Blog do Mario Magalhaes

Uma pergunta a Michel Temer: o sr. apoia Pedro Paulo para prefeito do Rio?
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Mário Magalhães

Michel Temer – Foto Fernanda Carvalho/O Tempo/Folhapress

 

Cercado de secretários estaduais de Segurança, quase todos homens, Michel Temer, cujo Ministério não tem uma só mulher, disse hoje: ''Neste momento, o que estamos assistindo é uma onda crescente de violência em diferentes setores, em especial contra a mulher. […] É necessário minorar esse mal que afeta enormemente a nossa sociedade, que se avexa, se acanha, se constrange com fatos dessa natureza''.

Temer anunciou a formação de um Núcleo de Proteção à Mulher, subordinado ao Ministério da Justiça.

O pré-candidato do PMDB, partido de Temer, a prefeito do Rio é o secretário municipal Pedro Paulo.

Ajudando Temer a chegar ao Planalto, o secretário retomou o mandato de deputado federal a fim de votar a favor do sinal verde para o impeachment da presidente constitucional Dilma Rousseff.

Pedro Paulo, conforme registros e depoimentos, agrediu a ex-mulher.

Uma pergunta bem objetiva a Temer: o senhor apoia a indicação de Pedro Paulo para concorrer pelo PMDB à Prefeitura do Rio?

Perguntar não ofende.

O que ofende é a hipocrisia.

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Qual das duas cenas dá mais saudade à mulher que disse ‘volta pra senzala’?
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Mário Magalhães

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No derradeiro quarto do século 19, um quilombo abolicionista nasceu numa colina do Rio e se tornou conhecido como Quilombo do Leblon. Hoje um clube funciona no mesmo lugar, no chamado Alto Leblon.

Quase um século e meio depois do Quilombo do Leblon, o bairro testemunhou no sábado uma cena dos tempos de casa grande e senzala.

A dona de casa Maria Francisca Alves de Souza dirigiu-se furiosa ao gerente do Zona Sul, contrariada porque um funcionário do supermercado não pôde sair do caixa e fazer uma compra para ela.

De acordo com testemunhas, pronunciou as seguintes frases: ''Volta pra senzala!''; ''Volta pro quilombo!''

O gerente é negro.

O repórter Daniel Tarqueta chegou em seguida e fez um vídeo valioso. A mulher foi presa por injúria racial.

Ali, na calçada da rua Dias Ferreira, Maria Francisca alegou que exaltara a raça negra: ''Olhem as senzalas das telas de Debret''; a menção ao quilombo seria reverência a Zumbi dos Palmares.

É possível supor o que a senhora sugeria com o regresso às senzalas documentadas pelo artista francês Jean-Baptiste Debret em sua longa temporada, 1816 a 1831, no Brasil escravagista.

Seus desenhos, pinturas e gravuras retratam o cotidiano dos africanos escravizados e seus descendentes.

A aquarela sobre papel, no alto do post, intitula-se ''Um jantar brasileiro''. Debret escreveu: ''No Rio de Janeiro e em todas as outras cidades do Brasil, é costume, durante o tête-à-tête de um jantar conjugal, que o marido se ocupe silenciosamente dos seus interesses e a mulher se distraia com os seus negrinhos, que substituem a raça dos cachorrinhos 'Carlins', quase extinta na Europa. Esses molecotes, mimados até a idade de cinco ou seis anos, são em seguida entregues à tirania dos outros serviçais, que os domam a chicotadas e, assim, obrigam-nos a compartilhar as penas e os desgostos do serviço''.

A outra ilustração mostra como o pau-de-arara, instrumento empregado em tortura nos séculos 20 e 21, é herança longeva da escravidão.

A vida na senzala era o interregno entre a condição de bicho de estimação de madame, as sessões de açoite em que os feitores castigavam os escravos e o trabalho árduo que enriquecia bolsos alheios.

De qual das duas imagens de autoria de Debret a mulher do Leblon tem mais saudade?

Para ter saudade, não é preciso ter vivido. Basta querer ter vivido.

