Blog do Mario Magalhaes

Uma conversa com Flávio e Zezé, os técnicos da seleção nas Copas de 50 e 54
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Mário Magalhães

blog - flavio e zeze vale

''Folha de S. Paulo'', 16 de abril de 1995

 

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Em campo, uma era o Alicate, e o outro, o Zé Cavalo. Lutavam _e às vezes batiam_ muito.

Tornaram-se dois grandes treinadores, gigantes do futebol brasileiro.

Flávio Costa, o Alicate, comandou a seleção na fatídica Copa de 50. Zezé Moreira, o Zé Cavalo, na de 54.

Foram os Mundiais do complexo de vira-latas, como diria Nelson Rodrigues. Em 58, o Brasil papou seu primeiro caneco.

Quando conversei com os dois, 19 anos atrás, eu me senti, com razão, um sortudo: passar três horas ouvindo Flávio e Zezé compartilharem suas memórias e ideias.

Hoje tenho consciência de que aquele bate-papo constitui um documento histórico.

Pena que não consegui recuperar as fotos feitas pelo meu companheiro de matéria, o amigo André Villaron, tremendo fotógrafo. Reproduzi acima as duas páginas em que a entrevista foi publicada, na edição da ''Folha de S. Paulo'' de 16 de abril de 1995.

Zezé morreria em 1998 (alô, Wikipedia, ele nasceu em 1907, e não 1917). Flávio, no ano seguinte.

Como se vê pelos depoimentos abaixo, eles vivem na história do futebol.

* * *

Flávio Costa, 88, troca figurinhas com Zezé Moreira, 87, sobre o futebol dos 90

Os técnicos da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 50 e 54 se reencontraram 60 anos após trabalharem juntos pela última vez

A convite da Folha, Flávio Costa, 88, e Zezé Moreira, 87, conversaram sobre futebol durante três horas.

Depois de, como jogadores, terem sido adversários e integrado a mesma equipe, eles voltaram ao estádio do Flamengo. Lá, em 1935, Flávio era o técnico, e Zezé, o meia defensivo da equipe.

Flávio, vice-campeão mundial no Brasil (1950), e Zezé, eliminado nas quartas-de-final na Suíça (1954), continuam fascinados por futebol.

Flávio ainda vai ao estádio da Gávea (zona sul do Rio) para ver o seu Flamengo. O botafoguense Zezé acompanha seu time pela TV.

Raramente se vêem. É a primeira vez que vão juntos à Gávea desde 1935. Colecionam mais opiniões comuns do que divergências.

Ambos defendem Mario Jorge Zagallo como técnico da seleção brasileira. Flávio critica o atacante Bebeto e Zezé elogia o meia defensivo Mauro Silva.

Contam histórias de triunfos e fracassos, de erros e acertos, de violência e pancadaria.

Zezé escala o mitológico jogador Friedenreich em sua seleção brasileira de todos os tempos. Flávio prefere Zizinho.

Falam sem parar sobre futebol.

A seguir, os melhores trechos da entrevista com dois dos mais importantes treinadores do futebol brasileiro, realizada na Boca Maldita, o local da Gávea onde velhos esportistas se reúnem nos sábados e domingos para discutir futebol.

*

Quando os senhores se conheceram?

Flávio Costa – Em 1930, 1928, 1929, mais ou menos por aí. Eu já jogava no Flamengo. O primeiro clube em que joguei no Rio foi o Helênico, em 1924.

Zezé Moreira – Eu comecei no Esporte Clube Brasil, em 1928. O clube ficava na praia Vermelha (zona sul do Rio).

Flávio – Era para eu ter vindo antes para o Flamengo. Entrei na escola militar e, para me livrar do trote, fiz cupinchada com os caras do segundo ano que jogavam no Helênico. Eu era center-half (volante), como o Zezé. O centro-médio jogava mais parado que hoje, dali irradiava o jogo.

Os senhores, depois de se enfrentarem por seus clubes, chegaram a jogar juntos pelo Flamengo.

Zezé – O Flamengo fez uma excursão a Uruguai e Argentina e pediu reforço ao Clube Brasil.

Flávio – Formamos a seguinte linha média: Zezé, eu e Canalle. Com a introdução do profissionalismo (1933), você foi para o Palestra Itália, em São Paulo, não é?

Zezé – Não. Fui contratado em 1933 pelo América do Rio. No ano seguinte fui para o Palestra (como era denominado então o atual Palmeiras).

Na opinião dos senhores, a seleção brasileira campeã mundial em 94 era melhor do que as de 50 e de 54?

Flávio – Olha, eu respeito os analistas da TV Bandeirantes, mas eles são muito facciosos. Combateram muito a seleção brasileira e sobretudo o Parreira. Deram o prêmio de figura da seleção na Copa ao preparador físico (Moraci Sant'Anna). É como você pegar um quadro de Portinari e, em vez de elogiar o pintor, elogiar a Casa das Tintas. Por melhor que o Moraci fosse, a direção era do Parreira.

E o time de 94?

Flávio – Mesmo levando em conta erros cometidos, a preparação foi extraordinária. Nós, torcedores, queríamos avaliar o Taffarel. Não conseguimos. O adversário não chegava ao nosso goleiro.

Zezé – A parelha de zagueiros, Aldair e Márcio Santos, foi das melhores que apareceu. O meio-campo não deixou a bola chegar. Esse Mauro Silva é um grande jogador.

