Blog do Mario Magalhaes

Me engana que eu gosto: Temer forja regra para manter ministro um novo Jucá
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Mário Magalhães

BRASÍLIA, DF, BRASIL, 05.01.2017. O presidente da República, Michel Temer, participa da reunião com o Núcleo Institucional, no Palácio do Planalto. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER

Michel Temer vendeu como lebre o que é gato – Foto Alan Marques/Folhapress

 

Saudado em lábia e prosa pela regra anunciada ontem sobre demissão de ministros enrolados com a operação Lava Jato, Michel Temer deve estar às gargalhadas.

É evidente que ele estabeleceu critérios que protegem ainda mais o primeiro escalão do governo, em vez de enquadrá-lo.

Com sua linguagem rococó, o presidente mostrou um gato, disse que era lebre, e só não viu quem não quis.

Eis o que Temer falou, nas passagens compreensíveis: ''Se houver denúncia […], o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente''; ''Depois, se acolhida a denúncia, aí, sim, a pessoa, no caso o ministro, se transforma em réu. Estou mencionando os casos da Lava Jato. Ele [o ministro] se transformando em réu, o afastamento é definitivo''.

Trocando em miúdos: o papel da polícia é recolher indícios de crime; quando os encontra, a polícia indicia o suspeito. A prerrogativa legal de acusá-lo é do Ministério Público. A acusação é denominada, formalmente, denúncia. Se a Justiça aceita a denúncia, o denunciado se transforma em réu no processo. Mais tarde haverá o julgamento.

Na prática, isso significa que Romero Jucá não teria caído do Ministério do Planejamento devido à gravação em que prega ''estancar essa sangria''. Isto é, salvar políticos ameaçados pelas investigações da Lava Jato.

Nem o ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que rodou também por causa do teor de gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.

Idem Henrique Alves, do Turismo, abatido depois que Sérgio Machado contou aos procuradores que ele embolsara propina.

Os três não teriam perdido o cargo porque não eram réus nem haviam sido denunciados no âmbito da Lava Jato. Que eu saiba, continuam sem ser denunciados.

Temer inventou uma norma que favorece a impunidade. Em tese, um ministro pode ser flagrado roubando esmola de mendigo, mas permanecer no posto enquanto não for denunciado.

Como os ministros têm direito _privilégio_ a foro especial, denúncia na Lava Jato é decisão da Procuradoria Geral da República.

Em muitos casos, a PGR age com velocidade barriquélica.

A agilidade paquidérmica se manifesta igualmente no Supremo Tribunal Federal.

O presidente parece contar com a vagareza do procurador-geral e dos ministros do Supremo. Um novo Jucá não dançará.

''O governo não quer blindar ninguém'', trombeteou Temer.

Tal declaração vale tanto quanto outra, a de que os jornais ''Folha de S. Paulo'' e ''O Globo'' não foram censurados pela Justiça, a pedido do governo.

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Se a lei é igual para todos, todo manifestante pode bloquear quartel da PM
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Mário Magalhães

Parentes de policiais militares permanecem acampados em frente 16º Batalhão de Olaria, no Rio de Janeiro. O manifestantes pedem melhorias da corporação

Parentes de PMs do Rio bloqueiam 16º Batalhão – Marco Antonio Teixeira/UOL – 10.fev.2017

 

É obsceno o atraso dos salários dos servidores estaduais do Rio de Janeiro, incluindo os policiais militares. Estes não constituem categoria à margem do funcionalismo; formam uma delas. É vergonhoso que o Estado não cumpra suas obrigações. Noutra palavra, a lei. Não paga o que deve, não cumpre o que promete. Em vez de honrar os pagamentos, trama para diminuir a remuneração dos trabalhadores, por meio de uma garfada maior na contribuição previdenciária e outros truques. Já tem garfado: o Rio, como o Espírito Santo, é um dos oito Estados em que o reajuste do salário inicial dos PMs ficou atrás da inflação, considerando os últimos cinco anos.

Não é somente o 13º de 2016 que não saiu. O governo Pezão institucionalizou o atraso mensal ao inventar o calendário esdrúxulo de pagamento no ''décimo dia útil''. Em fevereiro, dia 14. Mas ainda neste mês servidores recebiam parcela de salário do ano passado. O pessoal da segurança recebe antes que o da saúde, em disparidade aberrante. O compromisso público de salvar vidas cabe tanto a uns quanto a outros _ou não? A culpa não é de quem recebe, e sim de quem paga.