O episódio do sábado evidencia que, para muita gente, o Brasil tem que se eternizar como terra de senzalas e casas grandes.

De algum modo, tamanha a desigualdade, o país ainda reproduz a velha época.

No Quilombo do Leblon, plantavam camélias, símbolo do movimento pela Abolição.

Caetano Veloso e Gilberto Gil, numa canção recente, cantam o quilombo de outrora e dizem que ''as camélias da segunda abolição virão''.

P.S.: as duas obras acima foram pescadas do livro ''Debret e o Brasil: Obra completa – 1816-1831'', de Julio Bandeira e Pedro Corrêa do Lago, Capivara Editora.

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O que a audiência a Alexandre Frota tem a ver com o estupro coletivo no Rio
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Mário Magalhães

Frota, ''Mendoncinha'' e um líder pró-impeachment – Foto reprodução internet

 

A princípio, nada, responderia um idiota da objetividade.

Não é bem assim.

Uma adolescente de 16 anos contou que acordou nua domingo no Rio com dezenas de homens ao seu redor. ''Mais de 30 [a] engravidou [sic]'', contabilizou um deles na internet, onde foi veiculado vídeo em que o grupo de agressores se regozija com o estupro da garota.

Na quarta-feira, o ator Alexandre Frota foi recebido em audiência pelo ministro da Educação, Mendonça Filho. Um dos líderes do movimento pró-impeachment acompanhava o protagonista de filmes pornô. Frota escreveu: ''Estive com o ministro da Educação hoje e pude colocar algumas ideias para ajudar um país que eu amo''. Das ditas ideias constam sugestões fascistoides, inspiradoras da lei que, na terra de Zumbi dos Palmares, permite demitir professor que criticar a escravidão.

Há erros de foco nas críticas ao encontro no Ministério. Elas se salpicam de moralismo ou falso moralismo, devido à atividade profissional do ator. A despeito de o cidadão Frota ser porta-estandarte de valores e atitudes abomináveis, o escândalo mais grave não é dele, e sim de um dos principais mandachuvas do governo Michel Temer.

Mendonça Filho aceitou recepcionar um sujeito que se gabou na televisão por ter feito sexo sem consentimento com uma mãe de santo. Desprezando o eufemismo, estuprando-a. Narrou a ''façanha'' diante de gargalhadas do apresentador Rafinha Bastos, aplausos da plateia e urros de admiração nas redes. Ao ser violentada, a mulher desmaiou. Mais tarde, Frota alegou que o relato não passara de ficção, um número de show. Mas, na TV, esclarecera a natureza do ''espetáculo'': ''Eu contando várias histórias que aconteceram na minha vida''.

Ao reagir a uma servidora pública que o censurou, o ator deu queixa à polícia e publicou na internet, em tom de ameaça: ''Você não precisa se desgastar, ativista de merda. Só eu vou falar. Não tenho medo de ativista, de Ministério Público. Não me intimido com você, nem com sua amiguinha nojenta. Se precisar serei, sim, fundamentalista, homofóbico, a porra que for, mas essa onda você não vai surfar. (…) Estou aqui esperando o camburão. Não veio me buscar até agora. Ativista aproveitadora. Enquanto sua página em 43 dias conseguiu 6 mil curtidas, a minha, em 48 horas, teve 11.600 de apoio. Veja bem, o dobro. Eu nunca vou te esquecer. Essa página foi criada para que você sempre se lembre de mim”.

Foi tal ser medieval, protagonista desse episódio conhecidíssimo, de vasta repercussão, que o ministro atendeu de braços abertos. São chapas, companheiros da campanha pelo impeachment da presidente constitucional Dilma Rousseff. Prestigiando Frota, Mendonça Filho endossa a cultura de permissividade. Permissividade com a barbárie, com a cultura do estupro. A cultura em que a mulher é sempre considerada culpada. Como já se observa em manifestações cretinas responsabilizando a jovem pelo crime de que foi vítima.