Flávio – Ele saiu do Bragantino e o time desapareceu. Foi para um time de merda, o La Coruña (Espanha), onde jogava o Bebeto, e a equipe quase foi campeã. Como você sabe, o Bebeto não leva nenhum time para frente. Ele recebe bola e faz gols porque é habilidoso, mas não dá campeonato a ninguém.

Em relação à década de 50, o futebol atual é mais ou menos bonito?

Zezé – Agora não tem beleza. O que modificou o futebol foi a preparação atlética. No tempo em que Flávio e eu jogávamos, nossa preparação era muito deficiente.

Flávio – Quando comecei, eu treinava só uma vez por semana.

Zezé – Hoje a preparação deu tudo o que necessita um jogador -velocidade. O center-half, como nós, tinha conhecimento da posição, passava bem, lançava bem, mas atuava sempre parado.

Flávio – A gente jogava sempre com os extremas desmarcados no ataque. Meu treinador ensinava a chutar a bola do meio do campo em direção à bandeirinha do córner. Era um passe para o extrema. No passado era mais fácil jogar, havia mais espaço.

Zezé – Outro dia eu estava vendo o Gérson (ex-jogador, hoje comentarista de futebol) falar sobre isso. Ele estava criticando a seleção brasileira porque fulano não sabe passar. Eu joguei com o pai do Gérson, Clóvis, que jogava direitinho. Na época do Gérson, os jogadores paravam a bola, olhavam, caminhavam. Agora, quando se pára a bola, tem três em cima de você. A combatividade fez com que o futebol perdesse um pouco da sua classe. Eu estava vendo um jogo na Inglaterra pela televisão, esses dias. Em 20 minutos de jogo, houve 21 faltas. O sujeito combate, luta, corre, marca, faz tudo. A verdade é que o futebol não retrocedeu. O futebol evoluiu.

Quem são os grandes craques brasileiros hoje?

Zezé – Nas eliminatórias da Copa, em 1993, eu concordei com o Zagallo (então auxiliar técnico) e o Parreira (técnico), quando não convocaram o Romário. Ele não ajudava ninguém em campo. É rápido, sabe fazer gol, se coloca bem. Mas não auxilia nenhum companheiro. Não combatia, mas hoje está numa direção diferente. Depois, quando ele foi chamado para a Copa, concordei com a convocação.

Flávio – Como o Zezé diz, o Romário não chega a ser um Leônidas, mas está na crista da onda. Chegou aqui na Gávea de helicóptero para treinar. Não sei se você sabe, eu não jogava nada, mas dava canelada à vontade.

Que jogadores deveriam ser dispensados da seleção? Há quem peça a saída de Branco.

Flávio – Tinha gente que queria tirar o Dunga na Copa. E ele foi um ás no Mundial.

Zezé – Não é que o Branco tenha que continuar. Se aparecer um melhor…

Roberto Carlos?

Zezé – É um bom jogador, igual ao Branco nas faltas, no chute. Passa bem. O Branco tem um defeito. A bola dele, no cruzamento para a área, faz uma curva que favorece o adversário.

Flávio – Tanto faz um como o outro, é a mesma coisa. O Branco é lento, o que às vezes deixa a desejar num futebol rápido. Mas, quando ele sai do time e há uma falta para cobrar, a gente pensa nele. O Roberto Carlos também chuta bem. Esses dias fez um gol de falta do meio da rua.

Zezé – Me lembrei do Jair Rosa Pinto. Era um jogador de precisão fantástica.

Zagallo é o nome mais indicado para dirigir a seleção brasileira?

Zezé – Não é questão de ser indicado. Ele está fazendo um trabalho bem feito.

Flávio – Ele já estava no esquema da comissão técnica anterior.

Zezé – Zagallo tem experiência, o que é importante. Eu fui vítima da falta de conhecimento. Fui treinador na Copa de 54, na Suíça, sem nunca ter ido antes à Europa. Os jogadores, na maioria, também. Tudo foi surpresa.

Tanto que no jogo contra a Iugoslávia bastava o empate e, até o fim, a equipe tentou desesperadamente ganhar, achando que precisava da vitória para sobreviver na competição…

Zezé – Eu não conhecia a regra. Dentro do vestiário estava todo mundo chorando porque se pensava que, com o empate de 1 a 1, tínhamos sido eliminados. Mas entrou um jornalista e disse que estávamos classificados. Ficou todo mundo de boca aberta olhando. Nem os dirigentes sabiam que o empate classificava os dois times.

Flávio – Tem outra história. Antes dos anos 30, veio um goleiro escocês jogar no Rio. Ele botava a bola no bico da pequena área, como hoje, e dava um chutão. O povo gozava. Nós jogávamos o campeonato oficial…

Zezé – …e o beque levantava a bola na mão do goleiro para dar a saída.

Flávio – Não obedeciam a regra de tirar a bola da área. E, por obedecer a regra, o escocês era vaiado como se fosse um maluco. Daí em diante passamos a fazer o mesmo. Havia pouca comunicação com a Europa. Nossos ídolos eram os jogadores argentinos.

Zezé – Eles vinham aqui e davam passeio.

Flávio – E quando íamos jogar lá? Você não passou o que eu passei. Na Argentina, a zaga do Flamengo era Florindo e Domingos da Guia, contra um combinado River-Independiente. Levei um passeio. O único que jogava no nosso time era o Domingos. O Artigas, nosso half-esquerdo, deitou-se no campo. Entramos eu e o massagista. O Artigas disse: ''Seu Flávio, não tenho nada, não. Mas me tira, pelo amor de Deus, que estou com vergonha''.

