Blog do Mario Magalhaes

Cadê Cabral? Está em cana!
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Mário Magalhães

Sérgio Cabral: acabou a brincadeira?; atrás dele, o educador Júlio Lopes – Foto Carlos Magno/CCS

 

Outro dia o blog perguntava: ''Cadê Cabral?''

Desde hoje bem cedinho já se conhece a resposta: está em cana.

O ex-governador Sérgio Cabral foi preso pela Polícia Federal. Ele é investigado por falcatruas com verbas federais empregadas _ou que deveriam ter sido_ em obras públicas no Estado do Rio.

Cabral elegeu-se dez anos atrás com o apoio do ex-governador Anthony Garotinho.

Sucedeu a governadora Rosinha Garotinho.

Garotinho e Cabral romperam.

Agora, se reencontram.

Na cadeia.

Eis o post publicado em 6 de julho:

*

Cadê Cabral?

Não que sejam injustas as manifestações que se ampliam no Rio contra o governador licenciado Luiz Fernando Pezão e o governador em exercício Francisco Dornelles.

Mas elas não fazem justiça plena à história quando omitem ou subestimam a condição protagonista de Sérgio Cabral, o artífice supremo das políticas que empurraram o Estado à bancarrota, às vésperas dos Jogos Olímpicos.

A indigência descrita no decreto de calamidade pública assinado por Dornelles e sentida no cotidiano dos cidadãos é fruto do que o antigo governador semeou.

Foi Cabral quem indicou seu vice para sucedê-lo, bem como quem abençoou a chapa com Dornelles secundando Pezão. Indicara Eduardo Paes para concorrer à Prefeitura do Rio. Costurou os acordos que permitiram até há pouco a convivência desarmada entre os próceres do PMDB fluminense _ele, Paes, Pezão e o cada vez mais influente Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa.

Em vez aproveitar o boom do petróleo e outras commodities para o desenvolvimento social do Rio, Cabral viveu os dias de dinheiro farto em relações promíscuas com empresas privadas.

A farra na França com o empreiteiro Fernando Cavendish retratou o despudor.

As ditas delações premiadas de executivos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez informam a tabela que estimulava a excitação em convescotes como o parisiense: o governador embolsaria propina de 5% do orçamento nominal das obras públicas.

No Maracanã, em cuja reconstrução foi dilapidado R$ 1,2 bilhão, o agrado teria alcançado R$ 60 milhões.

A empreitada foi tocada pelas duas construtoras cujos funcionários agora denunciam corrupção de Cabral, mais a Delta de Cavendish.

Gente próxima a Sérgio Cabral vinha dizendo nos últimos tempos que tudo o que ele desejava daqui em diante era gozar a vida. Sem ambições políticas maiores, ao menos eleitorais.

Desde as Jornadas de Junho de 2013, quando centenas de milhares de pessoas o xingaram, o antigo governador sabe que suas possibilidades nas urnas se extinguiram.

Para emplacar na eleição de 2014, Pezão teve de esconder o padrinho. Só levou devido à rejeição de Marcelo Crivella, decorrente do vínculo do senador com a Igreja Universal do Reino de Deus.

Cabral tornou-se carente de votos, não de poder. O tipo sorridente que gargalhava com Lula articulou os votos da bancada do PMDB do Rio para defenestrar Dilma Rousseff.

Com Cavendish em cana, cresce o perigo para ele, que permanece entocado _e intocado. Já não circulava pelas ruas, por temer reações.

De vez em quando é lembrado. Na semana passada, professores da Uerj protestaram no Leblon em frente ao prédio onde mora o ex-governador. Gritaram ''não tem arrego/ você tira o meu salário/ e eu tiro o seu sossego''.

Não é esse, contudo, o tom geral. Dornelles exerce ou aparenta exercer o governo, Picciani pretende sucedê-lo num arranjo dias após a Olimpíada, Pezão luta para sobreviver. E Sérgio Cabral?

O ex-comunista, ex-tucano e eternamente dono de alma peemedebista continua sumido, sem se pronunciar sobre a ruína do Estado.

Ninguém é tão responsável por tantas desgraças como ele, ainda que os sócios sejam numerosos.

É hora de Sérgio Cabral falar.

E de responder à Justiça, para ser condenado ou absolvido.

Cadê Cabral?

