Blog do Mario Magalhaes

Na 6ª premiação do livro, ‘Marighella’ recebe Prêmio Brasília de Literatura
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Mário Magalhães

Editado pela Companhia das Letras, o livro está na quinta reimpressão

 

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Muito feliz, compartilho aqui no blog uma ótima notícia: ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' recebeu o 2º Prêmio Brasília de Literatura como melhor biografia.

É a sexta vez que o livro, editado pela Companhia das Letras, é premiado. Antes, vieram o Prêmio Jabuti, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), o Prêmio Casa de las Américas, o Prêmio Direitos Humanos e o Prêmio Botequim Cultural.

A entrega do Prêmio Brasília de Literatura ocorrerá na quinta-feira que vem. Para ler a lista dos premiados, basta clicar aqui.

No próximo sábado, 12 de abril, terei o prazer de, enfim, lançar a biografia em Brasília: a partir das 20h, na Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Antes da sessão de autógrafos, farei a palestra ''Marighella: a batalha das biografias e o direito à memória''.

''Marighella'' está na quinta reimpressão. Será adaptado para o cinema, numa coprodução de Wagner Moura com a produtora O2. O filme marcará a estreia de Wagner como diretor de longa-metragem. Deve ser rodado em 2015 e lançado em 2016.


Flamengo colhe o que plantou e, merecidamente, fracassa na Libertadores
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Mário Magalhães

aaaaaa - andre santos

O decadente André Santos foi o retrato do Flamengo – AFP Photo / Vanderlei Almeida

 

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Depois da vitória contra o Emelec, eu achei que dava para o Flamengo sobreviver na Libertadores.

A condição, evidentemente, era repetir o desempenho competitivo demonstrado na vitória em Guayaquil.

Ontem, contudo, a ciclotimia se manifestou no aspecto mais desastroso, com atuação bisonha, o revés em casa, diante do León, e a eliminação na Libertadores 2014 ainda na fase de grupos.

Um time que, em três partidas no Maracanã, contra equipes mexicana, equatoriana e boliviana, só ganha uma vez não merece sobreviver na competição.

O Flamengo não apenas perdeu por 3 a 2. Levou um banho de bola, humilhado diante de sua torcida.

Assistiu ao toque do adversário mexicano, que permaneceu 55% do tempo com a bola nos pés (fonte: Footstats, em ''O Globo'').

O León acertou mais finalizações a gol, 9 a 6, e muito mais perigosas, fazendo do goleiro Felipe no melhor rubro-negro.

Desta feita, ao contrário do ocorrido em partidas anteriores, o Flamengo recebeu mãozinha do árbitro, o argentino Diego Abal. Era para ele ter dado o segundo amarelo para André Santos no começo do segundo tempo e, no fim, o vermelho para Negueba. Amarelou e não deu.

O Flamengo ainda chegou à última rodada batalhando pela classificação porque o nível dos oponentes era baixo. Não baixíssimo, como no Campeonato Estadual, no qual o time da Gávea e do Ninho do Urubu disputa a finalíssima contra o Vasco no domingo.

Mesmo sem encarar bicho-papão, o clube fracassou porque mais uma vez não se comportou à altura da Libertadores.

A diretoria pensou pequeno, implementando um engano: para equilibrar as finanças, estrangulou o orçamento do futebol. Acabou perdendo muito dinheiro, ao desperdiçar a chance de faturar com a Libertadores.

Sem Elias, que partiu, e Luiz Antônio, que foi à Justiça contra o clube, antes de regressar, o Flamengo decaiu muito. Já não era nenhuma maravilha. Conquistara a Copa do Brasil, embalado pela torcida, mas quase caíra no Campeonato Brasileiro.

Cáceres voltou a jogar bem, mas se machucou.

Amaral, a solução com que Jayme de Almeida remediara a defesa, revelou-se um destrambelhado ao ser expulso no comecinho da estreia da Libertadores.

Elano, decadente, logo se contundiu. Ontem, que papelão, entrou, trotou por uns minutos e saiu. Por que escalá-lo?

No clínica geriátrica em que o Flamengo se transformou, o mais lamentável é a insistência de Jayme com André Santos, que já foi um bom jogador. Lento e cansado, ele falhou nos dois primeiros gols do León (no segundo, Samir também bobeou). Ao marcar o seu, arrancou a bandeira de escanteio, levando cartão amarelo que o intimidou na marcação por quase toda a partida. Um irresponsável, que está se lixando para o Flamengo. Por que Jayme o manteve tanto tempo se o lateral se arrastava? Por que ele está sempre cansado, um estafado atávico?

