Blog do Mario Magalhaes

Apesar dos pesares, o Rio de Janeiro continua sendo
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Mário Magalhães

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Está difícil, dificílimo, não só para o Rio.

O Brasil flerta com o drama e descortina a tragédia, como adverte hoje o Janio de Freitas.

Apesar dos pesares, a natureza carioca teima em encantar, como se vê na foto do alto, o Pão de Açúcar e o morro da Urca no amanhecer da segunda-feira retrasada.

E a gente do Rio, também.

O que de longe parece estante e vitrine de livraria é uma pintura numa parede lateral, voltada para a calçada, da Livraria da Travessa em Botafogo.

No mesmo bairro, alguém deu o toque sábio: escute Belchior.

Em meio a tanto lero-lero, lembrei-me de uns versos do gênio cearense: não preciso que me digam/ de que lado nasce o sol/ porque bate lá meu coração.

Sabem quando o Belchior os cantou?

No comício da campanha das Diretas, na Candelária, em abril de 1984.

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Sugestão: leiloar joias da família Cabral e reabrir restaurantes populares
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Mário Magalhães

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Relógios de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo – Foto ''piauí''/Divulgação PF

 

Sugestão da leitora Cândida Silva, que eu tomo a liberdade de subscrever: o Ministério Público deveria propor à Justiça que as joias da família Cabral apreendidas fossem leiloadas; o dinheiro arrecadado seria destinado a reabrir ao menos alguns dos restaurantes populares que servem refeições a no máximo 2 reais.

Recapitulando: falido, o governo do Estado do Rio extinguiu o programa Restaurante Cidadão. Desde anteontem, no município do Rio, não há mais nenhum em funcionamento.

O governador Luiz Fernando Pezão é apadrinhado político e sucessor de Sérgio Cabral.

No luxo em que se deleitavam Cabral e sua mulher, a advogada Adriana Ancelmo, reluzem joias que valem muito.

Tal luxo, acusam procuradores, foi proporcionado por vínculo criminoso com corruptores.

O casal nouveau riche desfruta nesta quarta-feira dos confortos de um complexo penitenciário em Bangu.

Só o que teria rolado de propina no Maracanã pagaria o investimento anual nos restaurantes populares.

Se esse dinheiro é difícil de recuperar, resolva-se com um leilão o problema dos restaurantes: vão-se as joias, fica a comida para quem precisa.

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Sem passar pelas urnas, reforma da Previdência golpeia soberania popular
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Mário Magalhães

blog - previdencia, ti, 5, 6 dez 1953

Em 1953, chamada na primeira página do jornal ''Tribuna da Imprensa''

 

Como se observa na imagem acima, reprodução de chamada de primeira página do jornal ''Tribuna da Imprensa'' em 1953, não é de hoje que se proclama a quebra iminente da Previdência Social. Há décadas acenam com o fantasma da extinção das aposentadorias para convencer aposentados de fato e de futuro a aceitarem o rebaixamento dos benefícios ao término da vida de trabalho. A chantagem vem de longe.

A desmoralização dos prognósticos apocalípticos não equivale a diagnóstico, que seria tolo, de equilíbrio nas contas. Um dos fatores determinantes para o déficit expressivo foi a mudança no perfil etário da população, com o envelhecimento acentuado. Para assegurar a manutenção dos pagamentos aos aposentados e outros beneficiários do sistema, é necessário mudar. A questão é o quê e como.

A proposta de emenda constitucional apresentada pelo governo, se aprovada pelo Congresso, representaria violento retrocesso nas condições de vida de quem se aposenta. Pior, estimularia os trabalhadores a nunca pararem de trabalhar. Estimular é eufemismo. O verbo correto é constranger. Se vitoriosa, a PEC constrangeria os postulantes à aposentadoria porque as regras sugeridas, mais do que redução aceitável nos vencimentos, implicariam redução excessiva.

Para receber o valor máximo permitido, seriam necessários 49 anos de contribuição. Considerando que em Alagoas a expectativa de vida não alcança 67 anos… é melhor não considerar. Em outros Estados a situação é semelhante.

