Blog do Mario Magalhaes

Caso Pelé-Unicef: making of de uma investigação jornalística
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Mário Magalhães

Ex-jogador acredita que clube paulista seria ideal para moldar base do time de Felipão

Pelé, craque genial. Ou Edson Arantes do Nascimento, empresário – Foto Shin Shikuma/UOL

 

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Eis uma das infinitas definições de jornalismo: serviço público cuja atividade consiste em coletar, processar e difundir informações.

O gênero mais valioso do jornalismo é a reportagem.

Em 2010, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo publicou pela Record ''11 gols de placa'', coletânea organizada pelo botafoguense Fernando Molica. O livro reúne reportagens sobre temas e personagens do futebol.

Antes da reprodução de cada uma delas, os autores contaram como trabalharam. O rubro-negro Sérgio Rangel e eu reconstituímos a coleta, o processamento e a difusão de informações sobre o episódio que acabou conhecido como Caso Pelé-Unicef.

O blog reproduz abaixo o making of editado em ''11 gols de placa''.

O melhor seria narrar na primeira pessoa do plural, mas essa opção impediria que escrevêssemos qual dos dois fez o quê. Portanto, escolhemos a terceira pessoa. Não fomos originais: Woodward e Bernstein haviam procedido assim em ''Todos os homens do presidente''.

* * *

Rascunho premiado

Por Sérgio Rangel e Mário Magalhães

O porteiro não encarou o visitante que ele anunciava pelo interfone, tal a fixação com que olhava a fumaceira em Nova York, mostrada pela TV de parcas polegadas, no canto da mesa da recepção. Era o dia 11 de setembro de 2001, e as duas torres do World Trade Center acabavam de ser abatidas por aviões no mais destruidor ataque terrorista já ousado nos Estados Unidos.

Ainda não se sabia bem o que se passava, e Mário Magalhães lembrou-se de que naquela manhã seu pai desembarcaria no aeroporto novaiorquino John Fitzgerald Kennedy. O repórter afligiu-se, telefonou em busca de notícias, não as obteve, subiu pelo elevador e se sentou na sala para esperar o anfitrião com o qual nunca estivera _o pai, são e salvo, testemunhara ao vivo o impacto do Boeing contra a segunda torre.

O encontro em um bairro da zona sul carioca era para ter ocorrido com outro jornalista e meses antes, quando o homem que Magalhães aguardava pediu ajuda a um conhecido para conversar com alguém da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio. Seu interlocutor não teve dúvidas: o nome certo era o repórter de esportes Sérgio Rangel.

O celular de Rangel tocou em Teresópolis, onde ele cobria os primeiros treinos da seleção brasileira sob o comando de um novo técnico, Luiz Felipe Scolari, que enfrentaria em poucas semanas o desafio da Copa América.  No começo de um dia de junho, o time descansava na Granja Comary, e Rangel ainda não deixara a pousada em estilo suíço na qual se hospedava. Ele agradeceu o recado, transmitido por quem oito anos depois ainda optaria pelo anonimato. Em seguida, discou para a pessoa que o procurava.

Apesar da barulheira vinda do quarto vizinho, ocupado por um repórter que trombeteava o boletim radiofônico como se anunciasse o fim dos tempos, Rangel ouviu com nitidez o interlocutor. A dica era quente, em contraste com o frio que se insinuava na serra fluminense às vésperas do inverno: numa contenda trabalhista, figurava uma empresa de Pelé. Talvez houvesse informações de interesse jornalístico acerca do mais notável jogador de futebol da história e ministro dos Esportes de 1995 a 98.

Contudo, a pauta teria de hibernar, alertou o repórter. Ele viajaria à Colômbia para acompanhar o torneio inaugural da era Felipão e só tocaria a investigação na volta. A seleção veio a fracassar, eliminada por boleiros hondurenhos que de tão rechonchudos se assemelhavam mais a massagistas que a atletas.