Pior do que a fragilidade do ataque foi a incapacidade do técnico de montar uma defesa combativa. O Flamengo assistiu ao León jogar. Com buracos atrás, foi Alecsandro que, sem precisar, fez a falta que resultou no cruzamento para o primeiro gol do León.

Jayme também errou ao tirar Paulinho, para a entrada de Nixon. Paulinho estava melhor do que Gabriel.

E Negueba rende quando se aposta em contra-ataques, e não quando se pretende encurralar o adversário.

Porém, reconheço, com o elenco medíocre é difícil Jayme obrar milagres. Sua maior infelicidade ontem foi ter (des)organizado um time que deixou o León jogar.

Se a diretoria continuar mirando só a xepa do futebol e enchendo o time de anciões, novas derrotas virão.

Pena, porque a torcida que encheu ontem o Maracanã não merecia o vexame.

P.S.: sobre a eliminação do Botafogo não escreverei, porque minha impressão é que o time não entrou em campo ontem (3 a 0 para o San Lorenzo, em Buenos Aires). Como o Flamengo, um papelão!


A sacada de Jep: ‘Não posso mais perder tempo fazendo coisas que não quero’
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Mário Magalhães

Jep Gambardella (Toni Servillo), personagem de ''A grande beleza'', filme de Paolo Sorrentino

 

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A certa altura de ''A grande beleza'', merecido Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro (pastiche de Fellini uma ova!), o jornalista Jep Gambardella cai fora do que não lhe apetece e explica por quê:

''A mais consistente descoberta que eu fiz poucos dias depois de completar 65 anos foi que já não posso mais perder tempo fazendo coisas que não quero''.

Boa e inspiradora sacada.

Mas é incrível que o personagem vivido por Toni Servillo, um tipo mundano, autor de um livro só e entrevistador de prestígio, tenha demorado quase a vida inteira para descobrir o que descobriu.

Deveria ter começado muito antes a não perder tempo com o que não quer.

P.S., a propósito de tempo: na quinta-feira, 10 de abril, o blog voltará a ser atualizado. Até lá!


O que mais dói, ao escalar a seleção de todos os tempos, são as ausências
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Mário Magalhães

Com seis jogadores, geração do bi de 1958-62 domina a seleção ideal

Seleção da Folha: Gylmar; Carlos Alberto Torres, Aldair, Mauro Ramos e Nilton Santos; Falcão, Didi, Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldo. Técnico: Telê Santana

blog - selecao mm vale

A minha seleção

 

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''Que absurdo!, cadê o Zico?'', bronqueou o meu caçula ao procurar e não encontrar o Galinho na seleção brasileira de todos os tempos, escalada por 70 eleitores consultados pela ''Folha de S. Paulo''.

Como se vê, o moleque de sete anos sabe muito de futebol.

Inacreditável: tiraram da equipe o camisa 10 da Gávea. E ainda chamam o escrete escolhido de ''o time dos sonhos''.

Azar da seleção brasileira de todos os tempos. Aqui em casa, o Zico perfila na seleção mundial.

Na da enquete da ''Folha'', amargou o banco. Só se estivesse com dois joelhos estourados…

Eu não deveria reclamar tanto. Dos meus 11, emplaquei seis, mais o Telê. Faltaram o Barbosa, o Leandro, o Domingos da Guia, o Zizinho e… o Zico!

Colegas queridos e velhos amigos barraram o Zico, mas, para falar a verdade, o que mais me chateou não foi a ausência do meu ídolo.

E sim o drama de não votar em craques que reúnem atributos de sobra para vestir a amarelinha da eternidade.

Barrei o Ronaldo, maior artilheiro de todas as Copas, porque era ele ou o Romário, e este é genial.

Também não deu para o Rivaldo, melhor jogador, aos meus olhos, do time do penta.

Ronaldinho Gaúcho, que só colheu um solitário voto, merecia muito mais. Ele paga pelo presente.

Também doeu não votar no Carlos Alberto Torres, mas o Leandro talvez tenha sido o lateral-direito mais talentoso da história interplanetária.

Uma seleção , a minha, sem o Fenômeno, o Ronaldinho, o Rivaldo e o capita! O culpado sou eu, isso é o que mais dói. Babaca o cara que definiu 11 para cada lado.