O pacote teria tal impacto na sobrevivência dos cidadãos que constitui despropósito aprová-lo driblando as urnas. Cabe a eles se pronunciar sobre agenda urgente que, contudo, passou à margem ou quase dos programas dos candidatos na eleição de 2014. A chapa Dilma Rousseff-Michel Temer não se dirigiu aos eleitores com a fórmula agora bancada pelo vice que virou presidente. Nem os concorrentes Aécio Neves, Marina Silva e demais.

Mais do que estelionato eleitoral, impor o projeto desenhado seria estelionato puro, subtraindo dinheiro de quem vive apertado e não tem mais como cortar. Que os brasileiros decidam. Mesmo para chancelar a proposta divulgada ontem. Sem consulta às urnas, a reforma da Previdência golpearia a soberania popular. É possível plebiscito ou referendo, realizado simultaneamente ou não com eleição presidencial.

As mudanças a serem definidas terão efeito por décadas. Com Temer ou sem Temer, com Renan ou sem Renan, com Gilmar ou sem Gilmar.

Uma das desgraças quando controvérsias dessa natureza se resumem a tecnocratas é o desprezo por quem ralou a vida inteira e mais precisa de suporte do Estado. Quem conhece cidades pequenas e pobres sabe que as aposentadorias e pensões, por vezes de uma só pessoa, são determinantes para o sustento de famílias numerosas. A Previdência, por seus caminhos, é instrumento de distribuição de renda e de salvação da morte pela miséria.

Enquanto querem mais uma vez que o lado mais fraco pague o pato, descartam uma estrutura tributária que cobre mais dos ricos e menos dos pobres.

Autorizam que castas de servidores embolsem mais do que o teto constitucional.

Permitem que um fundo de pensão como o Aerus vá à bancarrota.

Eis o Brasil, tão desigual.

E covarde, também contra os mais velhos.

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A voz das ruas e a voz das urnas
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Mário Magalhães

Campanha das Diretas, 1984, em foto do legendário Gil Passarelli

 

Pensamento do dia: se todo propagandista da ''voz das ruas'' tivesse o mesmo empenho em reverenciar a ''voz das urnas'', o Brasil seria um país mais democrático e melhor.

Viva a voz das ruas.

E também, ou ainda mais, a voz das urnas.

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A estranha utopia de Crivella
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Mário Magalhães

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Marcelo Crivella, prefeito eleito do Rio – Foto Marcos Oliveira/Agência Senado

 

Prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella propôs indenizar turistas nacionais e estrangeiros que forem assaltados na cidade.

Não explicou direito como _ou quem_ financiaria o seguro. Nem se aprofundou na distinção entre cariocas e visitantes.

Disse: ''É uma proposta ousada, é meu sonho, uma utopia, para uma quebra de imagem. Seria uma coisa transitória''.

Pensei que utopia, nesse quesito, fosse acabar com os assaltos ou reduzi-los a níveis mínimos.

Cada um com a sua utopia.

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Guerra na coalizão do impeachment aumenta incerteza sobre sucessão de Temer
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Mário Magalhães

laerte bode

O anjo salvador virou bode expiatório; por Laerte, ''Folha'', 06.dez.2016

 

A balbúrdia institucional formou-se com elementos diversos. Poucos contribuem tanto para o flerte com o caos quanto a implosão da coalizão que depôs Dilma Rousseff.

Beneficiário e incitador da queda da presidente constitucional, Michel Temer foi a aposta que reuniu os acionistas mais graúdos do impeachment. Muitos deles agora conspiram sem pudores contra o missivista, mimetizando seu comportamento contra a destinatária de sua célebre cartinha amuada.

O anjo salvador transfigurou-se em bode expiatório, para empregar as imagens de Laerte hoje na ''Folha''.

Não foi só Temer. Henrique Meirelles, ungido pela entidade ''mercado'' como avalista da patota do PMDB que tomou o Planalto, de esperança virou frustração e alvo. Patrocinado pelo PSDB e outros sócios, Armínio Fraga surge no retrovisor do ministro da Fazenda, ameaçando atropelá-lo.

