Blog do Mario Magalhaes

São Paulo, 460: há 30 anos, Campanha das Diretas arrancava na praça da Sé
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Mário Magalhães

Primeira página da "Folha", 26 de janeiro de 1984

Primeira página da ''Folha'', 26 de janeiro de 1984

 

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Início do fim da ditadura houve vários, e nenhuma história sincera da República pode ignorar o protesto de três décadas atrás na praça da Sé. No dia 25 de janeiro de 1984, São Paulo completava 430 anos, uma geração de balzaquiana mais nova que o aniversário de hoje.

Nunca se soube com certeza se a multidão somou na casa da centena de milhares ou na de centenas. Havia muita gente, como documentou fotografia do Fernando Santos, na primeira página da ''Folha de S. Paulo'' do dia seguinte.

A Campanha das Diretas não começou ali, mas foi então que deslanchou o movimento de massas que varreria o país exigindo que o povo elegesse o presidente. A última eleição direta ocorrera em 1960 _a de 1965 foi cancelada pela ditadura instaurada em abril de 1964.

Eu não estive na Sé, e sim na Candelária, na tarde-noite de 10 de abril de 1984, quando estimadas _a rigor, chutadas_ 1 milhão de almas se comprimiram no comício mais grandioso a que eu assisti, e de que participei. No palco, Belchior cantarolou à capela: ''Saia do meu caminho, eu prefiro andar sozinho…''.

Candelária, Anhangabaú, praças e coretos país afora, todas as manifestações da campanha vieram na esteira da praça da Sé. A emenda das Diretas Já não passaria no Congresso, mas o regime agonizava.

O Brasil deve essa a São Paulo e aos paulistanos. Mais essa.

Tim-tim.


50 anos pós-1964, paranoia de golpe vermelho ecoa no Leblon em cena cômica
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Mário Magalhães

blog - jb, 1964

''Jornal do Brasil'', 23 de janeiro de 1964

 

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Clicando no vídeo lá em cima, é possível ver e rever o salseiro no Leblon domingo passado. Como se sabe, alguns moradores do bairro, incomodados, deram piti e peitaram pessoas que queriam participar do rolezinho que acabou não rolando no Shopping Leblon _o estabelecimento fechou as portas.

Para além do sofisticado, digno de escola de altos estudos, bate-boca sobre imperialismo, direita e esquerda, o melhor desempenho humorístico foi da senhora de máquina fotográfica, e ninguém tasca.

Parecendo em transe, a madame não gostou quando o cineasta, entre uma bravata e outra em que se jactava de ganhar bem, encarou o Batman e julgou:

''Esses são caras de direita que não querem ver que o país avançou''.

Na desinteligência, ela estava ao lado do cabeça branca, mas não gostou:

''Não é de direita, não. Eu sou de direita e não faria isso''.

Logo a retratista pontificou:

''Existe um plano de ocupação comunista, totalitarista no país. Será que ninguém vê isso?''

Pois é, eu não vejo, mas conheço a origem da paranoia.

Pode-se encontrá-lo em quadras históricas anteriores, mas o espantalho se concentra nas vésperas do golpe de Estado que derrubou o presidente João Goulart em 1964. Bilac Pinto, deputado federal da golpista UDN (União Democrática Nacional), pregava incansavelmente uma dita tese de que estava em curso uma guerra revolucionária no Brasil. Os comunistas vinham aí, e a cuca iria pegar. Muitos brasileiros, notadamente incautos de classe média, fiavam-se na lorota.

Assim como não existia guerra revolucionária em 1964, não haverá golpe agora. Para haver virada de mesa institucional, interesses de poderosos têm de ser severamente ameaçados.

Meio século atrás, a anunciada reforma agrária de Jango e medidas governamentais como a limitação de remessa de lucros para o exterior contrariavam latifundiários e empresas multinacionais, para resumir em dois exemplos.

Hoje, os proprietários de terra lucram como nunca lucraram no Brasil, e bancos estrangeiros salvam aqui suas contas claudicantes nos países de origem.

O rolezinho não rolou no Leblon no fim de janeiro de 2014.

A capa do ''Jornal do Brasil'', acima, é de 23 de janeiro de 1964. No meio da página agiganta-se a chamada ''UDN dá apoio à denúncia de Bilac''. Denúncia de guerra revolucionária com a participação de Jango.

Os comunistas não deram o golpe e poucos deles resistiram à quartelada.