Para encaixar a equipe, montei-a no sistema 3-4-3.

Considerei também jogadores que eu não vi em campo, com base em depoimentos, porque senão seria covardia. Não haveria seleção brasileira de todos os tempos, mas do tempo biológico dos eleitores.

O caderno especial publicado pela ''Folha'' em 30 de março teve como gancho os cem anos do primeiro jogo da seleção, em julho de 1914 (saiba mais clicando aqui).

Quando dei com ele, confesso, a primeira coisa que fiz foi procurar o Zico. Acabaram com o meu dia.


Com Eduardo Galeano e Lúcio de Castro, debate ‘Futebol e Ditaduras na AL’
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Mário Magalhães

O uruguaio Eduardo Galeano é o escritor internacional homenageado na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura

O escritor uruguaio Eduardo Galeano – Foto divulgação

O jornalista Lúcio de Castro – Foto reprodução ESPN Brasil

 

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''Futebol e Ditaduras na América Latina'' é o tema do debate que reunirá o uruguaio Eduardo Galeano e os brasileiros Lúcio de Castro, Rodrigo Merheb e eu em Brasília, na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

No meio dessas três feras, é claro que vou muito mais para ouvir.

Será no dia 13 de abril, a partir das 16h, no Auditório Nelson Rodrigues.

O grande Galeano é o escritor homenageado nesta edição da Bienal.

Lúcio, que no ano passado nos brindou com uma tremenda série sobre futebol e ditaduras do Cone Sul, vem de emplacar na ESPN Brasil furos retumbantes que derrubaram o chefão da cartolagem do vôlei.

Rodrigo é autor de ''O som da revolução – Uma história cultural do rock, 1965-1969'' (Civilização Brasileira).

Como disse, eu vou mais para ouvir.


Brasília: biografia ‘Marighella’ será lançada com palestra na Bienal
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Mário Magalhães

 

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Enfim, a biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras) será lançada em Brasília.

Terei a honra de participar da II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, dia 12 abril, sábado.

A partir das 20h, no Auditório Jorge Amado, por coincidência amigo do protagonista do meu livro, farei a palestra ''Marighella: a batalha das biografias e o direito à memória''.

Em seguida, haverá sessão de autógrafos.

Até lá!


Árbitros garfam Flamengo, Botafogo e PSG; prejuízo do alvinegro foi maior
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Mário Magalhães

blog - flamengo alecsandro

Alecsandro comemora seu gol de pênalti contra o Emelec – AFP Photo / Rodrigo Buendia

 

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Em Paris, PSG 3 x 1 Chelsea, o apitador era o sérvio Milorad Mazic.

No Maracanã, Botafogo 0 x 1 Unión Española, o uruguaio Daniel Fedorczuk.

Em Guayaquil, Emelec 1 x 2 Flamengo, o chileno Julio Bascuñán.

Os três árbitros erraram ontem em jogadas de pênalti ou de suposto pênalti.

O equívoco menos grave, portanto com opiniões mais divididas, pareceu-me o penal marcado no estádio Parc des Princes. Mazic apontou falta de Thiago Silva em Oscar, dentro da área. Por mais arriscado que tenha sido o carrinho do zagueiro do PSG, é visível que o meia do Chelsea não foi derrubado por ele. Iria despencar e aproveitou para permitir o choque embaixo. Mais uma vez, o técnico Mourinho ganha mãozinha do juiz.

A garfada  mais acintosa foi a de Fedorczuk contra o Botafogo. O lateral-esquerdo Júlio César tocou a bola para escanteio e só depois houve um leve choque com Jaime. Um escândalo que decidiu a partida.

(Devo entender pouco de regras de futebol e interpretação de lances, porque o comentarista de arbitragem Carlos Simon afirmou que houve pênalti.)

O Flamengo foi prejudicado quando, corretamente, Bascuñán assinalou pênalti contra o Emelec. Se o zagueiro Nasuti não tivesse cortado com a mão, Alecsandro cabecearia, pois seu marcador vinha atrás dele, e não disputando a bola lado a lado. Situação clara de gol. Em vez de ser expulso, Nasuti lamentavelmente foi advertido apenas com o cartão amarelo, no comecinho do jogo.

(De fato, sei nada ou pouco. O comentarista de arbitragem Renato Marsiglia julgou que não era caso de vermelho.)