Prócer do DEM, Mendonça Filho é o tal ''Mendoncinha'' citado por Renan Calheiros em conversa gravada por Sérgio Machado. O ex-presidente da Transpetro sentenciou: ''Um cara mais corrupto que aquele não existe, Pauderney Avelino''. Renan emendou: ''Pauderney Avelino, Mendoncinha''.

O tapete vermelho oferecido a Alexandre Frota é um recado ao Brasil: faça o que fizer, diga o que disser, este governo estará ao seu lado. O ministro dá exemplo. Valoriza quem se vangloria e ri por ter feito o que fez ou falado que fez. Os algozes da adolescente também riram e se vangloriaram. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos.

Em meio ao barulho provocado por tamanhas insensatez e covardia, a Secretaria dos Direitos Humanos mantém o silêncio sobre a audiência a Alexandre Frota. Ao aceitar o cargo de secretária, Flávia Piovesan chancelou o rebaixamento do status do Ministério, que virou secretaria. Pelo visto, não foi o único rebaixamento. Noutros tempos, Piovesan teria repudiado a presença do ator no Ministério da Educação.

Também noutros tempos, nem tanto tempo assim, a confraternização entre o ministro da Educação _da Educação!_ e Alexandre Frota teria merecido primeiras páginas e ao menos menção nos noticiários televisivos noturnos.

Noutros tempos.

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Pacote antissocial de Temer estimula confronto
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Mário Magalhães

Com arrocho de Temer, o de Dilma será lembrado como arrochinho – Foto Danilo Verpa

 

Bola cantada, Michel Temer e Henrique Meirelles anunciaram o mais duro pacote antissocial do século 21.

Como previsto, o arrocho de Dilma Rousseff, comparado ao que o sucedeu, passará à história como arrochinho.

Mantendo o tom dessas duas semanas de governo, Temer vai com muita sede ao pote, sacrificando sobretudo os mais pobres.

Talvez seja só o aperitivo, a depender do que virá depois das eleições municipais.

O conteúdo social das medidas pode ser aferido no contraste entre os aplausos de entidades empresariais e a reação dos sindicatos de assalariados _ao menos os não pelegos.

O pacote ataca por todos os cantos, sem poupar frentes e vítimas.

À sua maneira, estimula confrontos, atiça conflitos, provoca quem perde com ele.

Arrochos dessa natureza pressupõem força.

Em 1964, o marechal Castello Branco implantou um implacável. Tinha a força dos tanques.

Há pouco, na Argentina, o presidente Mauricio Macri fez a mesma coisa. Ele tem a força política dos votos que o elegeram.

Temer não tem nem tanques nem teve votos.

Conta com um Congresso até aqui submisso e uma máquina de propaganda vigorosa.

Fala em ''tranquilidade institucional'', depois de ter conspirado para depor a presidente constitucional.

Cerca-se de investigados e suspeitos de um sem-número de bandalheiras.

Quem apostou na lorota segundo a qual o afastamento de Dilma ''pacificaria'' o Brasil errou feio.

O clima permanece muito quente.

Outono e inverno só existem nos termômetros.

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Pior para Fla seria pensar pequeno, rebaixar ambições e adotar futebolzinho
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Mário Magalhães

Em 2009, no Maracanã, campeão brasileiro – Foto Ricardo Nogueira/Folhapress

 

Em crise, o Flamengo joga logo mais contra a Chapecoense, pelo Campeonato Brasileiro.

O time não engrena, enquanto os cartolas batem cabeça, os gestores não se entendem e Muricy convalesce de uma arritmia cardíaca.

O técnico não sabe se permanecerá no clube ou se vai cuidar da saúde com mais atenção.

Com ou sem Muricy, o pior que pode acontecer ao Flamengo é pensar pequeno, rebaixar ambições e adotar um futebolzinho de resultados.

Desgraçadamente, foi isso o que se viu domingo em Porto Alegre.

A derrota para o Grêmio por 1 a 0 não foi vexatória, os jogadores lutaram, vestiram com dignidade o manto.