Sérgio Rangel retornou ao Brasil, embrenhou-se num sem-número de reportagens, e sua fonte apelou a outro jornalista da sucursal da Folha: Mário Magalhães, antigo encarregado do noticiário esportivo que passara a cuidar também de outros temas. Ao saber que o colega fora informado antes, Magalhães ligou para se orientar.

Sobrecarregado de pautas, Rangel tabelou: fariam a matéria juntos, e que Magalhães se encontrasse com o informante _ainda em agosto a dupla assuntou algumas fontes. Não seria a primeira investigação conjunta. Desde outubro de 1997 eles trabalhavam em dobradinha. Enquanto no 11 de setembro o homem discorria sobre o imbróglio judicial, Magalhães constatou que havia mesmo novidades. No entanto, teve a impressão de que o dono da casa não se dera conta do tamanho da notícia.

* * *

Fontes sempre têm motivação.  Do cidadão escrupuloso que zela pelo Estado de Direito ao crápula com propósitos sombrios, elas fornecem informações. A relevância jornalística do que contam se mede pelo interesse público e pela veracidade. O caminho mais curto para a derrota do jornalista é considerar que um “garganta profunda” seja a apuração, e não o que é: o começo, o primeiro passo de investigação autônoma na qual cada versão será checada para compor o relato cujo responsável é o repórter.

Fonte auxilia o trabalho do jornalista, não o substitui. Fontes têm causas diversas; a causa do jornalista é prestar um serviço público, o de informar. O ceticismo em relação a fontes não acarreta danos colaterais.

Rangel e Magalhães jamais escutaram de sua fonte original um só resmungo contra o negócio que seria objeto de suas reportagens. Apenas foram avisados de que, em virtude de um projeto beneficente na Argentina, o empresário Roberto Seabra recorria à Justiça do Trabalho contra a Pelé Sports & Marketing Ltda., companhia cujos sócios eram Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, detentor de 60% das cotas, e Hélio Viana, de 40%.

Os três se associaram para promover um evento em favor da seção argentina do Unicef, o Fundo das Nações Unidas Para a Infância. Em contratos paralelos, o que era altruísmo transfigurou-se em empreitada para gerar lucro privado. O Move the World (Movimente o Mundo) não se realizou, e os US$ 700 mil amealhados com a sua preparação, em nome do amparo às crianças pobres do país de Maradona, foram embolsados por uma firma denominada Pelé Sports & Marketing Inc. Seabra reivindicou uma fatia.

A fonte dos repórteres, cuja identidade não seria revelada, sugeria o foco na ação trabalhista. Para eles, o mais importante seria jogar luz sobre um lance atrevido do trio: invocar solidariedade e, na contramão, permitir que a PS&M Inc. se apropriasse dos recursos.

No Tribunal Regional do Trabalho, a poucas centenas de metros do prédio da sucursal da Folha no Centro do Rio, Rangel e Magalhães tiveram claro o que constituíra o empreendimento que se viria a conhecer como Caso Pelé-Unicef. Eles se dedicaram à análise compulsiva das 1.501 folhas dos sete volumes do processo 1.526, instaurado em 1997 na 18ª Vara.

Na reta derradeira de esquadrinhamento dos autos, aos quais é assegurado acesso público, um funcionário graduado do TRT advertiu Rangel: se pretendiam citar o que leram, haveriam de possuir cópia, já que seria habitual o sumiço de documentos. O autor do alerta foi além: permitiu que os jornalistas não ficassem desprotegidos diante de eventuais desmentidos _e mais do que isso não se pode, nem é preciso explicar.

O processo descortinava a triangulação de empresas cujo resultado foram os US$ 700 mil, todavia estava longe de elucidar toda a trama. Graças às regras de transparência do Estado da Flórida, cujos registros de corporações podem ser consultados na internet, os repórteres descobriram ser falsa a data do principal contrato para a promoção do evento do Unicef: o acordo incluía a Sports Vision Corp., firma americana que só foi fundada meses depois.