Flamengo e PSG deram a volta por cima e venceram. Mas o time parisiense poderia ter uma vantagem mais larga para o jogo da volta, pelas quartas-de-final da Champions. E o Flamengo, se tivesse enfiado mais gols contra um time com dez, poderia empatar na derradeira partida da fase de grupos da Libertadores, quando terá obrigação de bater o León.

No caso do Botafogo, o erro sangrou muito mais. Agora, a equipe decidirá na Argentina, contra o San Lorenzo. Pode se classificar, mas é o desafio que se descortina mais complicado.

Três pitacos sobre os jogos, falando só de futebol.

No confronto europeu, impressionou a forma do belga Hazard (Chelsea), 23, e do italiano Verratti (PSG), 21. O brasileiro Willian (Chelsea), também esteve muito bem, principalmente no primeiro tempo. Lavezzi, que fez um gol bonito, e Pastore, que marcou um golaço, os dois do PSG, são reservas na seleção argentina. Reservas! Se nossos vizinhos tivessem do meio para trás a qualidade que têm do meio para frente, seriam os melhores do mundo.

No Maracanã, o Botafogo demonstrou que a dependência de jogar em função de um centroavante enfiado se acentuou. Sem Ferreyra, suspenso, as chances diminuíram. No ano passado, o time tocava a bola, valorizando-a. Agora, cruza na área. Com Henrique mal, deu em nada. (Não custa enfatizar que o placar foi definido por invenção do árbitro.)

Depois da atuação de ontem, comandando o time em campo, Alecsandro merece ser titular na decisão contra o Léon. Wallace fez um partidaço. Jayme errou ao trocar no segundo tempo Muralha por Recife, que errou passes demais, inclusive no lance do pênalti bem marcado contra o Flamengo. Welinton, cedo ou tarde, vai cometer uma estupidez, quase sempre é assim: ontem, fez o pênalti dispensável que resultou no gol do Emelec. Jayme acertou em colocar Negueba para puxar os contra-ataques. Foi dele o passe para Paulinho no gol da vitória. Se a ficha cair, e o Negueba se der conta de que não é craque, ele pode vir a se tornar um bom atacante.

Em tempo: e os obituários precipitados do Flamengo, publicados na semana passada?


50 anos nesta noite: Quem cala sobre teu corpo consente na tua morte
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Mário Magalhães

Gastone, uma brasileira

 

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Quem cala sobre teu corpo

Consente na tua morte

Talhada a ferro e fogo

Nas profundezas do corte

Que a bala riscou no peito

(''Menino'', de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)

A moça da foto era alagoana, media 1,55 metro da sola dos pés até o cocuruto e tinha completado 22 anos em 12 de janeiro de 1972. Agentes do Dops paulista a mataram dez dias depois do aniversário.

Trucidaram-na com 34 lesões, ''a maioria produzida por tiros, inclusive um à queima-roupa, além de facada, fraturas, lesões e equimoses por todo o corpo'', documenta o ''Dossiê ditadura: Mortos e desaparecidos políticos no Brasil, 1964-1985''.

A moça se chamava Gastone Lúcia Carvalho Beltrão. Era mais jovem do que hoje é a minha filha mais velha. Feriram-na a bala, a faca, a sabe-se-lá-o-quê. Até matá-la.

Gastone nascera em Coruripe, estudara em Maceió, mudara-se para o Rio e voltara a Alagoas para cursar economia.

Largou tudo para se dedicar à luta armada contra a ditadura em vigor. Tornou-se guerrilheira da ALN, Ação Libertadora Nacional, a organização de Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira.

Quem cala morre contigo

Mais morro que estás agora

Relógio no chão da praça

Batendo, avisando a hora

Que a raiva traçou

No incêndio repetindo

O brilho de teu cabelo

Os tiras do Departamento de Ordem Política e Social relataram que a morte de Gastone ocorrera em tiroteio.

Peculiar tiroteio:  a facada exige proximidade, bem como um tiro disparado não de longe, mas com a arma grudada ao corpo _o disparo à queima-roupa e outros ferimentos foram constatados pelo perito criminal Celso Nenevê na década de 1990.

Em 1972, os médicos-legistas Isaac Abramovitc e Walter Sayeg haviam assinado laudo sustentando que Gastone não fora morta por ''tortura'' ou ''outro meio insidioso''.