O problema foi a mensagem das mudanças efetuadas por Jayme de Almeida.

Ao apostar em Márcio Araújo, Éverton e Gabriel, o regra-três de Muricy reeditou fórmula de anos passados, quando o Flamengo olhou mais para baixo do que para cima da tabela.

Mancuello e Willian Arão, contratados neste ano, são mais jogadores.

Idem o meia-atacante Ederson, que não deveria jogar como centroavante-centroavante, posição que não é a sua e na qual não se dá bem. Fica de costas para o gol adversário.

Jayme preferiu domingo a escalação com marcadores mais eficientes, embora com menos talento ofensivo.

Ocorre que Willian Arão e Mancuello podem desempenhar funções defensivas muito bem, desde que haja treinamento e plano para isso.

A zaga desprotegida é mais consequência de problema tático do que de escalação.

O time que entrou em campo no estádio-arena tricolor sugere rendição pragmática à mediocridade.

É o tal ''futebol de resultados'', que nunca funcionou.

Os campeões costumam ser bons ao defender, mas, com maior ou menor vocação, não abdicam do ataque. Conquistam grandes resultados, sem aspas.

Equipe que entra desequilibrada, só pensando em não levar gol, acaba se lascando.

Bem como as que só querem atacar e abandonam os zagueiros à própria sorte.

O triunfo do Flamengo em 2009, campeão nacional, decorreu de aplicação coletiva que resultou num time melhor do que a soma dos jogadores.

Ainda que dois deles, no canto de cisne das carreiras, tenham sido decisivos: Petkovic e Adriano.

Deixar Willian Arão (que jogará à noite) e Mancuello na reserva é erro.

Idem Marcelo Cirino, melhor do que Gabriel.

E valeria insistir na combinação de Mancuello e Ederson (ou Alan Patrick) pela esquerda.

Contra a Chapecoense, é possível vencer mesmo com o espírito exposto em Porto Alegre.

No resto do ano, contudo, seria aceitar a condição mediana, de não-fede-nem-cheira, de não cai para a segundona, mas não disputa o título.

Pensar pequeno pode servir a outros, não ao Flamengo.

Pode ser que o sonho de um futebol à Barcelona tenha morrido.

Mas não precisa se inspirar no passado frustrante dos anos recentes.

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História: livro ‘Um mundo coberto de jovens’ conta lutas contra ditadura
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Mário Magalhães

O professor Lobão e o livro – Foto Antonio Scarpinetti/Portal Unicamp

 

Em tempo de Brasil conflagrado, acaba de sair ''Um mundo coberto de jovens'', viagem às lutas contra a ditadura que vigorou de 1964 a 1985.

O livro convida a conhecer refregas do passado e permite compará-las às de hoje, identificando ou não semelhanças expressivas.

Escrevem depoimentos e ensaios quem esteve lá, nas trincheiras das ideias e, alguns, também nas armadas.

Autores como Antonio Candido, Carlos Alberto Lobão Cunha, Walnice Nogueira Galvão, Joel Rufino dos Santos (morto em 2015), Boris Schnaiderman (recém falecido) e Ligia Chiappini. Todos passaram pela USP.

A organização é de Benjamin Abdala Júnior. A edição, uma parceria da Com-Arte e da Edusp. ''Um mundo coberto de jovens'' é o sétimo volume da coleção ''Memória militante''.

O livro pode ser comprado na Edusp, escrevendo para eduspliv@usp.br

A seguir, o blog reproduz reportagem publicada pelo portal da Unicamp, com foco nos dois textos de autoria do geólogo Carlos Alberto Lobão Cunha.

Líder estudantil, guerrilheiro, preso político, opositor da ditadura, Lobão tem muita história para contar. Tomara que um dia escreva um livro.