Enquanto o funcionalismo pena e os serviços públicos degringolam, o governador não toma uma só providência para recuperar a dinheirama afanada _de acordo com o Ministério Público Federal_ pela gangue que bancou sua candidatura ao Palácio Guanabara. Além das humilhações, das provações e do desespero, os servidores assistem às revelações cotidianas sobre a roubalheira que teria sido comandada pelo padrinho de Pezão, o hoje presidiário Sérgio Cabral. Querem torrar o patrimônio público, a começar pela companhia de água e esgoto.

Quem aguenta tudo isso?

Há outros calotes contra todo o funcionalismo. No caso dos policiais militares, o Estado deve também adicionais pelo trabalho na Olimpíada e pelo cumprimento de metas. É direito dos PMs reivindicar o que lhes surrupiam. Bem como não é direito de uma tropa armada fazer greve.

O que foi dito acima é o essencial. Limpa o terreno. Mas tem mais.

Há batalhões no Rio e no Espírito Santo com os portões fechados por parentes de PMs. Há quem suponha que todos os policiais queiram trabalhar, mas são impedidos. Quem quiser que acredite na balela. Parece uma forma de driblar punições, alegando que não pararam, mas que foram obrigados a parar. A ilegalidade é óbvia. Sobre a legitimidade, depende da cabeça de cada um.

Mesmo em grupos pequenos, às vezes sem somar uma dezena de pessoas, as manifestantes não são retiradas da frente dos quartéis. Depois de abordadas para negociação, são autorizadas a permanecer, impedindo entrada e saída de viaturas e até de policiais, cujas mochilas são revistadas. No Rio, um deles foi esculachado.

Em Cabo Frio (RJ), PMs permitiram que três mulheres esvaziassem os pneus de um carro de patrulha.

Permitir o esvaziamento dos pneus foi ato desajuizado. Quando quer, a PM proclama defender o patrimônio público, o que de fato é seu dever.

Não sou favorável à retirada à força dos parentes da frente dos batalhões. Entre outros motivos, porque equivaleria a jogar querosene numa fogueira que pede água. A não ser para quem aposta no caos, o paroxismo do quanto pior, melhor.

Mas é preciso assinalar, a bem da honestidade intelectual, que a atitude importa consequências.

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro considera, ao menos formalmente, que todo cidadão é igual perante a lei?

Do comando ao mais subalterno dos policiais, a resposta _ao menos protocolar_ será positiva.

Logo, a partir de agora todos os manifestantes têm o direito de acampar diante dos batalhões da PM, interrompendo o tráfego e a saída de policiais armados e uniformizados _para não falar do, entre aspas, ''direito'' de não ser preso em flagrante ao esvaziar pneus de viaturas.

Qual a diferença, consulte-se toda legislação, entre parentes de PMs e cidadãos como professores, estudantes, metalúrgicos, garis, bancários e companhia?

Se houver repressão a outros manifestantes diante dos quartéis, estará criada mais uma distinção entre cidadãos.

Da próxima vez que forem chamados para reprimir passeatas que ''prejudicam o trânsito'', os PMs deveriam se lembrar do que as manifestantes fizeram pelo menos sábado de manhã diante do Batalhão de Choque, onde passei duas vezes: restringiram a circulação de veículos a uma única pista, provocando engarrafamento.

Ou os PMs, castigados pelo injusto e patético governo do Estado, pensam que o direito ao protesto é só deles ou de suas famílias?

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O mais surpreendente é a surpresa com a conspiração pela impunidade
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Mário Magalhães

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''É um acordo, botar o Michel'', disse Sérgio Machado – Foto Fernanda Carvalho/O Tempo/Folhapress

 

Mencionado em delação na Lava Jato como beneficiário de milhões de reais em propinas, Edison Lobão (PMDB-MA) foi aclamado por seus pares presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no Senado.

Alguma surpresa?

Dez integrantes da CCJ, de partidos diversos, são investigados na operação Lava Jato.

Mais surpresa?