Se execução não é ''meio insidioso'', sucumbe a civilização.

Quem grita vive contigo

Em agosto de 1996, numa decisão unânime da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, da qual participava representante das Forças Armadas, a União reconheceu que Gastone não fora morta em ''violento tiroteio'', e sim depois de presa.

Como Gastone, outras mulheres foram assassinadas por agentes públicos daqueles tempos. Muitas foram humilhadas, estupradas, surradas, torturadas, empaladas.

E outros homens também, inclusive alguns nos quais a barba recém despontara.

É o de menos a opinião sobre as opções políticas de Gastone. Goste-se ou não do caminho que ela trilhou com valentia e generosidade, a guerrilheira estava sob custódia do Estado. Nem a lei (oficial) da ditadura permitia torturar e executar.

A ditadura matou no mínimo 396 cidadãos, dos quais cerca de 130 permanecem desaparecidos.

Enquanto persistir a impunidade dos agentes do Estado que violaram os direitos humanos naquela era sombria, novas gerações sofrerão nas mãos de funcionários públicos confiantes na permissão para barbarizar.

Quem grita vive contigo!

''Menino'', a canção de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, foi inspirada no estudante Édson Luís de Lima Souto.

Ouça a música aqui.

Aos 18 anos, o rapaz pobre e com rosto de Garrincha quando jovem foi baleado no coração. Era março de 1968. Um policial militar o matou, no Rio, e a multidão alertou: ''Podia ser seu filho''.

Gastone também podia (seus restos repousam em cemitério de Maceió).

Hoje à noite, a noite de 1º de abril de 2014, fará 50 anos que o presidente constitucional João Belchior Marques Goulart se despediu de Brasília pela última vez, selando o golpe de Estado que o depôs e liquidou a democracia.

Por muito tempo, o Brasil e os brasileiros trocaram esperança, compaixão e solidariedade por indiferença e desencanto.

Calar sobre os matadores de Gastone e tantos cidadãos é consentir com as trevas.

Ainda é tempo de fazer justiça, julgando e punindo torturadores e assassinos.

É tempo de honrar Vladímir Maiakóvski.

O poeta russo escreveu: ''Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz''.

Felicidade e ditadura não nasceram uma para a outra.


Assim derrubaram Jango: leia capítulo da biografia ‘Marighella’ sobre golpe
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Mário Magalhães

Editado pela Companhia das Letras, o livro está na quinta reimpressão

 

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Há 50 anos, o Brasil mergulhava nas trevas. O golpe de Estado de 1º de abril de 1964 depôs o presidente João Goulart e inaugurou a ditadura que sobreviveria por 21 anos.

Narrei as horas quentes da derrubada de Jango no capítulo ''Os aviões ficaram no chão'', da biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo''.

A narrativa começa no fim da tarde de 30 de março e vai até a derrota.

A Companhia das Letras liberou o capítulo gratuitamente, na internet.

Ei-lo:

* * *

Os aviões ficaram no chão

Eram no mínimo dez os sargentos, na maioria do Exército, a quem Marighella fez a derradeira recomendação no entardecer de 30 de março de 1964: ali mesmo, na residência onde a janela da sala contemplava o Morro Azul, que ninguém deixasse de vestir a farda para a manifestação noturna. Quanto mais uniformes militares colorissem os salões do Automóvel Club do Brasil, mais escancarado seria o respaldo às decisões recentes do governo. Não era a primeira vez que ele se encontrava com praças das Forças Armadas no apartamento de fundos na Marquês de Abrantes, rua do bairro do Flamengo celebrizada como corredor de pensões no século XIX. Os inquilinos eram seus correligionários João Batista Xavier Pereira e a mulher, Zilda Paula. Marighella também se reunia com sargentos no subúrbio. Chefe da seção armada do PCB, Salomão Malina observara que em 1961 o camarada ''começou a depositar […] uma esperança […] exagerada em certos movimentos da área militar''. Conversou com ele, que não lhe deu ouvidos.

Na batalha pela posse de Jango, a guarnição do contratorpedeiro Ajuricaba aprisionara os oficiais. Marighella confiava em tal combatividade não apenas para referendar a agenda de Goulart, mas para ultrapassá-la. Em 1962, Prestes anotara: ''Marighella — Em vez de colocar como questão central as reformas de estrutura, colocar o problema de luta por um novo poder''. Se dois anos mais tarde o PCB aparentava se diluir na frente reformista do presidente, Marighella preservara a ruptura revolucionária no horizonte.

