Blog do Mario Magalhaes

Palavras malditas (9): figurinha carimbada
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Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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É raro como figurinha carimbada jornalistas empregarem corretamente essa expressão: ao contrário do que supõe o pessoal, figurinha carimbada quase não aparece, em contraste com o arroz ou peru de festa, que está sempre presente.

Como lemos e ouvimos, costuma-se dizer que o PMDB é figurinha carimbada nos governos. Que o Wilson Grey _quem é o seu sucessor?_ era figurinha carimbada nos filmes nacionais. Que o Paulo Coelho é figurinha carimbada nas listas de best-sellers. E que o Neymar e o Júlio César são figurinhas carimbadas nas convocações do Felipão.

Ocorre o oposto.

Quem teve a chance de colecionar álbuns lá nas antigas, sabe que a figurinha carimbada era impressa em muito menor quantidade que as outras. Era o cromo difícil de encontrar nos envelopes. Aqueles que nós trocávamos por dez, 20 ou mais figurinhas não carimbadas, as fáceis.

Álbum de figurinha também é cultura.

 


Chega ao Rio ‘Ensaio de Casamento’: amores de Shakespeare, amores da gente
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Mário Magalhães

blog - ensaio de casamento

Maria Marighella e Wanderley Meira, em ''Ensaio de Casamento'', peça que estreia hoje no Rio – Foto divulgação

 

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Com o jamegão do heterônimo Álvaro de Campos, Fernando Pessoa escreveu que ''todas as cartas de amor são ridículas'', e ''não seriam cartas de amor se não fossem ridículas''. Talvez achasse também ridículo o amor. Poetou, com firma própria, ''tenho pena de quem tem de amar''. O português entendia pouco de amor e paixão e viveu-os pouquíssimo.

Quem conhecia mesmo carne e coração era William Shakespeare. Como diria a cantora Rosana, o negócio do bardo era amor & poder. Com o dramaturgo inglês, o amor pode ser ridículo, como volta e meia é mesmo. Porém, é mais que isso. É desejo, ciúme, prazer e insanidade _quem nunca fez uma loucura por amor ou paixão não sabe o que está perdendo; ainda é tempo de surtar.

Casais shakespearianos, como Romeu e Julieta, inspiram ''Ensaio de Casamento'', espetáculo teatral que estreia hoje no Rio, depois de colher ovações de plateias baianas. A montagem mostra um casal de atores em crise, enquanto ensaia uma peça e interpreta cenas de Shakespeare e seus homens e mulheres tantas vezes destrambelhados pelas desventuras amorosas.

''Ensaio de Casamento'' tem no elenco Maria Marighella e Wanderley Meira, o autor do texto. A direção é de Nadja Turenkko. Não custa dizer que sou amigo (e fã) da Maria, neta de Carlos Marighella.

O espetáculo fica em cartaz de hoje a sábado, na Caixa Cultural do Rio, a partir das 19h. Com preços civilizados, os ingressos custam R$ 10 e, a meia, R$ 5.

Tremenda pedida para quem gosta de teatro e dos amores de Shakespeare, que no fundo são os amores da gente.

Abaixo, reproduzo trechos do release distribuído aos jornalistas, com mais informações.

* * *

Romeu e Julieta, Otelo e Desdêmona e Catarina e Petruchio entrarão em cena na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, no espetáculo “Ensaio de Casamento”, em cartaz de 19 a 22 de fevereiro. Os personagens shakespearianos misturam realidade e ficção com o casal da peça, vivido pelos atores Maria Marighella e Wanderley Meira. Dirigidos por Nadja Turenkko, os protagonistas interpretam atores que colocam em xeque a continuidade do seu casamento enquanto ensaiam “Nossa peça de separação” e revivem trechos de autoria de Shakespeare.

O texto, assinado por Wanderley, traz histórias cruzadas para colocar em pauta a paixão, o ciúme, o amor e o fim de uma vida a dois. Propositalmente, os atores-personagens não têm nome em cena, e incorporam a vida e o nome dos próprios personagens que vivem, ensaiam a peça e refletem sobre sua relação pessoal. O projeto tem o patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.

O espetáculo se apoia, na sua concepção cênica, na Arte da Mímica Corporal Dramática de Etienne Decroux, técnica que traz para o corpo os princípios que regem a própria estrutura do drama (o conflito e a ação). Desde a construção metafórica do ''lugar'' da ação metalinguística até a preparação dos atores para a construção das diversas ''máscaras'' cênicas, tudo estabelece um diálogo com essa linguagem. “Falamos aqui de rasuras, de incompletude, de intervalos a serem preenchidos pelo olhar do público, típicos de uma arte moderna, que constrói a cena a partir de simbolismos”, explica a diretora.