Quem é o melhor técnico do Brasil hoje?

Zezé – Todos aqueles que ganham são os melhores.

Flávio – O futebol paulista no ano passado foi um sucesso. Tinha Telê Santana no São Paulo, Wanderley Luxemburgo no Palmeiras e Carlos Alberto Silva no Guarani. As três equipes fizeram miséria. No Rio, faltou técnico dessa envergadura. Agora, Palmeiras e Guarani perderam os técnicos e os times baixaram de produção. O Corinthians tentou com o Mário Sérgio, mas não saiu grande resultado.

Zezé – Mas o Mário Sérgio fez um bom trabalho. Gostei muito da forma de ele dirigir a equipe. O jogador brasileiro não tem sentido de marcação, de aproximação, de distância do adversário.

Flávio – Quando se ataca, tem que se seguir aquele princípio do Gentil Cardoso (treinador): quem desloca recebe, quem pede tem preferência.

Zezé – Mas o jogador brasileiro não oferece jogada, não sabe fazer isso.

Flávio – Veja a quantidade de faltas e de passes errados. O passe é a conexão de duas vontades: a do que dá e a do que recebe. Quando vai arremessar um lateral…

Zezé – …ninguém se apresenta para receber.

Flávio – O sujeito ser um bom técnico é um acontecimento. Às vezes, é um bom técnico sem ter sido um jogador extraordinário, e vice-versa.

Por exemplo?

Flávio – O Zizinho foi um jogador extraordinário e nunca conseguiu ser técnico. Tem também o caso do Gentil Cardoso. Conhecia futebol…

Zezé – …mas não orientava. Não dava fundamentos. Fundamento é importante para o jogador de futebol. Se você toca piano, precisa treinar para executar. Jogador de futebol tem que saber correr com a bola, driblar, passar.

Qual o peso do técnico num time?

Zezé – Basta que tenha autoridade, confiança dos jogadores. O que você fala, o jogador absorve.

Flávio – Tem que reunir uma série de qualidades. Tem que ser professor, companheiro, pai, mãe, bedel, carrasco. É uma operação de guerra, o futebol. Tem que ter o time na mão. Ô, Zezé. Veja a decisão do Campeonato Estadual de 50, entre Vasco, que eu dirigia, e o América. O Ipojucan, do nosso time, era um artista com a bola. Driblou a defesa toda do América e apenas levantou a bola para a mão do goleiro. Quis colocar e pegou mal. O Ipojucan colocou a mão na cabeça. Estava 1 a 1 no intervalo. Saí gritando, incentivando, na volta ao campo. Em meu vestiário nunca rezei Pai Nosso.

Zezé – Nem eu.

Flávio – Nunca fiz promessa. Os jogadores, então, voltaram ao campo. Eu fiquei para tomar um cafezinho. No boca do túnel do Maracanã, vi que o Ipojucan não queria voltar. Mandei o Augusto, capitão do time, avisar ao juiz que o Ipojucan voltaria depois. Naquele tempo se proibia substituição. Pensei que o Ipojucan quisesse vomitar, coisa assim. Mas vi que ele estava deitado no chão do vestiário. E eu, disputando o campeonato. O que o técnico poderia fazer? Dei duas bolachas nele. ''O seu filho de uma…'' Saí atrás e ele correu pelo corredor. O corredor vai dar no campo. Ipojucan entrou no campo. Depois, todo o segundo tempo, ele ficou me olhando. Ipojucan deu o passe para o Ademir fazer o gol e ganhamos o campeonato.

Quem foi o melhor e o mais inteligente jogador que os senhores treinaram?

Zezé – É uma questão muito difícil. Leônidas da Silva era extraordinário. Friedenreich, sensacional. Eu joguei com ele aqui no Flamengo, no final da carreira dele. Em São Paulo, onde eu atuava no Palestra, joguei contra.

Flávio – Em 1928 eu joguei em São Paulo, no antigo Palmeiras. Fui para São Paulo como vendedor de uma firma. Fiquei seis meses lá e fui mandado embora porque não vendi porra nenhuma. Quando joguei contra o Paulistano, acabei agredindo o Friedenreich porque ele me deu uma cama-de-gato. Estávamos perdendo de 3 a 0, um passeio, e o cara me dá uma cama-de-gato. Levei um tombo e uma vaia. Fiquei fulo da vida, perdi a cabeça e dei um sopapo no Friedenreich. Os jogadores todos correram em cima de mim. Foi uma pancadaria só.

Volto à questão dos melhores jogadores que os senhores dirigiram.

Flávio – Eu tive jogadores maravilhosos. Para começar, Domingos, Jaime, Zizinho, Leônidas, Pirillo, Gonzalez.

Zezé – Eu tive tantos bons jogadores… Tive um que todos achavam ignorante, que era o Garrincha. Ele não era nada disso.

Flávio – Você era do Botafogo quando o Garrincha foi para lá?

Zezé – Eu era treinador do Fluminense quando o Garrincha treinou lá, antes de ir para o Botafogo. O Gradim era meu auxiliar. Havia um treinamento de experiência às segundas-feiras. Numa segunda, eu não fui. O Garrincha treinou bem. O Gradim me disse que tinha treinado um rapaz que deveria voltar. Mas o Arati, lateral-direito do Botafogo, foi jogar perto da casa do Garrincha. Viu o Garrincha jogar e o convidou para treinar no Botafogo.