Quem deu o golpe foram militares e civis que, como a dona do Leblon, disseminavam a empulhação do perigo vermelho.


‘Advogando em causa própria’, por André Barros
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Mário Magalhães

André Barros, o ''advogado da Marcha da Maconha'' – Foto reprodução internet

 

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O advogado André Barros escreveu um artigo contando um episódio incrível: preso injustamente como ladrão, um jovem cozinheiro morador do Chapéu Mangueira, morro aqui do Leme, seria morto por traficantes na cadeia, mas usou a cuca para se salvar. Contra a barbárie, a força das ideias.

Meu chapa, mas não parente, desde que na adolescência o chamávamos de André Magalhães, seu outro sobrenome, o André ficou conhecido no Rio como o ''advogado da Marcha da Maconha''. Integra a Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ.

Ele havia mandado o texto por e-mail, e autorizou a publicação aqui no blog.

* * *

Advogando em causa própria

Por André Barros

Conversando com um amigo de infância num dos visuais mais lindos da cidade, o pico do morro do Chapéu Mangueira, comentava sobre o primeiro encontro antiproibicionista do Rio de Janeiro, realizado no campus da Praia Vermelha da UFRJ. Quando falei que o sistema penal servia apenas para prender negros, pobres e jovens e manter toda a brutal desigualdade desse sistema capitalista, ele me contou uma história incrível.

Há cerca de 20 anos, este jovem, negro, pobre e morador do bairro, fazia o habitual exercício dos moradores de correr pelas areias da praia de Copacabana, quando ocorreu um assalto no local. Meu amigo foi preso por este fato, levado à delegacia policial e, mesmo após a vítima assaltada ter afirmado que ele não era o autor do crime, foi autuado em flagrante delito. Ficou 10 meses preso, até que um grande advogado, seu amigo do asfalto, pegou sua causa.

A defesa arrolou uma série de testemunhas do Leme, que disseram tratar-se de jovem trabalhador, já brilhante cozinheiro, e pessoa totalmente da paz. O juiz perguntou ao acusado como se fazia um fettuccine, prato favorito do meritíssimo. O réu deu uma aula de culinária ao contar como se fazia o prato italiano com camarão. Diante da evidência dos fatos, o próprio promotor de justiça pediu a absolvição do jovem cozinheiro e, finalmente, a expedição de seu alvará de soltura foi determinada pelo magistrado. Como acontece em quase todos os casos, o injustiçado não quis mais saber da Justiça e não entrou com ação de responsabilidade do Estado, no caso, pelos 10 meses de injustiça na terrível cadeia medieval carioca.

Mas a história começa aqui. O jovem cozinheiro contou momentos de horror de outro julgamento que passou dentro da cadeia. Perto de sair daquela masmorra, recebeu a visita de sua mulher. Abraçando a esposa sentiu o chute do filho de sete meses na barriga da gestante. Após a visita deu um beijo forte na esposa, em sua barriga, e voltou pra cela.

O jovem, negro e cozinheiro, morava no Chapéu Mangueira. À época, a facção que dominava o morro era o comando vermelho. Mas o amigo cumpria pena em presídio dominado por duas facções inimigas, o terceiro comando e os amigos dos amigos. Os presos são distribuídos nesses presídios pelo locais das facções que dominam os lugares onde eles moram.

Mesmo conseguindo manter durante quase 10 meses um bom convívio no local, nesse dia foi diferente. Ele foi levado para outra cela, onde seria enforcado. Não tinha noção de que a “teresa” que ajudou a produzir, grande corda de restos de panos trançados usada em fugas ou execuções, era pra ele mesmo. Mirando a “teresa”, pensando em seu primeiro filho, o cozinheiro disse que não iria colocar a cabeça para ser enforcado.

Seus executores apresentaram então como opção uma lança e uma espada, grandes e brilhantes, chamadas de Highlander, parecidas com as do filme. Ele começou então a se defender. Disse que era trabalhador e o único crime que cometia era consumir drogas e se essa era razão para matá-lo, que podiam então começar. Mas que não era de facção alguma e era injusto ele morrer, por morar num local dominado por outra facção. Eis que um dos acusadores conta que, quando tinha 12 anos, seu irmão foi assassinado pelo comando vermelho, porque o local onde morava era dominado por outra facção, logo dizendo que seu argumento não servia e que ele seria morto. Veio então uma questão das profundezas da maior crítica a todo esse sistema penal, através de uma observação em que o cozinheiro, advogando brilhantemente em causa própria, levantou a questão fundamental: “mas seu irmão não vai aparecer de novo e seu problema não será resolvido com minha morte!”.