Proposital ou não, a troca de data escondia que, já ministro, Pelé continuava a operar no setor em que respondia pelo governo FHC. A teia empresarial exposta pelos papéis contradizia outras versões, e o cotejo de dados documentados com relatos dos envolvidos tomou mais tempo.

* * *

A primeira reportagem saiu em uma página e meia nos 495.725 exemplares do domingo 18 de novembro de 2001. Na capa do caderno Esporte, com o título “Empresa ligada a Pelé arma evento beneficente e fica com o dinheiro”. Dentro, “O amigo das criancinhas”. Em poucas semanas, a repercussão se espalhou por dezenas de países de todos os continentes. O ombudsman do jornal elogiou. A série conquistaria o Prêmio Folha de Reportagem. O episódio com Pelé e seus associados foi um dos pilares de matéria de capa da revista Veja sobre bastidores do futebol.

O que nunca se soube é que o texto principal veiculado era na verdade um rascunho, transmitido à Redação em São Paulo mais de uma semana antes do fechamento.  Por engano, editou-se o esboço, e não a reportagem encaminhada na sexta-feira, antevéspera da circulação. Como o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar, restou um sopro de sorte: o “primeiro tratamento” não continha números ou afirmações fake _era jornalisticamente correto. Escapou-se da catástrofe, mas os leitores perderam clareza: muitas passagens estavam longe da síntese que facilitava a compreensão e que acabou por ser impressa somente nas edições dos dias seguintes.

Uma das características das reportagens foi oferecer oportunidades ilimitadas de manifestação a Pelé, Viana e Seabra. Os dois últimos alternaram pronunciamentos lacônicos com o silêncio. O ex-ministro de início negou os fatos, e a seguir escudou-se no argumento de que ignorava o que ocorrera. Atacou o sócio Viana, com quem rompera. Existiam duas empresas Pelé Sports & Marketing: a Ltda., sediada no Rio, e a Inc., no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Pelé dizia desconhecer a segunda.

Havia um trunfo particular da cobertura: a maioria dos documentos que a fundamentaram foi anexada ao processo 1.526 pelos três empresários _uma parte os repórteres garimparam com fontes protegidas por sigilo. Nenhum papel foi questionado. Ou seja, todos reconheceram a autenticidade. Como consequência, a cada negativa, sobrevinha uma nova reportagem esclarecendo os fatos, com base em papéis fidedignos.

Com o tempo, tornou-se uma espécie de jogo de gato e rato.

Pelé disse que nunca cobrou por evento beneficente; reportagem exibiu contrato assinado por ele, Viana e Seabra prevendo lucro com o Move the World.

Pelé e Viana contestaram manter relação com a PS&M Inc.; a Folha revelou procuração daquela companhia para a homônima brasileira.

Pelé reafirmou nada saber de negócio em paraíso fiscal; novos furos trouxeram documentos com sua assinatura como “diretor-presidente” da firma das Ilhas Virgens Britânicas, não declarada ao Fisco.

Ele insistiu que não o haviam informado acerca do recebimento dos R$ 700 mil; um memorando evidenciou que o antigo jogador foi avisado sobre o dinheiro por seu advogado de confiança, o mesmo a declarar em carta que a PS&M Inc. pertencia a Pelé.

O ex-ministro especulou que haviam falsificado suas assinaturas; mas elas constavam dos papéis que ele mesmo apresentou à Justiça para se defender no processo trabalhista.

E assim por diante.

Em 2003, Rangel e Magalhães produziram outras matérias sobre negócios ocultos de Pelé e Hélio Viana em paraísos fiscais.

