como se, do lado de fora dos palácios e plenários, a história tivesse terminado.

Não terminou.

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Memórias da sessão do Senado: anotações para um livro que nunca escreverei
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Mário Magalhães

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No discurso, Collor citou Ruy Barbosa. Ruy Barbosa! – Foto Ueslei Marcelino/Reuters

 

Anotações sobre a sessão do Senado de 11 e 12 de maio de 2016, a que depôs a presidente constitucional Dilma Rousseff (formalmente, afastou-a por até 180 dias):

* O senador Acir Gurgacz, de Roraima, encheu o peito para pronunciar o nome de Leonel Brizola (1922-2004) , fundador do seu partido. Governador do Rio Grande do Sul, Brizola comandou a resistência ao golpe de Estado em 1961, em seguida à renúncia de Jânio Quadros. Tentaram impedir que o vice, João Goulart, assumisse a Presidência. Brizola foi à luta. Passaria quinze anos no exílio, perseguido pela ditadura instaurada pelo golpe de 1964. Em 1961 e 1964, o gaudério de Carazinho batalhou pela soberania do voto popular. Depois de mencioná-lo, o senador Gurgacz votou… a favor do impeachment! Brizola tremeu no túmulo.

* O senador Aécio Neves citou seu avô Tancredo. Em 1954, contra o golpe, o ministro Tancredo Neves (1910-1985) permaneceu ao lado do presidente Getulio Vargas até o fim. Em 1964, recusou-se a acompanhar a maioria dos seus correligionários e não sufragou o marechal Castello Branco para o Planalto, no simulacro de eleição promovido pelo Congresso. Nos dois episódios, manteve-se fiel às urnas. Contra golpes. Seu neto apoiou o impeachment que rasgou 54.501.118 votos. Em comum com o avô, Aécio parece ter somente o sobrenome.

* O senador Fernando Collor de Mello citou Ruy Barbosa (1849-1923). Collor, o próprio, referiu-se a Ruy Barbosa! Collor disse sim ao impeachment _o de Dilma…

* Assim que acabou o discurso de Fernando Collor, Renan Calheiros afagou-o com elogios e mesuras. A República de Alagoas vive e luta.

* O senador Magno Malta disse que o país de que tem saudade é o que ministrava OSPB na escola. Essa maldição, Organização Social e Política Brasileira, era uma matéria com o propósito de propagandear a ditadura. Por isso os liberticidas a introduziram no currículo. Também fui obrigado a assistir às mentiralhadas e baboseiras de OSPB. Ao contrário do senador Malta, não tenho saudade da ditadura e de OSPB. Magno Malta votou pró-impeachment.

* Falando em ditadura, o senador Edison Lobão, ex-deputado federal da Arena, associou-se à conspiração contra Dilma (de quem foi ministro).

* Nem só de apoiadores da ditadura se fez a sessão. Em seu voto contra o golpe, a senadora Fátima Bezerra evocou conterrâneos do Rio Grande do Norte assassinados pelos velhos agentes da repressão.

* A Ação Libertadora Nacional ''rachou'' no Senado. Dois ex-guerrilheiros da organização fundada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira escolheram lados opostos. Aloysio Nunes Ferreira fechou com a deposição da presidente. João Alberto Capiberibe foi contra.

* Nos anos 1920, os tenentes empreenderam levantes e movimentos contra quem chamavam de ''políticos carcomidos''. A sessão no Senado deu impressão de que o tempo não passou e estacionamos um século atrás.

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Último presidente dado a mesóclises foi Jânio Quadros. Golbery era fã delas
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Mário Magalhães

Foto de Jânio Quadros, em 1954, de autoria do grande Chico Albuquerque/Divulgação

 

A certa altura do discurso de ontem, Michel Temer saiu-se assim: ''Como menos fosse sê-lo-ia pela minha formação […]''.

Empregou mesóclise, definida pelo ''Houaiss'' como ''colocação do pronome oblíquo átono entre o radical e a desinência das formas verbais do futuro do presente e do futuro do pretérito (p.ex.: vê-lo-ei, contar-me-ás)''.

Temer poderia ter dito de maneira mais clara o que quis dizer, mas isso é com ele.

Duas anotações históricas.

Até onde a memória alcança, o último presidente dado a mesóclises foi Jânio Quadros, que assumiu e renunciou em 1961. A renúncia foi manobra para um golpe de Estado que não prosperou. ''Fi-lo porque qui-lo'', dizia Jânio, ao menos lhe atribuíam tal tirada que contém erro gramatical. Pinguço notório, teria explicado por que bebia com disposição: ''Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia''.

O general Golbery do Couto e Silva, prócer da ditadura, também era vidrado numa mesóclise.

Não era exclusivo da turma mais à direita o recurso à mesóclise. Ela estava incorporada à língua de tribunos considerados cultos.

Parece-me elegante, mas ouvindo velhas gravações do século 20. No 21, cheira a mofo. Cheira e é.

No ''sê-lo-ia'' da pregação temeriana _ou temerosa ou temerária_, um retrato do governo que querem impor ao Brasil.

Pela primeira vez desde a ditadura, nenhum ministro é mulher. Só ministro, sem ministra.

No aniversário dos 128 anos da Abolição, nenhum ministro negro.

Para ministro do Gabinete de Segurança Institucional,  o general Sérgio Etchegoyen, saudosista da ditadura.

Em comparação com tamanho anacronismo, a mesóclise passadista é o de menos.

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