Enquanto ele se despedia dos sargentos, Goulart titubeava em comparecer ao ato pelos quarenta anos da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar. O deputado Tancredo Neves desestimulou-o, pois o desgaste com a oficialidade já fora demasiado com a anistia aos marinheiros. No Gabinete Militar o capitão Eduardo Chuahy, receoso de nova afronta à hierarquia, labutou pelo forfait. O presidente deu de ombros aos rumores de provocações, desceu na rua do Passeio e adentrou o prédio em cujo interior rodaram a chanchada O homem do Sputnik. Não teria por que rir da noite do último discurso em seu país.

A exaltação dos mais de mil militares e policiais era tamanha que eles achincalharam com vaias um sargento que enumerou reivindicações, mas descartou opinar sobre política para não ferir os regulamentos corporativos. Os apelos de Jango — ''respeitem a hierarquia legal'', sejam ''cada vez mais disciplinados'' — contrastaram com o abraço espalhafatoso entre o almirante Aragão e o Cabo Anselmo. No entanto, seu raciocínio fazia sentido:

''Na crise de 1961, os mesmos fariseus que hoje exibem o falso zelo pela Constituição queriam rasgá-la e enterrá-la sob a campa fria da ditadura fascista.''

Como em uma carta-testamento que jamais escreveria, Goulart evocou o religioso católico dom Hélder Câmara e seu sermão:

''Os ricos da América Latina falam muito de reformas de base, mas chamam de comunistas aqueles que se decidem a levá-las à prática.''

A estrela da festa no Automóvel Club cuspiu fogo e bafejou mistérios. Ao colunista Paulo Francis, do vespertino Última Hora, Jango se afigurou ''pálido, assustado, semicoerente''. Um acompanhante de Goulart, a caminho da solenidade, confidenciou ao jornalista Janio de Freitas que o presidente aceitara por duas vezes ''bolinhas'' — estimulantes — do patrão de Francis, Samuel Wainer. Nem no texto preparado por assessores, nem nos improvisos apimentados o orador atordoado mobilizou, para barrar eventual golpe de Estado, os milhões de cidadãos que o escutavam no rádio.

Antes de Jango concluir seu discurso, o general Olímpio Mourão Filho recolheu-se aos seus aposentos em Juiz de Fora, na zona da mata mineira. O comandante da 4ª Região Militar e da 4ª Divisão de Infantaria engatilhara o plano: entre as quatro e as cinco horas da manhã da terça-feira, 31, suas tropas marchariam com destino ao Rio de Janeiro para depor o presidente. O putsch deveria eclodir dias depois, mas o general à testa da Infantaria Divisionária em Belo Horizonte, Carlos Luís Guedes, preferiu antecipá-lo para prevenir dissabores astrais: ao lançar a sorte no terreno de operações, o oficial costumava fugir da Lua minguante, temida por ele como a Lua cheia pelos lobisomens.

* * *

''Os generais Guedes e Mourão Filho são dois velhinhos gagás, não são de nada!'', fanfarreou o general Assis Brasil diante de Jango, na atmosfera farsesca do palácio Laranjeiras. Pelo meio-dia, com os soldados sob as ordens dos golpistas a caminho do Rio, Goulart insistiu que havia ''muito boato''.

Embora não fosse o alvo da ofensiva, o general Castello Branco talvez tenha se espantado mais que o presidente. A conspiração dominante gravitava na órbita do chefe do Estado-Maior do Exército. Em seus cenários para a derrubada de Jango, o pior seria jogar-se ao assalto do poder, concedendo ao antagonista a bandeira da legalidade. ''Fomos surpreendidos pela ação de Mourão'', reconheceu o general Ernesto Geisel, então encostado em cargo irrelevante. ''Castello achou que o movimento era prematuro, que o Mourão tinha agido afoitamente.''

O cearense Castello era general-de-exército (quatro estrelas), acima do general-de-divisão Mourão (três) e do general-de-brigada Guedes (duas). Nada que constrangesse os mineiros: a dupla havia maquinado uma empreitada autônoma, em consórcio com o governador Magalhães Pinto e empresários. Nem Mourão, aos 63 anos, nem Guedes, aos 58, prestavam-se ao papel de anciãos senis do vitupério do guia do ''dispositivo militar'' janguista. O camisa-verde Mourão Filho criara, em 1937, o diabólico Plano Cohen, falsidade atribuída aos comunistas que serviu de pretexto para a ascensão do Estado Novo. Agora não era um protagonista nas trevas: golpeava à luz do sol — e da Lua cheia que iluminou a virada para abril. Guedes já comparava sua ofensiva sem sustos ''às blitzen da Alemanha contra a Polônia, com a diferença de que, até o momento, não foi disparado um só tiro''.