Ainda em 2001, a Receita multou a PS&M Ltda. devido a problemas anteriores à série da Folha. Pelé, Viana e Seabra jamais responderam criminalmente pela operação com o Unicef _a rigor, as reportagens tratavam de ética, não do Código Penal. A despeito da vigorosa repercussão midiática, um segmento do jornalismo não disfarçou o constrangimento em noticiar as jogadas de um herói nacional como Pelé, ainda que ele as tenha desenvolvido quando ocupava a função de ministro de Estado.

No calor da publicação, Pelé prometeu que, se confirmado o depósito de US$ 700 mil em uma empresa sua, ressarciria o Unicef.  À época, Mário Magalhães tinha 37 anos e Sérgio Rangel, 30. Em 2009, os cabelos do primeiro haviam embranquecido e os do segundo, rareado. As transações do Caso Pelé-Unicef haviam sido exaustivamente comprovadas. Até então não se tinha notícia da devolução de um só centavo ao fundo da ONU.


Shana: ‘Não vendo ilusão, dou solução’
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Mário Magalhães

 

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Numa esquina da avenida Corrientes, em Buenos Aires, pertinho do teatro onde Ricardo Darín encena uma peça, a placa alardeia o remédio para todos os males: Shana.

Não é o que os turistas brasileiros mais salientes podem pensar. Shana é uma ''vidente natural'' que oferece seus  serviços.

Sua especialidade é unir casais, tratar de problemas de trabalho e de família, tudo com ''máxima discrição''.

''Não vendo ilusão, dou solução'', promete Shana.


Em Buenos Aires, ‘el jugador del pueblo’
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Mário Magalhães

blog - tevez

Tévez comemora gol pela Juventus – Foto Matteo Bazzi/EFE/EPA

 

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Abril de 2014, Buenos Aires, na doce vida de comparar ojos de bife e bifes de chorizo de restaurantes diversos, Malbecs de Mendoza e Pinot Noirs da Patagônia, doces de leite de procedências ao gosto do freguês, o encanto com a coleção permanente do Malba e o desencanto com a mostra, de fotografias insossas de Mario Testino, instalada naquele museu.

No táxi, contudo, nada variava na conversa com os motoristas, como bem observou uma jovem acompanhante minha. Nem no assunto que eu puxava, mais por cacoete de repórter do que por prazer, nem nas assertivas dos taxistas: todos vituperavam o treinador Alejandro Sabella por ter mantido Carlos Tévez longe da seleção argentina.

Não queriam saber das minhas ponderações sobre a eficiência do quarteto Agüero, Higuaín, Messi e Di Maria. Ou da evidência de que os jogadores não topam o encrenqueiro Tévez.

Os taxistas, todos, argumentavam com a estupenda fase de Carlitos na Juventus e sobretudo com a sua personalidade, a cara dos argentinos, pelo menos dos mais pobres. ''El jugador del pueblo'', bradou um motorista, empregando o título de um documentário sobre o antigo atacante corintiano.

Como todo mundo sabe, Tévez nasceu num bairro pobre e barra pesada da periferia de Buenos Aires, o Fuerte Apache. Comeu o pão que o diabo amassou e triunfou no futebol, sem dar as costas àqueles com quem conviveu na época de vacas magras.

Em contraste com o temperamento forte de Tévez, Messi é tímido e partiu para a Catalunha antes da adolescência. Os dois não se bicam, mas a rejeição a Tévez é generalizada na seleção, como informa (em castelhano) reportagem de Cristian Grosso (leia aqui).

Na escala social, eu chutaria que os taxistas com quem conversei formam na classe média-baixa ou média-média portenha. É impressionante, e traduz o caráter marcante dos argentinos, que prefiram um jogador inferior, mas identificado com seu povo, a craques incontestáveis, porém com outras trajetórias e perfis.

Não estavam, meus interlocutores, entusiasmados com a Copa (com a proximidade da estreia, talvez o sentimento mude). Mostravam-se bronqueados, pois para eles Tévez não é um pavio-curto que atrapalha times, e sim o artilheiro que orgulha seu povo _e não jogará o Mundial.