Diante de sua luta pelo direito à vida, um dos acusadores, com poder de morte, disse que ele era maneiro, estava sendo observado e, diante daqueles argumentos ele teria uma chance com a chegada naquela cadeia de outro conhecido, que atestaria se ele era ou não “bandido”.

Depois de confirmado que ele era realmente trabalhador, não foi enforcado, nem esquartejado, e terminou seus últimos dias na prisão em bom relacionamento com todos. Foi um advogado brilhante, teve calma de argumentar, mesmo quando estava entre a vida e a morte. Ficou literalmente com a lança, a espada e a corda no pescoço. Ganhou a causa de sua vida, está vivo, continua cozinhando, alegre e falante, como sempre foi desde os tempos do futebol de praia nas areias do Leme e Copacabana.

ANDRÉ BARROS, advogado da Marcha da Maconha, mestre em ciências penais, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ e membro do Institutos dos Advogados Brasileiros.


Livro reúne três peças de Consuelo de Castro, ‘maior punch’ da dramaturgia
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Mário Magalhães

blog - consuelo de castro

 

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''Consuelo, de nossos autores, talvez seja, em linguagem desportiva, quem tenha o maior punch.''

Impressa na contracapa de ''Três histórias de amor e fúria'', a frase do imortal Gianfrancesco Guarnieri ilustra a potência dos uppers, jabs e diretos que golpeiam a alma nas peças escritas por Consuelo de Castro.

Três delas,  das décadas de 1980 e 90, estão reunidas em novo livro, como conta o repórter Gustavo Fioratti (leia aqui o original).

A íntegra da reportagem está abaixo.

* * *

Livro reúne peças de Consuelo de Castro

Por Gustavo Fioratti

(''Folha de S. Paulo'', 16.jan.2014)

''Não sou mulher de gaveta'', diz Consuelo de Castro, dramaturga de raízes combativas e uma extensa carreira embebida em situações de repressão política. Ela lança, no sábado, o livro ''Três Histórias de Amor e Fúria'', no Espaço Parlapatões, em SP.

Agitada e sempre empunhando um cigarro que demora 15 minutos para acender e outros dois para fumar (foram três em uma hora e meia de entrevista em seu flat próximo à avenida Paulista), a autora conta que só produz se é para ver suas peças no palco ou publicadas.

A aflição com a possibilidade de ver os textos guardados resultou num hiato de 15 anos –período em que não produziu nada que tenha vindo a público.

''Três Histórias de Amor e Fúria'' é composto de três peças já encenadas, apresentadas em cronologia decrescente: ''Only You'' (1998), ''Memórias do Mar Aberto – Medeia Conta Sua História'' (1997) e ''Mel de Pedra'' (1985).

Consuelo explica a pausa: ''Vem aquela explosão, você escreve… E depois o texto fica na gaveta… Pois eu abortei ideias para não passar por esse tipo de impasse de novo'', diz ela, criticando, de quebra, colegas que encomendaram textos e sumiram do mapa sem encená-los.

Em ''Only You'', sua última peça levada ao palco (por José Renato, em 2001, e por Bibi Ferreira, em 2002), um autor de novelas recebe a visita de uma mulher enigmática e embarca num jogo para desvendar sua identidade.

Em ''Memórias do Mar Aberto'', Consuelo relê a tragédia de Medeia, que mata os filhos, ''só que na minha versão ela o faz por um erro de estratégia, e não por vingança'', diz a autora. Em ''Mel de Pedra'', uma bailarina e uma antropóloga abastecem angústias determinadas por esperas ''becketianas''.

São, diz Consuelo, obras preferidas de um determinado período em que seu trabalho se impregnou da polaridade referida no título do livro: ''O amor e a fúria estão ali, nessas histórias''. ''Não vou dizer que há uma evolução entre os trabalhos porque seria muito pretensioso dizer que eu própria evoluí'', diz.

Em sua fase mais combativa, até os anos 1980, ela não poupava esforços para provocar os militares. Foi assim com ''Prova de Fogo'' (1968), seu primeiro texto, censurado.

Consuelo conta que está disposta a se dedicar novamente aos palcos. Há pouco mais de um ano, ela escreveu uma nova peça a partir de uma pesquisa sobre a vida da farmacêutica cearense Maria da Penha, que foi baleada e torturada pelo marido e lutou para aprovar a lei que endureceu a punição a casos de violência doméstica.