O chumbo viria, profetizou a estação da CIA no Brasil em um cabograma de 30 de março. A agência tratou, como os golpistas, a quartelada iminente como ''revolução'': ''A revolução não será resolvida rapidamente e será sangrenta. Os combates no Norte podem continuar por um longo período''. No dia 27, o embaixador Lincoln Gordon remetera às autoridades de segurança nacional americanas um telex top secret encomendando ''o mais rápido possível'' armas para os aliados de Castello Branco em São Paulo. Justificou a pressa: ''Existe o perigo real de irrupção da guerra civil a qualquer momento''. Com o bloco dos generais na estrada, os Estados Unidos se moveram rápido. Não faltava tarimba a quem apeara um governo no Irã, em 1953, outro na Guatemala, no ano seguinte, e se engalfinhava com guerrilheiros no Vietnã.

Como considerava o Brasil território em disputa no duelo da Guerra Fria, a Casa Branca desencadeou as ações inventariadas no dia 31 pelo secretário de Estado, Dean Rusk, ao embaixador Gordon. Logo após o meio-dia, horário de Brasília, Rusk telegrafou pormenorizando o suporte inicial aos pelotões anti-Goulart: quatro contratorpedeiros, dois contratorpedeiros de escolta, um porta-aviões e quatro petroleiros. Uma reunião com Gordon dez dias antes, em Washington, previra também um contingente de fuzileiros. Para efeitos diplomáticos, a força-tarefa naval desenvolveria manobras inofensivas em águas adjacentes ao litoral brasileiro. Precisariam de 24 a 36 horas para dez aviões cargueiros, protegidos por seis caças, decolarem com 110 toneladas de munição. A operação foi batizada como Brother Sam.

A causa do Tio Sam era a mesma de espaçosa coalização nacional, da extrema direita belicosa a confrarias liberais de tradição. Além do colega mineiro, os governadores da Guanabara, Carlos Lacerda, e de São Paulo, Adhemar de Barros, mancomunaram-se com o levante. A Igreja reproduziu no interior paulista a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, e nova multidão era aguardada quinta-feira, no Rio. Se dependesse do tenente Reynaldo de Biasi Silva Rocha, não seria mais uma jornada de protesto, e sim a celebração da queda de Jango. Às sete horas da terça-feira, 31 de março, ele ministrou uma instrução de combate à baioneta em Juiz de Fora.

''Quem quer passar fogo nos comunistas levante o fuzil!'', exclamou. A tropa ergueu as armas e partiu para o Rio de Janeiro.

Para ler a íntegra, basta clicar sobre um dos links abaixo:

Site da Companhia das Letras;

Cultura;

Saraiva;

Iba;

Amazon;

Kobo;

iTunes.


19 capas de jornais e revistas: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe
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Mário Magalhães

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Na semana dos 50 anos do golpe de Estado, o blog compartilha uma coleção de 19 primeiras páginas de jornais e capas de revistas publicadas nas horas quentes do princípio de abril de 1964.

Mais do que informação, constituíam propaganda, notadamente a favor da deposição do presidente constitucional João Goulart.

Até onde alcança o conhecimento do blogueiro, as imagens configuram a mais extensa amostra (ficarei feliz se não for) do comportamento do jornalismo brasileiro meio século atrás.

Trata-se de documento histórico, seja qual for a opinião sobre os acontecimentos.

Desde já o blog agradece novas capas que eventualmente sejam enviadas por meio do Facebook e do Twitter. Caso venham, serão acrescentadas a esta exposição.

Dos 19 periódicos aqui reunidos, oriundos de cinco Estados, 17 são jornais diários, alguns dos quais já não circulam, e dois são revistas hoje extintas.

Apenas três se pronunciaram em defesa da Constituição: ''Última Hora'', ''A Noite'' e ''Diário Carioca''. Nos idos de 1964, os dois últimos não tinham muitos leitores.

Os outros 16, em diferentes tons, desfraldaram a bandeira golpista.