Sem Thiago Alcântara, Espanha perde maior esperança de superar cansaço
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Mário Magalhães

O meia Thiago Alcântara em partida pela seleção espanhola

Thiago joga muito, mas vive contundido – Foto Ariel Schalit/AP

 

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Se Xavi Hernández repetir sua temporada pelo Barcelona e o desempenho pela Espanha na Copa das Confederações, o técnico Vicente Del Bosque terá imensas dificuldades para superar a principal deficiência que acomete sua seleção, bem como o Barça: a velocidade na troca de passes, que vigorava no auge de Xavi, deu lugar à lentidão que facilita as defesas adversárias.

Aos 34 anos, o craque, tremendo craque catalão passou a administrar o jogo de acordo com suas possibilidades físicas. Ele contamina os times com seu cansaço.

O maior trunfo de Del Bosque para reviver o ritmo dos melhores tempos de Xavi era o jovem Thiago Alcântara, nascido na Itália, filho do brasileiro Mazinho e, por opção, jogador da Espanha, onde passou boa parte da vida.

O problema é que, como sabemos, Thiago, 23, estourou de novo o joelho direito, será operado e perderá a Copa iminente. Sua ausência não constitui o mero contratempo com que tem sido noticiada. É uma catástrofe para o time.

Em tese, a atual campeã vem com um meio-campo melhor que o da Copa das Confederações, porque regressa Xabi Alonso, que em 2013 estava contundido. Assim, Busquets, solitário volante no ano passado, volta a ter a companhia de seu companheiro de 2010. A Espanha joga com dois volantes que sabem jogar, e como.

A dúvida é quem estaria pela direita do meio, tradicional lugar de Xavi na seleção. Thiago seria o sucessor natural, se o técnico tivesse a coragem de mudar. Pensa e passa rápido. Não é veloz nas pernas arqueadas de caubói montado no cavalo, porém faz a bola correr.

Se Xavi é o recordista de toques na bola em jogo de Eurocopa, Thiago mal estreou no Bayern e, meses atrás, estabeleceu nova marca de passes numa só partida da Bundesliga. Suas recorrentes contusões enfraqueceram a equipe alemã, que sem ele acabou humilhada pelo Real Madrid na Champions League.

Outra opção para substituir Xavi é Cesc Fàbregas, 27. No Barcelona, contudo, ele costuma se posicionar mais à esquerda, embora às vezes seja escalado pela direita do meio-campo. Não faz boa temporada, e a torcida o tem vaiado.

Sem Thiago, talvez Del Bosque mantenha Xavi. O grande jogador terá tempo para descansar e se preparar bem para a Copa.

De sua evolução, a Espanha, uma das quatro favoritas (com Brasil, Alemanha e Argentina), dependerá para chegar mais forte.

Como devoto do bom futebol, torço muito para Xavi brilhar em seu derradeiro Mundial, mas sei que não será fácil.


Não vai ter Copa, e sim duas Copas. Uma tentará engolir a outra
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Mário Magalhães

Cartaz afixado na Cidade Universitária, USP

 

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Na tarde desta quarta-feira, quando estive na USP para participar de um simpósio sobre futebol, deparei-me com o cartaz acima.

O prognóstico está errado, e a bandeira é irreal.

Vai ter Copa.

A quatro semanas da estreia, a novidade é que, ao contrário do que por anos se supôs, não haverá uma Copa no Brasil, e sim duas.

A primeira será disputada nos gramados, com a previsão de grandes seleções, com mais excelência esportiva do que nas edições anteriores da competição.

A segunda será jogada nas ruas, com manifestantes contrários à realização do Mundial ou revoltados com a dinheirama pública torrada, inclusive com estádios que, era essa a promessa original, não deveriam consumir um tostão dos contribuintes.