A CCJ sabatinará Alexandre de Moraes, o ministro da Justiça escolhido por Michel Temer (PMDB) para substituir Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal. Em sua tese de doutorado, Moraes defendeu que detentor de cargo de confiança não fosse indicado para o STF “durante o mandato do presidente da República em exercício”, para evitar “demonstração de gratidão política” _como revelou o repórter Luiz Maklouf Carvalho.

Surpresa, ainda?

A Polícia Federal apontou indícios de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), recebeu propina da OAS.

Haja surpresa.

A PF também suspeita que o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) tenha embolsado um por fora, no butim acumulado pelo esquema criminoso comandado _sustenta o Ministério Público Federal_ por seu antecessor e padrinho, Sérgio Cabral (PMDB).

Não diga.

O senador José Sarney (PMDB-AP), investigado na Lava Jato, nomeia no governo Temer.

Quem é vivo sempre aparece.

O secretário Moreira Franco (PMDB), o Angorá da planilha de propinas da Odebrecht, foi promovido a ministro.

Quem quiser conhecer Wellington Moreira Franco deveria visitar alguns episódios de concorrências públicas em sua administração no Estado do Rio, nas décadas de 1980 e 1990 _o repórter Janio de Freitas escrutinou-os então.

Pauderney Avelino, líder do DEM na Câmara, é influente no governo Temer. Sobre o deputado, disse em gravação Sérgio Machado (PMDB), ex-presidente da Transpetro: ''Um cara mais corrupto que aquele não existe''.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) emendou, na conversa com Machado: ''Pauderney Avelino, Mendoncinha''. Mendoncinha foi identificado pelo noticiário como Mendonça Filho (DEM), o ministro da Educação.

Surpresa com o prestígio de Mendoncinha e Pauderney no Planalto?

Só quem não ouviu ou não quis entender o áudio do diálogo entre Sérgio Machado e Romero Jucá (PMDB-RR). Ainda na época do governo Dilma Rousseff, os dois tratavam do cenário da Lava Jato:

''Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria'', disse Jucá.

Machado: ''É um acordo, botar o Michel [Temer], num grande acordo nacional''.

Jucá: ''Com o Supremo, com tudo''.

Machado: ''Com tudo, aí parava tudo''.

Jucá: ''É. Delimitava onde está, pronto''.

Onde anda Jucá? O senador é o líder do governo no Congresso. E o Caju em planilha de agrados da Odebrecht.

Constava das escrituras, ou da Lei Jucá: ''Estancar essa sangria''. Com esse propósito o governo se move.

Enquanto isso, Temer trata com distância olímpica o caos na segurança e a devastação social no Espírito Santo e outros Estados.

O PMDB, escudado por chantagens, ocupou postos relevantes nos governos Dilma, Lula, FHC.

Agora, não tem mais intermediários. Concentra o poder.

Inexiste surpresa autêntica, a não ser dos muito ingênuos, com a conspiração pela impunidade.

Surpreendente é ter quem ainda se surpreenda.

Quase tudo era previsível.

É previsível até a imprevisibilidade do futuro do Brasil, mesmo o imediato.

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Registro taquigráfico-visual da história: a PM nas ruas do Rio
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Mário Magalhães

pm na rua

 

A foto acima foi feita há pouco, às 8h30, na rua do Passeio, Centro do Rio.

Pelo menos até esse horário, policiais militares eram vistos trabalhando pela cidade e pelo Estado.

Se eu considerasse como fato certos boatos, a imagem do policial e do automóvel da corporação seria ilusão.

Meninos, eu vi. E fotografei.

Meu amigo taxista disse: mas o Batalhão de Choque está no quartel.

Esclareci: o Choque só costuma sair, para o bem ou para o mal, quando há risco ou iminência de o pau comer. Como ontem, diante da Assembleia Legislativa.