Só não quer produzir o espetáculo. ''Quando resolvi produzir, percebi que não sou do ramo e quebrei a cara. Saí dessa experiência esgotada.''

TRÊS HISTÓRIAS DE AMOR E FÚRIA
AUTOR Consuelo de Castro
EDITORA Giostri
QUANTO R$ 35 (158 págs.)


Defesa da concessionária de trens pega mal, e candidato de Cabral recua
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Mário Magalhães

blog - extra julio lopes

 

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Na iminência de se tornar o governador do Rio de Janeiro a partir de março e concorrer em outubro ao Palácio Guanabara, o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) recuou hoje à tarde da defesa enfática que fez ontem da SuperVia, a concessionária de trens controlada pela Odebrecht.

Na quinta-feira, Pezão afirmara que estava satisfeito com a empresa. Na quarta, um descarrilamento de trem, seguido da inépcia da SuperVia para enfrentar o acidente, havia provocado um caos que deixou 600 mil passageiros sem transporte na região metropolitana. O candidato escolhido pelo governador Sérgio Cabral (PMDB) à sua sucessão disse que ''o sistema ferroviário está ganhando credibilidade'' (clique aqui para ler a reportagem).

Hoje, mudou o tom, por meio do Twitter: ''A Supervia errou e tem de ser punida'', digitou. Eis algumas de suas mensagens, pela conta que tem um número modesto de seguidores, 364, para um político com as ambições eleitorais de Pezão:

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A explicação para a mudança de discurso é óbvia: pegou muito mal para o futuro candidato advogar pela concessionária que presta um serviço contra o qual os usuários manifestam críticas contundentes. Enquanto o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, incensa a SuperVia, o estrago para Pezão é pequeno. Quando o vice de Cabral evidencia a camaradagem com a empresa, perde votos.

A primeira página do jornal ''Extra'' nesta sexta-feira traz a fotografia da risada ou gargalhada de Julio Lopes, enquanto os trens estavam parados e a população padecia.

Assim o jornal descreve o trio da imagem:

''1) Carlos José Cunha – Presidente da SuperVia, companhia controlada pela construtora Odebrecht, que doou R$ 200 mil para o Comitê Financeiro Único do PMDB, no ano da reeleição de Sérgio Cabral'';

''2) Arthur Vieira Bastos – Desde dezembro, é conselheiro da Agetransp, órgão que fiscaliza as concessionárias de transporte. Tesoureiro do PMDB até o ano passado, foi quem cuidou do dinheiro doado por empresas, como a Odebrecht, às campanhas do partido'';

''3) Julio Lopes – Secretário estadual de Transportes''.

Assim caminha a humanidade.


Trens – Secretário de Cabral é igual ao Fluminense: não tem jeito de cair
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Mário Magalhães

blog - julio lopes ri

Detalhe da primeira página de ''O Globo''; Julio Lopes ri da desgraça alheia? A foto é de Gabriel de Paiva

 

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O jornal carioca ''Meia Hora'' pergunta marotamente, na ''Pegadinha do 'Meia''', na primeira página de hoje: ''O que Julio Lopes e o Fluminense têm em comum?''. De cabeça para baixo, imprime a resposta da charada: ''Eles não caem nunca''.

O ''Meia Hora'' não tinha a imagem que mais combinaria com o seu tirocínio editorial, a que está na capa de ''O Globo'' (reprodução acima) e já corria a internet ontem: em meio ao caos nos transportes da região metropolitana do Rio, desencadeado pelo descarrilamento de um trem, o secretário estadual de Transportes ria ou gargalhava.

O gesto ofensivo aos 600 mil passageiros prejudicados trai a essência de Julio Lopes, mas ainda está longe do seu pronunciamento mais covarde desde que assumiu a pasta em 2007, no começo do governo Sérgio Cabral. Em agosto de 2011, um acidente com um bonde de Santa Tereza provocou a morte de seis pessoas e o ferimento de ao menos 57.

Quem Julio Lopes culpou então? O motorneiro do bonde. Acontece que Nelson Correa da Silva não podia se defender, pois morrera na tragédia em que o veículo tombou numa curva. Quando o freio falhou, em vez de se safar, o condutor permaneceu no posto, gritando para os passageiros pularem para fora. Morreu como herói, conforme o testemunho de numerosas vítimas.