Resmungam os anti-protestos com a escolha deste momento para reivindicar. Queriam o quê? Que as numerosas categorias em greve deixassem para depois da Copa, quando governantes e patrões não lhes dariam ouvidos? O pessoal não é parvo, e quem não chora não mama.

Se a seleção brasileira prosperar em campo, talvez os movimentos programados arrefeçam. Talvez.

Caso as manifestações engrossem como em junho de 2013, a Copa é que diminuirá de tamanho, e a Fifa e os governos já ficarão felizes se chegar ao fim.

Se a abertura fosse hoje, o mais provável é que houvesse menos manifestantes do que no ano passado, mas com a diferença da entrada em cena de trabalhadores organizados, com ou sem o amparo dos sindicatos.

Mas falta quase um mês, e tudo é muito imprevisível. No Rio, por exemplo, as passagens dos transportes públicos-privados aumentam nos próximos dias. Haverá protestos?

Hoje há, em muitas cidades, contra a Copa.

Elas serão duas, e uma tentará engolir a outra.

Por ora, a única certeza é que os repórteres terão tanto trabalho fora quanto dentro dos estádios. Quem diria…


Nem Eurico Miranda faria tão mal à alma do Flamengo como os atuais cartolas
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Mário Magalhães

jayme de almeida

Jayme, demitido de forma ''asquerosa'' – Foto reprodução UOL

 

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Nem o vascaíno Eurico Miranda, disfarçado de rubro-negro, com todo o apetite de Dick Vigarista e vestindo uma daquelas máscaras inigualáveis do agente Ethan Hunt em ''Missão Impossível'', seria capaz de fazer tão mal aos torcedores do Flamengo como os cartolas que hoje tocam o clube.

É indesculpável o que eles fizeram ao demitir Jayme de Almeida sem avisá-lo, humilhando-o publicamente. O técnico passou horas e horas dando entrevistas a jornalistas que, ao contrário dele, já sabiam de sua queda.

Já seria um comportamento sádico com qualquer treinador. Mas foi muito pior com Jayme, prata da casa, ex-jogador da Gávea, filho de ídolo rubro-negro, membro de uma dinastia que tanto orgulha _ou deveria orgulhar_ o Flamengo.

Em entrevista ao vivo ao ''Bate-Bola'', Jayme qualificou de ''asquerosa'' a forma como se livraram dele. Está coberto de razão.

É possível que com Ney Franco o time evolua, mas não é de desempenho esportivo que se trata aqui. É direito dos clubes, na pior tradição, trocarem de treinador depois de resultados adversos. Mesmo que o técnico penasse com um elenco muito fraco, fruto de uma política tacanha que pensa que finanças só se equilibram cortando drasticamente investimentos.

O Flamengo perdeu muito dinheiro ao ser eliminado na primeira fase da Libertadores. Fracassou também porque não contratou. Mas trouxe para ganhar uma fortuna um perna-de-pau como Carlos Eduardo. Sem falar de outros jogadores horríveis.

Depois da lamentável gestão de Patrícia Amorim, o investimento rareou e foi mal feito. Alecsandro, um reserva em clubes com torcidas menores do que a do Flamengo, hoje é bambambam no Ninho do Urubu. O gorducho André Santos, em fim de carreira, é dos mais bem pagos da equipe.

Os ingressos caríssimos levam menos público aos estádios. Pois os dirigentes deveriam saber que casa cheia provoca impacto midiático enorme, o que resulta em contratos publicitários muito melhores.

O pior é não entender a genética do clube popular, majoritário em todas as classes sociais. Ao afastar os torcedores menos abastados ou mais pobres, o Flamengo ofende seu passado e avilta seu caráter, desde que no começo do século XX um grupo de pioneiros rompeu com as Laranjeiras, foi treinar em praça pública e assim conquistou corações sem fim.

Parece que a atual diretoria, com ''cabeça de mercado'', ignora a genética rubro-negra. É como se fosse um corpo estranho, incompatível com o sangue do clube.