No clube do impeachment, uns se queixam de timidez dos ajustes _leia-se arrocho. Outros se ressentem do prolongamento da depressão econômica, agravada pelos ajustes.

Não se entendem sobre as medidas contra a corrupção que tramitam no Congresso. De um lado, as trincheiras bradam por punição aos larápios. De outro, ecoa o desespero para ''estancar essa sangria''.

Muitos mantêm o discurso pré-impeachment sustentando as ações e decisões da Justiça. Alguns trocaram a pregação de todo poder ao Judiciário por senões que decorrem de legítima preocupação com o equilíbrio entre os Poderes ou, está na cara, do medo de chegar a hora de prestar contas nos tribunais.

O que era ponte para o futuro acabou retratado como pinguela. Sob certos olhares, até a pinguela ruiu.

O asfalto assistiu ao distanciamento dos aliados de ontem. No domingo, boa parte dos que haviam saído às ruas se esgoelando por ''Fora, Dilma'' recusou-se a sair de casa ou preferiu o lazer. No Rio, quem esteve na avenida Atlântica ouviu a ovação ao nome do deputado Jair Bolsonaro e vaias aos dos deputados Jean Wyllys e Alessandro Molon.

As delações de donos e executivos de empreiteiras e os acordos de leniência das empresas prometem arrastar figurões da campanha pró-impeachment para as mesmas cadeias onde próceres petistas cumprem pena.

O Tribunal Superior Eleitoral é outro espectro a assustar as pretensões de Temer de alcançar o fim de 2018 no cargo.

Na origem das incertezas está o afastamento de Dilma. Se a governante _pelo que se sabe até agora_ honesta pode receber cartão vermelho, por que não os mandachuvas sobre os quais pesam suspeitas e acusações que se contam aos milhões de reais e dólares?

Em 1964, desfecharam o golpe de Estado também com a alegação de garantir a eleição presidencial do ano seguinte. Logo adiaram a eleição para 1966. Em seguida, extinguiram o voto direto para o Planalto.

Quando Dilma iniciou o (desastroso) segundo mandato, previa-se que seu sucessor assumisse no princípio de 2019. Era a regra do jogo. Ignoraram o calendário, e o golpista Temer a substituiu em 2016. Supunha-se que o marido da primeira-dama bela e recatada daria lugar ao novo presidente em 2019. Ninguém sabe se isso ocorrerá ou se o peemedebista será derrubado, para outro presidente sem voto popular governar até 2018.

Ou, o que seria a melhor hipótese, a eleição direta ser antecipada.

Porque, não custa repetir, na democracia presidente se elege no voto.

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Ferreira Gullar (1930-2016)
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Mário Magalhães

 

Foi-se o poeta, grande poeta, Ferreira Gullar.

Entre seus talentos e gostos estava a tabelinha com a música.

Milton, Villa-Lobos e Fagner foram alguns dos que musicaram seus versos ou tiveram melodias letradas por ele.

Uma canção gravada, mas jamais registrada em disco, é ''Duplo Espelho'', na origem um poema do livro ''A Luta Corporal'' (1954).

Na virada dos anos 1970 para os 1980, o jovem compositor, jornalista, escritor e publicitário André Iki Siqueira procurou Gullar para lhe mostrar a música que criara para o poema.

O poeta ouviu de olhos fechados. Pediu para André tocar de novo e aprovou entusiasmado.

Ficou lindo.

Para escutar ''Duplo Espelho'', na voz de André Iki Siqueira, basta clicar na imagem acima.

Eis a poesia-letra:

 

''Neste leito de ausência em que me esqueço

desperta um longo rio solitário:

se ele cresce de mim, se dele cresço,

mal sabe o coração desnecessário.

 

O rio corre e vai sem ter começo

nem foz, e o curso, que é constante, é vário.

Vai nas águas levando, involuntário,

luas onde me acordo e me adormeço.