As fontes da garimpagem foram: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; Google News Newspaper Archive; sites e versões impressas de jornais; não menos importantes, blogs e sites, aos quais sou imensamente grato.

É muito provável que, quanto mais capas se somarem, maior seja a proporção das publicações que saudaram o movimento que pariu a ditadura de 21 anos.

Para não ser original e repetir uma expressão consagrada: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe.

* * *

A Noite (Rio), 1º de abril de 1964: ''Povo e governo superam a sublevação''.

Contrário ao golpe, jornal aposta no triunfo de Jango.

press - a noite - 1 de abril de 1964

 

Correio da Manhã (Rio), 1º de abril de 1964: ''(?) Estados já em rebelião contra JG''.

Editorial clama pela deposição de João Goulart: ''Fora!''.

000 - correio

 

Diário Carioca, 1º de abril de 1964: ''Guarnições do I Exército marcham para sufocar rebelião em Minas Gerais''.

O jornal defendeu a Constituição.

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Diário da Noite (São Paulo), 2 de abril de 1964: ''Ranieri Mazzilli é o presidente''.

O jornal dos Diários Associados trata a nova ordem como ''legalidade''

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Diário da Região (São José do Rio Preto, SP), 2 de abril de 1964: ''Exército domina a situação e conclama o povo brasileiro a manter-se em calma''.

Depois do golpe com armas, o apelo por calma.

 

Diário de Notícias (Rio), 2 de abril de 1964: ''Marinha caça Goulart''.

''Ibrahim Sued informa: É o fim do comunismo no Brasil.''

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Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1964: ''Jango sai de Brasília rumo a Porto Alegre ou exterior: posse de Mazilli''.

Governador constitucional Miguel Arraes, vestido de branco no Fusca, é preso e cassado.

 

Diário de Piracicaba (SP), 2 de abril de 1964: ''Cessadas as operações militares: A calma volta a reinar no país''.

No dia seguinte: ''Relação de deputados que poderão ser enquadrados: Comunistas ou ligações com o comunismo''.

 

Diário do Paraná, 2 de abril de 1964: ''Auro Andrade anuncia posse de Mazzilli com situação normalizada''.

No alto: ''Povo festejou na Guanabara vitória das forças democráticas''.

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Fatos & Fotos, abril de 1964 (data não identificada): ''A grande rebelião''.

Uma revista em júbilo.

 

Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ''Congresso declara Presidência vaga: Mazzilli assume''.

''Papel picado comemorou a 'renúncia' de João Goulart.''

press - folha - 2 de abril de 1964

 

Jornal do Brasil (Rio), 1º de abril de 1964: ''S. Paulo adere a Minas e anuncia marcha ao Rio contra Goulart''.

'''Gorilas' [pró-Jango] invadem o JB.''

press - jornal do brasil - 1 de abril de 1964

 

O Cruzeiro, 10 de abril de 1964: ''Edição histórica da Revolução''.

Revista celebra um herói da ''Revolução'', o governador de Minas, Magalhães Pinto, um dos artífices do golpe.

 

O Dia, 3 de abril de 1964: ''Fabulosa demonstração de repulsa ao comunismo''.

Jango chegou ao Rio Grande do Sul no dia 2. De lá, iria para o Uruguai. ''O Dia'': ''Jango asilado no Paraguai!''.

press - o dia - 3 de abril de 1964

 

O Estado de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ''Vitorioso o movimento democrático''.

É a contracapa, porque a primeira página, era o padrão, só tinha notícias do exterior.

 

O Globo (Rio), 2 de abril de  1964: ''Empossado Mazzilli na Presidência''.

Título do editorial: ''Ressurge a democracia!''

press- o globo - 2 de abril de 1964

 

O Povo (Fortaleza), sem data: ''II e IV Exércitos apoiam movimento mineiro''.

Quartel-general do IV Exército, no Recife, comandava a Força no Nordeste.

press - o povo sem data

 

Tribuna do Paraná, 2 de abril de 1964: ''Rebelião em Minas''.

''General Mourão Filho abre a revolta: 'Jango tem planos ditatoriais'.''

 

Última Hora, 2 de abril de 1964: ''Jango no Rio Grande e Mazzilli empossado''.

Jogando a toalha: ''Jango dispensa o sacrifício dos gaúchos''.

GOLPE-ultima-hora-2-de-abril-de-1964