A dubiedade que marca a encenação e o texto se completa na composição e na execução dos elementos cênicos. A trilha sonora é gerada da caixa cênica e da plateia. A iluminação transita entre a luz branca de um ensaio e as cores e temperaturas da memória e dos sentimentos. O figurino parte da roupa de base dos atores e se espalha pelo palco, com máscaras e evocações de outras dos personagens e personas vividos pelos atores. E o cenário tem como base um conjunto de picadeiros praticáveis que começa como um bolo de casamentos e vai se transformando ao longo da peça.

A montagem de “Ensaio de Casamento” rende uma homenagem ao teatro, oferecendo ao público a possibilidade de se infiltrar no ensaio geral de um espetáculo, testemunhando, além da intimidade do casal, as inseguranças, incertezas, medos e angústias dos atores às vésperas da estreia do seu trabalho. A frase-mote da peça “Vamos continuar”, confunde personagens e público, num labirinto de sentimentos e expectativas sobre a continuidade do ensaio ou a continuidade do casamento.

Serviço:

Espetáculo “Ensaio de casamento”

Dias: 19 a 22 de fevereiro (quarta-feira a sábado)

Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Teatro de Arena

Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (Metrô: Estação Carioca)

Telefone: (21) 3980-3815

Horário: 19h

Entrada:  R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia-entrada.

Duração: 60 minutos

Lotação: 189 lugares

Bilheteria: de terça-feira a domingo, das 10h às 20h

Classificação: 14 anos


Por que derrubaram Jango (6)
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Mário Magalhães

blog - jango fazendeiros armados

Primeira página do ''Jornal do Brasil'', 18.fev.1964

 

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A ''luta'' da manchete do ''Jornal do Brasil'', aí em cima, é uma impropriedade ou um eufemismo: não costuma haver ''confronto'' ou ''luta'' entre fazendeiros, protegidos por suas milícias de jagunços, e camponeses sedentos de terra. Nem em 2014, nem 50 anos atrás, quando o ''JB'' publicou essa notícia, no dia 18 de fevereiro de 1964, uma terça-feira como hoje. Não ocorrem ''lutas'', mas ''massacres'', dada a desproporção de forças.

Ao contrário do que a Europa e os Estados Unidos tinham começado a fazer séculos antes, dividir a terra, a reforma agrária nem engatinhava no Brasil. O país era e continua a ser uma das nações de maior concentração das áreas de agricultura e pecuária em poucas mãos.

Os latifundiários sabiam que as medidas de reforma anunciadas pelo governo do presidente João Goulart não eram radicais, longe disso. Como eles, Jango era um grande estancieiro.

Os proprietários, porém, temiam que as iniciativas tímidas de Goulart servissem de incentivo aos camponeses e assalariados rurais que montavam acampamentos e promoviam ocupações de fazendas na, agora sim, ''luta'' por um pedaço de terra.

Os herdeiros dos antigos senhores feudais se armaram mais ainda. Não admitiam compartilhar nem mesmo uma área do tamanho de um guardanapo.

Pressionado, João Pinheiro Neto, executivo de Jango para a reforma agrária, reagiu, informou o ''JB'': ''Pinheiro Neto afirmou ontem que, 'a cada novo insulto à sua pessoa, responderá com mais trabalho, mais energia e mais obstinação em busca da reforma agrária, que libertará o camponês brasileiro da miséria em que vive atualmente'''.

Em 18 de fevereiro de 1964, faltavam 44 dias para o golpe de Estado de 1º de abril, quando Jango seria deposto por uma conspiração na qual os novos capitalistas do campo reluziam entre os protagonistas.


Biblioteca JFK divulga tesouro documental que Hemingway armazenou em Cuba
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Mário Magalhães

Ernest Hemingway, autor de ''O velho e o mar''

 

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'''Não há nenhuma razão para que um hambúrguer na sertã fique cinzento, gorduroso, fino como uma folha de papel e sem sabor. Podemos acrescentar todo o tipo de gulodices e sabores à carne picada – cogumelos cortados, molho cocktail, alho e cebola aos quadradinhos, amêndoas moídas, uma grande colher de Picalilli, ou o que quer que chame a nossa atenção. O ‘Papa’ prefere esta combinação.' Começa assim – e a isto segue-se uma lista de ingredientes que inclui duas colheres de sopa de alcaparras, outra de salva picada e um terço de chávena de vinho branco ou tinto – um dos documentos do espólio de Ernest Hemingway (“Papa”, para os que lhe foram verdadeiramente chegados) que a Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy, em Boston, pôs no início desta semana à disposição dos investigadores.''