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Prisão de Garotinho dificulta nomeação de sua filha Clarissa por Crivella
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Mário Magalhães

Crivella (PRB) foi eleito neste domingo e deve assumir a prefeitura no dia 1º de janeiro

Na festa da vitória, Crivella e, no canto à direita, Clarissa – Foto Júlio César Guimarães/UOL

 

A prisão do ex-governador Anthony Garotinho (PR) terá consequências na montagem do governo Marcelo Crivella (PRB).

O prefeito eleito do Rio pretende _ou pretendia_ contar com a deputada federal Clarissa Garotinho (PR) em sua administração, como secretária ou noutra função relevante.

Foi a filha de Garotinho quem costurou o apoio do seu partido a Crivella. A coligação multiplicou o tempo de televisão do senador na campanha do primeiro turno.

Na festa da vitória, dia 30 de outubro em Bangu, Clarissa e Crivella ergueram juntos os braços.

Garotinho foi preso hoje de manhã pela Polícia Federal, acusado de crime eleitoral.

Se Crivella mantiver a intenção de nomear Clarissa, sofrerá muito desgaste antes mesmo de assumir.

É possível que desista de convidá-la.

Numa situação ou noutra, Garotinho em cana é má notícia para Crivella.

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Nem a Alemanha intimida hoje o Brasil
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Mário Magalhães

blog - renato augusto

Renato Augusto, no jogo da seleção em Lima, contra o Peru – Foto Ernesto Benavides/AFP

 

Uma das maiores lorotas do pachequismo sustenta que o esplêndido desempenho atual da seleção elimina as dores do 7 a 1.

Não elimina, pois as dores de 2014 serão eternas.

Mas que o futebol do time conduzido por Tite vem servindo como analgésico, isso vem.

Porque descortina um futuro esperançoso a quem só tinha o passado obscuro do Mundial, de duas Copas América, do começo humilhante nas Eliminatórias para a Rússia.

O Brasil acaba de vencer o Peru por 2 a 0, em Lima, gols de Gabriel Jesus e Renato Augusto, no segundo tempo.

Não foi fácil. A equipe ofereceu mais espaços do que recentemente. Os jogadores pareceram mais distantes uns dos outros.

Houve mérito imenso em suportar os bons momentos peruanos e decidir sem piedade.

Na nova fase, a seleção transmite confiança, a impressão de que a qualquer momento resolverá.

Nesta madrugada, a movimentação intensa se manteve, dificultando a marcação adversária.

O Brasil aparenta ter mais jogadores porque assegura superioridade numérica no meio-campo e em espaços essenciais.

Controla o jogo, tem gosto de permanecer com a bola.

O que não o impede de ser eficiente no contra-ataque.

Estamos sobrando na América do Sul.

O jogo ideal, hoje, seria contra a Alemanha campeã do mundo, que mais cedo empatou o amistoso com a Itália.

Para testar o nosso estágio de desenvolvimento.

Pode dar Alemanha.

Pode dar Brasil.

O temor natural de quem caiu de sete, contudo, não tem mais por que sobreviver.

A seleção ainda precisa crescer, e tem tudo para melhorar.

Mas se intimidar com a Alemanha ou qualquer oponente?

Não mais.

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Quem tem Messi não fica fora da Copa
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Mário Magalhães

Messi, gênio da raça (os demais são coadjuvantes) - Natacha Pisarenko/AP Photo

Messi, gênio da raça (os demais argentinos são coadjuvantes) – Natacha Pisarenko/AP Photo

 

É mais fácil o reserva Higuaín demonstrar ânimo no aquecimento à beira do campo do que a Argentina ficar fora da Copa de 2018 _a preguiça do atacante ao se aquecer no segundo tempo pareceu espantosa hoje à noite (ele entrou no finalzinho).

Porque quem tem Messi não deixará de disputar o Mundial da Rússia.

Em San Juan, o baixote exibiu-se numa daquelas partidas que o clichê espanhol chama de recital. Foi o maestro da vitória sobre a Colômbia por 3 a 0.

Maestro, spalla, tudo.

Marcou um golaço de falta que ele mesmo sofrera.

Entregou com capricho a bola para a cabeçada fatal de Lucas Pratto, o substituto de Gonzalo Higuaín.

Desarmou um oponente, arrancou e deu de presente o gol para Di María.

Depois do fiasco no Mineirão, revés de 3 a 0 diante do Brasil, a Argentina aproveitou o adversário mais fraco e desfalcado.

Em vez de jogar mais centralizado, como em Belo Horizonte, Messi começou na direita do ataque. Dali partiu com a bola para oferecê-la a Pratto e Di María.

Driblou em espaço pequeno, no estilo futsal.