*

Lobão, professor aposentado do Instituto de Geociências da Unicamp, escreve sobre período de resistência à ditadura militar

Por Patrícia Lauretti

Como se organizavam passeatas e protestos dos estudantes contra a ditadura militar, em 1966/67, no movimento que ficou conhecido como “setembrada” (1966); e a história dos “meninos da Glete”, como eram conhecidos na época, estudantes do curso de Geologia da Universidade de São Paulo (USP). Os dois temas são tratados pelo professor aposentado da Unicamp Carlos Alberto Lobão Cunha, no livro Um Mundo Coberto de Jovens, publicação da coleção “Memória Militante” da Editora ComArte em parceria com a Edusp e a Casa Rex de design gráfico. Trata-se do sétimo volume da coleção organizado por Benjamin Abdala Júnior. Além dos textos do professor Lobão, o livro reúne ensaios e depoimentos que traçam um panorama das discussões ocorridas dentro e fora das universidades brasileiras à época da ditadura.

Em 1967, um ano antes do Ato Institucional número 5 (AI-5), o geólogo que foi docente do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, era vice-presidente do Centro Paulista de Estudos Geológicos (Cepege), que funcionava, assim como o curso de Geologia,“na Glete”, como era conhecido o palacete da Alameda Glete com a Rua Guaianases, no bairro dos Campos Elíseos, em São Paulo. O texto “Os meninos da Glete” relembra a história da criação do Cepege e de como era a vida dos estudantes “da Geo”, um terço deles vivendo no Conjunto Residencial da USP (Crusp). Responsável por um banco próprio, que fazia pequenos empréstimos sem cobrar juros dos estudantes, um restaurante próprio, que chegou a fornecer comida para o Crusp e até um carnaval próprio – o Geo-samba -, o Cepege ficou dividido naquele ano pré AI-5.

“Em 1967 pelo menos três chapas disputaram a eleição. Tivemos uma diretoria completamente mesclada. O presidente era de direita”, escreve Lobão. Mesmo sob a pressão dos colegas “não solidários”, os “meninos” atuavam. “Estávamos sempre atentos ao destino dos nossos minérios que estavam sendo entregues às companhias norte-americanas. Especialmente após o golpe. Nas ruas, denunciávamos, insistentemente, que em 1964 tinha sido dado um golpe de estado, o que ainda não era consenso na sociedade”.

Especializaram-se, segundo Lobão, em fazer a segurança das passeatas, dos comícios – relâmpago, panfletagens, etc. No entanto o futuro da Glete, o lugar que abrigou o Cepege e tantas outras histórias foi o pior possível. “Que de mais ignominioso poderia acontecer do que sua transformação em uma delegacia de polícia em plena ditadura? Foi o que ocorreu”, narra.

Setembrada

“Para as ruas companheiros”, o outro texto do professor Lobão, detalha o trabalho das frentes que organizavam as passeatas contra a ditadura, especialmente a que ocorreu na primavera de “setembro ou outubro” no Anhangabaú. “Pessoas que não se conheciam necessariamente se encontravam em locais públicos previamente combinados, em horários precisos e, a partir desse contato, se deslocavam entabulando conversas ou mesmo se dirigindo para executar qualquer atividade. Quando os contatos não se conheciam, havia necessidade de senhas e contrassenhas de modo a garantir a segurança pessoal e a das próprias organizações – essencial durante a ditadura”, descreve em determinado trecho.

O movimento, que ocorreu em todo o Brasil, em 1966, foi chamado de “setembrada” pela imprensa na época. Juntavam-se ao movimento os alunos de universidades considerados “excedentes”, que eram aqueles que obtiveram médias para entrar na faculdade, porém estavam excluídos pela falta de vagas. “O ano de 1967 começou com centenas de excedentes no país inteiro, aproximadamente mil apenas em São Paulo”. As Frentes de Trabalho tinham o apoio de vários grupos de esquerda. “Corríamos contra o vento e contra o sentido do trânsito, muitas vezes aos milhares, e recebíamos o apoio da população, quer fosse com papel picado, quer fosse com aplausos e sorrisos”.