Essa é a abertura da reportagem que Inês Nadais publicou domingo no jornal português ''Público'', ''Tudo o que sempre quisemos saber sobre Hemingway e nunca tivemos coragem de perguntar'' (leia a íntegra clicando aqui).

A novidade é que 2.500 documentos e objetos do Prêmio Nobel de Literatura e autor do romance ''O velho e o mar'' _que eu estou relendo, por exigência do meu próximo livro_ estão à espera de pesquisadores na Biblioteca JFK.

São preciosidades que contam a história do gênio que viveu de 1899 a 1961, quando se matou. O acervo foi acumulado por Hemingway nas décadas em que morou numa casa, a Finca Vigía, nas cercanias de Havana.

Uma curiosidade do espólio: ao ser anunciado como Nobel pela Academia Sueca, Hemingway recebeu um telegrama da atriz sueca Ingrid Bergman:

''Afinal os suecos não são assim tão estúpidos''.

Além de assombrosamente linda, a moça tinha humor.


Wagner Moura e o filme ‘Marighella’: ‘Acordo e durmo pensando nisso’
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Mário Magalhães

marighella-wagner-reuniao170214

Na sede da produtora O2 Filmes, em São Paulo, da esq. para a dir., Andrea Barata Ribeiro, Fernando Meirelles, Felipe Braga, Wagner Moura e Bel Berlinck – Foto O2 Filmes

 

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''Esse filme é meu grande projeto, acordo e durmo pensando nisso, estou completamente apaixonado e enlouquecido com ele.''

Foi o que o ator Wagner Moura disse à colega Estefani Medeiros, do UOL, na reportagem ''Nossa geração não sabe o que é morrer por uma causa'' (leia aqui).

Wagner falava sobre sua estreia como diretor de longa-metragem, com um filme sobre a vida do revolucionário Carlos Marighella (1911-69), a ser rodado em 2015. (Transparência: a obra terá como base a biografia que eu escrevi, ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'', editada pela Companhia das Letras.)

Trata-se de uma co-produção de Wagner e da O2 Filmes, produtora de Fernando Meirelles, Bel Berlinck e Andrea Barata Ribeiro.

A O2 (pronuncia-se ''o'', como a letra, ''dois'') divulgou ontem em seu blog notícias sobre o filme (aqui).

No Twitter, Fernando Meirelles comentou: ''Marighella ganhou uma escola com seu nome ontem e agora ganhará um filme''.

O colégio Carlos Marighella fica em Salvador. Até a semana passada, seu nome era Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici.


Palavras malditas (8): vítima fatal
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Mário Magalhães

Na “Tribuna da Imprensa”, em 1986, eu escrevia em máquinas – Foto multtclique.com.br

 

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Para quem vive de escrever, o companheiro mais fiel não é o cachorro, e sim o dicionário.

Sobretudo escrevendo livro, quando muitas vezes a repetição de palavras, em vez de buscar efeito estético e retórico, expõe a prosa involuntariamente suja e a negligência literária.

Assim que ligo o computador, abro a janela da versão eletrônica do Houaiss, abrigada aqui no UOL. Além de informar o significado das palavras, seus verbetes sugerem coleções de sinônimos para amparar minhas aflições. Muito raramente, quando o Houaiss não dá conta, recorro aos volumes impressos do Aurélio e, em cinco tomos, do velho Caldas Aulete herdado de outras gerações.

Eis o que o Houaiss ensina, aqui na tela do notebook, sobre o adjetivo ''fatal'':

1 que é inevitável; que ocorre como se fora determinado pelo destino

‹ não havia saída, aquela progressão era f. ›

2 que põe termo, que mata; funesto, mortal

‹ tiro f. ›

3 que leva à infelicidade, à ruína

‹ a mulher f., erro f. ›

4 que é desastroso, nefasto

‹ as ditaduras são f. aos intelectuais ›

5 que não se pode prorrogar

‹ prazo f. ›

6 que prenuncia ou faz prever desfecho trágico ou funesto

‹ paixão f. › ‹ decisão f. ›

* * *

''Letal'' é um sinônimo, registra o dicionário, que acrescenta: por considerarem ''fatal'' um galicismo, puristas da língua preferem o emprego de ''mortal''.

