‘A lama nacional’, por Angeli
Mário Magalhães
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Essas duas lindas meninas argentinas, uma delas ainda de “chupete”, como se diz em castelhano, foram ao teatro neste fim de semana em Buenos Aires. No centro da cidade, o pai delas aproveitou para manifestar apoio à campanha que busca o paradeiro de Amarildo de Souza, morador da Rocinha sumido desde o dia 14 de julho, depois de ser detido pela Polícia Militar.
Traduzido, o cartaz tem a inscrição “Onde está Amarildo? Desaparecido há 20 dias no Rio de Janeiro. Reaparição com vida já!”.
Esta última reivindicação (“aparición com vida ya” ) foi consagrada pelos movimentos de mães, pais, avós, filhos e amigos das dezenas de milhares de oposicionistas que desapareceram durante a ditadura que vigorou na Argentina de 1976 a 83.
Mário Magalhães
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Carlos Heitor Cony recebeu carta de um leitor dizendo o seguinte:
“Praia de Copacabana. Comprimento: 4.000 metros. Largura média: 100 metros. A mídia local contagiou a mídia estrangeira, mantendo em uníssono que 3 milhões de fiéis estavam na praia, todinhos ao mesmo tempo! No sábado, 27 de julho. Sem descontar os obstáculos que diminuem a área total (palco, restaurantes, quiosques, barracas, facilidades públicas etc.), o simples cálculo é que se a densidade média de cada m² da área fosse de três pessoas por m², o total poderia chegar a 1,2 milhões.
Claro que, na prática, a densidade três só se dá perto do palco, sendo que, depois de um certo raio, o grau de densidade diminui progressivamente para até menos de um.
Um ex-pesquisador suíço com conhecimento de causa afirma que, nesse dia, teve 560.000 [pessoas], margem de 30.000 para mais ou para menos. Também disse que o recorde dos últimos 20 anos foi no Réveillon de 1999-2000, com quase 700.000.”
A íntegra da coluna dominical “Gatos-pingados” pode ser lida clicando aqui.
Mário Magalhães
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“Eu gostaria de ser Deus não para consertar o mundo ou melhorar a humanidade mas, confesso, para um fim menos nobre: conseguir mulher.
Posso imaginar como seria ter ao meu dispor todos os recursos de Deus para impressionar uma mulher. A começar pelo seu espanto ao saber da minha identidade. (Ela: ‘Você quer dizer Deus, Deus mesmo?! O Cara?!’ Eu: ‘É’. Ela: ‘O Todo Poderoso?!’ Eu, para mostrar, além de tudo, simplicidade: ‘Sim, mas pode me chamar de Todo’).”
Essa é abertura de “Se eu fosse Deus”, a crônica de ontem de Luis Fernando Verissimo.
Para ler a íntegra, basta clicar aqui.
Mário Magalhães
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Dezenove dias depois do sumiço de Amarildo de Souza, perduram muitos mistérios, mas uma convicção se consolidou: em qualquer cenário, o Estado tem responsabilidade pelo que ocorreu ao pedreiro morador da Rocinha.
Desenvolve-se uma manobra de comunicação de segmentos da Polícia Militar do Rio de Janeiro que tenta estabelecer o seguinte raciocínio: se o desaparecido foi morto por traficantes de drogas, a culpa seria exclusivamente dos bandidos.
A ideia é capenga, por vários motivos. Antes, é importante enfatizar que, enquanto não houver certeza do que se passou, constitui leviandade afirmar o contrário.
Tudo começou com o procedimento ilegal de policiais militares que levaram Amarildo, 42, para a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela na noite de 14 de julho. Como as autoridades divulgaram, existe veto expresso a esse comportamento. Se há suspeita _Amarildo eventualmente teria sido confundido com um foragido da Justiça_, o cidadão deve ser conduzido pela PM a uma delegacia da Polícia Civil.
Parentes de Amarildo contam que havia contra ele uma bronca de um PM truculento, do efetivo da UPP. De dezenas de câmaras de vigilância na Rocinha, só as duas defronte à sede da UPP não funcionaram em 14 de julho, quando Amarildo foi arrastado até lá. O GPS da viatura que o transportou, que tem de permanecer em operação, a fim de permitir a reconstituição dos trajetos percorridos pelo veículo, estava desligado. O quadro indiciário contra os PMs é eloquente. A família do trabalhador supõe que ele esteja morto, assassinado por policiais.
Suponhamos que Amarildo tivesse sido liberado e depois executado por traficantes. Isso só teria acontecido num contexto em que ele passou pela UPP. Essa passagem teria sido determinante para sua morte (marginais desconfiam de quem é detido e logo liberado; temem que o ex-detido tenha sido recrutado como alcaguete da polícia).
Outra hipótese, ainda que inverossímil: Amarildo escafedeu-se, com medo de ser trucidado por policiais ou bandidos ou por policiais bandidos (o governo emprega o eufemismo “maus policiais”). Ele teria preferido esse caminho depois de passar, em abuso de poder, pela UPP.
Como em um roteiro de novela à mexicana, concedamos um delírio à manobra em curso para retirar ou minimizar a responsabilidade da PM: e se Amarildo foi liberado da UPP, tropeçou, bateu com a cabeça numa pedra, perdeu a memória e está ganhando a vida como pescador na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul? A polícia continuaria a ter responsabilidade determinante, pois o pedreiro que pesca nas horas vagas teria batido com a cabeça só depois de ser criminosamente carregado à UPP.