Qual foi a melhor seleção brasileira em Mundiais?

Zezé – A de 50 foi uma das melhores. Teve azar. Outro dia, falando com o Ademir Menezes, perguntei-lhe como ele perdeu tantos gols contra o Uruguai na Copa de 50. Que se vai fazer?

Flávio – Eu influí na formação das chaves para tirar a Espanha do último jogo. Era a melhor seleção, entre as adversárias. Eu já estava farto de jogar com o Uruguai, que depois acabou nos derrotando. Conversando com pessoas que tinham influência, nós é que fazíamos a tabela, prevendo a final. No profissionalismo, a partir de 1933, as seleções foram todas boas.

Zezé – A de 58 foi muito boa.

Flávio – Foi, como a sua de 54. Você tinha Julinho, um jogador maravilhoso. A seleção de 38 foi ótima.

Taticamente, a última grande inovação no futebol foi o ''Carrossel Holandês'' do Mundial de 74, em que os jogadores se movimentavam por várias posições. O futebol ainda terá alguma grande novidade tática?

Zezé – Não vai se criar sistema novo nenhum. Estão querendo fazer mudanças absurdas nas regras, como bater o lateral com os pés.

Flávio – Também querem parar o jogo [com pedidos de tempo].

Zezé – É um absurdo. Futebol não é vôlei ou basquete. No meu modo de entender, só deveria se permitir uma substituição.

Os senhores são contra todas as mudanças?

Zezé – Não. Defendo a proibição completa de atrasar a bola para o goleiro, seja com pés, mãos, peito, cabeça. Devolver bola para o goleiro torna o jogo monótono. Defendo outra coisa: no futebol atual, a velocidade está no homem e na bola. Antes, era só na bola. Não se pode mais jogar em campos como os de agora, embora eu saiba que em muitos estádios não dá para aumentá-los. Não é uma idéia má diminuir de 11 para 10 o número de jogadores. Os campos estão pequenos para o futebol.

É verdade que o Brasil perdeu a Copa de 50 em parte porque o brasileiro Bigode intimidou-se, na final, diante do uruguaio Obdúlio Varela?

Flávio – Não. O Bigode jogava o jogo dele, não tinha influência de nada.

Zezé – Não tinha medo de nada. Dava carrinho, lutava muito.

Flávio – O Obdúlio gritava muito, mas não importava. Estávamos acostumados a ganhar. O problema foi que levamos o primeiro gol e não reagimos. Só quando sofremos o segundo. Mas foi uma reação nervosa, só chutávamos para fora. Perdemos por 2 a 1.

Por que o senhor, Flávio Costa, no único jogo em São Paulo na Copa de 50, mudou mais da metade do time, retirando jogadores cariocas e escalando paulistas?

Flávio – Havia muita rivalidade entre São Paulo e Rio. Era guerra. Fui treinador por dez anos da seleção carioca. Uma vez, em São Paulo, houve uma briga e acabei preso num camburão. Não me apresentei como o treinador carioca no camburão para não ser linchado ali mesmo. Depois o chefe da delegação foi me tirar da cadeia.

E o jogo no estádio do Pacaembu?

Flávio – Botei vários jogadores paulistas. A linha média era a do São Paulo: Bauer, Rui e Noronha. E nem assim arranjei torcida, porque, ainda assim, torceram contra. Estávamos ganhando por 2 a 1 da Suíça, mas o juiz era um italiano. Ele nos prejudicou e empatamos em 2 a 2.

De quem era a chuteira que o senhor, Zezé Moreira, usou para brigar com jogadores húngaros, no vestiário, em seguida à eliminação do Brasil no Mundial de 54?

Zezé – Eu não saí brigando com os húngaros. Quando começamos a jogar com eles, havia sol. Em seguida, desabou um temporal. Nenhum jogador brasileiro ficava em pé porque todos estavam com trava curta sob as chuteiras. No fim do primeiro tempo, fiz os jogadores mudarem de chuteiras. Mas o Didi, cujos pés se machucavam com trava alta, mudou de chuteira na minha frente e, depois, escondido, voltou a usar as travas curtas. No segundo tempo, só o Didi não parava em pé. Fiz o Djalma Santos cair e fiz o Didi mudar a chuteira. Fiquei com a chuteira dele na mão.

E a usou para brigar.

Zezé – No fim da partida, depois de perdermos por 4 a 2, nas quartas-de-final, o Maurinho descia para o vestiário, e o Czibor, jogador húngaro, esticou sua mão. Quando o Maurinho esticou a mão, o Czibor retirou a sua. O Maurinho deu-lhe uma porrada na barriga e fechou o tempo. Peguei o Maurinho e tirei-o dali. Então, desci para o vestiário. Uns três ou quatro húngaros se viraram para mim e disseram: ''Moreira, Brasil…'' e cuspiram em cima de mim. Peguei a chuteira, joguei-a e abri a cabeça de um deles. Foi pau para tudo quanto é lado.

Qual a seleção brasileira de todos os tempos de cada um dos senhores?

Zezé – Escalo à moda antiga: três zagueiros, dois médios e cinco atacantes. Amado; Djalma Santos, Domingos da Guia e Nílton Santos; Fausto e Fortes; Garrincha, Leônidas, Friedenreich, Pelé e Moderato.

Flávio – Amado; Djalma Santos, Domingos da Guia e Nílton Santos; Fausto, Zizinho, Pelé e Jaime; Garrincha, Leônidas e Moderato.