E não venham falar em ética, porque cartola que opera ao mesmo tempo como empresário ou executivo do setor comunicações-esporte evidencia conflito de interesses que hoje afeta o Flamengo.

A direção do clube vilipendia a alma dos torcedores, ofende seus valores mais caros.

Se, disfarçado, o Eurico Miranda tomar o controle do clube para sabotá-lo, não será mais cruel com o Flamengo do que os atuais mandatários têm sido.


No Rio, FGV promove seminário ‘Por uma História Política do Futebol’
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Mário Magalhães

 

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No dia 29 de maio, a Fundação Getulio Vargas, no Rio, promoverá o seminário ''Por uma História Política do Futebol''.

Com palestras, debates e exibição de filmes, o evento é organizado pelo CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) e reverencia a memória do professor Carlos Eduardo Sarmento.

O seminário será aberto pelo grande historiador rubro-negro Bernardo Buarque, professor do CPDOC/FGV e um dos mais talentosos pesquisadores do futebol no país.

Em seguida, terei a honra de falar a respeito de grandes reportagens sobre o futebol brasileiro.

A programação completa está lá em cima.


São Paulo recebe 2º Simpósio Internacional de Estudos Sobre Futebol
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Mário Magalhães

 

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Começa nesta terça e vai até a sexta-feira, em São Paulo, o 2º Simpósio Internacional de Estudos Sobre Futebol.

Na quarta-feira, a partir das 14h30, terei a honra de participar da mesa-redonda ''Olhares sobre o jornalismo esportivo contemporâneo'', ao lado do jornalista Marcelo Barreto (SporTV) e do professor Francisco Pinheiro (Universidade de Coimbra), com mediação do professor José Carlos Marques (Unesp-Bauru/Ludens).

Programação completa e informações sobre inscrição podem ser consultadas clicando aqui.

O simpósio é promovido pelo Museu do Futebol, pelo Ludens (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas, do Departamento de História da Universidade de São Paulo), pela Biblioteca Mário de Andrade e pela Fundação Getulio Vargas.


Fla-Flu dá motivo para Felipão festejar: Fred voltou a jogar muito bem
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Mário Magalhães

O atacante Fred comemora gol do Fluminense sobre o Flamengo, no Maracanã

Fred festeja seu gol no Fla x Flu – Foto Nelson Perez/Divulgação/Fluminense

 

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Não são apenas os tricolores que têm o que festejar com a merecida vitória dominical de 2 a 0 no Fla-Flu, mas também torcedores de outras cores, excluindo os rubro-negros, a não ser que sejam mais Brasil do que Flamengo: depois de tempos bicudos, abatido por lesões que o perseguem como os zagueiros mais determinados, Fred demonstrou que evolui bem para a Copa.

Atacante de bons recursos técnicos, Fred depende da sua condição atlética mais do que outros jogadores. Ele ainda não está tinindo, saiu cansado no segundo tempo, mas jogou muito bem. Felipão deve ter vibrado mais do que muitos torcedores do Flu _só não mais do que o Parreira, que além de prócer da comissão técnica da seleção torce pelo clube das Laranjeiras.

A aposta de Felipão é que Fred reproduza sua recuperação do ano passado. Depois de várias semanas parado por contusão muscular, um mês antes da Copa das Confederações ele voava no Flu. Acabou decisivo no torneio-ensaio do Mundial.

Ontem, Fred lutou, incomodou, orientou a equipe. E definiu, ao abrir de cabeça o placar. Foi um gol difícil, em escanteio, parado quase na linha do gol. É claro que a defesa do Flamengo falhou de modo bisonho, mas quem tirou a concentração do goleiro Felipe (que errou também no segundo gol) e do volante Cáceres, dupla cascuda, foi Fred.

Se ele jogar na seleção o que está jogando novamente pelo Fluminense, o Brasil chegará ainda mais forte à Copa.