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Centro do Rio, meio-dia e pouco
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Mário Magalhães

centro vacina

Rua Evaristo da Veiga, pouco depois do meio-dia de hoje: fila da vacina contra febre amarela

centro - manif

Em frente à Assembleia Legislativa: manifestação contra o pacote Pezão-Temer

centro - plano b

Rua Sete de Setembro: duo Plano B, com a tecladista Tainá e o violinista Rodrigo

centro - hugo elisa marcos

Avenida Rio Branco: pelo prazer de ouvir histórias, Hugo, Elisa e Marcos pagam por elas


O Botafogo parecia o Atlético de Madrid na véspera, mas soube chegar lá
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Mário Magalhães

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O Botafogo se classificou, merecidamente, contra o Colo-Colo – Claudio Reyes/AFP Photo

 

No jogo das sete e meia da noite, a estreia do colombiano Berrío no Flamengo incomodava. Incomodava os rubro-negros. O time vencia os reservas do Grêmio por 1 a 0, no Mané Garrincha, pela Primeira Liga. O atacante entrou no segundo tempo, no lugar do Mancuello. Tentou uma jogada, não deu certo. Um drible, idem. Errou um passe. Outro. Mais um. Arriscou, sem sucesso, um lançamento. O que é isso?, perguntou um torcedor. Certamente não era ruindade, mas ansiedade e nervosismo em excesso. Imprecisão demais. Depois de errar tudo, o Berrío cabeceou com jeito e marcou seu primeiro gol com a nova camisa. O cara tem estrela.

Estrela que parecia faltar, na partida de mais tarde, ao Botafogo. Longe de casa, no estádio do Colo-Colo, o clube da estrela solitária jogava bem, organizado, ousado, sem tremer. Criava chances, mas a bola não entrava. Estava sendo eliminado da Libertadores, depois de dois erros que resultaram no gol da equipe chilena logo aos dois minutos. O Gatito Fernández presenteara os adversários com um escanteio, do qual surgiu o cruzamento em que o Emerson Silva fez contra, de cabeça. No confronto de ida, no Nilton Santos, o alvinegro vencera por 2 a 1.

O futebol corajoso e às vezes vistoso do Botafogo fora de casa, a despeito do meio-campo mais pegador, lembrava o Atlético de Madrid da véspera. No Camp Nou, o time do Simeone atropelara o Barcelona em boa parte do primeiro tempo, pela semifinal da Copa do Rei. Contudo, desperdiçava as ótimas oportunidades. Poupou os donos da casa, e deu no que deu. O Messi passou por três ou quatro, chutou, o Moyá espalmou, e o Suárez anotou. Na primeira das duas partidas, dera Barça 2 a 1. O Atlético se abateu, mas se recuperou depois do intervalo, empatou e poderia ter triunfado se não perdesse um pênalti e se o apitador não anulasse um gol legal. Com o 1 a 1, os madrilenhos foram eliminados.

Pois o Botafogo parecia reeditar a superioridade e a frustração do Atlético de Madrid. Jogavam muito o Victor Luiz, o Ayrton (de novo), o Bruno e o Montillo, cuja categoria se mantém intacta. Aos 35 minutos da segunda etapa, o Guilherme (substituíra o Airton) chutou ou passou, o Roger (entrara pouco antes) desviou, o Villar deu rebote, e o Rodrigo Pimpão empatou. Merecidíssimo.

O Botafogo ganhou confiança para o próximo mata-mata da Libertadores (por que ''pré''?).

O melhor é que se classificou com um futebol alegre, mesmo sem espetáculo, e não apostando em retranca emburrada.

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Em meio a boatos sobre PMs, governo do Rio asfixia e humilha universidades
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Mário Magalhães

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Pezão: desprezo por ensino e cultura – Foto Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press/Folhapress

 

Em meio à boataria sobre a iminência de um movimento de policiais militares semelhante ao do Espírito Santo, o governo do Rio de Janeiro mantém o desprezo que arruína as universidades estaduais. São falsos os ''documentos'' atribuídos ao comando da PM sobre paralisação, difundidos sem checagem e com leviandade. É verdadeira a asfixia da Uerj, da Uenf e da Uezo, que nem começaram o período letivo de 2017.

O lixo se acumula na Uerj. Inexiste segurança. E bandejão. São limitadíssimos os recursos para pesquisa. Os salários estão atrasados. Nem o 13º do ano passado foi honrado. Não há material. O programa de cotas não tem garantias. Os leitos do hospital Pedro Ernesto foram reduzidos. A volta às aulas já foi adiada quatro vezes. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro luta contra o abandono que ameaça matá-la.