Zezé – Times mais ou menos parecidos. A minha história com o Flávio é sensacional. Jogamos um contra o outro, jogamos juntos e, depois, ele foi meu treinador.

Os senhores se davam bem em campo?

Zezé – Sim. O Flávio tinha o apelido de Alicate porque dava muito carrinho. O meu apelido era Zé Cavalo. Diziam que eu dava pontapé em todo mundo. Mas nunca tirei nenhum jogador de campo, nem quebrei a perna de ninguém. O Gérson, o Didi e outros quebraram perna de jogador. Eu, não.


O sol se põe no Rio. O que isso tem a ver com as greves?
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Mário Magalhães

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Fiz essa foto com meu iPhone no fim da tarde de ontem, ao lado do portão de entrada da Chácara do Céu, em Santa Tereza.

Que raios _de sol_ o lindo entardecer teve a ver com o Rio sacudido pela greve dos motoristas e cobradores de ônibus que rejeitaram o peleguismo do sindicato oficial?

A imagem foi feita desde o portão pois os museus que lá funcionam estavam fechados, devido a uma paralisação de dois dias dos servidores do Ministério da Cultura.

Nesta sexta-feira de manhã, numerosas agências de bancos operavam a meia-boca aqui em Botafogo, por exigência dos bancários, que se sentem desprotegidos devido à greve dos vigilantes.

A greve dos rodoviários trouxe duas novidades:

1) pela primeira vez em muito tempo, ninguém desconfiou de que poderia se tratar de locaute, a ''mobilização'' encomendada pelos donos das empresas para pressionar por aumento de tarifas;

2) a direção subserviente do sindicato da categoria não conseguiu, mesmo depois de sacramentar um acordo com os patrões, impedir o movimento.

Os garis fazem escola.

Daqui a poucos dias, as passagens de ônibus e outros transportes vão subir na cidade.

Mais outros dias, e a Copa começará.

Como se chama mesmo aquele historiador que proclamou o fim da história?

Do pauteiro de jornal que sempre achava a pauta _o rol de fatos e eventos_ fraca eu me lembro do nome. Ele não tem mais do que reclamar.


Há 50 anos, baleavam Marighella no cinema; leia grátis relato da biografia
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Mário Magalhães

blog - marighella preso cinema 64

9 de maio de 1964: policiais levam Marighella – Foto Correio da Manhã/Arquivo Nacional

 

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9 de maio de 1964 – 9 de maio de 2014.

Hoje faz aniversário de 50 anos o gesto do revolucionário Carlos Marighella de resistir à voz de prisão proferida por agentes da polícia política do Rio, em um cinema na zona norte.

Na sala do Eskye-Tijuca tomada por crianças, Marighella foi baleado, e o sangue jorrou de três perfurações do seu corpo. Ferido, o cinquentão lutou capoeira contra os tiras do Dops. Para sorte dele, escapou com vida.

A atitude de Marighella foi uma resposta pública à ditadura recém-instaurada. Tamanha sua repercussão, e por representar uma síntese do militante marcado pela ação, selecionei esse episódio para abrir a biografia ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'' (Companhia das Letras).

Este capítulo/prólogo do livro pode ser lido na íntegra, gratuitamente, no site da Companhia.

Publico-o abaixo. Boa leitura:

* * *

Tiro no cinema

(Prólogo do livro ''Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo'')

Carlos Marighella viu a zeladora do prédio onde morava caminhando em sua direção e pensou que, outra vez, conseguira ludibriar a polícia. Valdelice carregava um embrulho cor-de-rosa. Enfim, ele resolveria o problema da falta de roupa que o apoquentava havia mais de um mês. Na noite de 1º de abril, saíra às carreiras do quarto e sala que alugava no bairro do Catete e pulara com as pernas longas os degraus da escada do sétimo andar até o térreo. Temia ser surpreendido pela polícia política do estado da Guanabara, que talvez já preparasse o bote para capturá-lo.

Estava certo. O presidente João Goulart ainda hesitava no palácio do Planalto sobre o que fazer diante do golpe militar deflagrado na véspera enquanto, no Rio, o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) escalava uma turma tarimbada para farejar o velho freguês da sua carceragem. Antes de despachar seu pessoal à rua, o ex-arremessador de peso Cecil Borer, chefe do Dops, alertou:''Cuidado, que o Marighella é valente.''

Meia hora depois, os policiais invadiram o apartamento no Catete, mas não encontraram ninguém. Por pouco. Se em vez de subir pelo elevador tivessem se arriscado pela escada, teriam dado com quem buscavam. A correria foi tamanha que Marighella só teve tempo de pegar uma troca de roupa. Amassou-a na malinha compartilhada com Clara Charf, sua companheira havia quinze anos. Desceram até a calçada e desapareceram em um táxi. No começo da madrugada, um bimotor Avro da Força Aérea Brasileira (FAB) voou de Brasília para Porto Alegre, onde Goulart jogou a toalha. Na mesma hora, no subúrbio do Méier, Marighella reencontrava a vida clandestina.

Não era novidade para ele. Nas três décadas anteriores, passara mais tempo fugindo da polícia do que mostrando a cara. Também tinha sido assim nas últimas semanas, até o sábado em que finalmente resgataria camisas, calças e cuecas. De meias, não fazia questão. Abominava-as desde a juventude, na Bahia. Era deputado, no Rio de Janeiro ainda capital da República, e as canelas sem meias pareciam aos amigos mais uma das privações decorrentes dos modos franciscanos de quem possuía apenas três ternos, todos doados. Ganhou tantas de presente que se obrigou a mudar de hábito antes que o comércio esgotasse os estoques. No Méier, queria outras peças. Improvisou, comprou uma ou duas, porém lhe faltava o que vestir naquele mês de maio que nem estava tão quente. Na sexta-feira, a máxima mal arranhara os 27 graus.