Um laudo comprovaria que o bonde tinha 23 defeitos e não poderia circular. Nove dias antes, o Estado havia deixado de pagar a empresa responsável pela manutenção, depois de o Tribunal de Contas questionar o contrato. Procurada à época, a secretaria comandada por Julio Lopes se recusou a informar qual era o problema.

Tão valente contra os mais fracos, Julio Lopes é no mínimo pusilânime com a SuperVia, concessionária que opera os trens metropolitanos. Sempre que o descaso da empresa com os usuários fica evidente, o secretário vai à luta para defender, como ele diz, a ''parceira''. A tal parceira teve o contrato estendido desde que passou a ser controlada pela Odebrecht, essa grande amiga do Estado.

O comportamento da SuperVia é ilustrado pelo episódio de abril de 2009, quando agentes a seu serviço açoitaram passageiros, em cena que, exibida na TV, assombrou o Brasil. Ontem, Julio Lopes disse que não houve caos e que solução só virá em 2016. Ele assumiu, reitero, em 2007.

Quem deveria cuidar de punir a SuperVia pelo descaso aplica multas miseráveis, e mesmo assim a maioria dos valores acaba não sendo paga. Mas o que esperar da agência reguladora recheada de partidários de Sérgio Cabral? Alguns membros, indagados sobre seu know-how na área dos transportes públicos, não titubearam em reconhecer que nada entendem.

E o que entende Julio Lopes? Como ele conta em seu site oficial, tem formação superior em administração de empresas e pós-graduação em administração escolar e marketing. É empresário do ramo educacional. Seus colégios costumam ter desempenho de sofrível a ridículo no Enem.

O secretário de Cabral integra o Partido Progressista (o nome é mais engraçado do que a pegadinha do ''Meia Hora''). Reivindica a condição de ''grande seguidor do mestre e exemplo na política brasileira''. Para quem não identificou o guru, trata-se do senador Francisco Dornelles.

Eleito deputado federal em 2002 e 2006, no ano seguinte Lopes foi trabalhar com Cabral. Reelegeu-se em 2010, mas com menos votos do que no pleito anterior.

Na época das mortes em Santa Tereza, houve protesto de centenas de moradores pedindo a cabeça de Julio Lopes. Como lembrou hoje o jornal, o secretário é feito o Fluminense, não tem jeito de cair.

Seu tapetão se chama Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro.


Biografia ‘Marighella’: Prêmio Botequim Cultural, agora com troféu
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Mário Magalhães

mariga - premio botequim cultural

 

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Eis o novo e ilustre morador aqui de casa: Dom Quixote, esta estatueta belíssima, obra do Edgar Duvivier para o Prêmio Botequim Cultural.

Recebida com imensa alegria, a escultura só chegou graças à generosidade da Adriana e do Renato Mello, animadores do site Botequim Cultural. Na primeira edição do prêmio, com voto dos internautas, ''Marighella'' (Companhia das Letras, 2012) foi eleito a melhor biografia do ano _ganharia também o Prêmio Jabuti e o Prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte, de melhor biografia, além do Prêmio Direitos Humanos, como hors concours.

Só que em 2012 ainda não havia troféu, introduzido em 2013. Na camaradagem, o Renato e a Adriana me presentearam com um, com nome gravado e tudo.

Gracias, viejos!

Bem-vindo, Dom Quixote!


‘Por que os generais não imitam a Rede Globo’, por Luiz Cláudio Cunha
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Mário Magalhães

Comandantes militares não batem palmas – Foto Alan Marques/Folhapress

 

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Com muita honra, compartilho aqui no blog ensaio de autoria do jornalista Luiz Cláudio Cunha, publicado na edição de janeiro da revista ''Brasileiros''. Trata-se de uma reflexão densa e arguta, pela pena de um dos mais talentosos e íntegros repórteres do país. São 11.958 palavras, ou mais de 73 mil caracteres (incluindo espaços), que não cansam. Pelo contrário, convidam ao passeio pela história e provocam as consciências, deixando um gosto de quero mais. Se eu fosse editor de livros, correria para imprimir este ensaio brilhante, a tempo do aniversário de meio século do golpe de Estado. Boa leitura.

* * *

Por que os generais não imitam a Rede Globo

Por Luiz Cláudio Cunha

Passaram-se 49 anos, quase meio século, para o Brasil ver o inesperado, o impensável. Não uma, mas duas vezes. No curto intervalo de 75 dias, o País que hostiliza a memória teve de se voltar para o passado e resgatar personagens e verdades históricas, revolvendo fatos e circunstâncias que uniram durante muito tempo duas forças poderosas na implantação e essenciais na sustentação da ditadura: as Forças Armadas e as Organizações Globo.