Não será surpresa para este blog se a investigação em curso esclarecer o episódio. Ao contrário do que ocorreu com a chacina no complexo da Maré, em junho, quando a classe média carioca e o jornalismo pouca pelota deram à barbárie, não há como lançar a pecha de delinquente contra o pedreiro, que a comunidade identifica como trabalhador honesto (e mesmo contra bandido a legislação não admite pena de morte).
A zona sul cobra Sérgio Cabral. Apelando para o sofrimento dos seus filhos pequenos, o governador implora pelo fim dos protestos diante de seu apartamento. No morro e no asfalto, os manifestantes respondem dizendo que ninguém tem sofrido mais do que os seis filhos do Amarildo. Politicamente, é de interesse de Cabral chegar aos culpados.
A primeira fase do inquérito foi tocada por um dos melhores e mais confiáveis delegados do Rio, Orlando Zaccone.
Como determina o protocolo, o caso passou à Divisão de Homicídios. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, sublinhou que foram solucionados todos os assassinatos na Rocinha pós-introdução da UPP. Trocando em miúdos, a polícia sabe elucidar crimes. O desafio é desvendar esse, em que é evidente a participação de PMs, pelo menos ao levar Amarildo para a UPP.
Cria da Polícia Federal, que investiga melhor do que as Polícias Civis, o delegado federal Beltrame sabe como caçar bandidos, fardados ou não. Sabe que tipo de interceptação _com autorização judicial!_ pode ser feita. Sabe quem eram os PMs que forçaram Amarildo a ir até a UPP. O secretário assegurou que resolverá o caso. Torço para que ele cumpra a promessa.
Três comentários finais.
Houve uma gravíssima violação de direitos humanos. Na hipótese A, B ou C, a Polícia Militar, portanto o Estado, tem responsabilidade pelo desparecimento de Amarildo.
Se não descobrirem o que ocorreu, restará a constatação de que PMs são inimputáveis, que há uma lei para os cidadãos e outra para os “homens da lei”. Idêntica apreciação valerá se apontarem bodes expiatórios com base em indícios frágeis ou forjados _evidentemente, não é o que se espera.
Na manifestação de ontem à noite, centenas de moradores da Rocinha interditaram e depois atravessaram o túnel Zuzu Angel. É um encontro pelas esquinas da história. Em 1976, ali no sopé do morro, o Karmann Ghia da estilista que viria a batizar o túnel foi abalroado propositalmente, em um atentado mortal de facínoras, como reconheceu a União. Zuzu incomodava a ditadura ao exigir o esclarecimento sobre o paradeiro de seu filho, o guerrilheiro Stuart, até hoje desaparecido. Agora, quem fecha o túnel com o nome daquela grande mulher é o povo da favela, em busca de outro brasileiro com que sumiram.
Mário Magalhães
Mário Magalhães
Livre na pequena área, Donato vai atrapalhar Felipe, e o auxiliar levantará a bandeira – Imagem TV UOL
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Nem o rubro-negro mais fanático cultivará a ilusão de que o Flamengo tenha perdido ontem para o Bahia por causa do segundo gol irregular nos 3 a 0. O time levou um banho de bola na Fonte Nova. Esse diagnóstico não deveria, contudo, relativizar o erro assombroso de um dos árbitros brasileiros que sonham apitar na Copa de 2014, Héber Roberto Lopes.
Foi assim: em cobrança de falta na área, o zagueiro tricolor Rafael Donato estava adiantado e participou do lance, tentando cabecear a bola na pequena área e atrapalhando o goleiro rubro-negro Felipe, que teve de espalmar. No rebote, Wallyson marcou. Veja aqui na TV UOL.
Se Héber e o bandeirinha (ou auxiliar, tudo bem…) Rosnei Hoffmann não tivessem visto o impedimento, seria mais um erro dos tantos que fazem parte do futebol.
O escândalo é que Hoffmann viu, e já no início da jogada levantou a bandeira. Donato não estava pouco, mas muito à frente. Como Héber aparentemente não tinha percebido o aceno do auxiliar, os jogadores do Flamengo o alertaram.
Foi então que se deu o inacreditável: o juiz (ou árbitro…) foi conversar com Hoffmann e julgou que não tinha ocorrido problema nenhum. Validou o gol.
Em suma, foi alertado e manteve o equívoco. Depois espalharam que o bandeirinha recuou, mas no lance ele foi categórico.
Reitero: se fosse apenas mais um erro, vida que segue. Mas Héber Roberto Lopes foi de uma arrogância do tamanho de sua pança de tempos atrás. Errou, tinha como saber que errou e manteve o erro.
Esse é um dos luminares da arbitragem nacional. Está explicado por que o Brasil decaiu tanto no cenário internacional, sem juízes de ponta no futebol.
Mas não tem problema, não: se não apitar no Mundial do ano que vem _ele não é o primeiro da lista_, Héber não precisa temer pelo futuro. Acabará pontificando como um sábio comentarista de arbitragem.
P.S.: no domingo, o juiz anulou um gol legal de Elias que daria a vitória ao Flamengo contra o Botafogo. Naquela partida, o time também não deu nenhum show: até os 30 minutos do primeiro tempo, nem havia finalizado contra Jefferson.