A temperatura aumentou quando Marighella notou um homem que vigiava Valdelice a uma distância que não chamava a atenção, mas sem perdê-la de vista. Com a mesma rapidez com que superou as escadarias no Catete, comprou dois ingressos na bilheteria do Eskye-Tijuca, o cinema em frente ao qual marcara com a zeladora. Fez-lhe um sinal, e entraram sem dar ao intruso a chance de se chegar.

Marighella se precavera para o encontro, não era para falhar. Como sempre, estava desarmado. Ignorava se havia mais de um tira. Mesmo cercado, poderia escapar, imaginou. Bastaria ganhar a sala de projeção e sumir, com as roupas lavadas e passadas sob o braço, por um caminho desprotegido. Como nas telas, uma fuga cinematográfica. Ele recebeu o embrulho e sentou-se numa poltrona central, mais ao fundo. Mesmo na escuridão, viu que crianças tomavam a matinê.

Leia a íntegra do prólogo clicando aqui.


Em São Paulo, exposição relembrará futebol nos tempos da ditadura
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Mário Magalhães

 

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Dois dias depois de a seleção estrear na Copa, contra a Croácia, no Itaquerão, abrirá em São Paulo uma exposição contando histórias do futebol nos tempos da ditadura (1964-1985).

A mostra, no Memorial da Resistência, irá de 14 de junho a 30 de setembro (terça a domingo, das 10h às 18h).

Em contraste com os preços surreais dos ingressos do Mundial, a entrada será gratuita.

Foi criado um blog para divulgar a exposição (leia aqui), cujos coordenadores são os jornalistas Vanessa Gonçalves e Milton Bellintani.

Eis alguns trechos da apresentação do projeto:

''O foco principal é mostrar como a ditadura de 1964 utilizou a imagem da Seleção Brasileira, especialmente na Copa de 1970, para vender aos brasileiros e ao resto do mundo a falsa ideia de que o Brasil estava se transformando numa potência dentro e fora dos gramados.

Partindo dessa premissa, buscamos apresentar também como os militantes da esquerda – ora clandestinos, presos ou exilados – lidaram com o uso do escrete pela ditadura, uma vez que o futebol, tão arraigado à identidade nacional do brasileiro, dividia as atenções em pé de igualdade com a luta política naquele momento. (…)

Os visitantes acompanharão como o futebol foi utilizado pelo regime militar no Brasil durante os 21 anos da ditadura. E também conhecerão personagens que ousaram bater de frente com os donos do poder em nome de ideias de liberdade e democracia, bem como aqueles que acabaram se aliando aos militares, engrossando as fileiras de torturadores.

Também será possível ver como ao longo dos anos os regimes de exceção se apropriaram deste esporte para fazer valer suas ideologias. Nos quatro cantos do mundo isso aconteceu, embora nem sempre se faça a ligação entre futebol e política''.


Grande notícia: Léo Gerchmann lança livro sobre a Coligay, torcida pioneira
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Mário Magalhães

blog - livro coligay

 

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Na próxima terça-feira, 13 de maio, o jornalista Léo Gerchmann lança em Porto Alegre seu esperado livro sobre a Coligay, corajosa torcida gremista que agitou e alegrou os anos 1970 e 1980.

O lançamento de ''Coligay: Tricolor e de todas as cores'' (Libretos) terá um bate-papo entre o autor e Volmar Santos, o pioneiro da torcida (mais dados no convite acima, extensivo a todos).

Em dezembro, o blog publicou uma entrevista do Léo sobre o livro. Ei-la, na íntegra:

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Coligay, torcida formada por homossexuais, tem história contada em livro

Vem aí um grande acerto de contas com a história do futebol e da luta contra a intolerância no Brasil: já estão nas mãos da Editora Libretos os originais do livro que reconstitui a trajetória da Coligay, torcida gremista pioneira dos anos 1970, formada por homossexuais.

Ainda não está batido o martelo, conta o jornalista Léo Gerchmann, autor da obra, mas é possível que título e subtítulo sejam “Coligay – O Grêmio, tricolor e de todas as cores”.

A Coligay nasceu em Porto Alegre, durante a ditadura, no governo do ditador gaúcho Ernesto Geisel, cujo antecessor havia sido outro ditador gaúcho, Emílio Garrastazu Médici. Seus integrantes foram de uma audácia épica, que agora será contada pelo gremista Léo Gerchmann, um dos jornalistas mais talentosos com quem eu tive a oportunidade de trabalhar _cobrimos juntos a Copa de 98, na França, e ao menos uma eleição para governador do Rio Grande do Sul.

O livro será lançado em março. Na entrevista ao blog, o Léo fala sobre seu trabalho e a saga da Coligay.

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O que foi a Coligay? Como a torcida foi recebida em seu tempo?

A Coligay foi uma torcida organizada do Grêmio formada por homossexuais. Mais precisamente, por frequentadores da boate gay Coliseu, de Porto Alegre. Foi a primeira torcida desse tipo que realmente vingou. Dois anos depois, Clóvis Bornay, que ironicamente era vascaíno, fundou a Flagay, que não chegou a vingar. A Coligay existiu de 1977 a 1983, em plena ditadura militar.