Enfileirou marcadores, como em seus grandes momentos.

Acelerou o jogo, em vivace.

Cadenciou-o, em andante.

Deu duro no árbitro, apanhou, foi caçado.

Depois de um passe seu, Di María acertou a trave.

E olha que, no sacudido voo de Buenos Aires para San Juan, Messi se sentira mal e vomitara.

Mercado, Banega e Pratto foram as novidades na escalação.

Mas o decisivo foi o técnico Bauza ter situado Messi onde ele rende mais, sem afastá-lo demasiadamente do gol rival.

A Argentina está na zona da respescagem.

Não importa.

Com ou sem repescagem, quem tem Messi não fica de fora da Copa.

Nem na Rússia, nem em lugar algum.

Enquanto Messi jogar, os argentinos nos farão companhia nos Mundiais.

Messi merecia hoje 20 minutos de aplausos de pé.

O artista maior permanece inalcançável.

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Sabáticas: Um alérgico entre livros
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Mário Magalhães

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A escritora Janet Malcolm, autora de ''O Jornalista e o Assassino'' – Foto Nina Subin/Divulgação

 

Para um alérgico incurável como eu, arrumar os livros equivale a um ancião ou uma anciã se enredar num affaire com uma criatura fogosa de 20 anos de idade: a paixão tem que ser doida demais para contornar as vicissitudes da saúde cansada de guerra. É o que acabo de fazer _transferir a minha biblioteca, bem entendido.

Modesta, ela está dezenas de milhões de páginas aquém das coleções de bibliófilos como foi José Mindlin. Mas organizei uns poucos milhares de volumes, limpando um por um. Espirrei como não espirrava havia tempos.

O que era para ser feito com mais presteza tardou, culpa de certos livros, sobretudo de suas aberturas. Como ensinam os mestres da literatura e mesmo os escribas dentes de leite sabem, na largada se seduz ou se perde o leitor. Parando para reler tantas delas, atrasei-me.

Ana Karênina, do Tolstói, é de revirar o estômago: “Todas as famílias são parecidas entre si. As infelizes são infelizes cada uma à sua maneira”. Em O Grande Gatsby, do Fitzgerald, uma lição familiar antecede a devastação: “Em meus anos mais vulneráveis de juventude, meu pai me deu um conselho que jamais esqueci: ‘Sempre que tiver vontade de criticar alguém’, ele disse, ‘lembre-se de que ninguém teve as oportunidades que você teve’”.

Pai e filho são também personagens de Cem Anos de Solidão, obra-prima do García Márquez cujo prólogo multidões de colombianos recitam de cabeça: “Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”.

O Érico Verissimo encerra assim o parágrafo inaugural de O Tempo e o Vento: “Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno da solidão”.

Entre os títulos de não ficção, sinto o golpe sadomasoquista (pois a autora é jornalista) da Janet Malcolm no ensaio O Jornalista e o Assassino: “Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável”.

Agora me dou conta de que A Metamorfose sumiu. O Kafka começa narrando o despertar de Gregor Samsa transformado em um inseto. Vou procurar o livro. Atchim!

A crônica reproduz traduções de autoria de Mirtes Ugeda (Tolstói), Vanessa Barbara (Fitzgerald) e Tomás Rosa Bueno (Malcolm).

(Publicado originalmente na revista Azul Magazine, outubro de 2014)

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Traumas inibem empolgação com seleção
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Mário Magalhães

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Mandaram o recado: a seleção cresce – Foto Leo Correa/AP

 

Gato escaldado tem medo de água fria.

Em 2005, a seleção brasileira encantou com o quarteto mágico formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Robinho e o imperador Adriano. Papou a Copa das Confederações, com um soberbo 4 a 1 na decisão contra os argentinos.

No ano seguinte, caímos diante da França na Copa do Mundo.

Em 2013, nos entusiasmamos com nova conquista da Copa das Confederações, com os espanhóis batidos na final por 3 a 0.

Um ano mais tarde, sobreveio o 7 a 1.

Somente traumas como esses inibem a empolgação com o time que ontem passeou nos 3 a 0 sobre a Argentina, em jogo à vera, valendo pelas Eliminatórias do Mundial 2018. Na mesma cancha, o Mineirão, em que os alemães nos atropelaram em 2014.

A seleção jogou tão bem que a torcida ovacionou Tite. E olha que mineiro, exigente, não é de fazer média. Em 1993, eu estava lá, o Mineirão cobriu Parreira de vaias mesmo com a goleada de 4 a 0 em cima da Venezuela.