 

Sobre o leito de sal, sou luz e gesso:

duplo espelho — o precário no precário.

Flore um lado de mim? No outro, ao contrário,

de silêncio em silêncio me apodreço.

 

Entre o que é rosa e lodo necessário,

passa o rio sem foz e sem começo''.

 

Valeu, Ferreira Gullar!

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A palavra ausente na nota da Odebrecht (o pedido de desculpas meia-bomba)
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Mário Magalhães

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Busca da PF em instalações da Odebrecht, em São Paulo – Foto Zanone Fraissat/Folhapress

 

Li e procurei, não encontrei. De novo, e nada. Procurei tanto, que desconfiei do buscador de palavras. Copiei o texto e o colei no Word, buscando mais uma vez. Sem sucesso.

A nota da Odebrecht pedindo desculpas por ''práticas impróprias'' não contém a palavra crime ou variantes como crimes, criminosos, (práticas) criminosas.

A empreiteira brasileira número 1 fala em ''vícios'', ''grande erro'', ''desvios''.

Recusa-se, contudo, a explicitar o que a empresa vem cometendo: crime.

Incomoda assistir a ladrões do dinheiro público, atuando no time dos corruptores, se pronunciarem em tom de quem dá lição de moral sobre decência.

Somos ou não o país da hipocrisia?

A hipocrisia grassa também entre os corruptos, como numerosos próceres de todos os partidos grandes.

Nem na hora do sufoco a Odebrecht se assumiu como criminosa, ainda que alegadamente arrependida.

Imagina quando a barra lhe ficar mais leve.

Em tempo: ''prática imprópria'' é coçar o patrimônio em público; crime é outra coisa.

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O dia em que a cobiça e a soberba teriam se encontrado
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Mário Magalhães

Familiares do atacante Lucas prestam homenagem junto ao caixão - Nelson Almeida/AFP

A hora do adeus, sábado, na Arena Condá – Foto reprodução UOL

 

Com tantas provas documentais (como o plano de voo) e testemunhais (como o depoimento de uma funcionária do aeroporto de Santa Cruz de la Sierra), evidenciou-se o problema técnico decisivo para a queda do avião da LaMia em que 71 pessoas morreram seis dias atrás, incluindo quase todo o time da Chapecoense e duas dezenas de jornalistas: a falta de combustível do Avro para chegar a Medellín.

A essa altura, é complicado desassociar a decisão do piloto Miguel Quiroga, que descartou fazer escala, da economia que a atitude renderia à empresa aérea da qual ele era também sócio. As estimativas vão de R$ 10 mil a R$ 17 mil. A maior parte do dinheiro seria desembolsada em taxas aeroportuárias. Quiroga poderia reabastecer ao menos em Cobija, na Bolívia, ou em Bogotá, capital colombiana. Passou batido pelas duas cidades.

Se a cobiça, salvo alguma novidade relevante contida nas caixas-pretas, autoriza supor o motivo do imenso risco que o piloto assumiu, só ela não basta.

A não ser que se descubra que Quiroga, aos 36 anos e três filhos, tenha resolvido se suicidar, levando junto mais 70 pessoas. Inexiste indício de que isso tenha ocorrido. Ele morreu no desastre.

Por que arriscar tanto?

A soberba não constitui característica exclusiva de muitos pilotos da aviação civil, como comprovam muitíssimas pessoas soberbas de outras profissões.

Mas não é raro na aviação _escrevo na condição de quem cresceu nesse meio_ o sentimento de que domínio técnico e traquejo são capazes de superar os mais ameaçadores e inesperados obstáculos. No caso, possíveis surpresas na rota do voo LaMia 2933 que exigissem consumo de combustível maior do que o previsto. O comandante teria pensado que, graças à sua destreza, nada o impediria de pousar são e salvo na pista de Medellín.

É cada vez mais provável que, no balanço sincero da tragédia, confirme-se que 29 de novembro de 2016 foi o dia desgraçado em que a cobiça e a soberba se encontraram no ar.

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