Se ''fatal'' significa o ''que mata'', é imprópria a expressão largamente difundida ''vítima fatal''.

Alguém ou alguma coisa é vítima de uma fatalidade. Isto é, não é fatal. Vítima de acidente fatal, ataque fatal, descuido fatal, ignorância fatal, conversa fatal, demissão fatal, vacilo fatal, paixão fatal. Mas não vítima fatal.

Até onde eu entendo, a vítima só será fatal num caso assim: vítima de escorregão fatal, a pessoa cai do 22º andar e mata um transeunte que passava pela calçada. Vítima porque foi vítima do escorregão; fatal, porque matou.

 


Daniel Aarão Reis e Marly Vianna debatem coleção ditadura, de Elio Gaspari
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Mário Magalhães

blog - elio gaspari debate

 

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A Intrínseca está lançando as novas edições impressas e eletrônicas dos quatro livros de Elio Gaspari sobre a ditadura (o autor prepara o quinto volume, que tratará do governo do general João Baptista Figueiredo).

Para celebrar o lançamento, haverá um debate amanhã, quarta-feira (19.fev), na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

A partir das 19h30, com os historiadores Daniel Aarão Reis e Marly Vianna.

Ótimo programa, para quem gosta de história.

(Elio Gaspari, avesso a eventos públicos, não estará presente.)


Assessoria de Freixo corrige informação falsa sobre presença em ato
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Mário Magalhães

A assessoria de Marcelo Freixo enviou uma errata agora há pouco às redações do Rio informando que errou ao divulgar que este blogueiro participaria de ato de solidariedade ao deputado estadual do PSOL-RJ.

A assessoria escreveu:

''A organização do ato de desagravo ao deputado estadual Marcelo Freixo errou ao divulgar que o jornalista Mário Magalhães participará do evento. Pedimos desculpas a todos e todas''.

Antes, centenas de jornalistas do Rio haviam sido informados de que eu estaria presente, não só no ato, mas na mesa que dirigirá os trabalhos. Era mentira.

A informação não procede, como alertei em post anterior, que reproduzo abaixo:

* * *

Assessoria de Freixo mente sobre presença de jornalista em ato

Uma informação falsa está sendo divulgada pela assessoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ): nota transmitida à imprensa afirma que este blogueiro, Mário Magalhães, participará de ato público nesta segunda-feira em solidariedade a Freixo.

Desde a década de 1980, este jornalista não participa de manifestações de caráter político-partidário.

Lamento profundamente que a assessoria de Freixo, levianamente, divulgue uma mentira irresponsável.

Deveria ter mais cuidado, até porque tem aprendido na própria carne o que  é ser vinculado a ações com as quais nada tem a ver.

Continuarei a comentar, com a independência jornalística necessária, a investigação sobre a morte do colega Santiago Andrade.

Alertei a assessoria de Freixo sobre a falsidade. Disseram que iriam “ver o que aconteceu”. Não me interessa. Espero uma correção rápida e clara.

Lamentável, profundamente lamentável. É a primeira vez que isso ocorre _associarem-me a manifestação da qual não participarei_ em quase 30 anos de jornalismo.


Assessoria de Freixo mente sobre presença de jornalista em ato
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Mário Magalhães

Uma informação falsa está sendo divulgada pela assessoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ): nota transmitida à imprensa afirma que este blogueiro, Mário Magalhães, participará de ato público nesta segunda-feira em solidariedade a Freixo.

Desde a década de 1980, este jornalista não participa de manifestações de caráter político-partidário.

Lamento profundamente que a assessoria de Freixo, levianamente, divulgue uma mentira irresponsável.

Deveria ter mais cuidado, até porque tem aprendido na própria carne o que  é ser vinculado a ações com as quais nada tem a ver.

Continuarei a comentar, com a independência jornalística necessária, a investigação sobre a morte do colega Santiago Andrade.

Alertei a assessoria de Freixo sobre a falsidade. Disseram que iriam ''ver o que aconteceu''. Não me interessa. Espero uma correção rápida e clara.

Lamentável, profundamente lamentável. É a primeira vez que isso ocorre _associarem-me a manifestação da qual não participarei_ em quase 30 anos de jornalismo.