A excelência acadêmica da Uerj é tamanha que nos últimos tempos três docentes do curso de direito foram _dois ainda são_ ministros do Supremo Tribunal Federal. Seu projeto de cotas é pioneiro e exemplar. O curso de medicina, referência. Idem o de letras e muitos outros. É unidade da Uerj a Escola Superior de Desenho Industrial, patrimônio do Rio e do Brasil.

Enquanto a Uerj não recebe as verbas de custeio desde agosto de 2016, a Universidade Estadual do Norte Fluminense não vê a cor desse dinheiro desde outubro de 2015. Os bravos professores e funcionários que, mesmo sem salário, não deixam de ir à universidade em Campos para manter suas pesquisas têm de partir no fim da tarde porque o serviço de segurança foi interrompido e o perigo ronda. A Uenf foi criada pela Constituinte estadual de 1989 a partir de emenda popular. Idealizada por Darcy Ribeiro, não é estruturada em torno de departamentos, mas de laboratórios _um arrojo institucional e acadêmico. Cem por cento dos seus docentes possuem título de doutor. O recomeço das aulas ficou para março.

O descaso, quase aversão, do governo pela Uenf é tamanho que ele a omite numa lista de universidades públicas existentes no Estado.

A Fundação Centro Universitário Estadual da Zona Oeste também é ignorada na lista. Foi tal a precariedade no ano passado que a Uezo ainda está no ano letivo de 2016. Faltam-lhe recursos para funcionar em 2017. Hoje de manhã seu site estava fora do ar.

Um dos aspectos mais obscenos do aniquilamento das universidades é que aparentemente o governo Luiz Fernando Pezão não se incomoda com a agonia. Humilha-as. Parece repulsa a ensino, ciência, tecnologia, cultura.

O governo demonstra aversão por cultura. A secretária de Cultura, quadro do setor, acaba de ser substituída por um deputado do PMDB que sabe tanto de cultura quanto eu de física quântica.

Num crime aberrante, o Estado fechou as bibliotecas-parque na avenida Presidente Vargas, na Rocinha e em Manguinhos.

Castiga o presente, sacrifica o futuro, sobretudo dos mais pobres.

Pezão, até onde se sabe, não tomou uma só iniciativa para recuperar a bolada roubada _de acordo com procuradores da República_ por seu antecessor e padrinho Sérgio Cabral.

Pezão, por tanto tempo bajulado como ''grande administrador'', ''o gestor que toca o Estado''.

É pau, é pedra, é o fim do caminho. As águas de março vêm aí.

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Espetáculos: o doc da decolagem dos Beatles, ‘La La Land’ e Gabriel Jesus
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Mário Magalhães

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O primeiro gol de Gabriel Jesus no domingo – Foto reprodução ESPN

 

A certa altura do documentário Eight Days a Week, alguém quantifica a criação abundante de dois gênios da música, Mozart e Schubert. Compara-a à de John Lennon e Paul McCartney, também centenas de composições. Poderia ter emendado a bola que levantou: os Beatles foram como juntar Mozart e Schubert, ou Chopin e Bach. Dois compositores geniais, ao lado de outro brilhante, George Harrison. Mais um baterista carismático, Ringo Starr, que tirou a sorte grande ao completar o quarteto.

O filme dirigido por Ron Howard reconstitui a história de apresentações públicas dos Beatles, de 1962 a 1966, quando eles desistiram dos shows _com exceção de um em 1969, no alto de um prédio. O doc é careta e espetacular. Não apresenta uma única ousadia estética. Empolga pelas imagens das turnês, nos palcos e fora deles.

É sabido que os garotos de Liverpool não tinham entusiasmo maior por futebol. A torcida dos reds pouco ligou. Em 1964, cantou She Loves You, sucesso dos Beatles que renderia no Brasil o nome iê-iê-iê para o rock'n'roll. O coro no estádio é de arrepiar _os surtos das fãs nos concertos mundo afora são mera curiosidade antropológica. O filme não diz, mas o hit foi entoado em Anfield num sábado em que os donos da casa humilharam o Arsenal com um chocolate de 5 a 0.