Histórias sobre o papel da União Nacional dos Estudantes, o rompimento com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a luta armada e a criação da Ação Libertadora Nacional (ALN) são apresentadas ao som de Beatles ou Caetano Veloso. “O ano tinha homenageado a todos com músicas com nome de mulher, devidamente premiadas em festivais: Gabriela, de Chico Maranhão, então aluno da FAU/USP; Margarida, de Gutemberg Guarabyra; e Carolina, de Chico Buarque. É… o ano da cabra era mesmo feminino. Que venha logo 1968, o ano do macaco! As Frentes estarão prontas para lhe receber”.

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Alergia a voto: na ditadura, eleição direta era subversão; hoje, é ‘golpe’
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Mário Magalhães

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Em maio de 1966, Juracy (com ipsilone) Magalhães era o ministro das Relações Exteriores da ditadura comandada pelo marechal Castello Branco. Em 1965, o governo instaurado em seguida ao golpe de Estado de 1964 havia instituído eleições indiretas para presidente. Falar em eleição direta constituía ''subversão'', disse Juracy em tom de ameaça.

Em abril de 2016, o ainda vice Michel Temer afirmou que diretas para o Planalto neste ano seriam ''golpe''. Ele amargava então 2% de intenção de voto para presidente, de acordo com o Datafolha. Driblando as urnas, participou da conspiração para depor Dilma Rousseff e a sucedeu.

2016 não é 1966, mas os anos separados por meio século guardam algumas semelhanças, como evidenciam as notícias reproduzidas acima, de ''O Globo'' e ''Estado de Minas''.

A demonização do voto popular, por exemplo.

E presidentes que não foram sufragados pelos brasileiros.

Beneficiários da deposição de governantes constitucionais, Jango e Dilma.

Temer foi votado para vice. Como Dilma foi derrubada sem ter cometido crime, ele se tornou presidente ilegítimo.

Como ilegítimo era Castello Branco.

Pelo menos não intimidam hoje com o carimbo de subversivo quem defende a ideia democrática de que presidente se elege com o voto do povo.

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Intervalo entre gravação de Jucá e divulgação do áudio permitiu impeachment
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Mário Magalhães

Sem Jucá, Temer não seria presidente – Foto Pedro Ladeira/Folhapress

 

O intervalo entre a gravação de conversa entre os peemedebistas Romero Jucá e Sérgio Machado e a divulgação do áudio foi decisivo para o sinal verde ao impeachment na Câmara e no Senado.

Os diálogos ocorreram em março, informou o repórter Rubens Valente. A difusão ocorreu ontem, 23 de maio. Os deputados abriram caminho ao afastamento da presidente constitucional Dilma Rousseff em sessão no dia 17 de abril. Os senadores a retiraram do cargo em 12 de maio. É improvável que o julgamento definitivo de Dilma, previsto para os próximos meses no Senado, aprove sua recondução ao posto para o qual foi eleita por 54.501.118 cidadãos.

Como escancara a gravação, o PMDB bancou a deposição da presidente com o propósito de garantir a impunidade a investigados pela Operação Lava Jato. ''Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria'', disse o senador Jucá. Machado emendou: ''Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]''. Assim fizeram. Prevaleceu a ''solução mais fácil''.

Se os brasileiros soubessem de viva voz que, aos olhos do PMDB, era para isso que serviria o impeachment, é muitíssimo provável que não prosperasse a conspiração _agora com ares de irreversível_ contra Dilma.

A conversa foi gravada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Ele negocia com o Ministério Público delação premiada.

No futuro se saberá por que houve tanta demora entre a gravação e a sua revelação.

É possível que Sérgio Machado tenha preferido assegurar antes o que era mais importante ao seu correligionário Temer, a derrubada da presidente.

Ou que tenha entregue o que gravou a procuradores que teriam atrasado o vazamento.

Ou outra coisa.

Há muitíssimos aspectos graves nas afirmações de Romero Jucá, o breve ministro do Planejamento do governo Temer. Caiu ontem mesmo.

Mas poucos têm, nesse episódio, a relevância do tempo entre março-abril e março-maio que valeu o cartão vermelho a Dilma.

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