Até hoje, torcedores rivais do Grêmio usam a figura da Coligay como motivo de flauta, e, na época, a própria torcida organizada gremista Eurico Lara, que era oficial do Grêmio, a rejeitou. A direção do clube, porém, na medida em que percebeu o jeito que a moçada torcida, até espaço físico no Olímpico lhes cedeu para guardar as bandeiras e instrumentos de percussão. E que jeito era esse? Eles torciam o tempo todo, independentemente de o time estar ou não jogando bem, e não se envolviam com violência. Os jogadores da época dizem que eles os incentivavam muito.

Por que a Coligay acabou?

Basicamente, porque seu idealizador e líder, o Volmar Santos, voltou para Passo Fundo, sua cidade, em 1983. O Volmar, gerente e depois proprietário da Coliseu, era a alma da Coligay.

Por que você fez um livro sobre a Coligay?

Em primeiro lugar, porque sou gremista, e acho que o Grêmio tem nessa história uma página muito edificante. Como torcedor, é uma história que me orgulha. Mas ressalvo: não é um livro somente para gremistas, é um livro para todos, mesmo para quem nem gosta de futebol ou torce para outro clube, independentemente, também, de preferências sexuais. Como costumamos dizer nas reuniões de pautas dos jornais, é uma baita história.

Há flautas homofóbicas? Claro, mas não são essas as reações que me interessam. Elas, aliás, até justificam a importância de uma obra assim. Também porque sou um entusiasta da diversidade e da evolução dos costumes. Para mim, esse é um tema muito caro, provavelmente por ser judeu, neto de sobreviventes do horror nazista e por trazer esse sentimento muito enraizado. Meu pai era conselheiro gremista, e cresci frequentando o Estádio Olímpico. Acho que a Coligay foi um grupo transgressor que contribuiu muito para essa evolução. Levou aos estádios um jeito diferente de torcer, mais comprometido com o time e mais vibrante.

Quais as passagens mais marcantes da torcida?

Foram muitas. Eles surgiram em abril de 1977, quando o Grêmio formava um grande time (Corbo; Eurico, Ancheta, Oberdan e Ladinho; Vitor Hugo, Tadeu e Iúra; Tarciso, André e Éder), que terminou com a hegemonia do Internacional, à época octacampeão gaúcho (na época, os títulos regionais tinham bem mais importância), contando com jogadores como Falcão e Valdomiro.

Sempre tive a opinião de que esse time do Internacional e o do Flamengo do início dos anos 80 foram os melhores que vi jogar, talvez rivalizando com a academia palmeirense de 1972, que mal peguei, porque era ainda muito guri. Hoje, relativizo um pouco essa visão, o próprio Grêmio formou grandes times, que idealizei menos porque a idade já era outra. A Coligay ficou, então, com a fama de pé quente. Mas há muitos episódios interessantes dessa época difícil, em que pessoas eram torturadas nos porões da ditadura, e um grupo de gays se aventurou nas arquibancadas.

Hoje há mais tolerância para a existência de torcidas como a Coligay ou o futebol continua sendo um meio muito preconceituoso?

Apesar da truculência das atuais organizadas, hoje as pessoas ficam mais à vontade para assumir suas preferências sexuais. As próprias mulheres, quando iam ao estádio, 40 anos atrás, eram xingadas. Sim, isso acontecia! Eram chamadas de putas, vadias etc. São coisas, hoje, inconcebíveis, inimagináveis. Espero que quando nossos filhos crescerem eles olhem para trás e pensem, “Pô, por que os caras não podiam se casar, levar a vida como querem, se não prejudicam os outros?'' Me parece meio básico.

Tenho dois filhos (um menino de 11 anos e uma menina de seis) e percebo neles que sentimentos como a homofobia e outros preconceitos ficarão como uma triste e incompreensível história, a exemplo da escravidão, o Holocausto e de outras barbáries. A homofobia ainda é aceita socialmente, o que faz dela um grande tema a ser abordado e, evidentemente, repudiado por todos nós que respeitamos as diferenças, quaisquer que sejam elas.

O que fazem hoje os principais integrantes da Coligay? Ainda acompanham o Grêmio onde o Grêmio estiver?

É triste, mas em meio a tudo isso houve a aids. A maioria deles morreu. Os integrantes com quem falei continuam acompanhando o Grêmio de perto. O Volmar Santos é colunista social e agitador cultural em Passo Fundo, outro é cabeleireiro. Todos frequentam a Arena quando possível. O Volmar chega a viajar de Passo Fundo a Porto Alegre no seu carro, mais de 300 quilômetros, e passar a noite num hotel só para ir a jogos do Grêmio.

Para um gremista, como você, qual a principal lembrança da Coligay?

Quando eles surgiram, eu tinha entre 12 e 13 anos. No Olímpico, eu assistia ao jogo das cadeiras, e eles ficavam longe. Mas em Gre-Nais que ocorriam no Beira-Rio, o espaço reservado aos torcedores do Grêmio, os visitantes, era o mesmo. Tchê, era divertidíssimo. Eu e meus colegas dávamos risada com o humor dos caras, que realmente não paravam de incentivar o time e de dançar, com uma charanga muito barulhenta e ritmada.