Enquanto Eight Days a Week narra a decolagem dos Beatles, o musical La La Land conta a batalha de uma atriz e um pianista de jazz para alçarem voo em Hollywood. É ficção, porém com perrengues recorrentes para quem busca um lugar ao sol na Califórnia. O pianista Sebastian, grande interpretação de Ryan Gosling, é um personagem que aparenta não ter ideia do que são samba e tapas, mas isso entenderá quem assistir ao filme de Damien Chazelle. Emma Stone, fabulosa como a atriz Mia, oferece uma sequência para a antologia dos musicais _interpretando I Dreamed a Dream, em Os Miseráveis, Anne Hathaway faturou o Oscar de atriz coadjuvante. A ex-namorada do Homem Aranha emociona cantando sobre sonhos num teste para papel no cinema.

Sonhos que, para Gabriel Jesus, vão se tornando realidade na Inglaterra. A torcida do Manchester City já canta para ele, cujos gols parecem obra de bailarino. No primeiro de ontem, nos 2 a 1 contra o Swansea, o atacante chutou de frente para o gol com os dois pés no ar, como numa coreografia demoradamente ensaiada. No segundo, o movimento de sua cabeçada é plástico, harmônico, daqueles de repetir em câmara lenta sem cansar _Gabriel cabeceou em cima do goleiro, que soltou, para o brasileiro marcar.

Um fim de semana com os Beatles, La La Land e Gabriel Jesus _eis um bom antídoto para tempos bicudos.

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Ao contrário do que pensam os fanáticos, é possível divergir sem odiar
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Mário Magalhães

Lula abraça FHC durante velório de Ruth Cardoso, em 2008

Em 2008, Lula e FHC se abraçam no velório de Ruth Cardoso – Foto Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Em 2017, eles se abraçam na hora mais difícil de Marisa Letícia – Divulgação/Ricardo Stuckert

 

O gesto trivial do abraço na hora do adeus, embora generoso, emocionante e solidário, vira quase manifesto civilizatório em tempos de intolerância e cólera.

Em 2008, Lula e Fernando Henrique se abraçaram no velório de Ruth Cardoso.

Ontem, FHC e Lula se abraçaram no hospital onde Marisa Letícia vive seus momentos derradeiros.

Na quadra histórica em que os fígados sufocam os corações, um senhor octogenário e um senhor septuagenário agiram quase como subversivos.

Adversários políticos, mostraram que é possível divergir sem odiar.

Um ato digno, contra a indignidade.

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Petistas votam em Eunício e Picciani, mas o inferno são só os outros…
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Mário Magalhães

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O senador Eunício Oliveira, o ''Índio'' das planilhas da Odebrecht – Foto Renato Costa/Folhapress

 

Notícias da semana.

Eunício Oliveira (PMDB-CE) foi eleito presidente do Senado com votos de sobra.

Um dos próceres do seu partido, o senador é um peemedebista muito peemedebista, o que o sintetiza e dispensa lero-lero.

Nas planilhas da Odebrecht, a Polícia Federal o identificou como ''Índio''.

De acordo com delações na Operação Lava Jato, ele embolsou propina.

Do time de Michel Temer, ainda anteontem Eunício trombeteava a urgência da reforma da Previdência cujos termos sacrificam ainda mais os mais pobres.

Eunício foi apoiado pelos de sempre, como o seu PMDB, o PSDB e o DEM.

E pela maioria da bancada do PT.

PT que no Rio não se dividiu. Votou em bloco a favor do sexto mandato de Jorge Picciani como capo da Assembleia Legislativa.

Picciani do mesmo PMDB de Eunício.

E de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

Picciani que, vitorioso, propagandeou o ''pacote de ajuda'' do Planalto ao Rio _a rigor, exigências de um arrocho mais profundo.

Também no Rio, Picciani foi consagrado pelos votos de PMDB, PSDB e companhia.

Incluindo os deputados do PT.

Picciani é mencionado nas investigações da Lava Jato. Teria pedido e recebido dinheiro da Odebrecht.

Depois de tudo, os petistas endossaram Eunício e Picciani.

Não faltaram argumentos protocolares, como ''respeitar a proporcionalidade das bancadas'' e outros, mais politiqueiros do que políticos.

Nos tempos em que Eunício foi ministro das Comunicações de Lula, o PT poderia dizer que não sabia. Agora, não dá mais.

O mais incrível é que o PT continua achando _ou alegando_ que o inferno são só os outros.

P.S.: na Câmara, a bancada petista apoiou à presidência o candidato derrotado André Figueiredo (PDT-CE). O voto é secreto.

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