Na manhã cinzenta de uma histórica quinta-feira, 14 de novembro de 2013, no hangar da Base Aérea de Brasília, dez cadetes do Exército, Marinha e Aeronáutica carregaram com visível esforço a pesada urna funerária que continha os restos mortais do presidente João Goulart (1919-1976), exumado de seu túmulo em São Borja (RS) para uma perícia internacional que poderá elucidar dúvidas sobre sua morte. O esquife foi recebido com reverência de chefe de Estado, guarda de honra, hino, salva de tiros de canhão e um forte clima de emoção dominava os 160 convidados da família Goulart e da presidenta Dilma Rousseff, que ali estava com parte de seu Ministério. Entre as autoridades, os três comandantes das Forças Armadas, que prestaram continências tardias ao homem que derrubaram do poder em 1964, marco de uma ruptura institucional que golpeou a democracia e martirizou a nação pela violência e pelo arbítrio.

Goulart, popularizado como Jango, resume uma acelerada história de sucesso que a força militar abortou pelo peso esmagador das armas. Aos 26 anos, Jango era apenas um jovem e rico fazendeiro na fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. Aos 28, estreou na política como deputado estadual. Aos 31, tornou-se deputado federal. Com 34 anos, foi nomeado ministro do Trabalho por Getúlio Vargas, seu padrinho político. Aos 36, elegeu-se vice-presidente com mais votos do que o presidente eleito, Juscelino Kubitschek. Aos 41, reelegeu-se vice, pela chapa de oposição ao presidente eleito Jânio Quadros. Aos 42 anos, pela crise inesperada da renúncia do titular, viu-se ungido presidente da República, 16 anos mais jovem do que Lula ao chegar ao Planalto em 2003. Aos 45, foi deposto e exilado. Aos 57, morreu no exílio argentino e só então pode regressar à sua terra natal. Teria 94 anos, agora, se não tivesse retornado a Brasília reduzido aos restos de um punhado de ossos ainda atravessados na consciência nacional. A volta de Jango à sede do poder, do qual foi apeado militarmente há meio século, foi o primeiro fato inesperado que remexeu com a memória dos brasileiros. O segundo fato, ainda mais imprevisível, ocorreu dois meses e meio antes.

Na edição nobre de um domingo, 1o de setembro de 2013, o jornal O Globo, carro-chefe das Organizações Globo, abriu duas páginas para um histórico mea culpa, reconhecendo em editorial um refrão das ruas: “A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”. O editorialista cravou que, “à luz da História, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais que decorreram desse desacerto original”.

( Leia a íntegra clicando aqui, no link do ''Observatório da Imprensa'' )


Em meio ao caos nos trens, Cabral corta mais imposto de empresas de ônibus
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Mário Magalhães

O governador Sérgio Cabral – Foto Daniel Marenco – 14.jun.2013/Folhapress

 

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O descarrilamento de um trem pouco depois das cinco da manhã, na altura do bairro de São Cristóvão, provoca o caos no transporte da cidade, como informa reportagem do UOL. Como sempre, pagam os mais pobres, como a diarista aqui de casa, que não conseguiu chegar ao trabalho. Milhares de passageiros protestam contra a concessionária SuperVia, controlada pela Odebrecht. Não faltarão, certamente, críticas estridentes das autoridades estaduais contra a empresa, mas as multas seguirão o padrão miserável que mais incentiva do que constrange o mau serviço aos cidadãos.

Em meio ao caos nos trens, ecoa a novidade veiculada ontem pelo ''Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro'': decreto do governador Sérgio Cabral concedeu mais um abatimento de impostos para os empresários de ônibus. Agora, caiu pela metade, desconto de 50%, o IPVA, como conta a repórter Célia Costa.

Os empresários já haviam sido beneficiados nos últimos meses com a redução de outros tributos e taxas, mãozinha dada por órgãos e amigos do Município do Rio, do Estado e da União.

Nada disso impediu o compromisso entre o prefeito Eduardo Paes e as empresas de ônibus para o aumento das passagens no comecinho do ano. A tarifa ainda não mudou devido a restrições apresentadas pelo Tribunal de Contas do Município.

Parece que esqueceram: as jornadas de junho de 2013 nasceram de protestos contra o abuso nas tarifas do transporte público.