A maior diferença de assistir à equipe desde a mudança de técnico é a confiança que ela transmite, mesmo quando acuada.

Outra virtude notável é que, embora o elenco da defesa e do ataque seja superior ao do meio-campo, o vigor coletivo é imenso, com todo o time funcionando bem, inclusive no seu coração, com Fernandinho, Paulinho e Renato Augusto.

Neymar brilhou, e Messi não viu a cor da bola. Demos olé.

É inegável que o bando que vestiu a camisa albiceleste nos facilitou. Edgardo Bauza, no intervalo, sacou o meia Enzo Pérez, o jogador que mais incomodava. Messi foi escalado longe do gol, longe demais, uma estupidez. Higuaín e Agüero são simulacros do que já foram jogando por seu país.

Ainda assim, era a Argentina do maior craque do planeta, e o Brasil a esmagou.

Falta muito para encorpar e chegar à Rússia impondo respeito.

Não há, contudo, como não vibrar e confiar.

Pelo menos até lembrar os traumas do passado.

Mas quem disse que eles vão se repetir?

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O balanço da vitória de Trump e a síndrome da alegria nas pernas
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Mário Magalhães

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Bernard, o bom jogador em quem Felipão vê ''alegria nas pernas'' – Foto Robert Cianflone/Getty Images

 

Atropelado pelo colombiano Zúñiga, Neymar sofreu uma fratura vertebral e ficou fora da semifinal de 2014 contra a Alemanha, no mesmo Mineirão onde hoje à noite a seleção encara a Argentina.

Quando o técnico Luiz Felipe Scolari anunciou o substituto, sobrevieram aprovações entusiasmadas.

O eleito seria Bernard, baixote veloz e habilidoso no qual Felipão identificara ''alegria nas pernas''.

A escolha, festejou-se, expressava a determinação de sufocar os visitantes, sem se recolher à defesa, apostando no ataque.

Deu no que deu, 7 a 1, o fiasco supremo da Copa. É claro que Bernard esteve longe de ser o único problema.

Logo se explicou a ilusão: com Bernard, jogador ofensivo, despovoou-se o meio-campo, e os europeus deitaram e rolaram.

Quem pouco antes ensinava por que Bernard era uma boa menos de 90 minutos depois dava aula sobre o erro da sua entrada.

O jornalismo é assim mesmo, faz parte. E sem surpresas a vida _e o futebol_ seria maçada.

Tenho lembrado tal episódio desde o retumbante triunfo de Donald Trump na eleição para a Casa Branca.

Os mesmos especialistas que deitavam falação sobre por que o fanfarrão perderia tornaram-se catedráticos na explicação da derrota de Hillary Clinton.

Eu sabia muito bem da rejeição dos dois, confirmada pelo número inferior de votos que tiveram em comparação com seus correligionários na eleição passada.

Mas supunha que a ex-secretária de Estado venceria.

Depois do furacão Trump, é ainda mais recomendável cultivar dúvidas em vez de trombetear tantas certezas, como se tem lido e ouvido.

Para não padecer da síndrome da alegria nas pernas, isto é, a atitude de permanecer com ares de sabe-tudo mesmo quando os fatos derrubam, desautorizam ou desestimulam análises e prognósticos.

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Brasil 5 x 4 Argentina: noite de torcer pela seleção brasileira e por Messi
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Mário Magalhães

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Que vença o Brasil do Neymar, e que o Messi também brilhe – Foto reprodução

 

Talvez seja complicado entender, mas é isto mesmo: dá para torcer hoje pela seleção brasileira e também pelo Messi.

Pela seleção porque é a seleção, e eu torço por ela.

Pelo Messi porque é o Messi, o mais genial craque que vi jogar (o Zico é hors-concours).

Noutras palavras, quero que o Brasil vença a Argentina no Mineirão, mas também que o Messi brilhe tanto quanto o Neymar.

O Messi ainda é muito mais jogador do que o Neymar.

O mogiano, porém, conta com o time que vai se consolidando sob a batuta do Tite, e logo saberemos em que estágio.

O rosarino, ao contrário, ressente-se da ineficiência coletiva, na equipe do Bauza em que o todo é mais fraco do que a soma dos talentos de cada um.

Descomplicando: o que permite torcer pelo Brasil e pelo Messi é a paixão pelo futebol.

Um triunfo do Neymar e companhia por 5 a 4, com quatro gols do Messi, seria espetacular.

Não precisa tanto, para se esperar uma grande noite em Belo Horizonte.

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