O vexame da convocação não é Henrique, e sim Marin como chefão da CBF
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Mário Magalhães

Daniel Marenco/Folhapress

Marco Polo Del Nero, Felipão e Marin, na convocação de hoje – Foto Daniel Marenco/Folhapress

 

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É legítima a convocação de Henrique, embora eu considere erro de Felipão não trazer para a Copa o zagueiro brasileiro em melhor forma: Miranda, do Atlético de Madrid, time que ostenta uma tremenda defesa.

Melhor forma entre todos os zagueiros nacionais, incluindo os titulares Thiago Silva e David Luiz.

Isto é, divirjo do técnico, mas sua opção não constitui escândalo algum.

Henrique pode ir bem ou mal na Copa, pode até não jogar.

Escândalo, daqueles de nos envergonhar, é o chefe da cerimônia de convocação ser José Maria Marin.

Seus ares de múmia não se devem à idade, mas à lembrança do seu passado de servidor da ditadura.

Marin foi o deputado da Arena, partido governista, que denunciou ''infiltração'' na TV Cultura de São Paulo, dias antes de o diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, ser preso, torturado e assassinado.

Como afastar Marin da convocação e do Mundial se ele preside a CBF?

Eis o vexame: depois de se livrar do famigerado Ricardo Teixeira, o futebol brasileiro entregou sua entidade máxima ao inacreditável Marin.

Ele disse que sua prioridade é a seleção.

Pensei _ou vi_ que ele também gosta de medalhas alheias.

Tomara que a miséria existencial de Marin não contagie os jogadores.

Sua presença nos eventos da Copa, contudo, será sempre uma ofensa aos brasileiros que deram a vida lutando contra a ditadura.


Pelé 58, Garrincha 62, Pelé 70, Romário 94, Rivaldo 2002… Neymar 2014?
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Mário Magalhães

Neymar, a esperança suprema – Foto Ueslei Marcelino-15.jun.2013/Reuters

 

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Em 58, Pelé.

Em 62, Garrincha.

Em 70, Pelé de novo.

Em 94, Romário (e Bebeto).

Em 2002, Rivaldo (e Ronaldo).

Em todos os títulos da constelação do penta, algum atacante foi especialmente decisivo. Nos dois triunfos mais recentes, podemos considerar dobradinhas.

Hoje, Neymar é disparado não somente o melhor atacante brasileiro, mas o craque supremo da seleção, em todas as posições.

Como na Copa das Confederações, o Brasil dependerá do seu desempenho.

Agora, será mais difícil, como aprendemos com insucessos em Mundiais que se seguiram a Copas das Confederações que havíamos vencido.

Neymar tem, sim, nas costas, a responsabilidade de desequilibrar.

A atribuição está à altura do futebol fabuloso que ele joga. Por isso, a cria do Santos concentra as esperanças nacionais.

A história prega peças. No Chile-62, Pelé se machucou, e Garrincha acabou resolvendo.

Se não houver surpresas, por mais coletivo que o futebol seja, Neymar terá de fazer a sua parte _a mais importante, a que estabelece a diferença.

Da lista recém-apresentada por Felipão, minha única divergência expressiva foi a rejeição do zagueiro em melhor forma, Miranda.

Henrique disputará o Mundial. Chiadeira grande. Mas, em 94, Márcio Santos, em quem poucos levavam fé, acabou jogando uma grande Copa.


Figurinha desperdiçada: fora da Copa, Robinho só foi ‘convocado’ pelo álbum
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Mário Magalhães

blog - album robinho

 

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Nenhuma figurinha do álbum da Copa 2014 foi tão falada quanto a do Robinho.

Era uma aposta inusitada da editora Panini. Tipo jogar suas fichas no improvável para ganhar sozinho.

Virou chacota.

Outros jogadores foram convocados, mas não estão no álbum.

Que figurinha seria a melhor para o lugar do Robinho, descartado hoje pelo Felipão? A do Jô?

 


Cursos na Companhia – Biografias: polêmicas, diálogos e reflexões
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Mário Magalhães

 

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Do site da Companhia das Letras (aqui):

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Biografias: polêmicas, diálogos e reflexões sobre o gênero, com Mário Magalhães e Paulo Cesar Araújo

Em 2013, um movimento formado por alguns artistas brasileiros em torno da legislação que submete a publicação de biografias à autorização dos biografados colocou na agenda do país um extenso debate a respeito do gênero. Questões éticas, jurídicas, literárias, foram levantadas e expuseram a urgência do debate no país. É com intuito de amadurecer este debate e apresentar ao público todas as implicações do gênero, que a Companhia das Letras convida todos para um encontro com dois dos mais importantes biógrafos do país: Mário Magalhães e Paulo Cesar Araújo. A mediação fica a cargo do publisher Otávio Costa.

Data: 19 e 27 de maio

Horário: 19h30 às 21h

Valor: R$ 150,00

Local: Companhia das Letras – Auditório

Mário Magalhães é jornalista, professor e autor da biografia Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras). Trabalhou nos jornais Tribuna da Imprensa, O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, no qual foi repórter especial e ombudsman (2007-2008). Recebeu duas dezenas de prêmios e menções honrosas no Brasil e no exterior, entre os quais Every Human Has Rights Media Awards, Prêmio Vladimir Herzog, Lorenzo Natali Prize, Prêmio Esso de Jornalismo, Prêmio da Sociedade Interamericana de Imprensa e Prêmio Dom Hélder Câmara.

Paulo Cesar Araújo nasceu em Vitória da Conquista, em 1962. Jornalista e mestre em História, é autor de Eu não sou cachorro não (Record, 2002), sobre música brega no Brasil.